Ana Célia Castro Lavínia Barros de Castro Reflexões de ANTONIO BARROS DE CASTRO sobre o Brasil "O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário." Albert Einstein "A Rainha Elizabeth tinha meias de seda. A realização capitalista característica não consiste em proporcionar mais meias de seda para as rainhas, mas em pô-las ao alcance das operárias em troca de um esforço cada vez menor de trabalho..." Joseph Schumpeter, em Capitalismo, Socialismo e Democracia "(..) O desenvolvimento depende não tanto de encontrar combinações ótimas para recursos e fatores de produção dados como de pôr em ação e arregimentar para propósitos de desenvolvimento recursos e capacidades que estão ocultos, dispersos ou mal utilizados". Albert O.Hlrschman, em The Strategy of Economic Development ANA CÉLIA CASTRO é doutora pela Unicamp (1988) e possui pós-doutorado pela Universidade de Berkeley - Califórnia (1999/2000). Atualmente, é professora titular da UFRJ, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (Instituto de Economia da UFRJ) e vice-coordenadora do INCT-PPED (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento). É diretora de Relações Institucionais do MINDS (Multidisciplinary Institute for Development and Strategies) e membro do IBRACH (Instituto de Estudos Brasil-China). É autora e organizadora de diversos livros, sendo o mais recente Knowledge Governance - Reasserting the Public Interest (The Anthem Other Canon Series), Londres: Anthem Books, 2012 - coautoria e co-organização. LAVINIA BARROS DE CASTRO é doutora em Economia pela UFRJ (2009) e doutora em Ciências Sociais pela UFRRJ (2006), com doutorado sanduíche na Universidade de Berkeley - Califórnia. Leciona economia brasileira em cursos de graduação do IBMEC desde 1999 e em cursos de MBA da Coppead desde 2007. É economista do BNDES desde 2001. Escreve e pesquisa sobre temas relacionados à economia brasileira, financiamento do desenvolvimento e gestão de riscos em bancos de desenvolvimento. É co-organizadora e coautora do livro Economia brasileira contemporânea (1945-2004), vencedor do Prêmio Jabuti, 2005. O livro foi atualizado na segunda edição, lançada em 2011, pela Campus/Elsevier. Lavinia Barros de Castro Ana Célia Castro' 'As editoras agradecem a ajuda de Nando Whately de Castro e Ana Clara Barros de Castro, filhos do Antonio, nas referências bibliográficas. ntonio Barros de Castro tinha uma missão em vida: refletir sobre os desafios atuais da economia brasileira. Mesmo seus trabalhos de cunho mais histórico ou teórico, invariavelmente, levantavam questões contemporâneas. Assim, a leitura de sua obra permite, de certa maneira, colocar em perspectiva a evolução dos principais debates da economia brasileira recente, ao mesmo tempo que oferece uma releitura crítica dessas visões. Castro apreciava, mais do que tudo, a descoberta de um grande artigo, um novo autor, um estudante promissor, uma empresa inovadora ou, simplesmente, um novo conceito. Mas essa paixão pelo novo convivia, harmonicamente, com seu gosto pela história. Analogamente, a alegria que lhe proporcionava a formulação de hipóteses de validade mais geral (ou mesmo de formulações teóricas) era similar à proporcionada pela compreensão do que havia de singular, de específico, em diferentes experiências de desenvolvimento. Como todo missionário, seguia uma mesma rotina dura. Começava pela leitura e recorte de jornais2, seguidos de alguns poucos telefonemas (ainda de manhã bem cedo). Tinha sempre muitas dúvidas, o professor. Em seus telefonemas matutinos, era possível escutá-lo anotando uma definição, repetindo-a em voz alta, para, em seguida, começar a escrever uma série de notas e referências bibliográficas, que iria depois pesquisar. Fazia então um sonoro ponto final. Esse era o sinal de que iria interromper a conversa (às vezes, de forma um pouco abrupta), alegando ter de "começar o trabalho". Tinha grande apreço pelo rigor dos conceitos; e pouco gosto por preciosismos. Seu compromisso era sempre com o objeto da análise (e não, por exemplo, com um único autor). Jamais se permitia, porém, deixar de ficar a par do que ocorria no mundo, recluso em seu trabalho. Ao contrário, seu trabalho passava por estar atento ao que se passa ao redor do mundo. Frequentemente, o ouvíamos dizer fascinado diante de um grande artigo sobre a atualidade: "É interessantíssimo. Só que agora mudou tudo - tem que repensar tudo!" Pensar e repensar; escrever e reescrever - às vezes pareciam tarefas sem fim. Na véspera de sua morte, Castro disse: "Aconteceu uma desgraça: tive uma ideia nova." Isso significava que, para sua angústia, o artigo que estava escrevendo sobre a China, aqui incorporado, não seria, mais uma vez, finalizado. A angústia é o fardo que todo intelectual carrega, mas é também sua força e o que o move. Comentários Gerais - um livro composto por muitos livros Este livro é dividido em duas grandes partes. A primeira é composta por artigos que foram sendo desenvolvidos entre 2005 e 2011, trazendo à luz seus últimos trabalhos sobre os desafios do mundo sinocêntrico,3 muitos deles inéditos. Ela revela, em seu conjunto, as últimas preocupações de Castro com o destino do Brasil no turbilhão da crise e das novas tendências. Os demais que compõem a primeira parte são artigos anteriores, antecedentes que vão tecendo sua reflexão sobre o capitalismo atual, impactado pela presença de um "grandalhão que muda o jogo" - tal como escreveu à margem do artigo que denominou "Por uma estratégia de transformação produtiva". Seria o capitalismo ainda aquele?4 A decisão de publicar artigos inacabados é sempre difícil. Por um lado, existe o temor de reduzir a qualidade da obra, de tornar público aquilo que o próprio autor ainda não considerava maduro. Por outro, há o receio de privar os leitores de ideias que poderão ser desenvolvidas posteriormente por outros, de não explorar insights promissores e, no caso dos artigos aqui selecionados, tão atuais em suas questões, de possivelmente deixar de contribuir para o debate brasileiro. Já a segunda parte é para nós a maior justificativa para a publicação deste livro. Ele nasceu mesmo da necessidade de compartilhar uma preciosa herança de ideias do autor, organizadas em artigos que comporiam um livro de longa gestação - O desenvolvimento renegado. O projeto pode ser reconstituído a partir de uma narrativa que se inicia em 1985, com a publicação da obra de grande impacto 4 economia brasileira em marcha forçada, em coautoria com Francisco Eduardo Pires de Souza.' Referindo-se aos primeiros anos da década de 1980 até 1984, os autores afirmam, na apresentação do livro: "Seria um grave erro avaliar o potencial das forças produtivas que aí estão pelo lamentável quadro econômico-social em que elas vieram a emergir. Os resultados da mutação ocorrida na economia apenas começam a despontar." O desdobramento das ideias do Marcha Forçada acontecia, porém, num contexto de drástica mudança do patamar de crescimento da economia brasileira. Com a publicação do livro, acumulavam-se muitas perguntas e poucas respostas, todas inesperadas. De acordo com o próprio autor: "Mais de uma vez tentei reposicionar-me, tratando de explicar o equívoco contido na previsão de que, a partir de 1984, a economia se encontrava `pronta para crescer'. Visivelmente, faltavam-me instrumentos para compreender o novo quadro."6 Na mesma época, Castro também organizou, em conjunto com seus colegas Francisco Eduardo Pires de Souza e Caio Prattes da Silveira, o grupo de conjuntura da UFRJ. Nesse contexto, foi criado o Boletim de Conjuntura da UFRJ, onde Castro ocupava o papel de editor. Castro jamais abandonou esse grupo, mesmo nos períodos de mais intenso trabalho no BNDES.
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