Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Sociologia, especialidade em Comunidades e Dinâmicas Sociais, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Bruno Dionísio Dedico esta dissertação às pessoas mais importantes na minha vida Pelo apoio e carinho Aos meus pais e ao meu irmão Ao meu namorado À minha família Aos meus amigos Sem eles nada disto seria possível! AGRADECIMENTOS Esta Dissertação de Mestrado representa um importante marco na minha vida, ajudou-me principalmente a crescer. E devo alguns agradecimentos às pessoas que o tornaram realidade. Em primeiro lugar, não posso deixar de agradecer ao meu orientador, Professor Doutor Bruno Dionísio, por toda a paciência, empenho e motivação com que sempre me orientou neste trabalho. Muito obrigada por me ter dado opiniões e sugestões quando necessário sem nunca me desmotivar. Aos Professores de Mestrado, que também me ajudaram a perceber o caminho a seguir, nomeadamente à Ana Ferreira, pelo seu apoio, disponibilidade e paciência. Às Direções dos agrupamentos que aceitaram a realização da investigação nas escolas, e aos Diretores de turma, Professores de Educação Especial, Psicóloga Clínica e Terapeuta Psicomotricista pela disponibilidade em realizar as entrevistas. Aos amigos de faculdade, Mónica Nunes pelo apoio, força e positivismo com que me acompanhou estes dois anos, pelas longas conversas ao telefone, inúmeras trocas de e-mails, e pelos muitos cafés. Ao João Feijão, pela disponibilidade em tirar dúvidas e dar a sua opinião, e pela sua vontade de ajudar. Mas principalmente pelas suas amizades. Ao meu namorado Paulo Silva, que foi desde o início um apoio incondicional, que me deu força para continuar mesmo quando pensei em desistir, pela compreensão dos dias sem fim, pela troca de ideias, pelas críticas que me levaram a querer fazer melhor, pela disponibilidade em me ouvir durante horas a fio quer fossem dúvidas ou confidências. Aos meus pais Agostinho e Lídia, pelo orgulho que demonstram, pelo apoio e esforços que fizeram para que concluísse mais uma etapa. À restante família, irmão, cunhada, tia pela preocupação, orgulho e força que me deram ao longo destes anos. Aos meus melhores amigos, Daniela, Vitor, Rosana, Cláudia e Nádia pela força e apoio ao longo deste percurso. CRIANÇAS E JOVENS COM PERTURBAÇÃO DE HIPERATIVIDADE COM DÉFICE DE ATENÇÃO: CONTROVÉRSIAS EM TORNO DO DIAGNÓSTICO E DO TRATAMENTO NÉLIA SOFIA MARTINS DE FREITAS RESUMO Palavras-Chave: PHDA, percepções, controlar, diagnóstico, medicação A minha dissertação centra-se nas controvérsias em torno do diagnóstico e do tratamento da PHDA (Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção) em crianças e jovens, mais concretamente nas representações dos profissionais de ensino sobre as formas de diagnóstico utilizadas no espaço escolar e nas novas formas que encontraram para controlar os comportamentos menos esperados na escola actual e compreender como é feita a sinalização da PHDA, como é feito o trabalho quotidiano dos profissionais que trabalham com estes alunos, quais os acordos e desacordos que existem entre eles e como justificam e defendem o seu ponto de vista em relação à melhor forma de intervir. Os principais resultados obtidos nesta investigação refletem um aumento significativo de diagnósticos da PHDA, tendo sido confirmado pelos entrevistados ao afirmarem que em todas as turmas existem alunos com este diagnóstico e utilizam medicação para tratá-la, contudo existem dúvidas em relação a esta patologia, tanto na sua existência como na qualidade dos diagnósticos. Foi possível concluir ainda que a percepção da escola e dos Professores é alterada quando o aluno é diagnosticado, isto é, antes do diagnóstico o aluno é considerado mal-educado, sendo excluído e depois do diagnóstico passa a ser um aluno com problemas e é novamente incluído na aprendizagem. Fazem grandes críticas à comunidade científica pela inexistência de consenso em relação à patologia, ao diagnóstico e à medicação. Em relação à medicação as opiniões dividem-se, alguns acreditam que sem medicação os alunos não conseguiriam aprender e outros afirmam que não tem outros benefícios para além do controlo dos comportamentos. Em relação à relevância científica e social, este estudo irá permitir a compreensão mais alargada da realidade em que estas crianças e jovens vivem no contexto escolar, irá ser útil tanto para professores, psicólogos e restantes técnicos de ensino, até aos familiares de crianças com este problema, poderá ainda ser interessante para investigadores sociais no âmbito da regulação dos comportamentos, podendo dar novas perspetivas sobre o assunto. CHILDREN AND YOUNG PEOPLE WITH ATTENTION-DEFICIT HYPERACTIVITY DISORDER: CONTROVERSY AROUND THE DIAGNOSIS AND TREATMENT NÉLIA SOFIA MARTINS DE FREITAS ABSTRACT Keywords: ADHD, perceptions, control, diagnosis, medication My dissertation focuses on the controversies surrounding the diagnosis and treatment of ADHD (Attention-Deficit Hyperactivity Disorder) in children and young people, specifically in the representation of professional education on ways of diagnosis used in the school and in new ways they’ve found to control the behaviors least expected in the current school and understand how the signaling of ADHD is done, how is the daily work of professionals who work with these students, which agreements and disagreements that exist between them and how they justify and defend their point of view on the best way to intervene. The main results obtained in this study reflect a significant increase in diagnoses of ADHD and was confirmed by respondents by stating that in every class there are students with this diagnosis and use medication to treat it, however, there are doubts about this pathology, both in their existence and in its quality of the diagnosis. It was still possible to conclude that the perception of the school and the teachers is changed when a student is diagnosed, meaning, before the diagnosis the student is considered impolite, being excluded and after diagnosis becomes a student with problems and is included again in apprenticeship. They make great criticism to the scientific community by the lack of consensus on this pathology, diagnosis and medication. Regarding medication their opinions are divided, some believe that without medication students could not learn and others claim it has no other benefits beyond the control of behavior. Regarding scientific and social relevance, this study will allow deeper understanding of the reality that these children and young people live in school context, it will be useful both to teachers, psychologists and other technical education, to the families of children with this problem, may also be of interest to social researchers in the regulation of behaviour, and may give new perspectives on the subject. ÍNDICE INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1 Capítulo I: Estrutura conceptual ................................................................................... 3 I.1. Formulação do problema ..................................................................................... 3 I.2. Objectivos da investigação .................................................................................. 3 I.3. Definição da problemática ................................................................................... 4 I.4. Contextualização teórica ...................................................................................... 7 Capítulo II: Contextualização da PHDA e a Educação Especial .............................. 14 II.1. Perspectiva Histórica da Definição do Conceito da PHDA ............................. 14 II.2. Educação Especial em Portugal........................................................................ 17 II.3. Escola Inclusiva ................................................................................................ 20 II.4. Alguns processos de controlo e intervenção sobre o aluno .............................. 21 II.5. Estado da arte sobre as percepções dos professores sobre a PHDA................. 25 II.6. Percepções – Análise Documental Exploratória .............................................. 29 Capítulo III: Metodologia ............................................................................................. 37 III.1. Investigação qualitativa ................................................................................... 37 III.2. Técnicas de Recolha ........................................................................................ 37 III.3. Técnicas de análise .......................................................................................... 38 III.4. Unidades de análise ......................................................................................... 38 III.5. Procedimentos de entrada no terreno .............................................................. 40 Capítulo IV: Resultados e Discussão ........................................................................... 44 IV.1. A escola e a PHDA ......................................................................................... 44 IV.1.1. Decreto-lei 3 de 2008 e a PHDA ............................................................. 44 IV.1.2. Políticas educativas e apoios a alunos com PHDA ................................. 45 IV.1.3. Alunos diagnosticados com PHDA, idade e medicação ......................... 46 IV.1.4. Processo de sinalização do PHDA .......................................................... 47 IV.2. Representações dos profissionais sobre a PHDA ........................................... 51 IV.2.1. Conhecimento e representações sobre a PHDA ...................................... 51 IV.2.2. Sinalização na escola ............................................................................... 55 IV.2.3. Partilha do currículo regular .................................................................... 56 IV.2.4. Dinâmica da sala de aula e dilemas na gestão da turma .......................... 59 IV.3. Trabalho quotidiano dos profissionais com a PHDA ..................................... 61 IV.3.1. Estratégias para controlar comportamentos ............................................. 61 IV.3.2. Discussão, partilha de estratégias e trabalho em equipa .......................... 63 IV.3.3. Articulação com as famílias .................................................................... 66 IV.4. Intervenção na PHDA e críticas ...................................................................... 67 IV.4.1. Falhas dos profissionais no controlo dos comportamentos ..................... 67 IV.4.2. As famílias e a PHDA ............................................................................. 68 IV.4.3. Autoavaliação e conhecimento para lidar com alunos com PHDA......... 72 IV.4.4. A comunidade científica, médica e escolar e a PHDA ............................ 73 IV.4.5. A medicação ............................................................................................ 77 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 82 BIBLIOGRAFIA ANEXOS Anexos [CD] Anexo 1 – Guião de Entrevista Anexo 5 – Caracterização Pessoal e Profissional INTRODUÇÃO Esta dissertação foi desenvolvida no âmbito do mestrado em Sociologia, com especialidade em Comunidades e Dinâmicas Sociais com o objectivo de compreender as percepções de profissionais do ensino (regular e especial) e de técnicos de saúde (psicólogos clínicos e terapeutas) sobre a Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA) no contexto escolar, que, segundo a American Psychological Association (APA), é um dos transtornos mentais mais comuns que afectam as crianças. A PHDA é uma condição do cérebro que muitas vezes é identificada pela primeira vez em crianças em idade escolar quando causam perturbações na sala de aula ou apresentam problemas com trabalhos escolares. Uma criança com PHDA pode contorcer-se, sonhar muito, normalmente tem dificuldade em seguir instruções, parece não ouvir quando se fala para ela, não é capaz de ficar sentada, fala demais, interrompe alguém ou até distrai-se facilmente (APA: 2009). Dada a relevância deste tema interessa-nos concretamente responder às seguintes questões: Como evoluiu historicamente a forma como foi pensado o diagnóstico e o tratamento do PHDA? E concretamente ao nível da instituição escolar, que mecanismos é que os diferentes profissionais de educação mobilizavam para controlar os comportamentos das crianças que apresentavam esta perturbação? A análise histórica sobre o funcionamento da escola no passado permitir-nos-à compreender a evolução que houve ao nível da concepção deste tipo de crianças na escola, da forma como eram regulados os seus comportamentos: se antes a escola era lugar onde se regulava os corpos pela violência (os corpos eram violentados e castigados recorrendo a réguas, canas, paus) hoje tal prática é considerada inaceitável. Entre a escola do passado e a escola do presente operaram-se mudanças significativas. Hoje existe uma escola que que se afirma contra a violência; e que não humilha como anteriormente; que tem uma nova concepção do papel de criança/aluno e uma nova forma de exercício de autoridade do professor que antes humilhava e maltratava. Em suma, uma escola que cria dispositivos e regula os comportamentos de forma não violenta e não humilhante. Interessa-nos, portanto, perceber que políticas e práticas desenvolve a escola actual face a esta perturbação e como é que os diferentes atores sociais, professores e técnicos de saúde, se situam e agem na regulação dos comportamentos de alunos com 1
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