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Dimensões Culturais da Globalização: a modernidade sem peias PDF

133 Pages·1996·39.35 MB·Portuguese
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:;' , e ARJUN APPADURAI ARJUN APPADURAI professor de antropologia e de lfnguas e I ' civilizaqoes da Asia meridional na Universidade de Chicago, cidade " onde foi a'nteriormente director do Chicago Humanities Institute, Entre as suas muitas publicaqoes contam-se: Worship a.nd Conflict under Colonial Rule (Cambridge, 1981), The Social Life of Things ) , (director de ediqao na Cambridge University Press, 1986) e Gender, , Genre and Power (como co-editor da University of Pennsylvania Press, '1991). E director do Globalization Project na Universidade de Chicago e trabalha actualmente sobre a relaqao entre violencia , etnica e representa90es do territ6rio nos modernos estados-naqao. Dimensoes Culturais da Globaliza~ao ~. A modemidade sem pezas , Traduqao de Telma Costa Revisao cientffica Conceic;ao Moreira \~~~ \ . f~(:V (JOO I I I', teorema .i, . I · o~ o ~ Para 0 meu filho Alok, Q meu abrigo no mundo o o O · o ·- 0 I ' () '- (). o Q o © 1996. Regents of the University of Minnesota o Titulo origina.!: Modernity at Large - Cultural Dimensions oj Globalization Traduyao: Telma Costa C) Revisao cientifica: Conceiyao Moreira Capa: Fernando Mateus' o Composic;:ao e paginac;:ao: Rui Miguens de Almeida Impressao e ~cabarnento: Rainbo & Neves. Lda. 1 Santa Maria da Feira CJ I;ste livro foi impresso no mes de Dezembro de 2004 o :SBN: .972-695-612-9 Deposito legal n.· 219595104 i () I' ;" ()dos os direitos reservados por o EDITORIAL TEOREMA. LDA. R~a Padre LUIs Aparicio. 9 - 1° Frente () I: 50-148 Lisboa 1 Portugal ;"clef.: 213129131 - Fax:::1 352 1480 I~) t.mail: [email protected] ,~ , v ' Agradecimentos ~ . ~. ) ~ ') 1 ) '\ I } ~ J , ) , Este livrofoiescrito ao longo de urn peqodo de seis anos e durante esse tempo, benefiCiei docontacto com muitaspessoas e institui<;5es. A ideia do livro tomou formadurante 1989-90, os anos em que fui MacArthur Fellow ·~r no Instituto de Estudps A vanr;ados, em Princeton. Partes dele foram escritas "" } enquanto estive na Universidade da Pensilvfinia como co-director do Centro i~,f de Estudos Culturais Transnacionais. Foi terminado na Universidade de Chicago, on de participei em urn sem-numero de conversas interdisciplina: j. res no Instituto'de Humanidades, em ChIcago, e onde beneficiei das ener ''i iI gias do Projecto Globalizarrao. Ainda em Chicago e durante este perfodo, 11 as conversas e debates no Centro de Estudos Transculturais (antigo Centro , ) . de Estudos Psicossociais) foram fonte de frutuos,as perspectivas nacionais ~ e internacionais. ;} Recebi proveitosas crfticas e sugest6es sobre as vanas partes e vers6es \ dos capfuilos deste livro dasseguintes pessoas: Lila Abu-Lughod, Shahid ~ Arriin, Tala! Asad, Fredrik Barth, Sanjiv Baruah, Lauren Berlant, John Jt Brewer, Partha ChatteIjee, Fernando Coronil, Valentine Daniel, Micaela ) - '~- di Leonardo, Nic.holas Dirks, Virginia Dominguez, Richard Fardon, Mi ""~ chael Fischer, Richard. Fox, Sandria Freitag, S,:!san Gal, Clifford Geertz, ~. . Peter Geschiere, Michael Geyer, Akhil Gupta, Michael Hanchard, Miriam .;,;;? ~ .~.,;.; 7 ~l,' ur DIMENSOES CULTURAIS DA .GLOBALIZAC;AO ARJUN APPADURAI r Hansen, Marilyn Ivy, Orvar Lofgren, David Ludden, John MacAloon, Muitos foram os alunos que, tanto na Universidade da Pensilvania ~ Achille Mberribe, Ashis Nandy, Gyanendra Pandey, Peter Pels, Roy Por como na de Chicago, constitufram uma fonte de inspira<;ao e de energia. , .1· 0 ter, Moishe Postone, Paul Rabinow,.Bruce Robbins, Roger Rouse, Mars Devo fazer menc;ao especial daqueles cujo trabalho enriqueceu as ideias t;; ~. I hall Sahlins, Lee Schlesinger, Terry Smith, Stanley J. Tambiah, Charles contidas neste livro: Brian Axel, William Bissell, Caroline Cleav.es, Ni- t) ,~ . , Taylor, Michel-Rolph Trouillot, Greg Urban, Ashutosh Varshney, Toby cholas De Genova, Victoria Farmer, Gautam Ghosh, Manu Goswami, 0 t O '~ - Volkman, Myron Weiner e Geoffrey White. Aos que inadvertidamente es Mark Liechty, Anne Lorimer, Caitrin Lynch, Jacqui McGibbon, Vy- ' r·' queci, as minhas sinceras desculpas. J. ayanthi Rao, Frank RomaoO'osa, Philip Scher, Awadendhra Sharan, Sarah I. .) .1 Urn pequeno numero de pessoas merece uma menc;ao especial pelo Strauss, Rachel Tolen, Amy Trubek e Miklos Voros. Eve Darian-Smith, () : seu apoio mais generalizado e generoso~ 0 meu professor, amigo e co Ritty" Lukose e Janelle Taylor merecem men<;ao especial, quer pelo con- . 1 lega Bernard S. Cohn deu-me, em 1970,0 sinal de partida para uma via tributo intelectual dado a este livr~, quer pela sua assistencia ~ratica. Cai- , 0 i gem atraves da antropologia e da hist6ria e tern sido desde entao uma trin Lynch fez urn esplendido trabalho no fndice. Entre outros, participa-: 0, 0 inesgotavel fonte de ideias, de amizade e de critica realista. Nancy Far ram tambem no complexo processo de produC;ao deste texto Namita Gupta riss manteve-rile sempre atenlo aos desafios da comparac;ao hist6rica e Wiggers e Lisa McNair. () , ao significado da fidelidade ao arquivo. Ulf Hannerz e 0 meu parceiro A minha familia viveu com este livr~, sempre generosamente mas por o para 0 estudo da res global desde'1984, ano que pass amos juntos no vezes sem saber que 0 fazia. A. minha mulher e colega; Carol A. Brec e () Centro de Estudos A vanc;ados em Ciencias do Corriportamento (Palo kenridge, est'a de certomodo presente em todas as paginas: este livro u Alto). Peter van der Veer, em Filadelfia como em Amesterdao, e uma mais urn documento da aventura das nossas vidas. 0 meu filho Alok, a fonte inesgotavel de amizade, humor e debate de ideias. John e Jean Co quem este livro e dedic~do, tornou-se adulto com ele. A sua capacidade maroff, gra<;as a sua cultura e a sua estimulante presen<;a no departamen de amare a sua paixao pel a vida tern velado para que eu nunca esque<;a to de Antropologia da Universidade de Chicago, contribuiram de muitas que os livros nao sao 0 mundo: sao sobre 0 mundo. () forroas para a elaborac;ao deste livro. Sherry Ortner apoiou 0 projecto () desde 0 principio e proporcionou uma das duas cuidadosas e sugestivas (j leituras do manuscrito para a University of Minnesota Press. Estou U igualmente grato ao segu£ldo leitor, an6nimo. Dilip Gaonkar e Benjamin o Lee (os directores da colecc;ao que inclui este 'livro) foram amigos, co legas e interlocutores sob muitas e variadas formas. Homi Bhabha, Jac \) queline Bhabha, Dipesh Chakrabarty, Steven Collins, PrasenjitDuara e o Sheldon Pollock proporcionaram-me uma comuilhao de ideias que, ao o mesmo tempo que se ia formando, me ajudava a c6mpletar este livro ~ o a imaginar muitos outros para 0 futuro. , ) Lisa ~eeman, directora da University of Minriesota Press, e Janaki Bakhle (arHeriormente na Press) estiveram sempre ao meu lado, num mis () to de paciencia e estfmulo, sugestoes criticas e saber editorial. o o 9 . 8 ~~:": I I . I ~.,.: I I I 1 I I Aqui e agora ~. 1 " , A modemidade pertence a essa" pequena fariulia de teorias que simul taneamente se dec1ara e se deseja de aplicabilidade universal. 0 que tern de novo a modemidade (ou a ideia de que a sua novidade e urn novo tipo de novidade) decorre desta dualidade. Para alem de tudo 0 que criou, 0 projecto iluminista aspirou a criar pessoas que, postfestum, viessem a quereJ," ser modemas. Esta ideia que em si propria se consuma e" se justifica provocou muitas crfticas e muita resistencia, tanto na teoria como navida quotidian~. Nos meU$ tempos de juventude, em"Bombaim, 0 contacto com a mo demidade enl uma experiencia nitidamente sinestesica e largamente an teteorica. Via"e cheirava a modemidade lendo a Life e catalogos" de uni versidades americanas na biblioteca do United States Information Service, venda filmes da serie B (e alguns da serie A) de Hollywood no Cinema Eros, a quinhentos metros do meu predio. Pedi para Stanford, ao meu ir mao (no principio dos anos sessenta), que me trouxesse umasjeans e c~ei­ i" rei a America no que trazia a sua bagagem quando ele regressou. Grad;a1- , I, , mente, fui perdendo a Inglaterra que antes assimilara a p'artir dos livros 11 . . . . ~t g\ ARJUN APPADURAI \ _ _ • _ -DIMENSOES CULTURAIS DA GLOBALlZAC;f.O escolares vitorianos, do que diziam os meus colegasde faculdade que ti teoria 1. Esta inversaC? do p·rocesso que me deu a conhecer 0 mod~rno ser- 0 I. nham bolsas Rhodes e dos livros de Billy Bunter e Biggles devorados in ve para explicar algo que de outro modo poderia pim~cer uma preferen- : discriminadamente, a par de outros de Richmal Crompton e Enid Blyto~. c~a disciplinar e ,arbitraria pelo cultural como mera deforma<;ao profis- 0 . . Franny e·Zooey, Holden Caulfield e Rabbit Angstrom foram limando len slOnal do antropologo. . . . 0 ~ a fC'\t tamente essa parte de mim que ate en tao era sa vivas Inglaterra. Sao es \J t-., O r tas as pequenas derrotas que explicam como a Inglaterra perdeu 0 imperio na Bombaim pas-colonial. . o global hoje 0 ~ . Nao sabia entao que estava a afastar-me de uma especie de subjecti . ' . () I vldade pas-colonial (dic<;ao anglOfona, pseudodebates na Oxford Union Todas as grandes for<;as sociais tern percursores, precedeI1tes, analogos . : a umas espreitadelas Encounter, urn interesse patricio pelas humanidades) e. fontes no passado. Sao estas as profundas e multiplas gen'ealogias (ver .~~ ! para outra: 0 Novo Mundo mais aspero, mais sedutor, mais viciante das capitulo 3) que tern frustrado a modemizadores inseridos em sociedades U " reprises de Humphrey Bogart, de Harold Robbins, da Time e das ciencias .m uito diferentes a aspira<;ao de ·sincronizar os seus relagios histaricos. () socjais em estilo americano. Quarido mergulhei nos prazeres do cosmo \ Este livro defende tambem a presen<;a de·uma ruptura geral no teor das 0 P?litismo, no Elphinstone College, ja ia equipado com tudo 0 que e pre- .. rela<;oes intersocietais destas ultimas decadas. Hi que explicaresta pers- 0 . CISO: uma educa<;ao anglafona, urn endere<;o da classe alta de Bombaim pectiva de mudan<;a - melhor, de ruptura - e distingui-Iade algumas 0 (emboracof9. 0 rendimento. de uma faffil1ia da classe media), relaciona > . . das anteriores teorias da transforma<;ao radical. me~to social.com ~s manda-chtivas da academia, urn irmao famoso Ua fu Urn dos mais problematicos legados da gra~de ciencia social do Oci- () leCI~O) que tmha sldo lei aluno, uma irma com amigas bonitas ja na uni dente (Auguste Comte, Karl Marx, Ferdinand Tonnies, Max Weber, 0 versldade. ~as tinha side picado pelo bichinho americano. Estava ja Emile Durkheim) e nunca ter deixado de refor<;ar 0 sentido de urn mo- 0 a .entrado na vlagem que me levou Universidade de Brandeis (em 1967, mento singular - chamemos-Ihe 0 momenta moderno - que pela sua C) e quando os estudantes eram uma categoria etnica irrequieta nos Estados aparencia abre. uma brecha profunda sem precedentes entre 0 passado O· a Unidos) e depois ate Universidade de Chicago. Em 1970 ainda eu an 1I! . eo presente. Reencarnada como 0 corte· entre tradi<;ao e modemidade e 0 a dava deriva, a carninho de urn encontro com as ciencias sociais ameri tipificada comOa dife·~<;a ·;;tre sociedades oStensivamente traa0io- canas, com os estudos de area e com essa forma triunfal de teona da mo nais esociedades ~odef12as,~~ta por demais demonstrado queest~ po- 0 derniza<;ao que era. ainda produto certificado do americanismo num si~~o~~orc~ tran-:SJQrma~ao p~. os sigl!i.ficados da e da polftica do () mundo bipolar. . . \ No entanto, 0 ni.undo em que hoje vi vern os - em que a modernidade.Q Os c~pftulos que se seguem podem ser vistos como urn esfor90 para a a landa decididamente solta, por vezes acanhada e sentida de· forma de- o darsentIdo a uma viagem que come<;ou com modernidade como sen- . sigual - implica seguramente urn corte com todo 0 tipo· de passados . o . sa<;ao materializada nos filmes de Bombaim e terminou num frente-a o. ! Que especie de corte e este, senao 0 identificado pela teoria da moder- -frente com a modernidade-como-teoria nas minhas aulas de ciencias so- . niza<;ao (e criticado no capftulo 7)? . 1 ciais, na Universidade de Chicago, nos primeiros anos setenta. Nestes Implicita neste livro esta uma teoria de ruptura que toma os meios 0 capftulos, procurei tematizar certos factos culturais e utiliza-Io~ para ex de comunica<;ao social e a migra<;ao como os seus dois diacrfticos prin- 0 ·por·a rela<;ao entre a moderniza<;ao como facto e a moderniza<;ao como cipais e interligados, e explora 0 seu efeito conjunto sobre a obra dd C; o 12 .< " AIUUN APPADURAI DIMENSOES CULTURAIS DA GLOBALIZA9AO ima~ina~ao como caracteristica constitutiva da subjectividade modema. ferramenta para que cada individuo se imagine como urn projecto social ~ pnmelro pas so p~r~ 0 provar e que os meios de comunica~ao electr6- em curso. lllCOS mudaram decIsIvamente 0 campo mais ·vasto dos meios de comu Passa-se com 0 movimento 0 mesmo que se passa na mediatiza~ao. nica~ao de mass as e outros meios de comunica~ao tradicionais. Isto nao A questao das migra90es de massas (voluntarias e for~adas) nao e nada 6 uma fetichiza~ao monocausal da electronica. Esses meios de comuni de novo na hist6ria humana: Mas se a colocarmos' em justaposi~ao com ~a9a? transfo~am 0 campo da mediatiza~ao de massas porque ofe re o rapido fluxo de imagens, textos e sensa~oes mediatizados, temos uma cern a constru~ao de eus imaginados e de mundos imaginados novos re nova oidem de instabilidade na modema produ~ao de subjectividades. E curso~ ~ novas disciplinas. uma tese relacional. A comunica~ao Quando os turcos que trabalham na Alemanha veem filmes tur~os nos electro~lca_ marca. e reco~stitui urn campo muito mais vasto em que a. seus apartamentos alemaes, os coreanos de Filadelfia veem as Olimpiadas C?~~ll1ca~ao escnta e outras formas de comunica9ao oral, visual e au de Seul-1988 atraves de emissoessatelite da.Coreia e em Chicago os ta dltIva podem continuar a ser importantes. Atraves de processos c'omo a xistas paquistaneses ouvem cassetes de sermoes' gravados em mesquitas ondensa~ao de noticias em bytes audiovisuais, atraves da tensao entre no Paquist~o mi no Irao, vemos imagens que vao ter com"espectadores s espa~os publicos do cinema e os espa90s mais exclusivos do video desterritorializados. E estes criam esferas public as de diaspora, fenome traves ~da .imediatidade.da sua absor9ao nodiscurso publico e atrave~ nos que invalidam as teorias ancoradas na hegemonia continuada do Es d ten?enCIa para os associar a sedu9ao, a cosmopolitismo e a novidade, . tado-na~ao.como principal arbitro de importantes transforma~oessociais. m.elOs ~e .com~n.iea~ao electronicos (estejam elesligados a noticias, . ',' Em suma, a cornunica~ao electr6nica e as migra90es marcam 0 mundo UtIca, vIda famIlIar ou diversao e espect.kulos) tendem a interrogar, 'do presente, nao 'como for9as tecnicamente novas, mas como aquelas que ubverter e transfo,rmar outras literacias contextuais. Nos capitulos que . parecem impelir (e, por vezes, compelir) a obra da imagina9ao. Juntas, eguem YOU atras dos modos como a comunica~ao electronica trans criam irregularidades especificas porque espectadores eimagens estao em rna mundos de comunica~ao e conduta preexistentes. circula9ao simultftnef Nem as imagens nem os espectadores cabem em cir A comunica9ao electronica da uma tessitura nova ao contexto em que cuitos ou audiencias que facilmente se confinam a espa90s locais, nacionais odemo e 0 global aparecem ~requentemente como faces opostas da ou regionais. Claro que muitos espectadores podem nao emigr;rr. E muitos rna moeda. Sempre portadora do sentido da distancia entre observa- acontecimentos mediatizados sao de alcance fortemente local, como a tele 8.contecimento, provoca, nao obstante, a transforma~ao do discurso visao por cabo em algumas partes dos Estados Unidos. Mas poucos sao os tI~lan~. Ao mesmo tempo, fomece recursos para ~pda a especie de filmes, noticias radiof6nicas, ou especmculos de televisao importantes que n~~cIas de constru~ao do eu em todo 0 tipo de sociedades e para se mantem inteiramente incolumes a outros acontecimentos mediaticos vin tipO de pessoas. Permite enredos de vidas possiveis imbuidas da dos de longe. E, no.mundo de hoje,poucas sao as pessoas que nao tern urn o das estrelas de Cinema e de fantasticos argumentos de filmes . amigo, urn parente, urn 901ega detrabalho que naoesteja a caminho de qual u ~ercam 0 SeU caractet de plausibilidade, como noticiarios, do~ quer outro lugar ouja de voita para casa, portador de historias e de possi nrdrios e outras formas de telemediatiza~ao informativa e de texto bilidades. Neste sentido; tanto pessoas como imagens encontram-se muitas o. Gra~asa mera multiplicidade de formas que assume (cinema, vezes por acaso, foni'das certezas do laf~do cordao sanitario de efeitos me- 0, computadores e telefones) e a maneira rapida como se move diaticos loc'ais e.nac ionais. Esta rela~ao a~m. ovivel e imprevisivel entre acon- das rotinas da vida quotidiana, a comunica9ao electronica e uma . tecimentos mediatiz~dos e audiencias migratorias define 0 amago da liga- ., 15 ARJUN APP ~DURAI DIMENSOES CULTURAIS DA GLOBALIZA ' :- --. , ~ao entre a globaliza~ao e 0 modemolNos capitulos que ~e seguem, mostro Tudo isto e 0 mais seguro 49.,s ab~r que 0 melhor da antropologia que a obra da ~magina~ao, ~ista nestecontexto, nem e puramente emanci- , nica do secul~, ~IX nos incu1cQu. . t _':, padora nem inteiramente disciplinada: e urn espa<;o de contesta~ao no qual .\ Quando afirm?,q ue a imagina~ap, no mundo pos-electronico ten indivipuos e grupos procuram anexar 0 global as suas proprias pniticas do novo papel significativo, baseio-me em tres,distin~5es. Primeiro, a 1111 mode~-~ , gina~ao saiu do particular espa~o expressivo da arte, mito e ritual --... passar a fazer parte da actividade mental-quotidiana da gente vulg \J muitas sociedades. Entrou para a logica da vida corrente de que con I Obra da imaginariio sin~lavel sucesso tinha side segregada. Clar-o que encontra preced I para tal nas grandes revolu~5es, nos cultos de personalidade e nos m V , r D~pois de Durkheim e do trabalho do grupo dos Annees Sociologiques, mentos messianicos de outrora, em que chefes ferozes implantavam _ II a os' antropologos aprenderam considerar as representa~5es colectivas fac Rerspectiva na vida social'oriando assim energicos movimentos de trllJl tos sociais, isto e, a ve-Iastranscender a voli~ao individllal, cartegadas forma~ao,sqcial. . Mas agora ja,.nao se trata de individuos parti~tilarm lit . com a for~a damoral social e como realidades sociais objectivas~-O que dotados (caris maticos) a injectar irriagina~ao onde ela nao cabe. A p eu quero sugerir e que houve nestas ultimas decadas umatransforma~ao , soas' vulgares come~aram a dar prova$ de imagina~ao na sua pratica quo com base nas transforma~5es t~cnologicas do seculo XI~ em que a ima tidiana d~ vida. Exemplo deste facto e a mutua contextualiza~ao d mil gina~aose tomou urn facto colectivo, social. E estaeY9lu~ao esta por sua vimento e mediatiza~ao. , vez na base da pluralidade de mundos im~ginados. ' Nimca como agora tantas pessoas parecem imaginar rotineirament Nesta conformidade, parec~ absurdo aventar que hi algo de novo no possibilidade de elas ou os seus filhos viverem e trabalharemem lug II papel que a imagina~ao ocupa no mundo contemporaneo. Afinal, esta diferentes daqude em que nasceram: e esta a fonte do aumento da t I mos habituados a pensar que todas as sociedades produziram ,as suas de migra~5es a todos os niveis da vida social, nacional eglobal. OUlJ'll vers5es da arte,.d o mito, da lenda, express5es que implicavam a poten sao arrastados para novos cenanos, como nos recordam os campos d J cial evanescencia davidasocial corrent~. Nestas formas de expre~sao, fugiadosda Tailandia, Etiopia, Tamil Nadu e Palestina. E que estas p todas as sociedades se mostraram capazes' de transcendeE\~ reenquadrar soas deslocam.:.se e tern que arrastar consigo a imagi.na~ao para novas lTll a,vida social corrente recorrendo a mitologias de\varios tipos em que a neiras de viver. E depois ha os que se deslocam em busca de trabalh I, " ,vida social surgia imaginativamente deform ada. Enos sonhos, os indi~ , riqueza e opottunidades, muitas vezes porque as circunstancias em qu "viduos, mesmo os das sociedades mais simples, acharam 0 terreno onde encontram sao intoleraveis. Transformando e alargando ligeiramente d reconfigurar a sua vida social, superar estadosemocionais e sensac;5es termos importantes de Albert'Hirschman, lealdade e safda, podemos f llll ,'iriterditos ever coisas que, depois [cram integrarno seu sentido da vida de diasporas deesperan~a, -diasporas de terror e diasporas de desesp 1'( I corrente. Alem'disso, todas estas express5es estiveramna base de urn Mas em todos os casos estas-diasporas trazem a forc;a' da imagina9 ( I dialogo complexo entre a imagina~ao e 0 ritual em muitas sociedades como 'memoria e como deseJb, para as vidas de muita gente vulgar, p \I humanas, 'atraves do qual a for~a das normas sociais correntes de certo mitografias diferentes das disciplinas do~to e do ritual de tipo chissi '0 o m do se aprofundou, pela inversao, pela ironia ou pela intensidade ac ceme desta diferen~a e que estis novas rnitografias sao atestados,de nil tu' ntc e p I trabalho de colabora~ao que muitos tipos de ritual exigem. vos projectos sociais e nao apenas contraponto das certezas da vida' qu I ARJUN APPADURAI DIMENSOES CULTURAIS DA GL lJAUZ • tidiana. Para urn grande ~umero de pessoas, levam a for~a glacial do ha du~ao reprimem severamente a gente comum que busca trabalh in bito ao ritmo acelerado da improvisac;ao. Aqui, as imagehs, os textos, os dustrial. E demasiado simplista.; modelos e as narrativas que chegam pelos meios de comunica~ao 'de mas '~Cada vez ha mais provas de que 0 consumo de comunica~ao de massas sas (nos'-seus IpodoS realista e ficcional) trac;am a diferenc;a entre as mi origin a em todo 0 mundo resistencia, ironia, selectividade e, em geral, im grac;oesde b.oje eas do passado. Quem quer mudar-se, quemja se mudou, pulso para a acr;ao. Os terroristas que modelam a sua figura pela de Ram quem ja regre~sou e quem preferiu ficar ratamente formula os s~~s pIanos bo (que ja deu origem a uma porc;ao de contrapartidas fora do Ocidente), fora da esfera da radio e da televisao, das cassetes 'e dos videos, dos jomais as donas de casa para quem a leitura de romances e folhetins faz parte do a e do ,tel,efooe. Para os mjgrantes, tanto as formulas de adaptac;ao novos seu esfor~o de constru~ao de u~a vida propria, familias muc;ulmanas reu ambientes como 0 estimulo para sair ou voltar sao profundamente afec nidas a ouvir dirigentes islamicos gravados em cassete, as criadas do Sui tados por urn imaginario mediatico que frequentemente transc~nde 0 es- da India q~ue fazem excursoes organizadas a Caxemira, sao exemplos do - p,~o nacional. . ' . , modo activo' como os meios de.c omunicac;ao sao apropriados porgente A segunda distin~ao e entre imaginac;ao e fantasia. ,Existe' urn vasto de todo 0 'mundo.(A~ T-shirts, o's cartazes publicitarios, os grafitos,bem respeltavel corpo de textos, nomeadarriente dos criticos da cultura a 'como a musica rap, a danc;a de rua e os bairros de lata, tudo is so demonstra de assas pertencentes Escola de Frankfurt e ja avanc;ado na obra de , que as .. imagens dos meios de comunicac;ao entram rapidamente para os Max Weber, queconsidera que 0 mundo moderno esta em 'vias de se repertorios locais de ironia, ira, humor e resistencia.J . transformar numa jaula de ferro por obra das' fori;as da niercantiliza~ao a , E nao·s e trata' apenasde gente do Terceiro Mundo que reage comu o capitalismo industrial e da regulamentac;ao e seculariza~ao genera nicac;ao de massas americana, po is mesmo e verdadeiro para pessoas de 0 lizadas do mundo. Entre os teo,ricos da modernizac;ao das u'Itimas tres a todo mundo como reacc;ao sua comunicac;ao electronica nacional. Tan 0 d6cada's (de Weber, passando por Talcott Parsons e Edward Shils ate to basta para que a teoria dos meios de comunica~ao como opio do povo aniel Lerner, Alex Inkeles e muitos t)utros) teve larga aceita~ao a , tenha que ser encarada com grande cepticismo. Nao se pretende, sugerir id ia de que 0 mundo moderno e urn espac;o de religiosidade decres que os consumidores sao sujeitos livres que vivem felizes num mundo de nte (e maior cientismo), menos diversao (e lazer cada vez mais re , .c entros- comerciais seguros, refeic;oes gratuitas e estimulantes rapidos. ulamentado) e de inibic;oo d<t,'~spontaneidade a todos os niveis. Ha Como sugiro no capitulo 4, no mundo contemporaneo 0 consumo e muitas ~itas linhas nesta ideia, linhas que unem teoricos tao diferentes com9 vezes uma forma de corveia, faz parte do processo civilizacional capita N rbert Elias e Robert Bell, mas ha tambem nela algo de fundamen lista. Nao obstante, onde ha consumo ha prazer,e onde ha prazer ha ac~ao. t Imente errado. 0 errofunciona adois niveis. Erinlellih.baseia:;se..IU!!P Por outro lado, a liberdade e uma mercadoria urn tanto mais fugaz. a a qUiemprematuro morte::da religiaQ e vltoria da'cienc~a. Ha novas AMm disso, a ideia de fantasia traz consigo a inevitavel conotac;ao do ligiosidades de toda a especie que Gemonstram que-ii-religiao nao \ pensamento divorciado dos projectos e das acc;oes e tern tambem oseu nas nao morreu como pode ate ter mais consequencias do que nun que de privado, de individualista. A imaginac;ao, pelo contrario, tern em n s politica; g'lobais de hoje, Hio inJerligadas e dotadas de t-ao- g-ra-n si urn sentido projectivo, 0 sentido de ser 0 preludio a urn qualquermQdo mobilict:ide. 'K um outro nNel, e errado presumir que a comunicac;ao I tr6ni£a._.:¢. 0. .o.p io d_~U2~. E.~-st-a~ posl. ~ao, que apen. as come~a a ser. .~~a e lxopgriecs as aeo ,m suejiata se svteetziceso aouut ootuetlric~a. )A, mfaanst aas iiam paogidnea cd;iasop,e erssapre c(piaolrmquene tea rrigida, baseia~s~ na noc;ao de que os processos mecanicos de repro- E quando colectiva, pode tomar-se carburante da acc;ao. a imaginac;ao, nas

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