Dicionário Amoroso de Porto Alegre Altair Martins Copyright © 2013, Altair Martins Sumário A Aeromóvel Andradas B Beira-Rio Bom Fim Borghetti C Cais do Porto Chimarrão Cidade Baixa Costela na Brasa D Deise Nunes Do Contra E Elis Regina Erico Verissimo F Feira do Livro Festa de Nossa Senhora dos Navegantes G Grenal Guaíba H Hipódromo do Cristal I Iberê Camargo Igreja Nossa Senhora das Dores Iván Izquierdo J Jacarandás Jorge Furtado K Kleiton e Kledir L Laçador Largo dos Açorianos Lupicínio Rodrigues M Mercado Público Moinhos de Vento Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli N Naziazeno Barbosa Nei Lisboa O Ói nóis aqui traveiz Orquestra Sinfônica de Porto Alegre P Pôr do sol Q Quintana, Mario R Redençâo Roberto Landell de Moura S Sabiá-laranjeira Santuário de Santa Rita de Cássia T Tangos e Tragédias Theatro São Pedro Tio Tony U Usina do Gasômetro V Vasco Prado Vento Minuano W Werner Schünemann Wiederspahn, Theo X Xico Stockinger Y Yamandu Costa Z Zé da Folha Zona Sul Aeromóvel Há uma estupidez da qual nunca nos livraremos: a cegueira quanto aos nossos passos mais engenhosos. Não é uma exclusividade de Porto Alegre, mas o aeromóvel do inventor gaúcho Oskar Coester é o nosso exemplo. Amo a ideia do aeromóvel desde criança, quando, por volta dos oito anos, me mostraram, ali perto do colégio Parobé, aquele veículo do futuro: aeromóvel. O nome, por si, já era encantador, e vim a saber em sala de aula que o projeto era ainda mais. Professor de Ciências explicou: Oskar concebeu um trem sem motor, leve, porque a propulsão ficava na pista e não no vagão. O veículo, movido a ar como um barco a vela, era completamente silencioso, eficaz e ecológico. A palavra ecológico era ainda estranha em se tratando de uma máquina, e aquela máquina parecia estar suspensa para simples exposição. Oskar usou aquela linha provisória para testar e comprovar os componentes de seu projeto. Fundou uma empresa para a produção e estudos avançados. Desde então, vem lutando simplesmente para se fazer entender: o aeromóvel nasceu aqui — da sua experiência na VARIG e da constatação técnica das vantagens de um transporte que, hoje se sabe, é o que menos agride o meio, compondo um todo harmônico, o que não parece ter encantado autoridades e investidores daquela época. Talvez que a ciência não fizesse parte da agenda, como as questões ambientais também não faziam. Amei o aeromóvel, como uma criança ama a ideia de ser astronauta. Em vez de um engenheiro da NASA, o inventor era um cara de Pelotas. Quis subir e andar na nave, no curto trilho de uma ponta à outra. Torcia para que o ponto de chegada fosse o futuro. Foi. Ocorre que os nossos projetos nunca tiveram o lóbi ou financiamento gringos, além de incorrerem no erro de dispensar a máquina de endinheiramento do petróleo. Essas teorias eram chamadas de conspiradoras. Penso nelas hoje, quando recordo o fato de João Augusto Gurgel ter interrompido seu projeto de carro nacional, bem como o descaso sofrido pelo Padre Landell de Moura e seu pioneirismo radiofônico. O trilho-piloto e o trem branco acabaram esquecidos, meio que estátuas. Mas o aeromóvel foi recebido em alguns países, sem o empurrão mercadológico que, caso fosse uma invenção alemã ou norte-americana ou francesa, receberia. É um veículo que gasta muito pouco, e de muito pouca manutenção. Comemorei ao saber que ele começava a ser instalado em áreas de proteção ambiental. Era a cara dele. Agora que Oskar poderá ver seu aeromóvel em Porto Alegre, ligando o aeroporto ao metrô, um curto trilho realizará meu sonho de criança crescida. Curto à primeira vista: tem um quilômetro por 30 anos o trilho que me levou da infância à adolescência e à vida adulta, aonde cheguei com a ideia fixa de deixar algo de bom para a coletividade, ideal que, às vezes, recuava diante do descaso com Oskar: mas vale a pena? Não, não pareciam valer a pena a inciativa, a criatividade e o sonho para solucionar, nós mesmos, nossos problemas. Nunca foi proibido sonhar, desde que se sonhe sozinho. Sonhei junto com Oskar. Amo a iniciativa brasileira, como amei o aeromóvel desde que o elevaram no ar, feito um monumento dessa nossa incompetência: a de ver quem somos.
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