DESVENDANDO AS FRONT EIRAS DO CO NHECIMENTO NA REGIÃO AMAZÔNIC A DO ALTO R IO NEGRO Editores: Luiz Augusto Gomes de S ouza e Eloy Guillermo C astellón. 2012 Capa: Projeto Gráfico: Ficha Catalográfica ISBN: 2012 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO..................................................................................... 5 O MEIO AMBIENTE FÍSICO CAPÍTULO 1 ............................................................................................. 7 AS ÁGUAS TRANSFRONTEIRIÇAS DO ALTO RIO NEGRO Sergio Roberto Bulcão Bringel e Domitila Pascoaloto. CAPÍTULO 2 ............................................................................................ 23 ESTUDO DO CLIMA E INTERAÇÕES ENTRE A FLORESTA E A ATMOSFERA, NO PARQUE NACIONAL DO PICO DA NEBLINA, SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AM Marta de Oliveira Sá, Leila do Socorro Monteiro Leal, José Galúcio Campos, Alessandro Carioca de Araújo, Paulo Ricardo Teixeira da Silva, Mauro Mendonça da Silva, Daniela Pauletto, Maria Betânia Leal de Oliveira, Maria Rosimar Pereira Soares Fernandes, Mékio Menezes Diniz, Antonio Ocimar Manzi. CAPÍTULO 3 ............................................................................................ 37 QUALIDADE DA ÁGUA DOS RECURSOS HÍDRICOS NA SEDE DO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AM Domitila Pascoaloto, Márcio Luiz da Silva, Sérgio Roberto Bulcão Bringel. RECURSOS VEGETAIS E AGROBIODIVERSIDADE CAPÍTULO 4 ............................................................................................ 51 AVANÇANDO FRONTEIRAS: POTENCIAL QUÍMICO, ECOLÓGICO- ECONÔMICO DE ESPÉCIES FLORESTAIS DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AM Maria de Jesus C. Varejão, Cristiano S. do Nascimento, Irineide de A. Cruz. CAPÍTULO 5 ............................................................................................ 69 DESENVOLVIMENTO DE (BIO) TECNOLOGIAS PARA APROVEITA- MENTO DE RECURSOS NATURAIS NO ALTO RIO NEGRO Claudete Catanhede do Nascimento, Maria da Paz Lima, Marta Martins Brasil, Roberto Daniel de Araújo e Estevão V. C. Monteiro de Paula. CAPÍTULO 6 ............................................................................................ 85 CRIAÇÃO DE MATRINXÃ (BRYCON AMAZONICUS) EM CANAIS DE IGARAPÉ NO ALTO RIO NEGRO, AM Elizabeth Gusmão Affonso, Elenice Martins Brasil, Rondon Tatsuta Yamane Baptista de Souza, Eduardo Akifumi Ono CAPÍTULO 7 ............................................................................................ 99 DIVERSIDADE DE LEGUMINOSAS DO ALTO RIO NEGRO E SEU POTENCIAL DE APROVEITAMENTO BIOECONÔMICO Luiz Augusto Gomes de Souza, Angélica Maria Cortes e São Paulo Aguiar, Adilson Rodrigues Dantas, Manoel Cursino Lopes. CAPÍTULO 8 ............................................................................................ 125 MELIPONICULTURA NO ALTO RIO NEGRO (AMAZONAS, BRASIL) Helio Conceição Vilas Boas, Gislene Almeida Carvalho-Zilse. CAPÍTULO 9 ............................................................................................ 147 POTENCIAL DAS ETNOVARIEDADES DE CUBIU (SOLANUM SESSILIFLORUM DUNAL, SOLANACEAE) DA REGIÃO DO ALTO RIO NEGRO, AVALIADAS POR MEIO DE UMA ANÁLISE MORFOLÓGICA E AGRONÔMICA Danilo Fernandes da Silva Filho, Jorge Emídio de Carvalho Soares, Marinete da Silva Vasques, Ayrton Luiz Urizzi Martins, Hiroshi Noda, Francisco Manoares Machado. DIVERSIDADE DA FAUNA CAPÍTULO 10 ........................................................................................... 171 CONSERVANDO AS TARTARUGAS NA BACIA DO RIO NEGRO Larissa Schneider, Camila R. Ferrara, Richard C. Vogt, Joanna Burger. CAPÍTULO 11 ........................................................................................... 185 UTILIZAÇÃO DO CÓDIGO DE BARRAS DE DNA NA ESTIMATIVA DA DIVERSIDADE DE PEIXES ELÉTRICOS DO GÊNERO MICROSTERNARCHUS (OSTARIOPHYSI: GYMNOTIFORMES) NA BACIA DO RIO NEGRO, AMAZONAS Carolina Rabelo Maia, José Antônio Alves-Gomes. DIVERSIDADE DA CLASSE INSECTA CAPÍTULO 12 ........................................................................................... 203 ABELHAS DAS ORQUÍDEAS NO ALTO RIO NEGRO: NOVOS ACHADOS Marcio Luiz de Oliveira. CAPÍTULO 13 ........................................................................................... 211 DIVERSIDADE DAS MOSCAS DO ALTO RIO NEGRO Rafael A. P. Freitas-Silva, Rosaly Ale-Rocha, Geovânia de Freitas, Beatriz Ronchi Teles. CAPÍTULO 14 ........................................................................................... 219 CUPINS (ISOPTERA): BIOLOGIA, ECOLOGIA GERAL E DIVERSIDADE NA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DO PICO DA NEBLINA, SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AM José Wellington de Morais, Daniel Reis Maiolino de Mendonça, Cristian de Sales Dambros, Leonardo Monteiro Pierrot, Alexandre Vasconcellos. CAPÍTULO 15 ........................................................................................... 229 DIVERSIDADE DE CULICOIDES LATREILLE (DIPTERA: CERATOPOGONIDAE), NA BACIA DO RIO NEGRO Eloy Guilhermo Castellón, Luciana Gimaque da Silva, Déborah Patrícia Cunha Rodrigues. CAPÍTULO 16 ........................................................................................... 235 DIVERSIDADE DE INSETOS AQUÁTICOS NO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AMAZONAS Ruth Leila Ferreira-Keppler; Neusa Hamada & Carlos Augusto Silva de Azevêdo. CAPÍTULO 17 ........................................................................................... 247 FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) NA BACIA DO RIO NEGRO, ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL Eloy Guillermo Castellón, Rui Alves de Freitas, Déborah Patrícia Cunha Rodrigues. 257 CAPÍTULO 18 ........................................................................................... OS HYMENOPTERA NA CONCEPÇÃO DOS BANIWA QUE VIVEM NA CIDADE DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AM, BRASIL Sunny Petiza, Ana Carla Bruno, Neusa Hamada, Ruth Leila Ferreira-Keppler, Eraldo Medeiros Costa-Neto. ENDEMIAS E DOENÇAS TROPICAIS 271 CAPÍTULO 19 ........................................................................................... DESVENDANDO AS FRONTEIRAS DO CONHECIMENTO SOBRE A LEISHMANIOSE NO EXTREMO NOROESTE DO BRASIL Antonia Maria Ramos Franco, Francimeire Gomes Pinheiro. 287 CAPÍTULO 20 ........................................................................................... MALÁRIA EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA, AM: FATORES ENTOMOLÓGICOS, DINÂMICA DE TRANSMISSÃO E CONTROLE Wanderli Pedro Tadei, Joselita Maria Mendes dos Santos, Iléa Brandão Rodrigues, Miriam Silva Rafael, Oneron de Abreu Pithan. CAPÍTULO 21 ........................................................................................... 311 UM FATOR DE RISCO NO AMAZONAS: CASO IMPORTADO DE LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA Sonia Rolim Reis, Marilene Suzan Michalick, Francimeire Gomes Pinheiro, Luanda de Paula Figueira, Antonia Maria Ramos Franco 323 CAPÍTULO 22 ........................................................................................... UM MUNDO DESCONHECIDO DOS INSETOS DE ASAS ENTREABERTAS: OS FLEBOTOMINEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) Francimeire Gomes Pinheiro, Liliane da Rocha Nery, Luanda de Paula Figueira, Sonia Rolim Reis, Luis Henrique Monteiro Gomes, Rui Alves de Freitas, Antonia Maria Ramos Franco EDUCAÇÃO AMBIENTAL E BIBLIOTECA DIGITAL 327 CAPÍTULO 23 ........................................................................................... DEMOCRATIZAÇÃO DE ACESSO AO BANCO DE DADOS AMBIENTAIS DO PROJETO FRONTEIRA PARA O ALTO RIO NEGRO POR MEIO DA BIBLIOTECA DIGITAL DO INPA Suely de Souza Costa, Ângela Nascimento dos Santos Panzu, Karina Jussara de Moura Costa, Kelly Cristina de Castro Leme, Silene da Mota Coelho. APRESENTAÇÃO A sensação da descoberta permeia a vida do cientista. Na realidade é sua razão de ser. Estou falando aqui de todas as descobertas, desde o descobrimento de um planeta por astrônomos, de um elemento químico por químicos, de uma espécie de planta ou animal por biólogos, de um medicamento por farmacólogos, até a descoberta de um passo metabólico por bioquímicos. No que se refere aos elementos naturais, nenhum outro lugar no mundo permite experimentar essa sensação com tanta frequência como a Amazônia. Alguns autores já a denominaram de “mina de ouro biológica”. Entretanto, a ausência de gente qualificada para estudá-la é tão ampla que não se consegue dar conta de descrever o que está escondido no seu solo, nas suas águas e na atmosfera que a recobre. Se, por um lado, a observação e a descrição são ainda incipientes, por outro, a experimentação e a comprovação de sua dinâmi- ca ambiental são permeadas por lacunas relevantes. Ao inserirmos o homem nesse contexto, com sua forma de vida, a cultura, as migrações, a interação com o ambiente, as línguas faladas e extintas e as relações sociais, potencializamos o desconhecido de tal forma que se atingem os contornos e a dimensão do verdadeiro Eldorado da Ciência. Na Amazônia, o olhar multi e transdisciplinar é quase obrigatório, dever de ofício por parte dos cientistas. Expurgar esse olhar é perder o majestoso e submeter-se aos invari- áveis e monótonos caráteres monográfico, linear e convencional das disciplinas, deixando as fronteiras do conhecimento inexploradas. É produzir uma Ciência para a Amazônia e não da Amazônia. Aqui, a interlocução das informações em cenários multi e transdisciplinares re- presenta um recorte de difícil execução, mesmo para os mais experientes cientistas que vivem o dia-a-dia da região, mas que uma vez obtida, representa a consagração e o reconhecimento silenciosos de um longo trabalho. “Desvendando as fronteiras do conhecimento na região amazônica do alto Rio Negro” é um exemplo desse longo trabalho que coroa muitos anos de coleta de informações, de interação com as comunidades da região, de reuniões para discussão dos achados, de longas horas apropriando-se da literatura pertinente e também redigindo o que está nas centenas de páginas que seguem esta apresentação. A Ciência não produz informa- ções definitivas e este livro também não as contém; pelo contrário, é uma bela introdução à diversidade existente num dos extremos dessa nossa região por descobrir. “Desvendando as fronteiras do conhecimento na região amazônica do alto Rio Negro” está divi- dido em seis partes que se entrelaçam e dão robustez ao próprio titulo, levando o leitor as fronteiras do conhecimento. A primeira parte do livro refere-se ao ambiente físico, isto é, às características do substrato onde tudo acontece. A água daquela região revela características singulares químicas e físicas que permitiram chamá-la de água vermelha em contraponto às águas brancas, pretas e claras tão bem estabelecidas. Nenhum dos objetos tratados nas partes seguintes existiria sem o ambiente e vice-versa: interagem e se determinam, se estabelecem, se definem e juntos, todos, evoluem. Evoluem e dão origem às diversidades da região que se medem mais por suas imensurabilidades, posto que conhecidas apenas por suas beiras. Este é o recorte das três partes seguintes. A parte referente aos recursos vegetais e suas interfaces com a agrobiodiversidade busca dar contornos à importância dos recursos vegetais e natu- rais para a inclusão social e geração de renda, explicita os meios para a produção e uso dos recursos naturais, peixes, abelhas e frutos. Na parte que segue, a diversidade da fauna inclui dois elementos particularmente especiais: a tartaruga da Amazônia que tem revelado carac- terísticas biológicas singulares e é detentora de profunda significância regional; e os peixes elétricos, grupo de animais endêmicos da Amazônia, que a cada dia tem se mostrado mais diverso. A parte relacionada à diversidade de insetos, fecha este recorte. Nela estão incluídas não só informações relevantes sobre a diversidade, mas a importância social de vários grupos de insetos, como as abelhas das orquídeas da região, as moscas do alto Rio Negro, os cupins, os culicóides, os insetos aquáticos e os flebotomíneos. Os Hymenoptera ganham um estudo particular: são analisados segundo a concepção dos Baniwa. Esse recorte diverso é, no en- tanto, apenas uma breve e estimulante introdução ao mundo das diversidades escondido na região do alto Rio Negro. A quinta parte dessa obra trata de um dos maiores desafios regionais: as endemias e doenças tropicais. Ainda que a Ciência tenha dado passos gigantescos nas últimas décadas, as doenças tropicais, particularmente em regiões remotas, seguem constrangendo, dada nos- sa incapacidade de entendê-las, de resolvê-las e de erradicá-las de forma efetiva. Esta parte inclui quatro capítulos instigantes: a malária, a leishmaniose comum e visceral, esta represen- tando um novo desafio para a saúde pública na Amazônia, e os flebotomíneos. Nesta parte do livro estão exploradas as características biológicas dos diferentes agentes etiológicos e, também, suas implicações para o homem da região. De novo, esta parte representa apenas um rápido olhar para esses desafios de uma região por revelar-se. Por fim, educação e socialização da informação se constitui no foco da sexta e última parte da obra. O desafio de lidar com uma população maior que a de muitos países, dispersa por uma imensa área como a Amazônia, requer concepções e ações que não estão nos ma- nuais pedagógicos convencionais. Por isso, na Amazônia é necessário ousadia para produzir os meios educativos adequados que conectem o indivíduo ao seu ambiente, à sua gente. O conhecimento permite a avaliação das intervenções e a manifestação do querer, e do não querer; permite o exercício da plena cidadania e isso é inclusão social. Recomendo a leitura de “Desvendando as fronteiras do conhecimento na região amazônica do alto Rio Negro” a cientistas que chegam à Amazônia e querem conhecê-la e também àqueles que a estudam; aos agentes públicos que precisam tomar decisões enriquecidas por infor- mações científicas; a estudantes que buscam iniciar-se; e a todos quantos se interessam pelas questões amazônicas, em particular à região do alto Rio Negro. Como lembra a letra da mú- sica Porto de Lenha, composta por Torrinho e Aldízio Filgueiras, “Um quarto de flauta, do alto Rio Negro”, esta obra soma e estimula o conhecimento da Amazônia profunda. Adalberto Luis Val Pesquisador e atual Diretor do INPA 7 CAPÍTULO 1 AS ÁGUAS TRANSFRONTEIRIÇAS DO ALTO RIO NEGRO Sergio Roberto Bulcão Bringel¹ e Domitila Pascoaloto¹ ¹Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av. André Araújo, 2936, Petrópolis. C.P. 478, CEP 69011-970. [email protected], [email protected]. Na hidroquímica da região Amazônica, sua literatura existente está mais concentra- da na química das águas dos principais ecossistemas aquáticos da região, (Sioli, 1950; 1968; Brinkmann & Santos, 1973; Santos et al. 1981 e Bringel, et al. 1984; Santos et. al. 1984). Na região Amazônica os rios e igarapés de água preta são considerados como muito pobres em sedimentos em suspensão, o que faz supor uma relação com a alta acidez das águas pretas e o elevado conteúdo de material orgânico solúvel como sugerem Schmidt (1972); Bringel, et al. (1984) e Santos et. al. (1985). Os fenômenos ecológicos que ocorrem nos ecossistemas aquáticos tropicais, e em particular na região Amazônica, são influenciados pela grande oscilação do nível das águas que propiciam um dinâmico processo de interação entre os ecossistemas aquáticos e terres- tres. Por outro lado, os processos geológicos (intemperismo, erosão, transporte de sedimen- tos) estão associados à precipitação e evapotranspiração, intensos na Amazônia, contribuem para a formação da densa rede de drenagem perene na região. Dentre esses ecossistemas, os igarapés são microssistemas fundamentais das bacias de drenagem e constituem representam um sistema muito complexo de diferentes habitats e, devido ao seu pequeno volume de água, tornam-se vulneráveis aos impactos ambientais naturais ou induzidos. O desmatamento e a poluição alteram a sua hidrologia e hidroquímica e as comunidades animais e vegetais são atingidas (Sioli, 1957; Campos, 1994). Inúmeros são os trabalhos realizados na região amazônica envolvendo seus recursos hídricos sob vários aspectos, entre eles as características químicas de suas águas. Sioli (1950), estudou as água do alto rio Negro e seus tributários, entre eles o Rio Içana, estudo este que foi ampliado em Sioli (1957) onde comparou os valores de pH de suas águas com as de ou- tros rios da Amazônia. No entanto, o primeiro estudo detalhado das características químicas e físicas das águas do rio Negro foi realizado por Ungemach (1967), o qual obteve dados do teor de matéria orgânica, de nutrientes e de sais neste ambiente. Prosseguindo as pesquisas Sioli e Klinge (1962) e Sioli (1968) ampliaram essas informações, estudando as características geo- lógicas e geográficas, o clima, os solos da região amazônica e sua influência na hidroquímica 7
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