DESEJO SEXUAL SCRUTON ROGER SCRUTON DESEJO SEXUAL Uma investigação filosófica Tradução de Marcelo Gonzaga de Oliveira Desejo sexual: uma investigação filosófica Roger Scruton 1ª edição – junho de 2016 Copyright © by Roger Scruton, 2006. Esta tradução é publicada em acordo com a Bloomsbury Publishing Plc. Os direitos desta edição pertencem ao CEDET – Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico Rua Ângelo Vicentim, 70. CEP: 13084-060 – Campinas – SP Telefone: 19-3249-0580 e-mail: [email protected] Editor: Diogo Chiuso Editor-assistente: Thomaz Perroni Tradução: Marcelo Gonzaga de Oliveira Revisão: Gustavo Nogy Capa: J. Ontivero Diagramação: Maurício Amaral FICHA CATALOGRÁFICA Scruton, Roger Desejo sexual: uma investigação filosófica / Roger Scruton; tradução de Marcelo Gonzaga de Oliveira – Campinas, SP: VIDE Editorial, 2016. ISBN: 978-85-67394-93-0 1. Filosofia moderna: ensaios 2. Ensaios e estudos filosóficos 3. Ética no sexo e reprodução I. Autor II. Título CDD – 190.2 / 501.01 / 176 ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO 1. Filosofia moderna: ensaios – 190.2 2. Ensaios e estudos filosóficos – 501.01 3. Ética no sexo e reprodução – 176 Conselho editorial Adelice Godoy César Kyn d’Ávila Diogo Chiuso Silvio Grimaldo de Camargo VIDE Editorial – www.videeditorial.com.br Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio. SUMÁRIO PREFÁCIO ......................................................................................................................9 CONSELHO AO LEITOR ..........................................................................................13 Capítulo 1 O PROBLEMA ..............................................................................................................15 Capítulo 2 EXCITAÇÃO.................................................................................................................37 Capítulo 3 PESSOAS .......................................................................................................................61 Capítulo 4 DESEJO ..........................................................................................................................93 A perspectiva de primeira-pessoa e a excitação .......................................................95 Revelação involuntária .................................................................................................98 Encarnação ..................................................................................................................104 Pessoas desencarnadas ...............................................................................................108 A natureza pessoal do objeto de desejo ...................................................................112 A fenomenologia dos nomes próprios .....................................................................115 Pensamento individualizante ....................................................................................117 A perspectiva da primeira-pessoa no desejo ..........................................................123 Ética kantiana – uma digressão ................................................................................124 O curso do desejo .......................................................................................................127 O objetivo do desejo...................................................................................................130 Capítulo 5 O OBJETIVO INDIVIDUAL ....................................................................................139 Distinções entre atitudes ...........................................................................................142 O universal e o particular ...........................................................................................142 O fundado em razões, o livre de razões e o que envolve razões ..............................143 A atenção e a desatenção ............................................................................................147 O propositado e o despropositado ..............................................................................149 O transferível e o intransferível ..................................................................................151 Mediato e imediato......................................................................................................157 As características formais do desejo ........................................................................159 O objeto individual ....................................................................................................162 A “essência subjetiva” .................................................................................................170 Pensamentos individualizantes .................................................................................172 O paradoxo de Sartre .................................................................................................174 O objetivo do desejo...................................................................................................180 Pecado original ...........................................................................................................187 Animal e pessoa ..........................................................................................................193 Capítulo 6 FENÔMENOS SEXUAIS ..........................................................................................197 Obscenidade ................................................................................................................197 Modéstia e vergonha ..................................................................................................200 O significado dos órgãos sexuais ..............................................................................211 Prostituição .................................................................................................................220 Enamoramento ...........................................................................................................226 Ciúme ...........................................................................................................................228 Dom-juanismo ............................................................................................................234 Tristanismo ..................................................................................................................237 Sadomasoquismo........................................................................................................242 Capítulo 7 A CIÊNCIA DO SEXO ..............................................................................................251 A biologia do sexo ......................................................................................................251 Sociobiologia ...............................................................................................................255 Uma nota sobre Schopenhauer .................................................................................266 O inconsciente ............................................................................................................270 Psicologia freudiana: o problema geral....................................................................272 Freud: a teoria específica ...........................................................................................276 Crítica: a libido ...........................................................................................................281 Crítica: a zona erógena ..............................................................................................284 A voz freudiana ...........................................................................................................288 Capítulo 8 AMOR ..........................................................................................................................295 A questão de Platão ....................................................................................................298 Níveis de amizade .......................................................................................................302 Amizade e estima .......................................................................................................306 A intencionalidade da amizade ................................................................................314 Amor e amizade ..........................................................................................................315 O amor erótico ............................................................................................................318 Tensões no amor .........................................................................................................323 Amor e indolência ......................................................................................................329 O curso do amor .........................................................................................................331 A expressão do amor no desejo ................................................................................336 Beleza ...........................................................................................................................343 Novos problemas ........................................................................................................346 Capítulo 9 SEXO E GÊNERO ......................................................................................................347 Sexo e gênero ..............................................................................................................348 Construção de gênero ................................................................................................352 Feminismo kantiano ..................................................................................................353 O papel do gênero ......................................................................................................355 Homem e mulher .......................................................................................................356 Encarnação ..................................................................................................................361 Encarnação e construção de gênero .........................................................................365 Tipos pessoais .............................................................................................................372 A questão de Platão e a raiz do desejo .....................................................................377 Beleza e gênero ...........................................................................................................379 Homossexualidade e gênero .....................................................................................382 Capítulo 10 PERVERSÃO...............................................................................................................387 Bestialidade .................................................................................................................396 Necrofilia .....................................................................................................................399 Pedofilia .......................................................................................................................402 Sadomasoquismo........................................................................................................405 Homossexualidade .....................................................................................................414 Incesto ..........................................................................................................................422 Fetichismo ...................................................................................................................427 Masturbação ................................................................................................................430 Castidade .....................................................................................................................433 Capítulo 11 MORALIDADE SEXUAL .........................................................................................435 Capítulo 12 A POLÍTICA DO SEXO ............................................................................................471 EPÍLOGO ....................................................................................................................491 Apêndices I. A PRIMEIRA PESSOA ..........................................................................................493 II. INTENCIONALIDADE .......................................................................................515 ÍNDICE ONOMÁSTICO .........................................................................................541 ÍNDICE REMISSIVO ................................................................................................551 PREFÁCIO O assunto do desejo sexual tem sido amplamente ignorado pela filosofia moderna, e as biografias dos grandes filósofos mo- dernos sugerem que eles evitaram a experiência do desejo tão escrupulosamente como têm evitado a sua análise. Deixo para outros a tarefa de explicar por que isso é assim. Mas o assunto exige que eu faça uma observação geral sobre o problema que a filosofia encontra quando entra neste domínio. Até o final do século XIX, era quase impossível discutir o desejo sexual, exceto como parte do amor erótico, e ainda assim a convenção exigia que as peculiaridades do desejo permane- cessem ocultas. Esta negligência deliberada também afetou a discussão do amor erótico, que foi feito para parecer ainda mais misterioso do que é, precisamente porque tinha sido privado de seu principal motivo. Quando a interdição finalmente acabou – graças a escritores como Krafft-Ebing, Charles Féré e Havelock Ellis – foi em virtude de uma abordagem supostamente “cientí- fica”, tornando-se um fenômeno natural generalizado. Tal era o prestígio da ciência que qualquer investigação con- duzida em seu nome poderia invocar poderosas correntes de aprovação social, que foram suficientes para superar a relutân- cia – de outra forma incapacitante – para enfrentar as realida- des da experiência sexual. No entanto, foi precisamente essa dependência do prestígio da ciência que levou à contínua ne- gligência do assunto. Tornou-se necessário assumir que o com- portamento sexual é um aspecto da condição de ‘animal’ do homem – um “instinto” cuja expressão exibe as leis ocultas de um complexo processo biológico. Mas, como exponho nas pá- ginas a seguir, nenhuma taxonomia biológica poderia apreender as especificidades do desejo sexual. O desejo é de fato um fenô- meno natural, mas está além do alcance de qualquer “ciência natural” do homem. 9 desejo sexual - uma investigação filosófica roger scruton Quando Freud apresentou suas revelações chocantes – dis- farçadas mais uma vez como verdades neutras, “científicas”, sobre um impulso universal – a linguagem consolidou-se na- quela em que os detalhes da sexualidade humana são agora ha- bitualmente apresentados. Freud descreveu o objetivo de desejo sexual como: a união dos órgãos genitais no ato conhecido como cópula, que leva a uma liberação da tensão sexual e a uma extinção temporária do instinto sexual – uma satisfação análoga à saciação da fome. Essa linguagem – que mostra certo ódio do ato sexual e de tudo que diz respeito a ele – não pode abarcar o que é distintivo na experiência sexual. Sua adoção universal por “sexólogos” le- vou, no entanto, a uma “ciência” notável, que pretende explicar o que sequer tem linguagem para descrever. O Relatório Kin- sey, assim como a literatura pseudocientífica seguinte, apenas continua, de forma mais vulgar e vigorosa, o empreendimento moralizante de Krafft-Ebing: o trabalho de confrontar nossos sentimentos morais com uma descrição supostamente “científi- ca” dos fatos que os ameaçam. O resultado foi a criação do “re- latório do sexólogo” como um novo gênero literário. O estilo é exemplificado pelo Masters and Johnson Report, com as suas repetidas referências ao “bom funcionamento”, “adequação” e “frequência” do “desempenho sexual”, e sua abordagem pseu- do-experimental para questões que só podemos ver em termos neutros se não as entendermos: “O indivíduo C vocalizou um desejo de retornar ao programa acompanhado de sua esposa como uma unidade familiar colaborativa.” O efeito dessa “des- mistificação” do impulso sexual tem sido o aumento de supers- tições novas e inéditas e o crescimento de um novo tipo de mis- tério pseudocientífico, cuja dissipação é um dos objetivos deste livro. Apenas ocasionalmente um escritor dirigiu-se para a questão crucial que esta literatura “científica” se esforçou por ignorar: a questão do que uma pessoa experimenta quando deseja outra. O desejo não é idêntico nem ao “instinto” que se expressa nele nem ao amor que o preenche. É, conforme mostrarei, um fenô- meno exclusivamente humano, e que nos impele precisamente àquela noção restritiva de “decência” que proibiu sua discus- 10