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Vladimir Stolzenberg Torres Dendrocirúrgia em palmeiras - case Butia odorata (Barb. Rodr.) Vladimir Stolzenberg Torres¹ ¹ Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade Prefeitura Municipal de Porto Alegre Resumo: Dendrocirúrgias são realizadas, tradicionalmente, em espécimes arbóreos, não havendo relatos de sua aplicação em representantes de Palmae Juss. Assim, objetivou-se testar a técnica Butia odorata (Barb. Rodr.), sendo adotado, para tanto, calda bordalesa como fungicida, preenchimento de cavidades com espuma de poliuretano, selando com massa corrida e pintura com tinta esmalte. O procedimento evidenciou um bom recobrimento e abrigo da lesão, carecendo, entretanto, de maior tempo de observação tendo em vista não haver regeneração dos tecidos atingidos. Palavras-chave: Dendrocirúrgia, Recuperação de Palmeiras, Butia odorata. Dendrosurgery in palm trees - case Butia odorata (Barb. Rodr.) Abstract: Dendrosurgery is traditionally performed on tree specimens, and there are no reports of its application in representatives of Palmae Juss. Thus, the objective was to test the technique Butia odorata (Barb. Rodr.), being adopted, for that, Bordeaux mixture as a fungicide, filling cavities with polyurethane foam, sealing with spackle and painting with enamel paint. The procedure showed a good covering and shelter from the lesion, however, requiring a longer observation time in view of the lack of regeneration of the affected tissues. Keywords: Dendrosurgery, Palm Trees Recovery, Butia odorata. INTRODUÇÃO estagnação dos danos e o estímulo à A dendrocirúrgia (do grego dendron, regeneração (BARCELOS, 2000), madeira) se constitui em uma técnica com o preenchimento de cavidades de recuperação fitossanitária (ou por cimento ou concreto, conforme condução - com vistas à preservação) Andrade et al. (2012). executada em algum espécime As lesões onde se realizam vegetal, normalmente arbóreo, se intervenções são, costumeiramente, caracterizando por intervenções decorrentes de manejos manuais acrescidas da aplicação de inadequadamente conduzidos ou, produtos químicos que promovam a mais raramente, de condições Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 99 Vladimir Stolzenberg Torres naturais, como uma tempestade que ser investigados (HENDERSON, ocasione a quebra de uma 2006). significativa forcada. Conforme Apesar disto, o estudo de palmeiras, Silveira (2014), quando os danos e conta com um pequeno número de injúrias às árvores são extensos, ou pesquisadores que se especializou quando o processo de deterioração nesse grupo (TOMLINSON, 1979). dos tecidos por ação de Contudo, os trabalhos concentram-se microrganismos está avançado, a no exterior e abordam espécies dendrocirúrgia é requerida como exóticas à flora brasileira. Assim, meio de conter o avanço desses justifica-se a realização do presente processos e auxiliar na estudo pelas não existentes (ou compartimentalização e cicatrização desconhecidas) publicações dos ferimentos, buscando, segundo relatando experiências de Pivetta e Silva-Filho (2002), dendrocirúrgia em espécies de recuperar a funcionalidade dos Palmae Juss. tecidos lenhosos bem como a casca. Assim, o presente estudo objetivou Quando, entretanto, a referência é descrever processo de dendrocirúrgia em relação às palmeiras, tem-se que, realizado em exemplares de Butia devido a sua importância econômica, odorata (Barb. Rodr.), com bem como em decorrência de sua possibilidades de aplicação da abundância em ecossistemas técnica em outras espécies de Palmae tropicais, as palmeiras têm recebido Juss. muita atenção dos botânicos (TOMLINSON, 1990). Vários MATERIAL E MÉTODOS aspectos da família têm O estudo foi levado a cabo na sidoextensivamente estudados, como propriedade rural Portal da sistemática, biologia reprodutiva, uso Liberdade, localizada na região da econômico e biogeografia. No Faxina, Distrito de Itapuã, Viamão, entanto, alguns aspectos importantes RS, possuindo como coordenadas da biologia de palmeiras continuam a referenciais de localização, 30°11’49.86”S e 50°53’35.60”O, em Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 100 Vladimir Stolzenberg Torres três exemplares de Butia odorata espécie se deu em razão de sua (Barb. Rodr.). ocorrência na região, sendo A identificação de Butia odorata predominante em relação a Syagrus (Barb. Rodr.) foi realizada através romanzoffiana (Cham.) Glassman, dos estudos de Soares (2013) e associado ao fato de se tratarem, em Soares et al. (2014) com a sua maioria, de espécimes com idade nomenclatura botânica sendo estimada superior a cinquenta anos confirmada através da base de dados (fig. 1), evidenciando lesões (fig. 2) do Missouri Botanical Garden <h t tp : com indicativo para tratamento. / / w ww . t r o p i c o s . o r g />. A escolha da Figura 1. Exemplares de Butia odorata (Barb. Rodr.), localizados na propriedade do estudo, com idade estimada em, aproximadamente, oitenta anos (fonte: banco de imagens do autor). Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 101 Vladimir Stolzenberg Torres Figura 2. Lesões no fuste de Butia odorata (Barb. Rodr.) (fonte: banco de imagens do autor). As lesões receberam tratamento com propriedade e de baixa toxidez para calda bordalesa (figs. 3-4), o homem. É uma suspensão coloidal pulverizada nas mesmas; obtida pela mistura de uma solução recordando-se que a calda bordalesa de sulfato de cobre (CaSO .5H2O) e 4 é um fungicida que surgiu no século suspensão de cal (CaO). A XIX, na região de Bourdeaux, na preparação mais comum da calda França, para o controle de míldio em bordalesa se dá na proporção de 1 videiras, se constitui, portanto, parte de cal virgem e 1 parte de conforme Carvalho e Alvarenga sulfato de cobre para 100 partes de (2003), em um defensivo agrícola água. alternativo de fácil preparo na Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 102 Vladimir Stolzenberg Torres Figura 3. Pulverizador empregado para aplicação da calda bordalesa (fonte: banco de imagens do autor). Figura 4. Calda bordalesa aplicada nas lesões: A) solução recém aplicada; B) solução já seca (fonte: banco de imagens do autor). Diferentemente de procedimentos se empregou espuma expansiva de tradicionais de dendrocirúrgia, onde poliuretano (fig. 5A) a qual, ao se realiza o preenchimento da expandir, preenche perfeitamente cavidade com pedras e cimento, aqui todo o espaço existente. Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 103 Vladimir Stolzenberg Torres Figura 5. Espuma expansiva de poliuretano aplicada nas lesões, sobre a calda bordalesa: A) espuma expandida; B) excedente da espuma eliminado (fonte: banco de imagens do autor). Após o desbaste e nivelamento da toda a intervenção e ultrapassando espuma de poliuretano (fig. 5B), alguns poucos centímetros as bordas aplicou-se massa corrida acrílica da espuma. com espátula (fig. 6), recobrindo Figura 6. Aplicação de massa corrida (fonte: banco de imagens do autor). Uma vez seca a massa corrida, realizou-se a pintura com tinta esmalte base água (fig. 7). Figura 7. Pintura com tinta esmalte, base água, marrom café (fonte: banco de imagens do autor). Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 104 Vladimir Stolzenberg Torres RESULTADOS E DISCUSSÃO colateral, em número de 1-2, Butia odorata (Barb. Rodr.) associados a vasos largos no Conforme Fonseca (2012), as metaxilema (FONSECA, 2012). palmeiras se constituem em Células isodiamétricas com paredes organismos intrinsecamente de espessuras desiguais, conhecidas autorregulados, apresentando uma como estegmatas, ocorrem estrutura de engenharia construída longitudinalmente e incluem um continuamente, a qual são acrescidos corpo de sílica, estando localizadas apêndices de dimensões fixas a um ao lado de fibras em todas as partes eixo central (TOMLINSON, 1990). da planta, exceto nas raízes Em seu plano de construção, as (FONSECA, 2012; TOMLINSON, palmeiras assemelham-se ao 1990). crescimento fechado da maioria O caule de palmeira, como em todos dosanimais (unitário) ao invés do os eixos de lenhosas eretas, serve às crescimento aberto da maioria das funções de transporte e plantas (modular). As unidades são armazenamento de nutrientes e fixas, mas repetidas continuamente suporte mecânico (FONSECA, (FONSECA, 2012; TOMLINSON, 2012). As três funções são 2006). claramente separadas na O estipe das palmeiras é sempre diferenciação entre diferentes tipos lenhoso, mas sua consistência não é de tecidos do caule visíveis comparável às dicotiledôneas microscopicamente, em seção lenhosas (FONSECA, 2012). transversal (TOMLINSON, 1990). Depende da abundância de Os feixes fibrovasculares individuais esclerênquima e fibras que são muito representam um sistema combinado duras e da presença ou não de sílica de condução e suporte (FONSECA, (MOORE; UHL, 1982 apud 2012). Entretanto, as fibras são ALVES; DEMATTÊ, 1987). claramente separadas das células de No estipe das palmeiras são condução do xilema e floema encontrados feixes vasculares do tipo (TOMLINSON, 1990). Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 105 Vladimir Stolzenberg Torres A maior diferença entre muitas De acordo com Soares (2013), o palmeiras e vegetais arborescentes é gênero Butia (Becc.) Becc. pertence a possibilidade de mudança à subfamília Arecoideae Burnett, da progressiva nas propriedades tribo Cocoseae Mart., subtribo mecânicas das células de sustentação Attaleinae Drude. Butia odorata do estipe de palmeiras, conforme o (Barb. Rodr.) é uma espécie de avanço de sua idade (FONSECA, crescimento lento, a primeira 2012; TOMLINSON, 1987). As frutificação, como regra geral, paredes celulares, especificamente, demora em torno de dez a doze anos. as das fibras do feixe vascular, Apresenta estipe solitário, revestido tornam-se cada vez mais espessas e durante muitos anos pelos lignificadas, para que o módulo de remanescentes da base das folhas elasticidade (rigidez) do eixo (fig. 8), enquanto as contemporâneas aumente progressivamente conforme se dispõem em espiral ao redor do ocrescimento apical da palmeira estipe. (TOMLINSON, 1987). Figura 8. Ilustração de Butia odorata (Barb. Rodr.), detalhes dos remanescentes das folhas ao redor do estipe (fonte: modificado de Soares (2013)). Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 106 Vladimir Stolzenberg Torres Dendrocirúrgias segundo os quais, se corretamente As dendrocirúrgias realizadas, preparada e aplicada, atua sobre atinando-se ao processo em si, várias doenças como ferrugem, obtiveram elevado índice de crespeira, bacteriose, sarna, cancro satisfatoriedade, porém, somente o dos ramos, podridão-parda e decurso de tempo irá referendar, ou chumbinho; antracnose, míldio, refutar, tal observação. podridões dos frutos e escoriose; Diferentemente de espécimes seca da figueira, cercosporiose e arbóreos onde a necessidade de entomosporiose, podridão-amarga e remoção dos tecidos necrosados é podridão-preta. uma premissa, nas palmeiras isto não Consideração relevante ao estudo da se faz necessário, de tal forma que os eficiência da dendrocirúrgia diz tecidos necrosados puderam ser respeito ao material utilizado. No protegidos em sua totalidade e as presente estudo, diferentemente do assepsias, impermeabilizações e tradicional concreto, foi escolhida, revestimentos foram suficientes para para o preenchimento das cavidades, vedação e preenchimento das a espuma expansiva de poliuretano cavidades. como adaptação, garantindo maior Outro aspecto comparativo com plasticidade, maleabilidade e espécimes arbóreos, está em que, flexibilidade. A espuma de nestes, costumeiramente, nas poliuretano possui tais necroses se fazem presentes especificidades e ainda é mais patógenos de naturezas diversas resistente a mudanças climáticas e (AMARAL, 2002; LEAL, 2007), variações da umidade, bem como diferentemente de Palmae onde tal oferece melhor aparência estética condição poderia ser considerada (BARCELOS, s/d). As desvantagens uma excepcionalidade. do uso deste material seriam os O uso da calda bordalesa encontra-se custos e fornecimento do mesmo, e respaldado, dentre outros, no estudo sua oxidação quando em exposição de Carvalho e Alvarenga (2003), ao sol, levando a um ressecamento Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 107 Vladimir Stolzenberg Torres acompanhado de esfarelamento e e pintura sobre superfícies muito consequente perda de funções. porosas (a massa corrida elimina a A massa corrida é um produto muito porosidade superficial externa da comum nas lojas de material de espuma de poliuretano) fazem com construção e amplamente utilizada que a tinta seque rápido demais, com em construções e reformas. A isto afetando a formação do filme e a escolha da variedade acrílica se deu durabilidade da pintura (OLIVEIRA, pelo fato de ser mais resistente às 2008). A cor utilizada, neste caso intempéries e, por isso, a mais marrom café, não teve uma indicada para superfícies externas, finalidade estética como aquela com isto se revelando a opção ideal preconizada no estudo de Andrade et para a técnica aqui preconizada. Seu al. (2012), tratando-se apenas de uso se vinculou a ideia de se criar aproveitamento de material uma camada de preenchimento das disponível. irregularidades na espuma de poliuretano (fig. 5B), bem como, CONSIDERAÇÕES FINAIS evitar sua exposição ao tempo Cabe, inicialmente, referenciar que a gerando as consequências já dendrocirúrgia é uma prática anteriormente citadas. abandonada pela Sociedade Conforme Oliveira (2008), as tintas à Internacional de Arboricultura (ISA) base de água são mais tolerantes à que considera tal procedimento humidade proveniente do interior da como não beneficente para as estrutura que recebeu a pintura, árvores, podendo inclusive antecipar quando comparadas àquelas a base o declínio das mesmas, no que, de solventes, que formam um filme evidentemente, discordamos mais fechado, com tendência a veementemente. formar bolhas se houver humidade É fato, a despeito dos motivantes sob a tinta. Por outro lado, ainda resultados inicialmente obtidos e segundo Oliveira (2008), apresentados, que haja necessidade temperaturas elevadas, vento, baixa de um maior tempo de umidade, exposição à luz solar direta acompanhamento do processo, uma Unisanta Bioscience Vol. 10 nº 2 (2021) 99-110 Página 108