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De Quem é esse Corpo? A Performatividade do Gênero Feminino no Teatro Contemporâneo – Cruzamentos entre Processos Criativos das Mulheres, Cena e Gênero PDF

675 Pages·2007·3.855 MB·Portuguese
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De quem é esse corpo? FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP Presidente do Conselho Curador Mário Sérgio Vasconcelos Diretor-Presidente Jézio Hernani Bomfim Gutierre Superintendente Administrativo e Financeiro William de Souza Agostinho Conselho Editorial Acadêmico Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza Henrique Nunes de Oliveira João Francisco Galera Monico João Luís Cardoso Tápias Ceccantini José Leonardo do Nascimento Lourenço Chacon Jurado Filho Paula da Cruz Landim Rogério Rosenfeld Rosa Maria Feiteiro Cavalari Editores-Adjuntos Anderson Nobara Leandro Rodrigues Lúcia Regina Vieira Romano De quem é esse corpo? A performatividade do gênero feminino no teatro contemporâneo – Cruzamentos entre processos criativos das mulheres, cena e gênero © 2017 Editora UNESP Direito de publicação reservados à: Fundação Editora da Unesp (FEU) Praça da Sé, 108 01001-900 – São Paulo – SP Tel.: (00xx11) 3242-7171 Fax.: (0xx11) 3242-7172 www.editoraunesp.com.br [email protected] Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Vagner Rodolfo CRB-8/9410 R759d Romano, Lúcia Regina Vieira De quem é esse corpo? A performatividade do gênero feminino no teatro contemporâneo – cruzamentos entre processos criativos das mulheres, cena e gênero / Lúcia Regina Vieira Romano. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2017. Formato: Digital Inclui bibliografia ISBN: 978-85-9546-178-9 (eBook) 1. Teatro. 2. Feminismo. 3. Teatro e gênero. I. Título. 2017-721 CDD: 792.08664 CDU: 792.241 Índice para catálogo sistemático: 1. Teatro de gênero 792.08664 2. Teatro de gênero 792.241 Este livro é publicado pelo projeto Edição de Textos de Docentes e Pós-Graduados da Unesp – Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp (PROPG) / Fundação Editora da Unesp (FEU) Editora Afiliada: Sumário Introdução Parte I – Por uma crítica de gênero feminino: discursos em convergência e divergência 1 – Colaborações da biologia, sociologia, antropologia, estudos da cultura e teorias do conhecimento corporificado nas discussões sobre gênero 2 – Teatro e gênero feminino Parte II – Por uma história do teatro feminista 3 – O corpus da prática: invenções da produção teatral na cena feminista internacional 4 – Um corpus obscuro: sobre o teatro feminista no Brasil 5 – O corpus do tempo: destinos da obra teatral das mulheres e do debate de gênero no teatro brasileiro Parte III – Por uma poética feminista da cena 6 – Criando corpo 7 – O processo criativo e a construção de si mesmo (In)conclusões Referências Introdução Quando essa pesquisa começou a ser esboçada, minha curiosidade em torno da criação feminina no teatro parecia ser a atração por um objeto de natureza obscura e delicada. Obscura, porque advinha de um termo, teatro da mulher, conhecido por mim apenas por meio de uma publicação de Elza Cunha de Vincenzo (1992), Um teatro da mulher; aparentemente isolada de outras investigações e perdida no tempo. A ausência de um número maior de publicações que buscassem discutir em português a presença das mulheres no teatro brasileiro parecia referendar a desimportância da questão. Ao lado da suposta falência do vigor conceitual da definição em terra brasilis, permanecia esse outro aspecto, o da delicadeza, no sentido da necessidade de tratos especiais para sua exploração: o termo reúne elementos que pedem níveis de descrição diversos, impondo-se como um fenômeno multifacetado e escorregadio, incrustado (até quando?) no centro do debate entre natureza e cultura. Ainda se não bastasse, falar do cruzamento entre teatro e gênero feminino despertava desconfiança nos ouvintes, como se trouxesse à tona um incômodo, talvez em virtude dos conflitos não apenas do campo teórico sobre o lugar da mulher e o feminismo, discussão que carrega marcas de uma dimensão maior, envolvendo preconceitos pouco assumidos e resolvidos. O tema, portanto, era suficientemente incômodo para ser abandonado. Se, por um lado, parecia nebuloso e inspirava cuidados, por outro, oferecia oportunidades para o aprofundamento da questão da corporeidade no fenômeno teatral, discutindo a complexidade do corpo como lugar de cruzamento da biologia e das “estruturas” construídas pela ação humana, entre elas, as tais forças sociais, o universo simbólico, as políticas de identidade e uma infinidade de aspectos relativos à presença humana sobre o tablado. Outrossim, pensar o teatro e a corporeidade gendrada – “com gênero”, ou “sexuada” (para já colocarmos pé no campo minado do debate) – abria espaço para questionar a sobrevivência, no campo teatral, da separação entre as teorias da “natureza humana” e da “construção social”, assim como a resultante desse afastamento na reflexão sobre o teatro, espelhando as consequências para a criação teatral da divisão entre corpo biológico e corpo social. Importante, sobretudo, não esquecer que, se o interesse da discussão estava na expressão humana por meio do teatro, o fenômeno teatral não poderia ser encoberto pela quantidade de fumaça que o incêndio do debate de gênero costuma provocar. Comparado ao campo teórico, a empiria apresenta evidências mais contundentes. É visível o aumento da produção das mulheres no teatro contemporâneo, tanto na quantidade de profissionais envolvidas no fazer teatral, quanto na multiplicação das funções que passaram a assumir e na variedade de resultados cênicos alcançados. Senso comum, o teatro é povoado de artistas mulheres, ao ponto de ser considerado por alguns um substantivo feminino. Entretanto, a natureza aparentemente democrática em termos de gênero, que resume a área teatral, talvez se relacione coma manutenção do silenciamento tácito em torno da real participação feminina no fazer teatral, assim como sobre o desenvolvimento histórico desse valor (ou desvalor), das mudanças estéticas que as mulheres inauguram e dos modelos que ainda tendem a reproduzir. Uma prova dessa duvidosa “igualdade essencial “da arte teatral reside no fato de as próprias mulheres, aparentemente, terem desistido da discussão e concordado em manter as qualidades intrínsecas de sua criação como cerne do debate crítico, formulando uma espécie singular de discurso neutro de gênero. Mas essas foram impressões de um primeiro momento. Já em seus passos seguintes, a pesquisa apontou para uma realidade mais complexa. O silenciamento estabelecido no teatro brasileiro quanto ao debate de gênero (incluídos aqui a criação, a crítica no jornalismo diário e a pesquisa acadêmica) não encontra similares nos países de cultura anglo-saxônica. As pesquisas em língua inglesa brotaram frente a meus olhos feito praga, enchendo a bibliografia de obras e autores de ambos os sexos, demonstrando uma fertilidade que, para minha sorte ou azar, ultrapassava muito as expectativas primevas. Compreendi a impossibilidade de abarcar a totalidade da questão, ingressando como neófita num debate há muito aquecido. Ao mesmo tempo, outras questões delinearam-se no horizonte: por que então, no Brasil, o tema foi considerado datado e extinto? Em outras palavras, por qual motivo a maioria das criadoras em ação na cena brasileira teriam se distanciado do questionamento em torno da participação das mulheres no teatro? Conduzida para lá e para cá pelas correntes que cada autor e autora pareciam encarnar, reconheci a dificuldade em permanecer neutra frente às implicações políticas do debate. Assim, busquei olhar não com imparcialidade, mas com parcimoniosa e saudável dúvida para cada um dos partidos, antes de assumir para mim o adjetivo “feminista de gênero”, “feminista igualitária”, “antifeminista”, “darwinista”, “construcionista”, dando cabo da discussão, antes mesmo de vê-la aprofundada. Para além dos partidos, tornou-se imprescindível para a pesquisa incluir na discussão da criação das mulheres em teatro alguns progressos no debate sobre conceitos centrais, tais como “identidade”, “patriarcado”, “escritura feminina”, “essência” etc. Ouso dizer “progresso” considerando que são termos marcados já pelo tempo e o inevitável surgimento de novas implicações, que constituem assim um passo adiante na busca pela melhor tradução das preocupações ideológicas em práticas teatrais e políticas. A presença de vozes concorrentes, por certo, permitiu vislumbrar caminhos alternativos para alguns desses dilemas analíticos. De qualquer forma, a atual pesquisa não poderia deixar de deslocar-se entre tendências, procurando torná-las permeáveis o suficiente para serem olhadas de forma dialética. Ao lado de tantas linhas teóricas e pensamentos que desconhecia, alinharam-se inúmeras artistas com criações intrigantes, de cujo trabalho nunca havia ouvido falar, ainda que não merecessem minha cegueira diante da produção além do meu próprio umbigo. Sim, temos muitas desculpas para ignorar a quantidade enorme de novas criações em teatro mundo afora, disfarçados de cidadãos superestimulados e estressados. Porém, cabe-nos a obrigação de mitigar tantas “ausências”, sobretudo sendo obras que desafiam a teoria e pedem inclusão. Por outro lado, fui entendendo que nenhuma invisibilidade artística é meramente ocasional, pois nas escolhas da história oficial residem doses maciças de ideologia. Além disso, ideologia não é algo que diz respeito a certos indivíduos (sejam eles “como nós”, ou “contra nós”), mas conforma

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