Tento imaginar um leitor ou leitora jovem confrontando-se com este texto pela primeira vez. Ele ou ela – mas fiquemo-nos pelo “ele”, não só para facilitar a escrita, mas para reforçar a identificação entre Wilde e o seu leitor – muito provavelmente terá chegado ao livro através da inclusão de Oscar Wilde na galeria dos autores gay históricos (pelo menos eu escrevo a partir dessa premissa, tanto ou tão pouco válida como outras); terá chegado a ele com a informação, algo vaga, de se tratar de uma carta a um amante desavindo; e ainda com a referência a um texto escrito na sequência de uma punição judicial marcadamente homofóbica. O estranhamento e a empatia configuram-se logo aqui.
Miguel Vale de Almeida (excerto do Prefácio)