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De escravo a cozinheiro: colonialismo & racismo em Moçambique PDF

344 Pages·2007·6.475 MB·Portuguese
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D e escravo a cozinheiro c & olonialismo racismo m em oçambique Universidade Federal da Bahia Reitora Dora Leal Rosa Vice-Reitor Luiz Rogério Bastos Leal Editora da Universidade Federal da Bahia Diretora FLáVia GoULaRt Mota GaRcia Rosa conselho Editorial alberto Brum Novaes angelo szaniecki Perret serpa caiuby alves da costa charbel Ninõ El-Hani cleise Furtado Mendes Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti Evelina de carvalho sá Hoisel José teixeira cavalcante Filho Maria Vidal de Negreiros camargo D e escravo a cozinheiro c & olonialismo racismo m em oçambique 2ª Edição Valdemir Zamparoni EDUFBa/cEao salvador 2012 2007, Valdemir Zamparoni Direitos para esta edição cedidos à EDUFBa. Feito o depósito Legal. 1ª Edição: 2007 caPa Gabriela Nascimento REVisÃo DE tEXtos tânia de aragão Bezerra Biblioteca central Reitor Macêdo costa - UFBa Z26 Zamparoni, Valdemir. De escravo a cozinheiro : colonialismo & racismo em Moçambique / Valdemir Zamparoni. 2. ed. - salvador : EDUFBa : cEao, 2012. 341 p. : il. Inclui bibliografia e índice. isBN 978-85-232-1027-4 1. Moçambique - História. 2. Moçambique - Influência colonial. 3. Moçambique - condições sociais. 4. Moçambique - condições econômicas. 5. Mudanças sociais - Moçambique. 6. Racismo - Moçambique. i. Universidade Federal da Bahia. Centro de Estudos Afro-Orientais. II. Título. cDU - 94(679) cDD - 967.9 agradeço às Professoras ione sousa e simone Nacaguma pela meticulosa leitura de ambas que muito ajudou na revisão desta 2ª edição. créditos das fotos - 1: Frelimo. Ngungunhane, herói da resistência à ocupação colonial. Maputo: Frelimo, 1985, p. 10; fotos 2, 3, 4, 5, 9 e 10: alexandre Lobato. Lourenço Marques, Xilunguíne. Lisboa: aGU, 1970, p. 283, 303, 99, 129, 176 e 267; fotos 6, 7 e 8: Patrick Harries. Work culture and identity: migrant laborers in Mozambique and South Africa, c. 1860-1910. Portsmouth: Heinemann, 1994, p. 203, 52, 175. EDUFBa Rua Barão de Jeremoabo, s/n campus de ondina salvador - Bahia cEP 40170-115 tel/fax. 71 3283-6164 www.edufba.ufba.br | [email protected] À memória De a b quino De ragança P refácio Neste livro, são várias as tramas que passam pelo urdume do tema principal: o desmontar entre os africanos, depois que os portugueses ocuparam militarmente os territórios do atual Moçambi que, dos seus ritmos e regimes tradicionais de trabalho, com a quebra de sua di- visão por sexo, idade, grupos sociais, estações do ano e o correr do dia. Usaram para isso os mesmos recursos que outros colo nizadores europeus, no fim do século XIX e na primeira metade do seguinte: a cobrança de imposto (aqui por cabeça, mais adiante por cubata), o combate à chamada vadiagem, a disseminação de novos objetos de consumo e, finalmente, a corveia. Esse processo de dolo roso desarrai- gamento dos africanos, bem como a história das violên cias que sobre eles se exerceram, é narrado neste livro com tamanha vida, minudên- cia e rigor, que Valdemir Zamparoni parece não ape nas haver lido os documentos a que teve acesso, mas ter neles ent rado com a alma inteira, para reviver as situações que descrevem. Daí que à sua prosa fácil, clara e corrida, não falte o tom da testemun ha indignada. Nós o vemos a observar de perto a fila de africanos que se procu- ram alistar como trabalhadores sob contrato nas minas de ouro do transvaal, enquanto acompanhamos o cuidadoso relato que nos faz de como Moçambique sob o domínio português assentou sua econo- mia na exportação de gente jovem, continuando, assim, a drenagem humana a que estava submetido havia séculos e que tomara maior vulto a partir da segunda metade do século XViii, quando os barcos estrangeiros vinham recolher em suas costas escravos para as ilhas francesas do Índico e para o Brasil. Zamparoni nos traz o passado tão para perto de nós, que nos arriscamos a lê-lo mais como um repórter criterioso do que como o arguto historiador que é, e não só ao acom- panhar as levas de rapazes que vão para a áfrica do sul e dela retor- nam, com novos jeitos de ser e novas exigências de consumo, mas também ao descrever o continuado esgarçar da vida aldeã e o inchaço de Lourenço Marques e de outras cidades moçambicanas. Se, neste livro, as paisagens aparecem tão nítidas, é porque Zam- paroni nelas viveu. E, se algumas de suas personagens quase saem da tinta no papel e voltam à vida, foi porque ele soube ouvir, emocio- nado, as suas vozes naquilo que escreveram. Pois este livro é também uma história da imprensa moçambicana no início do século XX, de jornais em que os filhos da terra, negros, mulatos e brancos, procura- ram desassombradamente denunciar as mazelas do colonialismo – e do racismo que procurava justificá-lo – e propor outros destinos, dei- xando-nos, talvez sem o pretenderem, desenhos sensíveis de Moçam- bique de seu tempo. Zamparoni os leu a imitar a veemência com que escreveram. como se deles fosse contemporâneo. Um mundo vinha abaixo, e eram, na maioria das vezes, podres, tortas ou fragilmente finas as estacas que deviam suster o que se pro- punha pôr em seu lugar. o homem da terra tinha de sofrer o que lhe impusessem, o que não tinha por justo, de ver as suas tradições me- nosprezadas e os seus valores suprimidos, de não reagir ao desres- peito por suas crenças e calar-se diante de sacrilégios e iniquidades, de fingir-se meio-homem, ao acomodar-se a novas maneiras de pen sar e a novos modos de vida que lhe pareciam pouco inteligentes e extrava- gantes, quando não absurdos. com a soma desses enredos, e de outros mais, dá-nos Valdemir Zamparoni uma importantíssima obra sobre a história social do sul de Moçambique entre cerca de 1890 e 1940, uma obra que figurará com destaque na estreita prateleira em que se alinham os poucos li vros escritos por brasileiros sobre a África. Não há nela um só capí tulo que não revele a seriedade e a argúcia do pesquisador, a sua intimidade com a terra, com os povos e com os temas de que trata. chega-se à sua última página já desejoso da releitura e convencido de que um livro de história, por mais rigoroso que se queira na descrição e na análise dos acontecimentos, pode ser escrito, sem perder essas qualidades, de forma mais do que emotiva, apaixonada. Alberto da Costa e Silva academia Brasileira de Letras A grAdecimentos Viver é um eterno agradecer. Dizia Guimarães Rosa que viver é pe- rigoso, digo eu, agradecer também o é. sempre um risco. Não há como agradecer a todos que direta ou indiretamente colaboraram para que um trabalho de anos pudesse se concretizar. sempre, por um pecado da memória ou por limitações de espaço, deixamos inj ustamente al- guém de fora. Por outro lado, ingratidão maior seria não nomear as pessoas que estiveram mais presentes ao longo do proc esso. Por isto vou correr o risco e pedir, de antemão, perdão pelas omissões, espe- rando que o inferno não me aguarde. agradeço, antes de mais ninguém, a carlos Guilherme Mota e a aquino de Bragança (in memoriam), cuja generosidade e crença no projeto forçaram portas resistentes a um recém graduado, o que me permitiu viver em Moçambique. Lá só cheguei devido ao apoio do primeiro que, ao arrepio da burocracia e dos contratempos, ba- talhou para que eu obtivesse uma bolsa da Fundação de amparo à Pesquisa do Estado de são Paulo (FaPEsP), nos idos de 1981. o sau- doso aquino de Bragança foi quem me abriu as portas do centro de Estudos africanos da Universidade Eduardo Mondlane (cEa-UEM), e, de Di retor, passou a interlocutor, a conselheiro e a amigo. No centro de Estudos africanos encontrei amigos que ajudaram a formar o historiador que trago em mim, particularmente àqueles da Oficina de História: Yussuf Adam, Anna Maria Gentilli, Jacques Depelchin, isabel casimiro, Paulo soares, salomão Zandamela, sipho Dlamini, alpheus Manghezi e colin Darch, cuja boa vontade permi- tiu-lhes desviar-se dos seus próprios afazeres para dedicarem sua atenção às minhas interrogações ou para que eu pudesse ter acesso aos textos em ronga e zulu. Em Moçambique, tenho que agradecer de modo especial à equipe do arquivo Histórico de Moçambique, parti- cularmente à sua ex-diretora Maria inês Nogueira da costa e ao atual, Joel Neves tembe e, a Lemos e a antónio sopa, que suplant ando as limitações materiais e os problemas conjunturais por que tem passado Moçambique, construíram um magnífico e respeitável centro de docu- mentação de fazer inveja a gente muito mais aquinho ada de dinheiro e de recursos humanos. Eles não só puseram os meios materiais de que dispunham à minha disposição, como contri buíram, fazendo su- gestões e indicando pistas e materiais. agradeço ainda a teresa cruz

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