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De Caçador a Gourmet PDF

205 Pages·2010·13.174 MB·Portuguese
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1 2 LIVRO DIGITALIZADO, PODE HAVER ERROS DE DIGITALIZAÇÃO. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Franco, Ariovaldo De caçador a gourmet : uma história da gastronomia / Ariovaldo Franco. - 5a ed. - São Paulo : Editora Senac São Paulo, 2010. Bibliografia. ISBN 978-85-7359-970-1 1. Alimentos - História 2. Culinária - História 3. Gastronomia - História 4. Hábitos alimentares - História I. Título. 01-0536 CDD-641.01309 Índice para catálogo sistemático: 1. Gastronomia : História 641.01309 3 DE CAÇADOR A GOURMET UMA HISTÓRIA DA GASTRONOMIA Ariovaldo Franco 5ª edição Editora Senac - São Paulo – 2010 4 SUMÁRIO Nota do Editor, 5 Apresentação, 6 1. A humanidade e o alimento - Apreço e rejeição, 7 2. Gregos e romanos - Os primórdios da arte da mesa, 21 3. Bizâncio e Idade Média - O papel dos mosteiros. A influência árabe, 35 4. As especiarias e as novas rotas marítimas - Os alimentos da América, 59 5. China e Japão - Refinamento e percepção filosófica do alimento, 92 6. A Renascença - O pioneirismo italiano, 108 7. Séculos XVII e XVIII - O predomínio do gosto francês, 119 8. Século XIX - O apogeu dos padrões burgueses. A indústria de alimentação, 157 9. O alimento no século XX - A internacionalização. A McDonaldização, 170 10. Conclusão, 193 Bibliografia, 203 5 NOTA DO EDITOR Entre os muitos ensinamentos e revelações que este livro de Ariovaldo Franco nos reserva encontra-se o de que, "numa vida de cerca de 70 anos, quem consagra mais ou menos duas horas diárias ao ato de comer passará aproximadamente seis anos comendo". E, no entanto, a história da gastronomia foi, durante muito tempo, ignorada pela maioria dos historiadores, sociólogos e etnólogos. Talvez essa omissão se deva ao fato de que, por ser animal, a necessidade de comer parecesse, a muitos, menos digna de considerações intelectuais. No entanto - e isso se encontra também nas páginas adiante -, o ato de alimentar-se proporciona um "prazer peculiar à espécie humana. Pressupõe cuidados com o preparo da refeição, a arrumação do local onde será servida e com o número e o tipo de convivas". Em suma, e hoje isso é uma verdade universalmente admitida, a alimentação diz muito sobre a educação, a civilidade e a cultura das pessoas. De caçador a gourmet: uma história da gastronomia é uma te lição de história do comportamento. E o Senac São Paulo, uma instituição que tem uma grande área especializada em temas afins ao que aqui se enfoca – área de Educação e a Faculdade de Turismo e Hotelaria -, lança com entusiasmo este livro que, ocupando-se do prazer de comer, instiga o prazer de ler. 6 APRESENTAÇÃO A divisão do texto em capítulos de caráter predominantemente cronológico e a própria demarcação dos períodos são arbitrárias. Os fatos não ocorrem em fases estanques. É, portanto, artificial estabelecer limites absolutos, quando se consideram processos sociais de longo termo. Não obstante, o critério de tomar como ponto de referência determinados limites de tempo permitiu ao autor ordenar dados, muitas vezes sincrônicos, da evolução da gastronomia. Os grandes descobrimentos marítimos do século XV inscrevem-se no quadro do Renascimento. Entretanto, por seus efeitos profundos nos hábitos alimentares mundiais, são tratados em capítulo à parte. Da mesma forma, o desenvolvimento peculiar das cozinhas da China e do Japão, tão importantes na gastronomia moderna, merece um capítulo especial. O interesse pelas cozinhas nacionais e regionais é crescente e foi mencionado no capítulo 9. Nesta obra, porém, o autor optou por ater-se às cozinhas de referência, ou seja, às vertentes culinárias que, durante séculos de amalgamação e troca de influência, contribuíram para a formação e gastronomia mundiais. Entre elas, destacam-se as cozinhas da China, do Japão, do Oriente Médio, da Itália, da Espanha e da França. 7 8 Q uando o homem aprendeu a cozinhar os alimentos, surgiu uma profunda diferença entre ele e os outros animais. Cozinhando, descobriu que podia restaurar o calor natural da caça, acrescentar-lhe sabores e torná-la mais digerível. Verificou também que as temperaturas elevadas liberam sabores e odores, ao contrário do frio, que os sintetiza ou anula. Percebeu ainda que a cocção retardava a decomposição dos alimentos, prolongando o tempo em que podiam ser consumidos. Identificava, assim, a primeira técnica de conservação. Os mais antigos fósseis humanos foram encontrados ao longo da Grande Falha Tectônica da África Oriental, onde abundam fontes termais e gêiseres. Paleontólogos acham provável que o proto-homem, mesmo antes de descobrir o fogo, tenha associado o calor proveniente dessas fontes ao de suas presas e ao de seu próprio corpo. Em decorrência, teria cozido caça em tais fontes de calor, numa tentativa bem-sucedida de devolver-lhe a temperatura e o sabor de presa recém-abatida. Teria, então, cozido alimentos antes mesmo de descobrir o fogo. No entanto, a capacidade de gerar ignição representaria para os grupos humanos um importante salto cultural. Gerador de calor e de luz, o fogo - associado à magia, ao sobrenatural e à ideia de vida, de purificação e de perenidade - foi, provavelmente, uma das primeiras divindades. São raras as religiões que não utilizam o fogo em seus ritos. O culto ao fogo é mesmo elemento essencial de algumas delas, como o zoroastrismo. Nos salmos, no Evangelho e em algumas orações cristãs, o fogo é sinônimo de salvação, de vida eterna, do próprio Deus: "Tu que és chama irradia em mim tua força e teu amor". Em muitas culturas, o fogo faz parte dos rituais da mesa e da hospitalidade. Ele sempre exerceu fascínio sobre a humanidade e há quem afirme tratar-se essa atração "de uma espécie de chamamento interior, inconsciente, uma reminiscência do fogo original..."1 As chamas simbólicas, mantidas sempre acesas, denotam anseio de continuidade, de eternidade. A cocção dos alimentos os tornaria mais fáceis de mastigar. Assevera-se que o menor desenvolvimento dos músculos faciais e o maior crescimento da cavidade craniana e do cérebro decorreriam do menor esforço na mastigação. Os primórdios da arte culinária estão associados à invenção dos utensílios de pedra e de barro. 1 José Saramago, O Evangelho segundo Jesus Cristo (São Paulo: Companhia Das Letras, 1971), p. 168 9 Graças a eles, diferentes processos de cozimento permitiram maior variedade na dieta humana. As preparações culinárias não passariam dos níveis mais simples sem um vasilhame para ferver líquidos e manter alimentos sólidos em temperatura constante. Só com a fabricação desses artefatos puderam os homens iniciar-se na culinária propriamente dita, isto é, cozer os alimentos, condimentando-os com ervas e sementes aromáticas. Utilizando-se também a argila, inventou-se o forno de barro compactado. Essas inovações constituíram importantes mudanças na sociedade pré-histórica. Para saciar a fome, a humanidade tem-se servido, ao longo de sua história, de quase todo organismo animal e vegetal que tem ao alcance. Praticando a caça desde o Paleolítico, o homem pôde sobreviver às épocas glaciais. A caça possibilitou-lhe deixar de ser simples coletor de alimentos e, além da carne, deu-lhe peles para a proteção contra o frio. O homem ampliaria sua atividade de caçador ao iniciar o cultivo da terra há cerca de dez mil anos. A agricultura nasceu quando ele se absteve de consumir parte dos grãos colhidos e os enterrou para que germinassem e se multiplicassem. Começaria também a domesticar alguns dos animais que antes caçava. A humanidade tornava-se, portanto, criadora de animais e produtora de alimentos e deixava de ser um elemento mais ou menos inofensivo da cadeia ecológica, na medida em que evoluía do ritmo meramente biológico para o ritmo econômico. A fabricação de ferramentas cortantes e a arte de tecer constituíram outro marco importante do período Neolítico. O cultivo da terra, assim como a fabricação de utensílios de cerâmica e de fornos, implicava o estabelecimento de um núcleo habitacional fixo de uma comunidade. Em torno dos campos de cereais, apareceriam as primeiras aldeias. O aumento gradual da produtividade agrícola permitiria que se armazenasse uma parte das colheitas e que um número crescente de pessoas pudesse dedicar-se a outras atividades. Esse fato é um dos marcos da história humana. Em decorrência dos primeiros excedentes de alimentos, surgiram excedentes de muitas outras coisas. O fato de dispor de alimentos além do estritamente necessário para uso imediato propiciou ainda a espécie humana tempo livre para desenvolver tecnologia e outros aspectos da cultura. O armazenamento de alimentos possibilitaria a vida em núcleos comunitários mais extensos e a fixação da humanidade em áreas de clima temperado, sem que fosse forçada a migrações cíclicas. 10 O acúmulo de alimentos e de outros bens geraria, ao mesmo tempo, o apego a um determinado território. Não obstante, mesmo os pequenos aglomerados humanos seriam, durante muito tempo, uma raridade. Neles, residiria apenas uma fração diminuta da humanidade, enquanto a capacidade de produção agrícola fosse baixa e o nível tecnológico mantivesse características paleolíticas. Só o desenvolvimento da tecnologia possibilitaria o aparecimento das primeiras cidades. Estas surgiriam em áreas de clima benigno e com condições propícias ao cultivo da terra, geralmente ao longo dos vales fluviais, zonas onde os agricultores pudessem produzir alimentos em quantidade bem maior do que necessitavam para consumir. Os primeiros excedentes eram sempre alimentares. As cidades, portanto, evoluiriam como centros administrativos de excedentes originados pela interação de fatores tecnológicos, climáticos e sociais. Lentamente esboçar-se-ia a substituição das simples relações do escambo por relações comerciais bem mais complexas. Há indícios de que o Crescente Fértil - território que hoje compreende Irã, Iraque, Turquia, Síria, Líbano, Israel e Jordânia - teria sido o habitat natural de plantas e de animais que dariam origem às primeiras espécies domesticadas. No Crescente Fértil teriam sido domesticados o trigo, a cevada, a lentilha, a ervilha, o linho, a cabra, a ovelha, o boi, o porco. Estima-se que há 11 mil anos, a Terra tinha cerca de 5 milhões de habitantes, e todos se nutriam unicamente de alimentos provenientes da coleta, da caça e da pesca. A agricultura nasceu de maneira independente, com intervalos seculares, em vários pontos da Terra. Embora habitantes dessas áreas tivessem vivido exclusivamente da predação de espécies selvagens, num dado momento de sua história, lograram domesticar algumas delas. Consequentemente, nessa região surgiriam as primeiras aldeias (7000-6000 a.C.). As cidades, porém, só apareceriam por volta do ano 3500 a.C., na Mesopotâmia Meridional2. Nesse contexto, comunidades aldeãs, ao se tornarem particularmente dinâmicas, deram origem a uma civilização urbana portadora de um modo de vida inovador e consciente de poder se transformar. 2 Existe consenso de que a revolução neolítica teria ocorrido em diferentes momentos e lugares. Assim, a agricultura e a domesticação de animais só teria principiado no Egito (vale do Nilo), em 5000 a.C., na índia (vale do Indo), em 3500 a.C., e na China (bacia do rio Amarelo), por volta do ano 2500 a.C. Baseados em dados cronológicos e noutros indícios, alguns autores pensam que os povoados agrícolas de todas essas regiões teriam uma origem comum: o Crescente Fértil. Acreditam, no entanto, que o início da produção de alimentos na América teria se originado de maneira independente. Seu núcleo inicial teria sido, por volta do ano 3000 a.C., a região central do México, de onde as práticas agrícolas se propagaram pelo restante do continente.

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