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Preview De acervos coloniais aos museus indígenas : formas de protagonismo e de construção da ilusão museal

João Pacheco de Oliveira Rita de Cássia Melo Santos (organizadores) DE ACERVOS COLONIAIS AOS MUSEUS INDÍGENAS: FORMAS DE PROTAGONISMO E DE CONSTRUÇÃO DA ILUSÃO MUSEAL Editora UFPB João Pessoa - PB 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Reitora MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ Vice-Reitora BERNARDINA MARIA JUVENAL FREIRE DE OLIVEIRA EDITORA UFPB Diretora IZABEL FRANÇA DE LIMA Supervisão de Administração GEISA FABIANE FERREIRA CAVALCANTE Supervisão de Editoração ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JÚNIOR Supervisão de Produção JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO CONSELHO EDITORIAL ADAILSON PEREIRA DE SOUZA (CIÊNCIAS AGRÁRIAS) ELIANA VASCONCELOS DA SILVA ESVAEL (LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES) FABIANA SENA DA SILVA (INTERDISCIPLINAR) GISELE ROCHA CÔRTES (CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS) ILDA ANTONIETA SALATA TOSCANO (CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA) LUANA RODRIGUES DE ALMEIDA (CIÊNCIAS DA SAÚDE) MARIA DE LOURDES BARRETO GOMES (ENGENHARIAS) MARIA PATRÍCIA LOPES GOLDFARB (CIÊNCIAS HUMANAS) MARIA REGINA VASCONCELOS BARBOSA (CIÊNCIAS BIOLÓGICAS) João Pacheco de Oliveira Rita de Cássia Melo Santos (organizadores) DE ACERVOS COLONIAIS AOS MUSEUS INDÍGENAS: FORMAS DE PROTAGONISMO E DE CONSTRUÇÃO DA ILUSÃO MUSEAL Editora UFPB João Pessoa - PB 2019 Direitos autorais 2019 – Editora UFPB Efetuado o Depósito Legal na Biblioteca Nacional, conforme a Lei nº 10.994, e 14 de dezembro de 2004 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À EDITORA UFPB É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610/1998) é crime estabelecido no artigo 184 do Código Penal O conteúdo desta publicação é de inteira responsabilidade do autor Impresso no Brasil. Printed in Brazil Editora UFPB Projeto Gráfico Alexandre José Barbosa da Câmara Editoração Eletrônica e Design da Capa Alexandre José Barbosa da Câmara Imagem da Capa FERREZ, Marc. Costume de chef indien, Jauapiry. Divisão de Iconografia, Biblioteca Nacional. Revisão ortográfica Malu Resende Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação A 173 De acervos coloniais aos museus indígenas : formas de protagonismo e de construção da ilusão museal / João Pacheco de Oliveira, Rita de Cássia Melo Santos (organização). - João Pessoa : Editora da UFPB, 2019. 444 p. ISBN 978-85-237-1414-7 1. Povos indígenas. 2. Museu e povos indígenas. 3. Arte africana. I. Oliveira, João Pacheco de. II. Santos, Rita de Cássia Melo. III Título. UFPB/BC CDU 39 EDITORA UFPB Cidade Universitária, Campus I, Prédio da Editora Universitária, s/n. João Pessoa – PB CEP 58.051-970 http://www.editora.ufpb.br E-mail: [email protected] Fone: (83) 3216.7147 Editora filiada à: SUMÁRIO INTRODUÇÃO João Pacheco de Oliveira e Rita de Cássia Melo Santos ...............................7 I OS PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS O OUTRO REVISITADO: CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS Johannes Fabian .........................................................................................29 CANNIBAL TOURS, GLASS BOXES E A POLÍTICA DA INTERPRETAÇÃO Michael Ames ..............................................................................................51 II OS MUSEUS ETNOGRÁFICOS COMO ESPAÇO POLÍTICO: RESSIGNIFICAÇÕES E POSSIBILIDADES DOS “SELVAGENS ROMÂNTICOS” AOS “POVOS PRIMEIROS”. A HERANÇA PRIMITIVISTA NOS MUSEUS E NA ANTROPOLOGIA Benoît de L’Estoile .......................................................................................71 DEVOLVER AOS INDÍGENAS SEU LUGAR NA HISTÓRIA ARGENTINA’: TEMPOS, TEMPORALIDADES E HISTÓRIAS NO MUSEU ETNOGRÁFICO DA CIDADE DE BUENOS AIRES Andrea Roca .............................................................................................103 A CONSTRUÇÃO DE UMA ‘TRADIÇÃO DE GLÓRIA’: TÉCNICAS EXPOSITIVAS E PRÁTICAS DISCURSIVAS DOS FRADES CAPUCHINHOS NO MUSEU DOS ÍNDIOS DA AMAZÔNIA (ASSIS, ITÁLIA) Claudia Mura ............................................................................................127 ARTE AFRICANA, DE NOVO: TRÂNSITOS ENTRE ‘ETNOGRAFIA’ E ‘ARTE’ EM ANGOLA Nuno Porto ...............................................................................................157 DOIS REIS NEOZELANDESES: NOTAS SOBRE OBJETIFICAÇÃO MUSEAL, REMANESCENTES HUMANOS E FORMAÇÃO DO IMPÉRIO (BRASIL-MARES DO SUL, SÉCULO XIX) Edmundo Pereira ......................................................................................191 III AS EXPERIÊNCIAS DE MUSEUS INDÍGENAS EM FACE DOS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS ETNOGRAFIA E ARQUITETURA Alban Bensa ..............................................................................................221 O MUSEU RONDON E OS POVOS INDÍGENAS EM MATO GROSSO Maria Fátima Machado ............................................................................255 ÍNDIOS EM COMUM: A PAN-INDIANIDADE DO NATIONAL MUSEUM OF THE AMERICAN INDIAN “CONTRA O OUTRO” Leonardo Bertolossi .....................................................................................287 UMA VISITA À CASA DO IMPERADOR: SOBRE O TRABALHO DE COOPERAÇÃO ENTRE MUSEUS E SOURCE COMUNITIES Claudia Augustat, Obadias Batista Garcia, Wolfgang Kapfhammer e Ranulfo de Oliveira ...................................................................................313 COLEÇÕES ETNOGRÁFICAS, POVOS INDÍGENAS E REPATRIAÇÃO VIRTUAL: NOVAS QUESTÕES, VELHOS DEBATES Renato Athias ...........................................................................................337 A DESCOLONIZAÇÃO DAS COLEÇÕES COLONIAIS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE CURADORIA COM A COLEÇÃO AFRICANA DO MUSEU NACIONAL Mariza Carvalho .......................................................................................365 DESCOLONIZANDO A ILUSÃO MUSEAL – ETNOGRAFIA DE UMA PROPOSTA EXPOSITIVA João Pacheco de Oliveira e Rita de Cássia Melo Santos ............................397 SOBRE OS AUTORES ......................................................................435 INTRODUÇÃO João Pacheco de Oliveira e Rita de Cássia Melo Santos A eclosão dos museus coloniais se deu em meio ao processo de formação nacional. Junto com os censos e os mapas, os museus consti- tuíram ao longo do século XIX os lugares privilegiados onde as nações em formação se tornavam materialmente acessíveis (ANDERSON, 2009). Num momento em que a formação nacional passava necessariamente pela constituição de um povo, aos museus, junto com os institutos his- toriográficos, coube a redução das múltiplas narrativas em uma única. Não havia naquele contexto espaço para divergências e contradições, para múltiplos pontos de vista, ou mesmo para diferentes projetos de Estado. A nação em construção exigia o apagamento e o esquecimento da diferença como condição para sua existência (RENAN, 2008). Para esse projeto nacional concorreram artistas, intelectuais e cientistas de diferentes campos do conhecimento que disputavam entre si as inter- pretações sobre os caminhos mais adequados e rápidos para a produção da homogeneidade da nação. A “teoria das raças”, o “branqueamento das populações”, a “aculturação” foram aspectos que orientaram tanto as práticas dos Estados quanto as políticas de representação empreendidas pelos museus (SCHWARCZ, 1993). A morte da diferença não era apenas desejada, mas também foi amplamente celebrada por meio das artes plásticas e literárias, ao mesmo tempo em que confluíram políticas severas de retirada e diminuição das condições necessárias para a sua existência (OLIVEIRA, 2016). Nesse sentido, vimos os museus se tornarem o espaço privilegiado para a razão universal e a construção de subjetividades nacionais – o lugar para onde foram destinados os “troféus de guerra”, os espólios das populações dizimadas, onde os “outros” apareciam somente por meio do seu desaparecimento iminente e real. Os zoológicos humanos, desdobramentos dos museus e das exposições internacionais, podem ser apontados como a radicalização mais perversa desse processo. Espaços onde a ideia de “selvagem” foi brutalmente explorada e maximizada. O lugar onde a diferença foi - 7 - João Pacheco de Oliveira e Rita de Cássia Melo Santos (Organizadores) arrancada dos domínios da curiosidade (GREENBLATT, 1996) e passou a ser tratada a partir do “circo de horrores”. O epicentro dessas práticas ocorreu entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, terminando antes da Segunda Guerra (BOËTSCH; SNOEP; BLANCHARD, 2012). Não aleatoriamente, mas por serem duas faces de um mesmo processo, esse período corresponde ao de consolidação dos museus coloniais e de ampliação máxima de seus acervos (STOCKING JR., 1985). Um movimento radicalmente distinto ocorreu na virada entre os séculos XX e XXI. Contrariando todas as perspectivas estabelecidas anteriormente, assistimos a uma explosão no número das instituições museais. No caso do Brasil, a lista de museus disponíveis hoje no site do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) aponta para a existência de mais de 3 mil instituições!1 Um número infinitamente superior ao quantitativo de instituições existentes no século XIX, quando foram fundados três grandes museus: o Museu Nacional (1818), o Museu Paraense Emílio Goeldi (1871) e o Museu Paulista (1895). Além deles, houve algumas experiências de formação de gabinetes de curiosidades posteriormente convertidos em museus, como o caso do Museu Julio de Castilhos, fundado no Rio Grande do Sul em 1903. O espaço anteriormente ocupado apenas pelos Museus Nacionais, de História Natural e Históricos passou nessa virada a ser disputado pelos museus indígenas, ecomuseus, museus comunitários e uma infinidade de apropriações populares e étnicas de espaços ditos ou de algum modo concebidos como “museus”. O crescimento de instituições no início do século XXI fez parte de um movimento muito mais amplo empreendido pelas “populações subalternizadas” de afirmação de suas identidades, trajetórias e de disputa nas narrativas sobre sua importância para a construção nacional. Esse movimento, longe de constituir uma concessão por parte dos detentores das narrativas hegemônicas, correspondeu a um processo em que essas populações tomaram de assalto o seu direito de produzir “autorrepresentações”. A cultura, ao invés de constituir o elemento de depreciação e prejuízo de direitos dessas populações, como havia sido no passado, passou a ser um mecanismo através do qual o Estado era acionado a lhes reconhecer direitos. Houve aí a produção de uma agenda política para a cultura, em que essas populações requereram direitos e 1 http://www.museus.gov.br/guia-dos-museus-brasileiros/. Acesso em 30/04/2018. - 8 - DE ACERVOS COLONIAIS AOS MUSEUS INDÍGENAS: FORMAS DE PROTAGONISMO E DE CONSTRUÇÃO DA ILUSÃO MUSEAL políticas públicas específicas a partir da sua designação cultural. O processo de produção da homogeneidade foi virado ao avesso e em seu lugar a diferença passou a ser um fator constitutivo fundamental. Pluralizar as narrativas museais considerando-as múltiplas do ponto de vista interno e externo tornou-se então um imperativo, e os museus coloniais passaram a ocupar o corner das políticas públicas de cultura. A passagem entre esses dois momentos fez-se como o deslocamento de um grande pêndulo. De um lado, as políticas de produção de uma unidade cultural constituída por meio do controle exacerbado da “representação dos outros”, e do outro lado, a celebração da “autorrepresentação” como a única forma legítima de construção narrativa. “Não jogar o bebê junto com a água do banho” é um velho ditado inglês de grande eficiência nesse caso. O problema existente e reconhecido na produção historicamente relacionada aos museus coloniais não pode implicar necessariamente a sua destruição (JAMIN, 1998), assim como a sua existência, permanência e valorização não podem ser a razão para a fragilização e o apagamento das iniciativas museais de bases étnicas, entre outras. É preciso construir novos caminhos possíveis para os museus coloniais e para os museus étnicos. E esse movimento passa neces- sariamente por uma revisão da própria disciplina antropológica e das múltiplas formas como se deram as relações entre os antropólogos e seus “outros”. Embora inspirado em Johannes Fabian (1983), a nossa preocupação aqui não se volta para as correntes teóricas e as disputas internas à academia, mas para as relações de uso e dominação pelas quais o “outro” foi concebido e incorporado à nascente disciplina da Antropologia e aos modos de exposição do “outro" em grandes museus coloniais e de etnografia. Nessa direção, identificamos quatro modos como o “outro” foi incorporado à Antropologia e que impactam direta- mente na compreensão dos acervos e das instituições museais. A primeira dessas formas seria aquela que o “outro” assume fora das suas condições reais de existência, como se pudesse ser observado e sobreviver dentro de ambientes artificiais. As vitrines constituem uma forma de existência de objetos culturais que foram inspiradas pelos trabalhos dos primeiros antropólogos, que em muitos casos atuavam diretamente dentro de museus. Esse movimento, que Michael Ames (2006) analisa, foi iniciado na Inglaterra, prosseguiu pela Alemanha, passou aos Estados Unidos e atingiu as partes mais distantes do mundo. Museus foram - 9 -

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