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Da religiosidade PDF

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" A COLEÇÃO ENSAIOS TRANSVERSAIS trata de temas ~ue articulam reflexões teóricas e aÇões cotidiana~, em busca do que se poderia caracterizar co.mo uma Scientia Activa. Os textôs representam vozes que procuram um debate aberto, tran:s <iJue cenda a mer~ reiteração çl'eecos e cop.triJbuaefetiva mente para à llílegociaçãoe a, párti}ha de signifi cações. Tal fusão de horizontes é condiç,ão de pos siMlidade para um acordo no discarso, fundamentclJI ..,para a construção da c'idadani~. )~ . © byEdita Flusser Vilém Flusser Todos osdireitos desta edição reservados Escrituras Editora eDistribuidora de Livros Ltda. Rua Maestro Callia, 123 Vila Mariana 04012-100 SãoPaulo, SP- Telefax:(11)5082-4190 Sistema Alexandria e-mail: [email protected] A.L. : 1528677 site:www.escrirura:s.com.br Tombo: 31458 Coordenação editorial Nilson JoséMachado 11111I111111111111111I1111111111111111111111I Capa VeraAndrade Editoração eletrônica Ricardo Siqueira TO~SAIS Ilustração da capa Mikhail Aleksandrovitch Vrubel "~':\t"~ "LaPerla, 1904" GaleriaTretiakov, Moscou Fotolitos Binhos Da Religiosidade Impressão Banira Gráfica A literatura e o senso de realidade Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) """'-; (Câmara Brasileirado Livro, Sp'Brasil) Flusser,Vilém, 1920-1991. ! Da religiosidade: aliteratura eosenso derealidade/Vilém Flusser. SãoPaulo: Escrituras Editora, 2002. - (Coleção ensaiostransversais) O{:l~Af'(b « ti! 't;(J ISBN 85-7531-060-7 ::~:;: (:j::l rn otJ 1.Ensaios brasileros r.Título. 11.Título: Aliteratura eosenso de reali -:Y~OIl9\0 dade. m.Série. .~ 1. ;) 02-5687 CDD- 869.94 ~if)AAMú Índices para catálogo sistemático: !? li:!0,",,': 1.Ensaios: Literatura brasileira 869.94 F'-' ~ Impresso no Brasil escrituras Printed inBrazil SãoPaulo, 2002 ~~'";:,...s::,t:::::'->1:l:~. '-;::;::€~1}'",,"'->;::12-- o '" ;::"'"~~;3 '"<:(')~oÕ'•...•(').o~p:;' Sumário Apresentação .IX Introdução 13 (1) Da religiosidade 15 (2) Por que epara quê? 23 (3) Coincidência incrível... 31 (4) Pensamento ereflexão 37 (5) Da dúvida 47 (6) Praga, acidade de Kafka 63 (7) Esperando por Kafl<:a 69 (8) Do funcionário 83 (9) Em louvor do espanto (10) O tema exclusivo 97 (11) Vicente Perreira da Silva 107 (12) O projeto 113 (13) Literatura brasileira devanguarda? 133 (14)Resenha 139 (15) Concreto-abstrato 147 (16) O "Iapà' de Guimarães Rosa 155 (17) Do poder da língua portuguesa 161 Apresentação Atrajetória do filósofoVilém Flusseréum exemplo de engajamento intelectual que se tornou raro nos dias de hoje. Da cidade de Praga, onde nasceu em 1920, Flusser e sua mulher Edith emigram para o Brasil, depois de uma breve permanência em Londres, fugindo da máquina de extermínio nazista que avançava sobre a Europa no início dos anos 40. Em SãoPaulo eleinicia suacarreira como filó sofo ao publicar seusprimeiros livros eartigos nos anos 60 eatuando como professordeuma geraçãodejovensentusias mados pelo seu estilo de pensar, falar eescreversobre temas que, segundo ele, estavam remodelando toda a história do ocidente. Em suas palestras, que o tornaram conhecido como um homem polêmico e intelectualmente sedutor, eram especialmente os jovens que se sentiam atraídos pela sua maneira elástica de pensar, cheia de sutilezas e nuances cristalinos. Como orador influente, Flusser transcendia a condição temporal da fala,despertando para ovislumbre de certas dimensões atemporais do pensamento. Elesabia que o arrebatamento era a condição essencial para a percepção do fluxo das coisas, etalvezissopossa explicar a influência que exerceu sobre muitos artistas, para quem ele parecia falar desde cedo. A sua não ortodoxia-acadêmica, aliada a uma vasta cultura histórica, despertavam tanto o prazer de IX pensar, quanto os várlOs ataques que sua forma de "ver "olugar no qual searticula osenso de realidade. E senso de filosofia nos jornais" recebeu. Seu hábito de encerrar realidade é,sob certos aspectos, sinônimo de religiosidade." ensaios e até mesmo livros sem notas de rodapé parece ter Paraosinteressados em suaobra, areedição desselivro vem sempre afrontado aquela ordem magistral de manipulação nos oferecer um fecundo campo de estudos da filosofia que do saber, incomodada com as "performances" filosóficas e se articulava no autor por volta dos anos 60. Além de nos com a objetividade comunicativa de um pensador lInico apresentar uma via de acesso a seu pensamento, SOlnos entre nós. ainda apresentados à filosofia de Vicente Ferreira da Silva, No Brasil, Flusser irá exercer seu engajamel1to por figura de grande importância na formação intelectual de meio de publicações, cursos, palestras e projetos culturais Vilém Flusser em São Paulo. Em vários dos ensaios aqui que, segundo sua forma de entender, poderiam servir dc reunidos encontraremos as primeiras formulações que serão, décadas mais tarde, retomadas na Filosofia da Caixa modelos para o resto mundo. Ao retornar para aEuropa no início dos anos 70, eledará início àfasemaisrobusta dc sua Preta como no 1ns Universum der Technischen Bilder ("No obra, cujo marco fundamental será a publicação do livro universo das Imagens Técnicas"), livro de 1985 e ainda Für einen Philosophie der Fotografie ("Por uma Filosofia da inédito em português, no qual ele aprofunda os argumen Fotografia"), editado primeiramente na Alemanha cm toslançados na Filosofia. 1983 edois anos depois no Brasil, com o título A Filosofia Além dos ensaios sobre Kafka, a poesia concreta da Caixa Preta. Essa obra será responsável pela imagcm paulista e Guimarães Rosa, Flusser aborda também um associada ao filósofo de um "profeta da era tecnológica", tema que parece pontuar toda a sua obra, que é o tema da morte. Ao tratar desse tema "exclusivoda vida", o filósofo um "premonitor" do avanço de uma sociedade cujos va lores estariam sendo transferidos da produção de objctos nos ensina que, "Toda frasede obra de pensador vivo apon para aprodução de informações. ta, (...)em sua busca deperfeição, ointelecto que agerou, e Em suas freqüentes viagens entre a Europa e o Brasil, toda frase de obra de pensador morto aponta o intelecto Flusser construiu uma rede transoceânica de debates em que a recebe. E a obra, como um todo, esta ligada ao in torno de três pontos axiaisbásicos: a invenção do alfabeto, telecto que aoriginou como por cordão umbilical, enquan to vivo o seu autor. A morte corta esse cordão e a obra a invenção da tipografia e a invenção da fotografia. Para o filósofo, a fotografia, o primeiro meio de produção emite pseudópodes em direção aos intelectos abertos para automática da imagem, irá marcar o advento de um novo recebê-Ia. O último significado da obra é deslocado, pela período da história humana, pois "a história da morte, do intelecto do autor para os intelectos dos seus humanidade é a história do homem com seu instrumento interlocutores. (...) De receptor e de ponto de ressonância e, por isso, é possível falar de uma mentalidade da pedra transforma-se o interlocutor em guardião e realizador da lascada, uma mentalidade do bronze edo ferro, assimcomo obra. A responsabilidade (...) passa do autor para o inter ode uma mentalidade digital". locutor, eo destino da obra depende doravante dele". Mas o tema de "Da religiosidade", de Vilém Flusser, Quanto a nós, "osprovisoriamente pouco numerosos não éo da emergência de uma nova capacidade para fazere interlocutores da obra", podemos dizer também que "temos decifrar imagens (imagens técnicas), esim aliteratura. Elaé oprivilégio earesponsabilidade de acolhê-Iaem nosso ínti- x XI mo para que continue a realizar-se. Não seremos dignos desseprivilégio, nem estaremos à altura dessaresponsabili dade, se a ternura e plasticidade da obra for pretexto para uma inibição de nossa parte em atacá-Ia. Embora tenra e plástica, dispõe essaobra de força suficiente para resistir a nossos golpes. É debaixo dos golpes que ela se formar<Íe adquirirá aqueles contornos e aquela dimensão, nos quais entrará para aconversação brasileira, equiçá do Ocidente". Introdução Seráapenas pelo estudo epelo debate dostextosflusse rianos que sua obra continuará sendo fecundada, revelando mais emais a impressão que temos de que eleera um filó Os pequenos ensaios que perfazem o presente volume sofoque criava como um artista. foram publicados em diversas revistas. Os ensaios de número 1,2, 3, 6, 8,9,11,14,15,16 e17saíram no Suple SãoPaulo, outubro de 2002. mento Literário de OEstado de S. Paulo. O número 4 saiu Mario Ramiro na Revista Brasileira deFilosofia, eo número 5na Revista do Instituto TecnológicodaAerondutica, Depto. deHumanidades. Artista pldstico Os números 7 e 10saíramna revista Comentdrio. O número eprofissor da Escola de Comunicações eArtes da USP 12no Didlogo eo 13naRevista Brasilefza de Cultura, editada em Madrid. A escolha dos ensaios obedeceu a um critério vagamente temático, que é o seguinte: a literatura, seja ela filosóficaou não, éolugarno qual searticula osensode rea lidade. E "sensode realidade" é,sob certos aspectos, sinôni mo de "religiosidade". Real é aquilo no qual acreditamos. Durante aépoca pré-cristã orealeraanatureza, easreligiões pré-cristãs acreditam nas forças da natureza que divinizam. Durante a Idade Média o real era o transcendente, que éo Deus do cristianismo. Mas a partir do século XV o real se problematiza. A natureza éposta em dúvida, eperde-se afé no transcendente. Com efeito,nossasituação écaracterizada pela sensação do irreal epela procura de um senso novo de realidade. Portanto, pelaprocura de uma novareligiosidade. Esteotema dos ensaiosescolhidos. O primeiro ensaio procura localizar o tema. O segun do eo terceiro procuram mostrar como o tema surgiu com XII 13 o o Renascimento. quarto e o quinto representam um esforço de formular um novo senso de realidade, tomando como real a língua. Representam portanto a minha filoso fia. Os ensaios 6, 7 e 8 tratam da realidade como aparece em Kafka. Os números 9 e 10 tentam articular a realidade do existencialismo, e mais especialmente a camusiana. A partir daí focalizo acena da literatura brasileira. Os ensaios 11, 12, 13e 14sebatem com econtra afilosofiadeVicen Da religiosidade te Ferreira da Silva, que é uma filosofia em busca de uma realidade. O ensaio nO15 trata da poesia concreta, que é uma técnica de criar nova língua, portanto nova realidade. Os últimos dois ensaios têm por tema aobra de Guimarães Há pessoas incapazes de repetir a mais simples melo Rosa, que alia a técnica realizadora do concretismo com dia. Outras setornam lânguidas ao ouvir um tango argenti no. Há osque transpõem com osúltimos acordes da "Flau uma religiosidade transcendente. A presente coleção de ta mágica" a porta celeste. Para outros o Cravo bem ensaiosprocura portanto mostrar como atendência ociden temperado representa opróprio intelecto humano transfor tal em direção de uma nova religiosidade semanifesta pro dutivamente na cultura brasileira. Éneste sentido que pode mado em fenômeno audível. São exemplos de diversos sertomada como um esforçoem prol da elaboração de uma tipos de musicalidade. Há, paralelamente, diversos tipos de filosofiada literatura brasileira. criação musical, cuja gama se estende desde o empenho Reunir estes ensaios sob a forma de um livro é tentar comercial dos compositores de Hollywood até o empenho religioso de um Palestrina. E há, finalmente, o exército de salvá-Iosdo efêmero que épróprio de toda Revista. Espero que estacontribuição modesta sejaútil à discussão geraldo críticos que "explicam" amúsica, edevirtuosos que a"apli cam". Os virtuosos são aplaudidos evenerados, os críticos que éacivilizaçãobrasileira. têm existências um tanto mais reclusas. Essa é, em termos gerais, a cena da música, se desconsiderarmos fenômenos SãoPaulo, setembro de 1965. marginais como empresários, editores musicais, fabricantes Vilém Flusser elojasde discos. A forma da cena émutável, mas a música como talé,digamos, eterna. O propósito do presente artigo éforçar um paralelo entre música ereligião, eentre musica lidade e religiosidade. A comparação ésempre um método de estudo fértil, não tanto pelos seus resultados, mas pela distância que pode proporcionar aoespírito contemplativo. O fenômeno que corresponde à crítica musical é, no campo da religião, um certo tipo de filosofia. Mas devemos confessar desde logo que a crítica musical é infinitamente 14 15 maiscompetente que amaioria da filosofiado tipo mencio especialmente marcado para a religiosidade. Há pessoas nado. Dou como exemplo o marxismo. Essa filosofia, religiosamente surdas, mas não há época nem sociedade tomada como crítica de religião, considera os empresários, inteiramente isentas de religiosidade. Pessoasreligiosamen tesurdas vivem em mundos rasosechatos, movimentam-se oseditores musicais, eosfabricantes elojasde discos como os fenômenos centrais da cena da música (isto é, natural entre coisas transparentes (porque em tese inteiramente mente, transpondo de religião para música), eacredita que explicáveis), e dirigem-se para a morte que torna absurdos areligião pode edeveserexplicada apartir dos empresários osmundos, ascoisaseaprópria vida. A capacidade religio edos fabricantes. Como épossíveltamanha excentricidade? sa torna profundo o mundo, opacas as coisas (porque É que os filósofos marxistas dispõem de uma religiosidade nunca inteiramente explicáveis), e torna problemática a que corresponde àmusicalidade daquele que não saberepe morte. A capacidade religiosa torna portanto obscura a tir amais simples melodia. Algo como acrítica marxista da visãoantes clarado mundo, como acontemplação da paisa religião é inconcebível no campo da música, já que aesco gem torna obscura avisãoclara do mapa. O pintor (aquele lha da profissão de crítico musical pressupõe uma certa afi que procura captar avisãodapaisagem) éportanto um obs nidade entre o crítico eamúsica, perfeitamente dispensável curantista do ponto de vista do cartógrafo (aquele que no campo da religiãoeda filosofia.Dou, como outro exem reduz a paisagem à sua clarezaplana e chata). E o homem plo, o freudianismo. Essa psicologia filosofizante, tomada religioso éum obscurantista do ponto de vista daquele que como crítica de religião, considera o crítico como figura não éincomodado peladimensão sacrado mundo. Como a central da cena, ecrê que acrítica pode acabar com amúsi clarezaédesejável,há pessoasque abafam dentro de siavoz ca, libertando assim o ouvinte da necessidade de sujeitar-se da religiosidade evivem como que com óculos escuros para a ela. É que, provavelmente, o freudiano dispõe de uma vermais claramente. Mascomo aclarezaéchata, há pessoas religiosidade que corresponde à musicalidade daquele que que fingem um sentimento religioso para o qual não têm soluça ouvindo tangos. Não éportanto, ameu ver,da críti capacidade, evivem enganando-se asimesmos. Essasduas ca da religião que devemos esperar um esclarecimento do inautenticidades opostas complicam o fenômeno da reli fenômeno religioso, pelo menos não no início do nosso giosidade. esforço. Somos, creio, nesse esforço, remetidos a nossa Épocas e sociedades religiosamente férteis educam e vivência interna, à religiosidade. É ela, embora tão variável fortalecem a capacidade individual para a religiosidade. e insegura, a nossa única avenida de acesso ao fenômeno Épocas e sociedades religiosamente pobres, como a época religioso. Todas as demais aproximações são secuncLíriase que está para encerrar-se e a sociedade tecnológica, repri auxiliares. A ela pretendo recorrer, portanto, no presente mem eabafam acapacidade individual para areligiosidade. artigo. Uma conseqüência dessa repressão é a deformação da reli Chamarei de religiosidade nossa capacidade para cap giosidade, que assumeformasgrotescasemonstruosas como tar a dimensão sacra do mundo. Embora não sejaela uma ozen-budismo nosEstadosUnidos ou opaganismo atroz da capacidade que écomum atodos oshomens, é, não obstan Alemanha hitlerista. Outra conseqüência dessarepressãoéo te, uma capacidade tipicamente humana. Certas pessoas, desvio do ardor religiosoda dimensão sacrapara a profani certas épocas e certas sociedades dispõem de um talento dade chata do mundo e resulta em pseudo-religiosidades 16 17 como o endeusamento do dinheiro ou do Estado. Estas Ocidente. Em suma: o sacro é, para nós, exclusivamente deformações e perversões da capacidade religiosamarcam a Deus. Sabemos intelectualmente deoutros tipos deprojeto, cena da atualidade e dificultam, portanto, a contemplação de outros tipos de religiosidade, ede outros tipos de sacro. do fenômeno da religiosidade. Mas este conhecimento intelectual é intraduzível para a Feita abstração das formas inautênticas e das formas camada da vivência religiosa, e as tentativas nesta direção perversas, resta-nos a capacidade genuína para captar a são fadadas ao malogro da inautenticidade. Somos, como dimensão sacrado mundo. Essacapacidade revelaomundo seres religiosos, prisioneiros da revelação sinaica, por mais enossavida dentro dele como realidade significativa, isto é, que nos rebelemos contra essasgrades. Éesseoprojeto den como realidade que aponta para fora de simesma. Essesig tro do qual fomos jogados eéessa,no fundo, nossa defini nificado que o mundo enossa vida dentro dele têm écha çãode ocidentais dentro da qual existimos. mado "osacro". A profundidade do significado, aextensão Nosso tipo de religiosidade nos define como exis do sacro, dependem da nossa capacidade para areligiosida tentes, e estabelece o mundo dentro do qual existimos. É de. O significado da vida pode ser, por exemplo, simples verdade que no curso da nossa história elementos da reli mente a preparação para uma outra vida, em tudo igual a giosidade grega, eem grau menor das religiosidades latinas, esta, mas mais feliz,eeterna. germânicas e eslavas, infiltraram-se na nossa experiência Este tipo de significado éconferido àvidapor um tipo religiosa para enriquecê-Ia e aprofundá-Ia. Mas não altera de religiosidade comparável à musicalidade do apreciador ram sua estrutura básica, que pode ser caracterizada pelos do tango. E o significado da vida pode ser a superação do conceitos de "fé" e"obras".A fé éafidelidade ao significa Eu esua diluição na imensidão do sacro. A intensidade da do transcendente do mundo eda vida dentro dele, fidelida nossa capacidade religiosa é portanto variada. Mas sua de essamantida em desafioatoda evidência em contrário; é estrutura, sua "Gestalt" é nos imposta. Os grandes gênios portanto absurda. As obras são resultado do nosso esforço religiosos da nossa civilizaçãoa impuseram sobre asnossas em prol desse significado transcendente, esforço esse que mentes. O sacro é,para nós ocidentais, prefigurado eproje transforma o mundo profano em mundo sacropelo sacrifí tado por essesgênios, como amúsica épara nósprefigurada cio; são portanto absurdas. Nossa religiosidade oscila entre eprojetada pelos grandes compositores. Mas aíacompara o pólo absurdo da fé eo pólo absurdo das obras. De certa çãoentre música ereligiãosetorna insuficiente. Os grandes forma éahistória do Ocidente idêntica com aoscilação do compositores estão no mesmo plano ontológico como nós, pêndulo da religiosidade entre os seus dois pólos. Agosti são gente como nós, embora certamente de proporções nho e S.Tomás, Calvino eMarx marcam-lhe o compasso. muito maiores. Mas osgrandes gênios religiosos,essesseres A absurdidade de nossa religiosidade é nossa resposta ao míticos como Abrão eJacó, Moisés e, de maneira ainda absurdo do mundo profano. Essa revolta escandalosa con mais acentuada, Jesus, sãorevelados, pela nossacapacidade tra a absurdidade pela absurdidade (para utilizar, embora religiosa, como participando de outro plano de realidade. em contexto diferente, um pensamento kiekegardiano), Em outras palavras: a nossa religiosidade é limitada à reali marca areligiosidade do Ocidente. zaçãode um único projeto: aquele que f()iinspirado, in iLlo Nossas religiõestradicionais são o ambiente dentro do tempore, ao povo de Israel para realizar-se na civilizaçãodo qual nossa religiosidade funciona. Para voltar ao paralelo 18 19

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