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Da diáspora : identidades e mediações culturais PDF

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S t u a r t H a " jetoria de Stuart Hall como inte- al comec.ou no bojo da reelabo- i do que e ser de esquerda, depois errota pela Uniao Sovietica do .mento antiestalinista na Hungria, 1956. Continuou nos anos 60 e em meto a preocupac.ao com a cente influencia dos meios de unicac,ao na cultura, ao mesmo 30 democratizadora e — segundo dic,ao bem-pensante, de esquerda Je direita — avittante. E nesse )do que preocupaooes ferninistas DA DIASPORA cismo entram explicitamente seu repertorio. Sua trajetoria IDENIIDADES E MEDIATES CULTUIAIS agua, nesses ultimos vinte s, na preocupagao em repensar jltura no meto de uma globali- io complexa e contraditoria. Esse momento em que as identidades urais se tornam lances discursivos fundamental tmportancia para :m os faz. E nessa ultima fase, a de ilizar a globaliza^ao e as politicas :urais, que Halt tornou-se uma das icipais referencias atuais sobre dimensoes politico-cutturais da balizagao, vistas a partir da dias- a negra. Ao longo desse caminho, .I! foi protagonista dos Estudos Iturais, com seu projeto de pensar ultura em urn precario e vital equi- rio entre a valoriza^ao do trabalho STUART HALL DA DIASPORA IDEN1IDAOES E MEDIATES CUL1URAIS Liv SOVIK Adelaine La Guardia Resende Ana Carolina Escosteguy Claudia Alvares Francisco Rudiger Sayonara Amaral Brasilia Belo Horizonte Representacao da Editora UFMG UNESCO no Brasil 2003 © 2003 dos originals em ingles by Stuart Hall E©s t2e0 0li3v rdoa o tnra pdaurctaeo d beyle E ndaioto prso dUeF MseGr reproduzido por qualquer meio sem autorizatao cscrita do CREDITOS DOS TE3 i Idien^fdades e culturais Editor. O autor e responsavel pela escolha e pela apresentacao dos fatos contidos nesla publicafao e pelas opinioes aqui cxpressas, que nao sao necessariamente as da UNESCO e nao compromeiem a Organizacao. As designates empregadas e a apresenta9ao do material nao implicam a expressao de PARTE 1 - CONTROV^RSL qualquer opiniao que seja, por parte da UNESCO, no que diz respeito ao status legal de qualquer pais, < 198681/05) terrii6rio, cidade ou area, ou de suas autoridades, on no que diz respeilo S delimitacao de suas fronteiras ou de seus limites. pensando a diaspora: reflexoes sobre a terra no exterior HALL, S. Thinking the Diaspora: Home-Thoughts from Abroad. Small Axe H179d Hall.Stiiari v. 6, p. 1-18, Sept., 1999. © Indiana University Press. Da diaspora: Identidades e mediacoes culturais / Stuart Hall; Organizacao Liv Sovik; Traducao Adelaine La Guardia Resende ... let all. - Belo Horizonte: Editora UFMG; Brasilia: Representacao da UNESCO no Quest5o multicultural Brasil, 2003. HALL, S. The Multi-cultural Question. In: HESSE, Earner (Org.). Un/settled 4M p. (Humanitas) Multiculturalisms. London: Zed Books, 2000. ISBN: 85-7041-356-4 Quando foi o p6s-colonial? Pensando no limlte I. Identidade Social 2. Cultura 3. Etnologia I. Sovik, Liv HALL, S. When Was "The Post-colonial"? Thinking at the Limit. In: CHAMBERS, 11. Resende, Adelaine La Guardia III. Tftulo IV. Serie Iain; CURTI, Lidia (Org.). The Post-Colonial Question: Common Skies, Divided CDD: 306 Horizons. London: Routledge, 1996. CDU: 316 Catalogacao na publicacao: Divisao de Planejamenlo e Divulgacao da Biblioteca Universilaria - UFMG PARTE 2 - MARCOS PARA OS ESTUDOS CULTURAIS ED1TORACAO DE TEXTO: Ana Maria de Moraes • Estudps Culturais: dois paradigmas PROJETO GRAFICO: GI6ria Campos - Mangd CAPA: Stuart McPhail Hall, diptico de Dawoud Bey, acervo da National Portrait Gallery, Londrcs. Reprinted by permission of Sage Publications from Stuart Hall, "Cultural Studies: REV1SAO E NORMALIZACAO: Simone de Almeida Gomes Two Paradigms", in Media, Culture and Society, 2, 57-72, 1980. '"VISAO DE PROVAS: Cida Ribeiro e Lfvia Renala L. Salgado "-*© Sage Publications 1980. -t Rh .'TSAO TfiCNICA: Liv Sovik ^.V1" PRODUCAO GRAFICA: Warren M. Santos FORMATAgAO DO MIOLO: Cassio Ribeiro Significant), representacao, Ideologia: Althusser e os debates pos- estruturalistas. 50 UN1VERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS HALL, S. Signification, Representation, Ideology: Althusser and the Post- Reitora: Ana Lucia Almeida Gazzola Structuralist Debates. Critical Studies in Mass Communication, v. 2, n. 2, Sistema Integrado Vice-Reitor: Marcos Borato Viana p. 91-114, June 1985. Used by permission of the National Communication EDITORA UFMG de Bibliotecas/UFES Association. Av. Antonio Carlos, 6627 Ala direita da Biblioteca Central - lerreo - ^Estudos Culturais e seu legado teorico Campus Pampulha HALL, S. Cultural Studies and Its Theoretical Legacies. In: GROSSBERG, 31270-901 - Belo Horizonte/MG Lawrence et al. (Org.). Cultural Studies. New York: Routledge 1992 Tel.: (31) 3499-4650 . Fax: (3D 3499-4768 p. 277-286. www.editora.ufmg.br [email protected] CONSELHO EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL DA : Para AUon White: metaforas de transformacao TITULARS UNESCO NO BRASIL HALL, S. For Allon White: Metaphors of Transformation. In: WHITE, Allon. Antonio Luiz Pinlio Ribeiro, Bcairiz Rezende Danlas, Jorge Wertliein, Juan Carlos Tedcsco, Carnival, Hysteria and Writing. Oxford: Clarendon Press, 1993. Reprinted by Cados Antonio Leite Brandao, Heloisa Maria Murgel Cecilia Braslavsky, Adarna Quane, permission of Oxford University Press. Starling, Luiz Otavio Fagundes Amaral, Maria das Celio da Cunha Gracas Santa Barbara, Maria Helena Damascene e Silva Megale, Romeu Cardoso Guimaraes, Organizacao das Nafoes Unidas para a PARTE 3 - CULTURA POPULAR E IDENTIDADE Wander Meio Miranda (Presidente) Educacao, a Ciencia e a Cultura SUPLENTES Representacao no Brasil Cristiano Machado Gontijo, Denise Ribeiro Scares, SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/ -r Notas sobre a desconstrucao do "popular" Leonardo Barci Castriola, Lucas Jose Bretas dos IBICT/UNESCO, 9° andar HALL, S. Notes on Deconstructing "the Popular". Santos, Maria Aparecida dos Santos Paiva, Maurflio 70070-914 - Brasilia -DE - Brasil Nunes Vieira, Newton Bignotto de Souza, Tel.: (55 61) 321-3525 Fax: (55 61) 322-4261 © History Workshop Journal, 1981, by permission of Oxford University Press. Reinaldo Martiniano Marques, Rkardo Castanheira UHBRZSuncsco.org.br Pimenta Figueiredo O problema da ideologla: o marxismo sem garantias D M N O HALL, S. The Problem of Ideology: Marxism Without Guarantees. In: MATTHEWS, B. (Org.). Marx: 100 Years on. London: Lawrence & Wishart, 1983, P- 57-84. A relevancia de Gramsci para o estudo de raca e etnicidade HALL, S. Gramsci's Relevance for the Study of Race and Ethnicity. Journal of Communication Inquiry, 10 (2), 5-27. © 1986 by Sage Publications. Reprinted by permission of Sage Publications, Inc. "negro" e esse na cultura negra? HALL, S. What is This "Black" in Black Popular Culture? Este livro tern suas origens na vinda de Stuart Hall ao © 1998 Black-Popular Culture: Discussions in Contemporary Culture #8, Brasil, quando proferiu uma palestra na sessao de abertura edited by Michele Wallace. Reprinted by permission of The New Press. (800) 233-4830. (Led. Seattle: Bay Press, 1992.) do VIII Congresso da Associate Brasileira de Literatura Comparada, realizado na Bahia em julho de 2000. Portanto, PARTE 4 - TEORIA DA RECEPgAO sinceros agradecimentos se fazem a Diretoria da ABRALIC, < na gestao de 1998-2000, particularmente a sua presidente, Reflexoes sobre o modelo codificacao/decodifica^ao HALL, S. et al. Reflections upon the Encoding/Decoding Model. In: CRUZ, Evelina Hoisel, e a vice-presidente, Eneida Leal Cunha. A Jon; LEWIS, Justin. Viewing, Reading, Listening. envergadura deste livro deve muito ao interesse da Editora © 1994 by Westview Press. Reprinted by permission of Westview Press, a UFMG em publica-lo. member of Perseus Books', LLC. Adelaine La Guardia Resende foi uma excelente parceira CodificacaWdecodificacao de trabalho. Ela traduziu para um portugues claro e proximo HALL, S. Encoding/Decoding. Culture, Media, Language-, Working Papers in do original a maioria dos textos e revisou comigo todos eles. Cultural Studies, 1972-1979- London: Hutchinson/CCCS, 1980. A revisao tecnica de textos repletos de metaforas, termino- PARTE 5 - STUART HALL FOR STUART HALL logias conceituais especializadas e referencias tiradas de objetos os mais diversos — que passam por Volochinov, a A formacao de um intelectual diasporico: uma entrevlsta com Stuart banda The Police e Hamlet— encontrou nela uma interlocu- Hall, de Kuan-Hsing Chen HALL, S.; CHEN, K.-H. The Formation of a Diasporic Intellectual: an tora sempre disposta a discutir o que poderia parecer mero Interview With Stuart Hall by Kuan-Hsing Chen. In: MORLEY, David; detalhe, concordando, discordando e recomendando solucoes. CHEN, Kuan-Hsing (Org.). Stuart Hall: Dialogues in Cultural Studies- Recebi generosas contribuicoes, tambem, de Nilza Iraci, London: Routledge, 1996. na revisao de "Que 'negro' e esse na cultura negra?" e na transposicao para o portugues do Brasil de "Estudos culturais e seu legado teorico", e de Itania Gomes em "Codificacao/ Decodificacao". Esta obra talvez tivesse naufragado nao fosse a dispo- sicao de Stuart Hall de sugerir textos e ver publicado no Brasil um livro unicamente de sua autoria, coisa rara. Seu apoio ao projeto, sua generosidade em comentar a apresen- tacao e sua correspondencia precisa e bem-humorada durante os dois anos em que este livro foi gestado, foram preciosos incentives ao trabalho e ao bom humor. u M O APRESENTACAO PARA LER STUART HALL P AjfR T E CONTROVERSIAS JH. PENSANDO A DIASPORA REFLEXOE5 SOBKE A TERRA NO EXTERIOR 25 A QUESTAO MULTICULTURAL 51 QUANDO FOI O P6S-COLONIAL? PENSANDO NO LIMITE 101 P A>K T E MARCOS PARA OS ESTUDOS CULTURAIS ESTUDOS CULTURAIS DOIS PARADIGMAS 131 S1GN1FICACAO, REPRESENTACAO, 1DEOLOGIA ALTHUSSER E OS DEBATES POS ESTRUTURALTSTAS 160 ESTUDOS CULTURAIS E SEU LEGADO TE6RICO 199 PARA ALLON WHITE METAFORAS DE TRANSFORMAgAO 219 T E CULTURA POPULAR E IDENTIDADE NOTAS SOBRE A DESCONSTRUgAO DO "POPULAR" 247 O PROBLEMA DA IDEOLOGIA O MARXISMO SEM GARANT1AS 265 A RELEVANCIA DE GRAMSCI PARA O ESTUDO DE RA£A E ETNICIDADE 294 QUE "NEGRO" £ ESSE NA CULTURA NEGRA? 335 APRESENTA^AO T E TEORIA DA RECEP£AO REFLEXOES SOBRE O MODELO DE PARA m STUARl HALL CODIFICAgAO/DECODIFICAgAO UMA ENTREV1STA COM STUART HALL 353 CODIFICAgAO/DECODIFICAgAO 387 STUART HALL FOR STUART HALL A FORMAgAO DE UM INTELECTUAL DIASP6RICO CLQiito de origem dps Estudos_Culturais reza que Stuart LIMA ENTREVISTA COM STUART HALL, DE KUAN HS1NG CHEN 407 Ha]i_e__seju_pai. Foi^dirjetor_^Q_X£atre_for_jC_Qntej2r3^_ajy Culturaj_J?tudies (CCCS)jda Universidade de Birmingham, na Inglaterra, durante seu periodo mais fertil, qsjuios 70. Na verdade e um dos pais, pois o mito de origem inclui Richard Hoggart, Raymond Williams e, as vezes, E. P. Thompson nesse papel. Mas foi Stuart Hall quern assumiu os Estudos Culturais como projeto institucional na Open University, e continuou, periodicamente, a se pronunciar sobre os rumos de algo que se tornou um movimento academico-intelectual internacional. Ao mesmo tempo, Stuart Hall recua diante da autoridade que Ihe e atribuida. Faz de seu estatuto paterno^uma van- tagem de testemunha ocular (cf. LT).1 Ou ironiza-o, como fez em palestra no congresso da Associacao Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), em Salvador, em julho de 2000, ao falar da importancia, para ele, de ler Roger Bastide e Gilberto Freyre nos anos 50. Os_Estudos Culturais teriam origem, inclusive^_b£asileira. O recuo de Hall e indicacao de uma atitude peculiar diante do trabalho intelectual, pela qual os antepassados e contemporaneos teoricos sao, a um so tempo, aliados, interlocutores, mestres e adversaries, de cuja forca Hall se apropria, sem se preocupar em denunciar pontos fracos ou demonstrar devocao filial as suas ideias. Npjnelhor sentido brasileiro, Hall e antropofago. Deglutiu final dos anos 50 e inicio dos 60, que incluiu E. P. Thompson, Marx, Gramsci, Bakhtin. Saboreou Louis Althusser, Raymond Raymond Williams, Raphael Samuel, Charles Taylor, muitos Williams, Richard Hoggart, Fredric Jameson, Richard Rorty, deles originahos jas^margens, seja por motives de classe ou Jacques Derrida, Michel Foucault, E. P. Thompson, Gayatri geografia-^Essa "nova esquerda" se cristalizou a partir^dos Spivak, Paul Gilroy, com algo de len Ang, Cornel West, Homi acontecimentos de 1956: a invasao sovietica da Hungria e a Bhabha, Michele Wallace, Judith Butler, David Morley, assim crise do Suez, quando as forcas israelitas, francesas e brita- como ingeriu Doris Lessing, Barthes, Weber, Durkheim e Hegel. nicas atacaram o Egito do nacionalista arabe Nasser. Nao se Existem eventualmente duas excecoes a metafora antro- identificava nem com o stalinismo, com o qual os membros pofagica para o Hall leitor. Ele e filho amotinado de F. R. do Partido Comunista estavam alinhados com diversos graus Leavis, grande defensor do canone literario como moralmente de entusiasmo, nem com o nacionalismo britanico, com seu superior a cultura de massa que dominou a critica literaria projeto imperialista. Nessa perspectiva_critica. Hall foi editor britanica nosvanos 30 a 50 do seculo XX. E se filia ao metodo da New Left tft^wMte 19_^aJJ26l^j^ e as prioridades de Gramsci, dentre as quais esta fazer um Tfiscussao sobre novas^cornpreensoes de classe social, _mpvi- trabalho teorico que contribua para uma ideologia e uma IrrenTos^spciais eTp.olitica, da ,questao... do..des_armamento cultura "populares", em contraposicao a cultura do bloco de nucleate — a partir dos disturbios raciais no bairro Netting poder (cf. NP), ao mesmo tempo em que se desconfia do Hill em 1958 — sobre a incipiente tjuestao .racial britanica. alcance politico limitado do trabalho intelectual. Quando Stuart Hall participou da fundacao, em 1964, do Centre for colocado na posicao de grande mestre e exaltado por aquilo Contemporary Cultural Studies (CCCS)j_da Universidade de que escreveu, Hall desconversa, pois.^maisjmportante do Birmingham, que deu o nome de(Estudos_C_ulturai^a uma que criar discipulos e alimentar o debate sobre_a_ tematica^ _f^rma_de_pensar sobre cultura^ Financiado parcialmente com bla^Ue^e^jnTcomerrtario sobrelflmportancia do seu ensaio os lucres das vendas de The Uses^fJLiteracy, de Hoggart, "Que 'negro' e esse na cultura negra?", reforcou a metafora sobre o consume cultural da classe operaria inglesa, ele antropofagica ao dizer: "Help yourself." Sirva-se. dirigiu o Centre nolTseus primeiros quatro anos. Foi no -- _ n a_ de uma periodo sob a direcao de Stuart Hall, de 1968 a 1979, que se familia de classe media, adquiriu, ainda jovem, consciencia consolidaram os Estudos Culturais, a partir de uma preocu- "da contradicao da cultura colonial, de como a gente sobre- pacao politica e do projeto de colocar em bases teoricas mais vive a experiencia da dependencia colonial, de classe e cor, solidas as leituras de "textos" da cultura, que incluiam desde e de como isso pode destruir voce, subjetivamente" (FID). o fotojornalismo2 e programas de televisao, ate a ficcao O movimento pela independencia da Jamaica fez parte do romantica consumida por mulheres e as subculturas juvenis ambiente em que ele cresceu, ao passo que a Segunda Guerra britanicas (leia-se teds, mods, skinheads, rastas) as vesperas Mundial foi fundamental ao suscitar nele, estudante secun- do movimento punk.3 darista, uma consciencia historica e geografica como contexto O pensamento de Hall passa por conviccoes democraticas das preocupac.6es anticoloniais de sua geracao. Enquanto seus e pela agucada observacao da cena cultural contemporanea. colegas pretendiam estudar economia, ele se interessou mais A maioria de seus textos teoricos responde a uma conjuntura pela historia e sonhou em ser escritor. Em 1951, foi estudar especifica, incluindo ai um momento da discussao teorica literatura em Oxford "e "aca'bou n"a~o" mais voltando a morar sobre a cultura. Deixam clara sua ligacao com o projeto na Jamaica. - de formular "estrategias culturais que fazem diferenca e Num primeiro momento, Hall se associou a jovens cari- deslocam (shift) as disposicoes de poder" (QN). Desloca- benhos que formaram a primeira gerac.ao de uma inteli- mento, alias, e a imagem que Hall faz da relacao da cultura gencia negra, anticolonialista. Mais tarde, fez parte de um com estruturas sociais de poder; pode-se fazer pressoes grupo fundamental para a formacao da New Left inglesa, do atraves de politicas culturais, ern uma (guerra~de posicoes", 11 10 mas a absorcao dessas pressoes pelas relacoes hegemonicas ser "desenterradas delicadamente de seu solo concrete e de de poder faz com que a pressao resulte nao em transfor- sua especificidade historica e transplantadas para um novo macao, mas em(deslocamentoP)da nova posicao fazem-se terreno, com muito cuidado e paciencia" (RG). Ao fazer novas pressoes. isso, as ideias se tornam uteis para pensar ra£a e etnicidade em outros climas e epocas. Em outro momento, compara As pressoes se efetuam dentro de uma situacao complexa. o ambiente de trabalho do CCCS a uma estufa (FID) altamente Em um trecho do texto intitulado "Que 'negro1 e esse na seletiva, onde os Estudos Culturais puderam ser cultivados cultura negra?", Hall explica o dificil quadro em que se faz em condicoes otimas, embora artificials. Teorizar^significava politicas culturais negras e se produz cultura: responder a enigmas e lidar cpjn^^jmj^oo^d^jiQY^s^m^vi^ nientos sooais., No~CCCS tratou-se de travar uma luta com e Etnicidades dominantes sao sempre sustentadas por uma eco- contra teorias, como se fosse Jaco com o anjo (cf. LT). Lutar nomia sexual especifica, uma figuracao especifica de masculi- com as teorias dessa forma significava nao aceitar sua autori- nidade, uma identidade especifica de classe. Nao existe garantia, quando psocuramos uma identidade racial essencializada da dade como se fosse divina. O trabalho teorico e um corpo-a- qual pensamos estar seguros, de que sempre sera mutuamente corpo com outros teoricos, sua autoridade e seus discipulos, libertadora e progressista em todas as outras dimensoes. [...] De sua historia e mudancas de rumo. E um jogo agonistico, mas fato nao € nada surpreendente a pluralidade de antagonismos nao e uma mera brincadeira, pois e fundamentalmente util e diferencas que hoje procuram destruir a unidade da politica na busca de respostas a questoes complexas que grupos e negra, dadas as complexidades das estruturas de subordinacao sociedades enfrentam. Pois, para Hall, o social ainda existe, que moldaram a forma como nos fomos inseridos na diaspora negra (QN). sim, e como Deleuze, ele entende que as teorias sao caixas de ferramentas a serem usadas em seu beneficio. Ressaltam-se as tensoes: a pergunta sobre identidade negra Com a preocupacao de fazer dialogar uma teorizacao a que se refere o titulo do artigo reverte para a consideracao complexa e sofisticada com as demandas de segmentos socials, critica da etnicidade dominance; a id_entidade_jiegra_. e_ gtra- JHtal^transferiu-se. em 1979. de Birmingham_para a_Opjgn t inclusive dgjgenero e orien- University, uma instituicao de ensino superior na qual adultos tacao sexual. A politica identitaria essencialista aponta para obtem diplomas universitarios atraves de uma combinacao algo pelo qual vale lutar, mas nao resulta simplesmente em de educacao a distancia e seminaries intensivos. De la dirigiu, libertacao da dominacao. Nesse contexto complexo, as com exito, esforcos para^institucionali7:ar Qg_EsjLudos Culturais politicas culturais e a luta que incorporam se trava em muitas britanicos, fazendo deles abordagem que engajava frentes e em todos os niveis da cultura, inclusive a vida coti- os intelectos nao so na estufa. mas tambem em_campos diana, a cultura popular e a cultura de massa. Hall ainda mais amplo_s_da_p_opulacao britanica cujo_aces_^J_e_ducacag acrescenta um complicador, no final do texto: o meio mercan- superior era Umjtado ou recente, Nos anos 80 e 90, veio a tilizado e estereotipado da cultura de massa se constitui de aceitacao dos Estudos Culturais no meio academico britanico representacoes e figuras de um grande drama mitico com o e sua incorporacao pela industria editorial como linha de qual as audiencias se identificam, .e^mais uma experiencia producao academica e de interesse geral, com boas vendas. _de_ fantasia do que de auto-reconhecimento. Finalmente, Stuart Hall assistiu a um crescente interesse pelos A construcao por Hall do problema e argumento sobre Estudos^Culturais fora da Gra-Bretanha, por estudlosos nos politicas culturais negras coloca em pauta uma constelacao mais diversos lugares, principalmente no enorme e rico meio de ideias em tensao umas com as outras, criando uma espe- universitario dos Estados Unidos. cie de cama-de-gato ou ponte pens^l. O proprio Hall usa Q__trahajho_d£_Hall focaliza a "questao paradigmatica da metaforas diferentes para descrever seu trabalho. Ja fez teoria cultural", ou seja, "c.Qrno_!pensar', de forma nao redu- jardinagem teorica com as ideias de Gramsci, que podem .^as. re 1 acqes_ejitre_^i^ociaj/.__ejp_simholico'" (AW). 12 O pensamento tern um peso especifico, pois o_discurso teorico rasura" (metafora derridiana, a qual Hall recorre frequente- £ uma^ratica^ultu^l^ntica^que se faz^comapretensao de mente) da constatacao de ingenuidade. Este intelectual, intervir em uma discussaojnais ampja ; por natureza, ajteoiia lembra, trabalha em duas frentes. Deve saber mais do que o tern ess^pote^noal^de^ntervgngao. Quando reve a questao intelectual tradicional, estar "na vanguarda do trabalho te6- da~ ideblogia, Hail diz: "Tambem quero coloca-la [a ideologia] rico intelectual" e, ao mesmo tempo, repassar seu saber para enquanto um problema geral — um problema para a teoria intelectuais fora da academia. Os intelectuais tradicionais porque tambem e um problema para a poKtica e a estrategia." se colocam ao lado do conhecimento e interesses sociais (PI)- A teoria e uma tentativa de solucionar problemas poli- ja estabelecidos. Os intelectuais organicos sag comprome- tidos com un^^abglho inteteclu^ ticos e estrategicos; nao uma elaboracao a partir deles. ^A teoria e uma tentativ^^de_^aber_algo__que, por sua vez, leva sociais e economicas. a um novo ponto de partida em um p_r_ocesso_se.rn.pj:ejnac.a- No mesmo texto, apresentado a uma plateia de academicos Bacfo de~Tndagag"ao~e'~descoberta; nao_e um sistema_ _C[ue norte-americanos, na conferencia sobre cultural studies na util.na A University of Illinois at Champaign-Urbana, em 1990, Hall diferenca de enfase e importante e esclarece por que, para afirma a necessidade de uma compreensao politica dos Hall, a teoria e "um conhecimento conjuntural, contestado Estudos Culturais que leve em conta a "sujeira do jogo e local", mais do que uma manifestacao da vontade de ver- semi6tico", a qualidade "mundana" do que esta em jogo, dade (LT). Por esta razao, o legado teorico do CCCS nao toma seu arraigamento em fenomenos sociais que incluem em- a forma de um referencial teorico, na visao de Hall, mas de presas e classes sociais, nac.6es e generos. O riso de superio- um posicionamento sobre o que significa fazer trabalho inte- ridade perante o romantismo nos primordios dos Estudos lectual serio hoje. Essa postura entende os Estudos. Oolturais Culturais encontra seus limites em novas metaforas: QJL como projeto que implica o_envolyimento com — e a consti- Estudos CuJturai-S—nascejram impuros. nao como denomi- tuicao teorica de — forc.as de mudanca_econ 6m icaj^ social. nac.ao ou igreja academica. Metaforas regem a compreensao Os textos neste livro seguem as convenc,6es do genero da situacao retratada, e a compreensao do que esta em jogo teorico-academico. Podem ser lidos em busca de concei- passa pelas tensoes que a comparacao metaforica suscita. Mas tuac,6es de hegemonia, ideologia, agenciamento politico, as metaforas nao sao somente a forma elegante que Hall tern art.iculac.ao, globalizacao, por exemplo, ou, em uma leitura de dizer varias coisas ao mesmo tempo. Sao, em si, reconheci- mais transversal, a perspectiva de Hall sobre. a relacao entre mentos de que a substancia, a materialidade da vida social, ao ©•os meios de comunicacjio e a cultura, o lugar da historia no mesmo tempo escapa e e captada na linguagem, Os Estudos_ estudo da cultura contemporanea, a sua epistemologia ou, Culturais se fazem na propria ...tggsaoentre_a discursividade e ainda, a maneira pela qual le questoes das etnicidades domi- putras questoesj^ujsjrnp^^ nantes e de genero. Essas leituras e outras se enriquecerao ramente abarcadas pela textualidade critica" (LT). Um tema ao levar em conta a consciencia de jjall dametafora xomn que capta essa tensao claramente e o da _mistura_ cultural, caminho e limite de_compreensao. Em "Estudos Culturais e me^tic^gejrj^JubrjclJ^rjacL-Hall afirma o valor estrategico dos sexT le gacTote orico " relata que "a~b~usca de uma pratica insti- discursos de identidade negra diante do racismo, com suas t tucional que pudesse produzir um intelectual organico" foi a multiplas raizes nos diversos niveis da formacao social: poli- metafora que orientou o trabalho do CCCS nos anos 70, tico, economico, social, cultural. Ao mesmo tempo, em um embora nao se conseguisse identificar o "movimento historico movimento que parece paradoxal, enfoca_sempjre .o jogo emergente" no qual o intelectual organico se inseriria. Tam- da diferenca, a differance, a natureza intrinsecamente hibri- pouco, no CCCS, se teria reconhecido tal intelectual organico dizac|a_de_ toda tdegtidade e das_i.d^XLtj.da_d£sldias,po^ricjt.s que se procurava produzir, diz. A metafora gramsciana de ernesp,ec . O paradoxo se desfaz quando se entende que trabalho intelectual presente em Birmingham esta "sob a .a (*rT——d—e'—n- tidade\)e um lugar assume, uma costura de 14 15

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