ebook img

Cultura: a visão dos antropólogos PDF

161 Pages·2002·67.368 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Cultura: a visão dos antropólogos

ntropologos ~\1\fl\~(\\ llii~\liil\il A final, a cultura e assunto exclusivo dq Etnologia ou deve ser abordada Por uma ciencia cultural? Este livro apresenta tanto um levantamento das diversas defini~oes e conceitua~oes propos tas nas Ciencias Humanas ao longo de de cadas ( especialmente depois da Segunda Grande Guerra), como discussoes e estudos criticos cle seus respectivos conteudos, pro pastas e implica~oes. Nos tLltimos anos, o estudo de culturas vern se Cqracterizando muito m(Jis par uma "desconstru~ao'; que par uma continuidade hist6rica linear, e a analise desta mudan~a constitui um dos pontos centrais desta obra. C u l t u r a A Antropologia social inglesa, francesa e alema e passada em revista e, em dais den sos capitulos, o autor investe cogni~iio em estudiosos e conceitos consagrados, olhando criticamente os chamados estudos culturais a visao dos antropologos - vertente que acabou consagrando o mul ticultura[ismo e, em consequencia, o relati vismo cultural do hoje classico Herskowitz. ~ Adam - Kuper I CoordenafiiO Editorial Irma Jacinta Turolo Garcia Assessoria Administraliva C u l t u r a Irma Teresa Ana Sofiatti . a visao dos antropologos Coordenafiio da Colefiio Ciencias Sociais_ Luiz Eugenio Vescio Tradus:~o Mir~es Prange de Oliveira Pinheiros ~ EDI:JSC Edlton da Univer~idade•do Sagrndo~Cora-;lio sumario 7 Prefacio ~~ edi~ao brasileira 9 Prefacio K9678c 19 Introduyao: guerras culturais Kuper, Adam Culttwa a v1sao dos antrop6logos I Adam Kuper ; tra.dw;:ao Mirtes Frange de Oliveira ----------------P--arte 1. Genealogias 43 Pinheiros. -- I3auru, SP: EDUSC, 2002. Capitulo 1. Cultura e civilizac;:ao: intelectuais franceses, 324 Pi ; 21 em. -- (Col~s;:ao Ciencias Sociais) alemaes e ingleses, 1930-1958 ISB'N 85-/4M-146-2 71 Capitulo' 2. A visao das ciencias sociai~: Talcott Traduc;:ao de:· Culture: the anthropologist's Parsons e os a·ntrop6logos americanos account. ______ 1. Cultura. 2. Etnologia. 3. Civiliza~;ao­ .;P;...;a...;r te 2. Experimentos Sociologia. I. Titulo. II. Serie. 103 Capitulo 3. Clifford Geertz: cultura como religiao e CDD, 306 como 'grande opera 159 . Capitulo 4. Davicl·Schneicler: biologia como cultura 205 Capitulo 5. Marshall Sahlins: hist6ria como cultura 257 Capitulo 6. Admiravel munclo novo ISBN '0-674-00417-5 (original) 285 Capitulo 7. Cultura, diferen~a, iclenticlacle Copyri!ght © Ada;11 Kuper, 1999 Copyright© (tracl~IS::ao) EDUSC, 2002 311 Leituras adicionais 315 Agraclecimentos da Tradu~ao realizada a partir edis;:ao de 1999 317 fnclice onomastico Direitos exclusivos de publicas;:ao em lingua portuguesa para ,a Brasil aclquiriclos pela EDITORA DA UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORA\=AO Rua Irma Arminda, 10-50 CEP 17011-160 -Bauru -SP Fone Cl4) 3235-7111- Fax (14) ·3235-7219 e-mail: [email protected] a prefacio edi<;ao brasileira Em agosto de 1999, pouco antes da publicac;:ao inicial de Cultura, eu era professor convidado no Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde conduzi uma serie de semin{trios que sintetizavam o assunto do livro. As discussoes foram uma revelac;:ao para mim. Nao e demais dizer que me sentia em ' casa, tanto nas ruas do Rio quanta no anfiteatro de conferen cias. Os jovens brasileiros com os quais dialogava obviamente cntendiam muito bem o que eu tinha em mente. Meu primeiro envolvimento com as questoes de identidade e poirtica cultural se deu na decad\.. de 1950, quando era estu dante .universit:hio na Africa do Sui. No Brasil, no final do seculo 20, jovens antrop6logos interessavam-se por questoes muito similares, com a mesma intensidade. Tanto no Brasil como na Africa do Sui, a definic;ao de cultura e a importancia dada as causas culturais nao eram apenas questoes academi- ' cas abstratas, mas problemas com consequen,cias politicas e sociais imediatas. Essas questoes esta,vam no imago dos de bates nacionais sobre rac;a, sobre o carater e o destino dos "povos indfgenas", sobre as causas da pobreza. No Brasil, como em muitos outros pafses, por vezes pare cia que a ideia de cultura havia substitufdo a ideia de rac;:a no discurso popular, mas falar de cultura freqiientemente equiva lia a falar de rac;a, oferecendo uma razao para crer que as relac;oes economicas, polfticas e sociais eram determinadas pela natureza interior dos diferentes grupos na sociedade. Para entendermos as implicac;aes desse tipo de pensamento basta considerarmos alguns dos fatores que ele n:;jeita: as con seqiiencias das pollticas economicas, o poder modelador da polftica internacional, a polftica dos grupos de interesse. Uma antropologia que se define como o estudo da cultura despre zara fatores sociais, politicos, economicos e tambem biol6gi cos. Ideias e valores serao vistos como as causas do compor Para Jessica tamento-do crime, das pr~ticas trabalhistas, das praticas edu- 71 a prefacio edi<;ao brasileira cacionais - e nao como as consequencias de outros fatores, prefacio tais como a prosperidade e· a probreza~relativas, ·as oportu nidades de emprego, a exclusao dos processos politicos. a cor rups;:ao e assim por diante. A primeira parte:; deste livro explora as genealogias inte lectl)ais das diferentes nop5es de cultura. A segunda parte F examina as quase sempre criativas e crfticas aplica<;:oes de / alo neste livro sobre certa tradis;:ao mode rna dentro uma nos;:ao particular de cultura na antropologia cultural nos do antigo cliscurso internacional em constante transformas;:ao ' Estados Unidos durante a segunda metade do seculo 20. Esta sobre c.ultura. Ja em 1917, Robert Lowie declarou que cultura parte do livro denomina-se Experimentos, pois os maiores "e na verdacle o unico assunto cia etnologia, assim como a expoentes cia antropologia cultural moclerna estavam na ve!· c;nscim€ c ia e ~ assunto cla psicologia, a vida e 0 assunto da dacle testanclo 0 valor do conceito de cultura para a com biologia e a eletriciclacle e urp ramo cla fisica".' Pala vras ane preensao do comportamento humano. Finalmente, cliscuto as batacloras. Boa parte clos cateclraticos alemaes, por exemplo, versoes mais recentes do cleterminismo cultural em antropolo descreveu seu campo como ciencia cultural, mas nao como gia e levamo questoes sobre o que p'ocleria acontecer se fosse etnologia. Os discipulos de Mathew Arnold perguntaram se mos tentados a aclotar uma teoria da hist6ria radicalmente icle era possivel encontrar qualquer cultura que fizesse jus ao alista e relativista. nome alem das fronteiras clas grandes civilizas;:oes. E alguns Escrevo este Prefaaio uma semana ap6s os ataques ter antrop61ogos contestaram. clizendo que o verdadeiro tema cia roristas nas cidacles de Nova York e Washington. As rea<;:oes sua disciplina era a evolU<;ao humana. Mas Lowie falou em imediatas clavam conta·cle que o acontecido provava a tese de nome de uma escola de arttropologia cultural norte-america Samuel Huntington de que os conflitos do seculo 21 seriam na recem-criada que clecidiu desafiar as ideias comumente conflitos culturais e que as novas guerr~s seriam guerras entre aceitas. Suas afirma~oes seriam levaclas mais a serio uma ge civilizas;:oes. Ha um fatalismo tragico neste tipo de visao, assim ra~ao mais tarde. Depois da Segunda Gue~-ra Mundial, as cie~­ como havia na icleia muito parecicla, no infcio do seculo 20, cias sociais gozaram de um perfoclo de prospendacle e prestl de que ra<;:a era clestino, e que as grandes guerras por vir seri gio sem prececlt:ntes nos Estados Unidos. As varias clisciplinas am guerras entre ra<;:as. Ate cerro ponto, uma profecia clesse ficaram mais ~specia·lizaclas e a antropologia cultural recebeu tipo poclera se concretizar. Vale a pena refletir muito so\vre as uma licens;:a especial para atuar no campo da cultura. teorias e a propria icleia de cultura que fundamentam essa Os resultados foram bastante satisfat6rios. pelo menos a maneira de pensar. prinsfpio, par~t os antrop6logos. Stuart Chas: comentou~ ;em. 1948, que o "conceito de cultura dos antropologos e soctolo Londres, 17 de setembro de 2001 gos esta· sendo considerado o alicerce das ciencias sociais".1 Em 1952, a opiniao respeitada clos maiores expoentes cla an Tradu):ao de Valeria Biondo tropologia norte-americana da epoca, Alfred Kroeb~r e Clyde Kluckhohn era de que "a ideia de cultura, no senudo antm- . ' 1. LOWIE, Robert II. Culture and Ethllologv. Nova York: McMur trie, 1917. p. 5. 2. CIIASE, Stuart. The Proper Study ofMankind. Nova York: Harper, 1948. p. 59. 8 I prefacio prefacio pol6gico tecnico, constitui uma das principais noc;oes do pen cultura ou apurando definic;oes que esses problemas serao re; sam.ento ~mericano contemporaneo" :' E eles estavam confian solviclos. As clificulclacles tornam-se maiores quando (clepois tes de que no "sentid o antropol6gico tecnico", cultura era urn de toclos os protestos em contrario) a cultura cleixa de ser algo ou conceito de promessa cientffica de grande vulto, quase ilimi a ser descrito, interpretado ~alvez ate mesmo explicaclo tado. "Em importancia explicativa e generaliclade de aplicac;ao para ser tratada como uma fonte de explicac;ao propriamente e compan'ivel a categorias como-a gravidacle na ffsica, a cloen clita. Nao quero com isso negar que alguma forma de explica c;a na medicina e a evoluc;ao na biologia." c;ao cultural possa ser bastante uti!, em seu devido Iugar, mas Hoje em clia as coisas estao muito cliferentes. J.Zoucos an apelos ~ cultura s6 .podem oferecet• uma explicac;ao parcial do trop6logos afirmariam que 'a noc;ao de cultura pocle ser com que leva as pessoas a pensarem e a agirem de determinacla parada "em importancia explicativa" com graviclade, cloenc;a forma e do que faz com que elas muclem seu jeito de ser. For~ ou evoluc;ao. Embora aincla se consiclerem especialistas no e's c;as polfticas e econ6micas, institui<;6es sociais e processus tudo da cultura, eles precisam aceitar a ideia de que l).ao go biol6gicos nao desaparecem como num passe de magica ape zam mais de uma posic;ao privilegiada na galeria condensada nas porque esse e o nosso desejo, nem podem ser assimila e diversa de autoridades em cultura. Alem disso, a natureza cia dos em sistemas de conhecimentos e cren~as. E esse, eu cliria, area que eles reivindicam sofreu uma mudanc;a radical. De constitui o principal empecilho no caminho cia teoria cultural, modo geral, eles transferiram sua ficleliclade intelectual das cert;~menre em vista de suas pretensoes atuais. ciencias sociais para as ciencias humanas, e estao propensos Espero que os capltulos independentes deste livro pos a fazer uma interpretac;ao pratica, ate mesmo uma desconstru sam corroborar essas conclusoes, persuadir o leitor,de visao e c;ao, e nao uma analise sociol6gica ou psicol6gica. Nao obs semear cluvidas na mente dos mais credulos. Entretanto, po tante, OS antrop6Jogos modernos norte-americanos vem Siste der-se-ia alegar que, antes de iniciar esse projeto, eu tinha pre maticamente aplicando as teorias culturais etn uma grande va conceitos contra a maior parte das teorias sobre cultura. Sou rieclade de estudos etnogratl.cos, e creio que seus experimen membro integrante cia fac~ao europeia de antropologia que - tos representam o mais intrigante e satisfat6rio teste do valor sempre teve muita cautela em reivindicar cultura como seu - e talvez da validade - das teorias culturais. 0 objetivo pri tema exclusivo, e mais aincla de lhe conferir pocler de explica mordial deste livro, por conseguinte, consiste em fazer uma ~ao. Sem duvida alguma, meu ceticismo inicial foi acentuaclo avaliac;ao do projet6 central cia antropologia cultural norte- por minhas visoes polfticas: sou liberal, no se~1tido europeu e americana do p6s-guerra. · nao americana, um homem moderado, um humanista sem ex Cheguei a conclusao de que quanto mais se analisam os tremes; mas apesar de ser bastailte sensato, nao posso dizer melhores trabalhos modernos dos antrop6Iogos sobre cultura, que estou livre de preconceitos. Um materialista moclerado e mais aconselhavel se torna abanclonar de vez a palavra hiper com convicc;oes brandas sobre clireitos ht~manos universais, referencial e passar a falar de forma mais precisa sobre conhe sou refratario ao idealismo e ao relativismo da teoria cultural • cimento, convic<;ao, arte, tecnologia, traclic;ao ou ate· mesmo moderna e nao tenho muita simpatia pelos movimentos sociais icleologia (embora problemas semelhant~s sejam levantados • fundamentados em nacionalismo, identidade etnica ou reli por esses conceitos polivalentes). Existem problemas episte giao, exatamente os movimentos que exibem t11aior tenclencia mol6gicos funclamentais, e nao vai ser tergiversando sobre de invocar a cultura para motivar ac;ao polltica. Pouco antes de comes;ar a escrever este livro, tomei cons ciencia de que essas duvidas te6ricas e preocupa~oes polfticas 3. KROEBER, A. L.; KLUCKHOHN, Clyde. Cultw·e: A Critical Re estavam profundamente enraizada;; em minha pr6pria concii-.'!~ view of Concepts and Definitions. Cambridge, Mass.: Trabalhos do - Peabody Museum, 1952. p. 3. ~ao de sul-africano liberal. No estagio inicial cia recente trans- jlO_ .nJ._ _ pre facio prefacio forma~ao por que passou a Africa do Sui. depois da eleidio de Os nacionalistas afridinderes suspeitavam cia '·missao ci F. W. De Klerk para a presiclencia mas antes cla libenacao de vilizadora" proclamada, com boa ou ma fe, pelos poderes co Nelson .Mandela da prisao, um momenta imbufdo de g;·andes loniais na Africa.' Alguns acreditavam que os africanos nao possibilidades hist6ricas, recebi uma carta de um eminente an podiam ser socializados, ·e que ate mesmo uma tentativa nes 1 trop6logo americana. Ele havia sido convidaclo a proferir uma se sentido era contraproducente; ou, na melhor das hip6teses, palestra sobre liberdacle academica na Universidade da Ciclacle que levaria seculos para alcan~ar tal objetivo, e ralvez apenas do Cabq. Naturalmente, ele se perguntava de que maneira um a um grande custo humano. Esse tipo de argumento, em ge antrop61ogo poderia contribuir para os serfssimos debates sa ral, e motivado por um racismo torpe, e o pensamento racis bre ra~a, cultura e hist6ria que arrebatavam a Africa do Sui, e ta certamente era disseminado entre os brancos sul-africanos. me peclia para !he fornecer alguns subsfclios sobre as discus Entretanto, alguns intelectuais africanderes, entre eles Eiselen, s6es travadas nos drculos antropol6gicos Jocais. Eu !he enviei repudiava1i1·os preconceitos popularcs. Nao havia provas de revis6es dos principais. argumentos da antropologia cultural que a inteligencia variava ·con1 a ra~a, afirmou Eiselen numa africander, e ele me escreveu novameme agradecendo. Ele es palestra em 1929, tampouco que uma ra~a ou na~ao privile capou por pouco de cometer uma grave impropriedade, pois giada deveria conduzir o mundo para todo o sempre na civi seu primeiro impulso tinha sido dedicar a palestra a um dis lizas;ao. Nao era a ra~a, mas sim a cultura que constitufa a ver curso boasiano classico sohr~ n•ltm~J. Provavelmente ele teria dadeira base cia diferen(.:a, o sinal do destino. E as <;liferens;:as afirmado que ra~a e cultura eram independentes entre si. que culturais deveriam ser avaliadas. A troca cultural, ate mesmo era a cultura que tornava as pessoas o que elas eram e que o o progresso, nao era necessariamente uma dadiva. Seu custo respeito pelas diferen~as culturais deveria constituir a base de podia ser demasiadamente alto. Se a integridade das culturas uma sociedade justa. Um argumento edificante nos Estados tradicionais rosse minada, haveria uma desintegra~ao social. Unidos, mas que na Africa do Sui teria soado como uma justi Eiselen achava que o governo deveria estimular uma "cultura ficativa clesesperada para' o apanheid. banto mais elevada, e nao produzir europeus negros". Mais Esse paradoxo estava profunclamente entranhado em mi tarde, o slogan "desenvolvimento separado" passou a ser usa nha consciencia e, sem duvida, constituiu um dos motivos do. A segrega~o era o curso adequaclo para a Africa do Sui, para a elabora~ao cleste livro. Eu estava cursanclo a faculdacle pois s6 assim as diferenr;as culturais seriam prese1vadas. na Africa do Sui no final decada de 1950. Naquela epoca, um A escola de etnologia do apartheid citava os antrop6lo sistema africancler radical segurava firmemente as redeas do gos culturais norte-americanos com aprovas;:ao, embora en1 pals, e sua polftica coercitiva de segrega~ao racial, o apar grande parte em_s eus pr6prios tennos; mas seus !fderes eram theid, estava sendo implementada com um tipo de sadismo raclicalmente contraries as teorias da escola britanica de antro moralizante. 0 governo parecia ser praticamente invulneravel pologia social, sobretudo as teorias de A. R. Radcliffe-Brown, e impervio a crfticas. Os movimentos de oposi~ao africana primeiro a ocupar a cadeira de antropologia soGial na Africa do eram brutalmente reprimidos. E. no entanto, _havia um campo Sui, em 1921. Radcliffe-Brown, obviamente. nao negava que em que aparentemenre algumas das convic~6es mais sagradas t do governo pocliam ser expostas por argumentos sensatos e e'(idencias irrefutaveis. Embora muitas vezes estivessem en 4. Para uma revisao da etnologia afridnder e da carreira de Eise voltas na linguagem da teologia, as doutrinas oficiais sobre len, ver GORDON, Robert. Apartheid's Anthropologist: The Ge nealogy of Afrikane-r Anthropology. American Ethnologist, v. 13, ra~a e cultura invocavam autoridade cientffica; o apartheid es' n. 3, p. 535-53; 1988, e para um relato mais geral sobre a antro rava funclamentaclo numa teoria antropo16gica. Nao era por pologia sul-africana, ver HAMMOND-TOOKE, \V. D. Impe1;lect in-, acaso que seu arquiteto intelectual, W. W. M. Eiselen, tinha te1preters: South Africa's Anthropologists 1920-1990. Joanesburgo: sido professor de etnologia. Witwatersrand University Press, 1997. prefacio prefacio t•xi~liam <.liferen~as culturais no pafs, mas rejeitava a polftica de mente se libertaram desse condicionamento inicial e abra~a­ .... vgrq~a1,·:1o com base no argumento de que ~ Africa do Sui ram a escola culturaL Meu ceticismo sobre cultura era mais transformara-se numa sociedade unica. As institui~oes nacio forte, em patte por ter_ fica do tao impressionad_o com o abu.so nais cruzavam as fronteiras culturais e moldavam op~oes de cia teoria cultural na Africa do Sui. Mas nao e de todo rutm vida em todas as aldeias e cidades no pals. Todos os cidadaos aborclar uma teoria profundamente arraigacla com uma postu (ou indivfduos) estavam no mesmo barco. As polfticas de base ra cetica. Ademais, as inclina~oes polfticas nao impeclem, ne acerca de diferen~as culturais representavam uma receita para cessariamente, alguem de avaliar os pontos fortes e fracos dos o clesastre. "A segrega~ao e insuportavel", afirmou ele a plateia contra-argumentos. Alem disso, as teorias culturais geralme~­ em uma de suas palestras. "0 nacionalismo sul-africano tem de te trazem em seu bojo uma carga polftica, justificando uma cn serum nacionalismo composto por pretos ~ brancos." tica polftica. Mas embora i11inha experiencia sul-_africana tenha Em parte con1o resultado da sua experiencia sul-africa influenciado minhas indaga~oes acetca da teona cultural, es na, Radcliffe-Brown, mais tarde, tinha a tendencia de tratar todos os assuntos ligados a cultura com reservas. "Nao obser pero que isso nao determine as conclusoes a que ~heguei. Qualquer, que seja o preconceito que eu tenha traztdo para vamos uma 'cultura'", comentou ele em seu discurso de pos esse projeto, fiz o melhor que pude para respeitar tanto os ar se como presidente do Royal Anthropological Institute, em gumentos como as evidencias. 1940, "uma vez que essa palavra denota, nao uma realidade concreta, mas uma abstra~ao, e da forma com e usada comu mente, uma abstra~ao vaga''.' Ele repudiava a opiniao do seu grande rival, Bronislaw Malinowski, de que uma sociedade como a Africa do Sui deveria ser estudada como uma arena em que duas ou mais "culturas" inte'ragiam. "Pois o que esta ocorrendo na Africa do Sui [explicou Radcliffe-Brown] nao e a intera~ao das culturas britanica, africander (ou boer), hoten a tote, banto e indiana, mas sim intera~ao de indivfcluos e grupos clentro de uma estrutura social estabelecicla que esta em processo de muclan~a. 0 que esta acontecendo numa tri bo em Transkei, por exemplo, s6 pode ser descrito reconhe cendo-se que a'tribo foi incoi·poracla num amplo sistema es trutural politico e econ6mico."6 Vinclo da Africa do Sui, sem duvida alg~ma eu estava predisposto a aceitar esse tipo de argumento. Alem do mais, quaisquer preconceitos iniciais que eu tivesse foram refor~a­ dos no meu curso de p6s-gradua~ao em antropologia estrutu ral e social na Universidade de Cambridge no infcio cia deca cla de 1960. Todavia, alguns dos meus contemp-oraneos real- 5. RADCLIFFE-BROWN, A. R. On Social Structure. journal of the Royal Anthropological-Institute, v. 70, p. 1-12, 1940. 6. Icl., ibid. -----~1~4 introduc;ao: erras culturais Nao sei quantas vezes desejei nunca ter ouvido a maldita palavra.' Raymond Williams 0 s academicos americanos estao travando guerras culturais. (Nem todas estao mortas). Os politicos conclamam uma revolU<;ao cultutal.· Aparentemente, e necessirio que haja uma mudan<;;a cultural sismica para resolve!' os problemas de pobreza, consumo de drogas, crime, ilegitimidade e competi- 1 <;ao industrial. Fala-se sobre diferen<;as culturais entre sexos e gera<;oes, entre equipes de futebol ou entre agencias de pro- . paganda. Quando uma fusao entre duas empresas nao eli cer to, dizem que suas culturas nao eram compativeis. 0 born de tudo isso e que todo mundo entende. "Tentamos vender 'se mi6tica', mas tivemos algumas dificuldades", declarou uma empresa londrina chamada Semiotic Solutions, "por isso agora vendemos 'cultura'. Essa todos conhecem e, portanto, dispe~j­ sa explicas;oes".1 Alem disso, nao hi como subestimar·a cultu ra. "Ela fala mais alto em termos de motivas;ao do comporta ment'o do consumiclor", afirma o folheto da empresa, "e mais persuasiva do que a razao, mais 'massa' do que a·p sicologia". Existe tambem um mercado secundirio florescente no discur so cultural. Em meados de 1990, as livrarias montaram se<;oes de "estudos c~lturals" em posis;oes de, clestaque que antes eram dedicadas a religiao New Agee, antes disso, aos livros de auto-ajuda. 0 gerente cia Olsson's em Washington, D. C., Guy 1. WILLI1\MS, Raymond. Politics and Letters. L<!lndres: New Left ·Bool<;s, 1979 p. 174. 2. MACFARQUAHAR, Larissa. This Semiotician Went to Market. Lin gua Franca, p. 62, set./out. 1994. 19

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.