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Cristandade Clássica e Bizantina PDF

178 Pages·1978·103.528 MB·Portuguese
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| | LIVRARIA JOSÉ OLYMPIO EDITÔRA & DITÓRA EXPRESSÃO E CULTURA a ane DR FE sous mg aee a AS a ; (gde dio e Arne entre rratocasasttaosy Eageoo DAE Aire iria mm E EEE EE LIR A NELE LR a Ee ESA = 7 e Pg ma O E RS CAR ATT 5 ARS o AO VA | - a EL 2 a tm “im Po “dE ásE A a ni g|) EP a! a= f R”M ga 2 | menta TIA, ay REGRA | Ria a m j bb A Wi o h l a 4 ds 7 E md Gee = À E a E "im 2 = - F = Po Nf 4 RE: VS LINA TITADADA SXISAS A : h F TR : Es E ia lr Tm RE Madona pes| so ci ces 2 mas este = + ' a =a i sêj = Es al Pa o rir + E , . e d O L A á N TAT li A - O 7a D L m s d xoa rmb e O L A R 4 , ” A A A T A T ii j e qE op me 4 j | eii s T hE elSr : . o E a d a ) , Eo sE à iF a ao i[rd aap l i É: ” .b ; R a = a C f É ' A eV x . a AE ; | ! B A S i E A E O sR S - 7 " a ra n“Em tn o = Ca c RR| = k q e = s p y ” . y h a r a 4 z t G ol ?o a D + - e E E e e a i EliEX RIR t ei 1 E o a pa E : | FW , PRC DO Pa (RA gnbde i AD A ip Pal | POLE o k S dr NT T PAR pA dR E RC O enc a rE e E =. a mMp = SaddAo a poTl. e a à aid di A A PA - - L É q) Ei did] A LA o pad E fila ERIRERE ESTOaf = A q À dão d R va, | gare ra co CP a merad ép E OP o dRE tdAR E TLa iX! D E(a Te Sd s Esê a i io 4 EhAk4 ea iP ,e -Coqéaro ig m E PU R | at ? .o PR s ORR[ E sarp tl F aia àS o = : ;, pe” ho : a E, ded i ma à Td E= a a F fo ,aE T A tem ”= : ss + Era hd dd tar PR CT ” 4 : E e Da e HranUOL BEAT TR qa Ly bs e Tr esa ep ad ]SS SSR aie gp ohnS E Oa PD po a A ea” RPE PRE Eid ] To REM dep =: E a M |] 4 E e ENE3 É PRE MP TeiRE ET aa Errio Eras| = hi [7 Ma CrtE E pr . | TE À EEE TS ta te a AGto a e eoMi ra e rs JT ARE A TR MAsEE 3 E MaALER ai ao 7 A Sr R E o)E aa p + gia PL tdos Uai TI Ai Std IL Mi 1 S TA ã A ' em Sprs penis EDITE GrrE TR ES, Et A pa Lt 225+ ESC O Ey eapF E RE .+ .o DLDrRe D = E R e | ed | ps 1 RT À = e ' e E eDR 17 reoeVe Afm aaroh SN vã ' di na RS To ' E - E dd Ri EE. ERA EA Pu fais Er eAa |RPSEp SEaa SRpt S E É a a as: E op gLP Ein bate Pd pb HR APTE = Frf= a is SAR pi DE EPE Era or E E doHER RE. ER CE E dá a E La Sa nos = La = o = 5 E 27 7! ad E po POE E ER SECRET cAopiedtoo bt or PR ELA T E RE DES POO TeEdReR EPr SE S A ç RE EPE SF CER a O a fo ita sa E] e der pi E E ! PA E na ao pol al Er A a A A EE O Pre ERC Certa aSE RR A Beçaa r rt Pl ROSAS)A T CRPA OE PE EE es E] doa = tp - O sie = AA Leo eis Po! nd = a ia TUE DD Pe A RE PE ee — af A da pd e a. a Rar E E E o = enae E ar e et “ is lo ET À Li | ate TtiMunb + aisa ER E ; * E 3, a - fa a ha aa A EdPSRAOEE O R PAT E trad O ea Ar RRO 7 iro 3 oa E sa e, q Tt rs oil ETE La“pa E E. "ga ES E E ms O o o ER SE Or a SAR EqEEe .... . O do Po A AIRE + o) + = =" E ul - d a E Sai PR t+ ADA 10 RO e E * e e Rea ) At à, so) bad o = = sd. seo " E fm po E a bo a OTM aT Ar E s ETR "S+9 a v td ean b-1 s- Dnbt“aati rdas eL: a ttesrFZ =. “ =1 ] aL Ioa Sii1 O a. LE RR o 1DRa0FaEoA1 mLEq !aE I]h E D eES VE d1eaAa PaR ? M E] m .uEjm e 4 ] E | 4 y EP as esA Li TRTà da a TAM ]am . É ãEo a dd ar Re = Ra ea e RE AREA nd o E + OR A Pe E “= = E A - a Tha ET do E E É, " RE = LE RR RA A RI ahef a SU ACTA pt a A ai E ' ca “ 1] ln Fr ds E = E Si E Pa A r AE p ” e E ' — É oo | “a, ud E E - “ = E é * “ ' PAES; p 7 E A. nas | E a nm A e) aE i a 4: ay Pp" ESC nd O À , Ml a À Va kg O MUNDO DA ARTI - À al! CRISTANDADE 2 CLASSICA E BIZANTINA d à e r A D JEAN LASSUS E da r C Professor da Sorbonne, Paris, I TS R Ei E i o É S T Instituto de Arte e Arqueologia TO= E ae a o lo =" pr A 1 à, DR O a mM aa o ç Ê tj t o s ' a E ; o A | ah p. t = ç a E |) md É R PR d T = o dE D L C R T TT I D ] a | ns ao E P P im shat i [Leal + Es p es + = ja ET E Rn a f E t LIVRARIA JOSE OLYMPIO EDITORA o z E e A EDITORA EXPRESSÃaOd E CULTURA O Mundo da Arte PLANO GERAL DA OBRA A ARTE PRÉ-HISTÓRICA E PRIMITIVA | Dr. Andreas Lommel, Diretor do Mnseu de Etnologia de Munique | o MUNDO ANTIGO Professor Giovanni Garbini, do Instituto de Estudos do Oriente Próximo, Universidade de Roma ANTIGUIDADE CLÁSSICA ne Dr. Donald Strong, Diretor-Assistente do Departamento de Antigiiidades Grega e Romana do Museu Britânico, Londres CRISTANDADE CLÁSSICA E BIZANTINA o Professor Jean Lassus, do Instituto de Arte e Arqueologia, Sorbonne, Paris MUNDO ISLÂMICO Dr. Ernst J. Grube, Diretor do Departamento Islâmico, Museu Metropolitano de Arte, Nova York MUNDO ORIENTAL Jeannine Auboyer, Diretora do Museu Guimet, Paris Dr. Roger Goepper, Diretor do Museu de Antiguidades do Extremo Oriente, Colônia MUNDO MEDIEVAL Peter Kidson, do Instituto Courtauld de Arte, Londres- O RENASCIMENTO Andrew Martindale, Catedrático da Escola de Belas Artes, Universidade de East Anglia O BARROCO Michael Kitson, Catedrático de História da Arte, do Instituto Courtauld de Arte, Londres ARTE MODERNA Norbert Lyton, Diretor do Departamento de Arte Histórica e Estudos Gerais, da Escola Chelsea de Arte, Londres COPYRIGHT, 1966, THE HAMLYN PUBLISHING GROUP LIMITED PLANEJAMENTO GERAL DA OBRA: TREWIN COPPLESTONE E BERNARD S. MYERS Edição em língua portuguêsa — Supervisão Técnica: Aracy Abreu do Amaral e José Roberto Teixeira Leite E Revisão do Texto: Milton Pinto, Roberto Mello, Vanede Nobre e Joaquim Gonçálvez Pereira W Tradutores: Álvaro Cabral, Áurea Weissenberg, Donaldson Garschagen, Henrique Benevides, Lélia Contijo Soares, Sílvia Jambeiro e Vera N. Pedroso E Produção Editorial: Editôra Expressão e Cultura E Composição, Impressão e Acabamento: AG GS — Indústrias Gráficas S.A. Distribuição exclusiva: Livraria José Olympio Editôra S.A. — Rio de Janeiro Páginas anteriores: Os Pais da Igreja. Mosaico da Capela Palatina, Palermo. Indice 8 Introdução 9 O Despertar Os primórdios da Igreja Dura-Europos Funerais «dos primeiros cristãos As pinturas das catacumbas Sarcófagos cristãos primitivos 33 Constantino A Igreja Triunfante A construção de igrejas sob Constantino Motivos decorativos 40 Basílicas e A basílica cristã Santuários Os santuários dos mártires Batistérios 47 Ravena e Mosaicos A herança da antigiidade A decoração da abóbada Rostos e formas em mosaicos Cenas narrativas cristãs Simbolismo 71 A Arquitetura O problema do domo do Domo Uma planta típica de igrejas bizantinas Basílicas de Filipos San Vitale e Hágia Sophia A extensão da influência bizantina primitiva Armênia Geórgia 81 Iconografia Iluminação de manuscritos Pinturas murais Iconoclasmo 87 O Ocidente More antiquorum A arte insular Manuscritos irlandeses A renascença carolíngia Pinturas murais e mosaicos Miniaturas e manuscritos 130 A Expansão A arte imperial em Constantinopla Mosaicos bizantinos na Grécia "Bizantina A difusão da arte bizantina Capadócia Itália Sicília Os eslavos Sérvia Bulgária Os russos Os Paleólogos: a última renascença A arte áulica 160 O Tesouro das Têxteis Igrejas Escultura e marfins Trabalhos de ourivesaria Manuscritos e ícones Conclusão Indice das Ilustrações a Côres ã ] Parede oeste da sinagoga de Dura-Europos 17 47 Vista da cúpula dourada de Haghia Sophia, 3 Cubiculum “O”, Nova Catacumba, Via Latina, Roma 18 Constantinopla 63 4 O bom pastor. Pintura sôbre rebôco, catacumba 48 Capitel de Hágia Sophia. Mármore. Constantinopla 64 de Santa Friscila, Roma 19 49 Interior de S. Lorenzo, Milão 89 5 Cena pastoral. Pintura sóbre rebôco, catacumba de 50 Santo Ambrósio, Mosaico. Sto. Ambrogio, Milão 90 Domitila, Roma 19 3 | Batistério de St. Jean, Poitiers 91 6 Detalhe de um sarcófago. Mármore. Santa Maria 52 Tumba de Theodochilde, Jouarre 92 Antiqua, Roma 19 53 Trono de Carlos Magno. Aachen 92 7 Orans. Pintura sôbre rebôco. Coemeterium Maius, 54 A arca da aliança. Mosaico. Germigny des Prés 93 Roma 20 55 A viagem para Belém. Pintura sôbre rebôco. 8 Ressurreição de Lázaro. Pintura sôbre rebôco. Santa Maria em Castelseprio 94 Catacumba de São Pedro e São Marcelino 20 56 Santo Estêvão ante o sumo sacerdote. St. Germain, 9 Os três hebreus na fornalha ardente. Catacumba Auxerre 95 de Priscila, Roma 21 57 O apedrejamento de Santo Estêvão. St. Germain, 10 Jonas lançado à baleia. Catacumba de São Pedro Auxerre 95 58,59 e São Marcelino, Roma 21 Livro de Durrow 96 60 11 Noé na arca. Catacumba de São Pedro e São Página do título do Livro de Kells 97 61 Marcelino, Roma 21 São Mateus, do livro de Kells 98 62 I2 Cristo entre Pedro e Paulo. Catacumba de São Capa dos Evangelhos de Echternach 99 63 Pedro e São Marcelino, Roma 22 Cristo abençoando 100 64 13 Cristo Helios. Mosaico. Basílica de São Pedro, São Marcos Evangelista 101 23 65 Roma Primeira Bíblia de Carlos, o Calvo 102 24 66, 67 I4 Mosaico de abóbada. Santa Costanza, Roma O relicário de Pepino 103 68 I5 Detalhe da decoração de mosaico. Santa Costanza, A Ascensão 104 69 Roma 24 O Imperador Nicéforos III Botaniatos 113 70 l6 Interior de Santa Costanza, Roma 25 Hosios Lukas 114 71 17 O mosaico da abside. Santa Costanza, Roma 25 Interior do Katholikon, Hosios Lukas 115 72 18,19 A história de Jonas. Mosaico, Basílica de Aquiléia 26 A crucificação. Mosaico. Katholikon, Hosios Lukas 115 73 20 Cristo ensinando aos apóstolos. Mosaico. Santa Cristo Pantocrator. Mosaico. Dafne, Grécia 116 74, 76 Prudenziana, Roma 21 Pinturas murais em Santa Sofia, Trebizonda 116, 117 75 21 A nave de Santa Maria Maggiore, Roma 28 Interior da igreja escavada na pedra de Elmale 22 Abraão e Ló. Mosaico. Santa Maria Maggiore, Kilisse, Capadócia 117 77 Roma 29 A entrada de Cristo em Jerusalém. Veneza 118 78, 79 23 Abraão e os anjos. Mosaico. Santa Maria Noé deixa a arca. Veneza 119 80 Maggiore, Roma 29 Mosaico da abside, catedral de Torcello. 24 A travessia do Mar Vermelho. Mosaico. Santa 120, 121 Veneza 81 Maria Maggiore, Roma 30 Cristo ressuscita a filha de Jairo. Palermo 122 82, 83 25 Á captura de Jericó. Mosaico. Santa Maria Mosaicos decorativos do Palazzo Reale. Palermo 123 84 Maggiore, Roma 30 Interior da igreja do mosteiro de Ravanica. 26, 27 Qalat Siman. Santuário. Síria 31 Sérvia 124 28 Planta de Jerusalém. Mosaico. Madaba, Jordão 32 85 A deposição. Nerezi, Macedônia 124 29 A Imperatriz Teodora. Mosaico. S. Vitalc, 86, 87, 88 Três cabeças de Cristo, Boiana 125 Ravena 49 89 Zevastocrator Kaloian e Zevastocratora Desislava 125 30 S. Apollinare in classe, Ravena 50 90 Cristo Emmanuel, Constantinopla 126 31 Interior de S. Apollinare Nuovo, Ravena 50 91 Detalhe do Nascimento da Virgem 126 32 A procissão dos mártires. Mosaico. S. Apolli- 92 Joaquim, Ana e Maria 127 nare Nuovo, Ravena 51 93 Anastasis “127 33 A cura do paralítico, Mosaico. S. Apollinare Nuovo, 94, 95,96 Mistra 128 Ravena 51 97 Eliezer e Rebeca 137 34 A última ceia. Mosaico, S. Apollinare Nuovo, 98 Cristo diante de Pilatos 137 Ravena 51 99 Sermões do monge Kokkinobaphos 138 35 A separação das ovelhas das cabras. S. Apollinare 100 A penitência de David 139 Nuovo, Ravena da 101 O lecionário dos Evangelhos 140 36 O fariseu e o publicano. Mosaico. S. Apollinare 102 O trono de Maximiano 141 Nuovo, Ravena 52 103 As santas mulheres no sepulcro 142 37 O mausoléu de Galla Placidia, Ravena 53 104 O tríptico de Harbaville 143 38 O bom pastor. Mosaico. Galla Placidia, Ravena 54 105 A cruz da esperança, de Beresford, esmalte 144 39 São Lourgnço. Mosaico, Galla Placidia, Ravena 54 106 O tríptico Stavelot 144 40 A abóbada do presbitério de S. Vitale, Ravena 55 107 Pala d'oro. Veneza 145 41 Vista interior de S. Vitale, Ravena 56, 57 108, 109 Tecidos coptas cristãos. 146 42, 43 A Imperatriz Teodora e sua comitiva. Mosaico. 110 Sêda bizantina tecida 147 S. Vitale, Ravena 58. 59 111 Cristo e S. Menas, ícone 148 44 O Imperador Justiniano e sua comitiva. Mosaico. 112 A Virgem, de Vladimir, ícone 149 S. Vitale, Ravena 60 113 São João Batista, ícone grego 150 45 Parte do mosaico da abóbada do batistério dos 114 O sepultamento, ícone russo 151 ortodoxos, Ravena 61 115 Ícone de mosaico 151 46 A transfiguração. Mosaico. Mosteiro de Santa 116 A Anunciação, ícone mosaico bizantino 151 Catarina, Monte Sinai 62 117 A Anunciação, ícone 152 + E e r A p o A R A A a a E EA q | 534-538. Medalhão de ouro de Just mano Anteriormente no Gabinete das Medalhas, Paris. Introdução Os números às margens referem-se às ilustrações: negrito para as lâminas a côres, itálico para as ilustrações em prêto e branco. Obras de arte podem ser classificadas de várias formas. desenvolvimento da Igreja: desde o início manifesta-se Podem ser agrupadas, segundo seu país de origem, como um anseio de glória que faria da arte cristã, devido às Arte Egípcia; segundo o período, que pode tomar o nome circunstâncias históricas, uma arte triunfal paralela à arte de um personagem, como Era de Augusto, ou, segundo da Roma Imperial. o estilo, como Arte Gótica. Também é possível, e legítimo, A pintura, da mesma forma, encontraria novos temas. estudar em um só grupo tôdas as obras de arte que tenham Os acontecimentos que determinaram as origens da Igreja sido inspiradas pela mesma religião. e os grandes mistérios da fé foram representados para ins- Naturalmente é êsse o método que orientará um traba- trução e edificação dos devotos. Naturalmente, também o lho sôbre a arte cristã. Consideremos inicialmente a forma pintor seria submetido a outras limitações além daquelas surpreendente pela qual surgiu essa arte. Doze trabalhado- intrínsecas ao texto que ilustraria, sob encomenda, res da Palestina percorreram o mundo, e o mundo foi A utilização da obra de arte, definida no momento da mudado, espiritualmente mudado, pois os homens desco- encomenda, é pouco mais que o assunto proposto: é apenas briram um nôvo objetivo para a vida, caminhando essa um ponto de partida. Na arte cristã as exigências do clero modificação espiritual a par de uma modificação exterior. eram rigorosas. Sobretudo no Oriente a preocupação com a Até hoje aldeias se reúnem em tôrno às torres de sua ortodoxia levou à noção da iconografia: a representação de igreja e as cidades em tôrno de suas catedrais. E os cada um dos temas tornava-se definitiva e seria conside- maiores artistas, qualquer que seja seu ponto de vista rada válida apenas se realizada naquela primeira forma. filosófico, quase sempre se voltam, vez por outra, para Havia uma forma tradicional, quase obrigatória, de re- a criação de uma obra inspirada pelo cristianismo. Os presentar a Adoração dos Reis Magos, ou a Entrada de modestos textos dos Evangelhos constantemente dão ori- Cristo em Jerusalém. O assunto revestia-se de um valor gem a novas interpretações pictóricas, o Apocalipse nova- teológico quando se tratava de cenas como O Batismo mente ilumina os céus, novamente o corpo torturado é de Cristo, a Transfiguração, ou a Descida ao Inferno — pregado na cruz. cenas de implicações trinitárias ou escatológicas. Os retratos Tudo isso está profundamente ligado à nossa vida. Mas de Cristo ou da Virgem — talvez inspirados nos retratos houve um comêço, em alguma parte: a necessidade de atribuídos a São Lucas, que se supõe tenha sido pintor — construir uma primeira igreja, a criação dos primeiros ou mesmo representações de milagres, como o lençol de símbolos e a primeira Bíblia ilustrada. Houve uma pri- Verônica, ou de imagens enviadas pelos céus, possuem meira Virgem e o Menino, um primeiro Crucifixo. A uma realidade mística que não pode ser esquecida. As ima- disseminação do evangelismo, as formas da hierarquia, as gens foram dotadas dos mesmos podêres atribuídos pela relações entre a Igreja e o Estado, o desenvolvimento da crença às relíquias; os pintores dotavam de vida os media- teologia, o surgimento da devoção aos santos — tôda a dores, tanto em situações cotidianas quanto espirituais. história cristã é retratada em sua arte. Reflete-se não Seus retratos exerciam sôbre os fiéis poder semelhante ao apenas na chamada arte eclesiástica que serve às neces- poder exercido pelas estátuas dos deuses. Do ídolo ao sidades imediatas do culto e louva a glória da própria igreja, ícone, a arte não era apenas um meio de expressar um 1 mas também na arte popular, onde é possível apontar a poder sobrenatural, mas uma maneira de fazê-lo viver entre presença da fé na vida e na alma das criaturas. Éste livro os homens. A natureza sagrada da arte cristã e o respeito é uma tentativa de descrever o processo de origem, desen- que lhe era votado, embora contribuindo para o seu es- volvimento e disseminação da arte cristã durante seu pri- plendor, impediram o surgimento de qualquer inovação. meiro milênio. Consciente ou inconscientemente, o artista seguia os ensi- A arte religiosa é sujeita às mesmas limitações impostas namentos dos mestres. Sua liberdade era limitada até mes- a tôda criação artística. A primeira limitação é financeira: mo em nível técnico: ficava-lhe a marca de uma determi- o arquiteto e o pintor devem trabalhar dentro de um nada escola ou a influência de algum predecessor famoso. orçamento — pequeno, como nas comunidades primiti- Raramente o artista fugia ao movimento geral orientado vas, ou de acôrdo com a generosidade com que os estados pelas tradições e pelos métodos de cada período, de cada convertidos cumulavam os bispos. A esfera de ação é tam- região, e às vêzes de cada cidade. Contudo, mesmo no bém restrita: a arte religiosa é utilitária. A arquitetura anonimato, que reveste a arte da primitiva cristandade, das igrejas depende naturalmente de regras impostas pela emergem personalidades individuais que se firmaram atra- liturgia bem como de considerar o número de fiéis que vés da originalidade, pureza e esplendor de seu trabalho. participarão das cerimônias, pois nisso também a igreja É tentador considerar a arte cristã nos seus primórdios cristã difere dos templos pagãos. Torna-se necessário para apenas como uma coleção de documentos arqueológicos o arquiteto um esfôrço de imaginação, funcionando dentro que fornecem provas referentes ao conteúdo dos ensina- das formas aceitas com uma consciência das diferentes mentos, à forma da liturgia, à expansão da atividade mis- formas de edificações, passadas e presentes, que tenham sionária e ao dia-a-dia da Igreja. Mas é necessário ir preenchido necessidades semelhantes — em qualquer caso, além e procurar a personalidade individual, que se afirma rigorosamente controladas pelo cliente, seja um doador ou em cada obra pela expressão da vida espiritual do artista o chefe da comunidade, As edificações cristãs refletem o e do seu ideal de beleza, O Despertar OS PRIMÓRDIOS DA IGREJA Nem é necessário lembrar as restrições que o cercavam. Uma cidade romana era a representação física de um “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” sistema monolítico. O Capitólio, em Roma, dominava o No momento em que foram enunciadas pela primeira vez, Forum, e o Forum era circundado por templos. Nas pra- essas palavras eram revolucionárias. O Imperador Augusto ças públicas das cidades provinciais havia templos e está- morrera há alguns anos, tornando-se objeto de culto no tuas dos deuses e imperadores deificados: os ídolos. O mundo romano. Durante o seu reinado, Augusto deificara teatro era uma cerimônia dionisíaca; os jogos realizados no César, mas tentara manter a adulação popular dentro de anfiteatro tinham valor propiciatório. Cada oficial do limites controláveis. Se em Roma os antigos cidadãos da exército era ligado aos deuses através de juramentos; cada República mantinham ainda as mesmas reservas, no Orien- funcionário imperial ou municipal de certa forma era um te, as tradições helenísticas ajudavam a perpetuar uma sacerdote. Um cristão teria de ficar necessariamente ex- confusão politicamente eficaz: e na África, o rei berbere cluído da vida pública de sua época. Juba II mostrava a sua gratidão ao construir um templo Se as comunidades cristãs floresceram é porque tinham para o aliado a quem devia o trono. a oferecer, mais que as misteriosas religiões originárias do O cristianismo nasceria e se desenvolveria num mundo Oriente, nesse mesmo período, expressão satisfatória às em que a religião, o império e o patriotismo estavam necessidades de fraternidade, de vida espiritual e de espe- estreitamente ligados. Templos eram construídos honrando rança. Gradual e discretamente essas comunidades cres- Augustus e Roma. Vênus, a mãe de César, era a deusa ciam. Eram compostas inicialmente de pessoas comuns da família ou gens, Julia, e protegia a dinastia. Em épocas — comerciantes judeus e sírios, agrupados em distritos de diferentes e sob diferentes dinastias, outros deuses eram cidades gregas e romanas, e vizinhos pagãos atraídos pela convocados para preencher êste papel — Apolo, por exem- novidade do testemunho religioso. Escravos e artesãos plo, ou Júpiter, Hércules, ou até mesmo Heliogabalus, o parecem ter sido os primeiros a se converter à nova reli- 2 deus-sol adorado em Emese, na Síria. No cerne do paga- gião, assim como mulheres. Mais tarde, e muito lenta- nismo imperial, da religião do estado, no meio dessa ceri- mente, começaram a surgir conversões entre as classes monial expressão de lealdade ao trono imperial, desen- mais ricas e as intelectuais. Assim, na primeira fase, não volveu-se o cristianismo. havia meios suficientes para a criação de uma arte cristã. e d i H 1. O Bom Pastor. Séc. IV. Mosaico. Basílica Teodoriana, | 2. A Apoteose do Imperador Antonino e de sua mulher Aquiléia, Itália. Motivos simbólicos já tradicionais da Igreja Faustina. 161/169 AD. Mármore. Cortille della Pigna, Cristã aparecem no mosaico geométrico que reveste O piso Vaticano, Roma. Relêvo da base da coluna de Antonino Pio. da basílica. A postura familiar do Bom Pastor, carregando O casal imperial é transportado para o céu por um sua ovelha e flauta de Pã, é encontrada em pinturas de espírito alado, na presença da deusa Roma e de uma catacumbas e sarcófagos do mesmo período. personificação do rio Tibre. Os imperadores mortos eram deificados; mesmo em vida tornavam-se objeto de culto, Havia um templo de Antonino e Faustina no forum. em À E 2 E 3. Vista aérea de Dura-Europos. Construída numa curva do 4. Casa da Comunidade Cristã. c. 230. Dura-Europos, Síria. rio Eufrates por um dos generais de Alexandre, o Grande, A comunidade cristã alojava-se numa moradia que essa cidade fortificada revelou em suas escavações apenas diferia das demais pelo batistério (em cima, à exemplares preciosos da arte religiosa do mundo oriental, nos direita), onde foi instalada uma grande banheira sob um primeiros séculos da nossa era. Ocupada e destruída pelos dossel; as paredes do batistério eram decoradas com partas em 256, foram encontradas, entretanto, em suas pinturas lembrando cenas do Antigo e Nôvo Testamento. escavações, uma sinagoga e uma igreja católica. Figura 4, lâminas 1 e 2. à Com a herança dos preconceitos judaicos talvez a necessi- caso, o batismo de adultos — deveria revestir-se de todo dade de tal arte não fôsse sentida. Quando as comunidades o seu significado. Na noite de Páscoa, em cômodo espe- começaram a incluir cidadãos ricos e influentes entre seus cialmente preparado, os catecúmenos eram imersos três membros surgiu o problema de adaptar a nova fé a um vêzes num receptáculo para banho, adornado. mundo que até então tinha sido mantido à parte. Era Essas primeiras igrejas eram tão modestas que por muito atribuição do clero, da hierarquia já existente, preservar as tempo se tornou impraticável para os arqueólogos desco- diferenças entre Igreja e mundo, enquanto cada um dos brir qualquer uma delas. Algumas foram destruídas du- cristãos na sua vida particular tinha de aceitar determina- rante as perseguições, particularmente durante a última dos compromissos. perseguição, a de Diocleciano, em 305. Depois do triunfo Num mundo em que a arte era oficial, imperial e paga, do cristianismo, muitas foram demolidas, cedendo lugar a arte cristã só poderia iniciar-se em pequena escala: o as edificações cada vez mais ambiciosas que as substituíam que de qualquer forma seria um compromisso com o — foi o que ocorreu às paróquias da antiga Roma — mundo. Os ídolos pagãos representavam para seus adora- as igrejas titulares. As basílicas dos séculos XI, XIII e dores a morada dos deuses: para os cristãos êsses mesmos XVIII foram construídas nos sítios de reunião doados à ídolos eram habitados por demônios. Como, portanto, comunidade no séc. III por Equitius, Vizans ou Aemiliana. deveriam ser concebidas as estátuas cristãs? Imagens do Edifícios de formas muito diferentes, escavados sob deus verdadeiro? Elementos judaicos da Igreja rejeitariam igrejas posteriores, e identificados como igrejas primitivas, a idéia. Mas havia outros fatôres a considerar. Impedidos têm originado controvérsias — como ocorreu com a casa inicialmente por carência e depois por prudência de cons- da comunidade cristã, chamada titulus Equitii, que alguns truir edificações especiais para reuniões — que de qualquer estudiosos acreditam ter reconhecido ao lado da Basílica forma nunca deveriam assemelhar-se a templos — os de S. Martino ai Monti. Em outros lugares, parece que os cristãos reuniam-se em casas emprestadas ou doadas à co- cômodos usados pelas comunidades para reuniões situa- munidade por um converso rico. Algumas alterações eram vam-se sempre no primeiro andar, sôbre uma série de lojas, feitas e derrubavam-se paredes para dar lugar a cômodos como em Santa Anastásia, ou sôbre grandes depósitos escu- maiores; mas com fregiiência a decoração romana ou ros, como em S. Clemente. Mesmo com a criação de um helenística das casas era deixada intata. Numa fase expan- grande cômodo, como no segundo caso, a edificação não sionista, de inúmeras conversões, tanto nas práticas cris- era modificada no seu aspecto exterior. Um santuário tãs, como nas mitraicas, a cerimônia de iniciação — no mitraico, do outro lado da alamêda, era seu vizinho mais

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