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Corpo e Alma PDF

149 Pages·2011·6.96 MB·Portuguese
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Loi'c Wacquant Corpo e alma Notas etnográficas de um aprendiz de boxe TI~AnU(,;Ao Angela Ramalho ~ RELUME DUMARÁ Rio de Janeiro 2002 Título original: Corps et âm~ - Carnets ethnographiques d'un apprenti boxeur © 2001 - Éditions Agone, Marseille, France © Copyright 2002 Copyright da tradução com os direitos cedidos para esta edição à DUMARÁ DISTRIBUI!lORA DE PUIII.ICA</JES LTIli\. www.relumedl1mara.com.br Travessa Juraci, 37 - Penha Circular 21020-220 - Rio de Janeiro, RJ Tel.: (21) 2564 6869 Fax: (21) 25900135 E-mail: relumc{[11relumedumara.com.br A Elisabeth, pelos nossos anos juntos em Chicago Revisifo CLllldia Rubim BditOfi:1Ção Dilmo Milheiros \ As fotos deste livro foram tiradas pelo autor, exceto as fotos das páginas: 149, de Michel Deschamps; 257, de Olivier Hennine; 270 e 289, de Jimmy Kitchen; 282, de Mark Chears; 287, de Ivan Ennakoff; 294, de Jim Lerch. CIP-BrasiL Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Wacquant, Loi"c J. D. Wl19c Corpo e alma nOli\S etnográficas de um aprendiz de boxe I Loi"c W'1Cquant I tnldução Angcla Ramalho - Rio de Taneiro : Relume Dumará, 2002 Tradução de: Corps ct âme : c,lrnels ethnographiques d'um apprenti boxeur ISBN 85-7316-281-3 1. Boxe - Aspectos s(Kiais - Chicago (Estildos Unidos). 2. Wacquant, Lo"ic J. D. I. Título. Il. Título: Notas enogrMicas de um aprendiz de boxe. CDD 796.83 02-0868 CDU 796.83 Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja ela total ou parcial, constitui violação da Lei nO 5.988. Sumário PREFÁCIO À ElJIÇÁü HRASILEIRA o SABOR E A DOR DA AÇÃO ......................... 11 PROLOGO .......................................... 19 A RUA E O RINGUE .................................. 31 Uma ilha de ordem e de virtude ...................... 35 Um templo do culto pugilístico ................... 50 As promessas do boxe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 59 Os jovens que "venceram a rua)) ...................... 60 Aki~Dm .................................... M Uma prática sabiamente selvagem .................... 78 O trabalho nos pads . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 A iniciação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 90 Lógica social do sparrillg ............................ 97 I. A escolha do parceiro ......................... 100 2. Uma violência controlada ...................... 102 3. Um trabalho de percepção, de emoção e físico ..... 107 Sessão de sparrillg com Ashante ................... lOS Uma pedagogia implícita e coletiva ................... 120 O chefe de orquestra ............................ 125 Uma aprendizagem visual e mimética .............. 138 Administrar seu capital-corpo ....................... 147 Curtis: "Posso ganhar um milhão de dólares numa noite" ................................... 152 Butch: "Agora não posso deixar cair a peteca" ....... 155 Algumas fíguras da gestão do corpo ................ 166 Corpo e alma - 7 , UMANOITADANOSTUDIO 104 ..................... 179 "Você tem medo que eu me ferre, porque você já se ferrou" .................................. 181 A pesagem no Illinois State Building .................. 187 "O boxe é minha vida, minha mulher, meu amor" ... 189 "Você nunca pode subestimar um boxeador" ........ 200 Uma tarde de ansiedade ............................ 202 O destino macabro dos companheiros de infância .... 206 Bem-vindo ao Studio 104 .......................... . 211 "São otários" .................................. 215 Todo grupo de pessoas - prisioneiros, primitivos, pi "Sempre quis ser um artista de palco" .............. 218 lotos ou pacientes - desenvolve uma vida própria, "Eles estão tremendo de medo" ................... 224 que se torna significativa, racional e normal assiIn Preliminares lastimáveis ............................ 224 que nos aproximamos dele. "Aventureiros, malandros e mergulhadores" ........ 226 ERVING GOFFMAN, Asylum, 1961 "Sou como alguém que vende e compra ações na bolsa" ...................................... 230 "Eles mesmos se classificam" ..................... 236 Dificuldades objetivas. Perigo da observação super Strong vence Hannah com nocaute técnico no ficial. Não "acreditar". Não acreditar que se sabe por quarto assalto .................................... 241 que se viu; não fazer qualquer julgamento moral. Não Abram alas para as dançarinàs exóticas ................ 252 se espantar. Não se deixar levar. Procurar viver na "Você derruba mais dois caras, e eu paro de beber" ..... 259 sociedade indígena. Escolher bem os informantes. [. .. ] A objetividade deve ser buscada tanto na expo "BUSY LOUIE" NAS GOLDEN GLOVES ................ 271 sição como na observação. Dizer o que se sabe, tudo o que se sabe, nada mais do que se sabe. MARCEL MAUSS, Manual d'ethnographie, 1950 8 - Lore Wacquont .~_. PREFÁCIO À EDiÇÃO BRASILEIRA o sabor e a dor da ação Nihil humanum alienum est. Baruch Spinoza Espécie de Bildungsroman ~ociológico-pugilístico que retraça uma experiência pessoal de iniciação a um ofício do corpo tanto mais reconhecido por sua simbólica heróica - Mohammad Ali sem dúvida alguma, mais do que o próprio Pelé, é O homem vivo mais célebre e celebrado do planeta - quanto desconhecido em sua realidade prosaica, este livro é também uma experimentação científica. Ele desejaria fornecer uma demonstração em atos da fecundidade de uma abordagem que leva a sério, tanto no plano teórico quanto metodológico e retórico, o fato de que o agente social é, antes de mais nada, um ser de carne, de nervos e de sen tidos (no duplo sentido de sensual e de significante), um "ser que sofre" Ueidenschaft1*h<.,Wesen, dizia o jovem Marx em seus Manuscritos de 1844) e que participa do universo que o faz e que, em contrapartida, ele contribui para fazer, com todas as fibras de seu corpo e de seu coração. A sociologia deve se esforçar para capturar e restituir essa dimensão carnal da existência, particu lannente espantosa no caso do pugilismo, mas na verdade parti lhada, em graus diversos de visibilidade, por todos e por todas, através dejlln trabalho metódico e minucioso de detecção e de registro, de decodificação e de escritura capaz de capturar e trans mitir o sabor e a dor da ação, o som e a fúria do mundo social que as abordagens estabelecidas das ciências do homem colocam tipi CaInente em surdina, quando não os suprimem completamente. Para tanto, nada como a imersão iniciática e mesmo a conver são moral e sensual ao cosmo considerado como técnica de ob servação e de análise que, com a condição expressa de que ela seja Corpo e alma - 11 teoricmnente instrumentada, deve pennitir ao sociólogo apro- colaboração estreita com o eminente sociólogo William Julius 1\, priar-se na e pela prática dos esquemas cognitivos, éticos, estéti WilS0l1,2 mas do qual eu não tinha a menor percepção prática, ) cos e conativos que põem em op~ração cotidiana aqueles que o tendo crescido em uma família de classe média de uma pequena habitam. Se é verdade, como afirma Pierre Bourdieu, que nós cidade do sul da França. Pareceu-me de imediato impossível, por "aprendemos pelo corpo", e que "a ordem social inscreve-se no razões ao mesmo tempo éticas e epistemológicas, escrever sobre corpo por meio desse confronto permanente, mais ou menos dra este South Side sem nele realizar meus passeios sociológicos, quan mático, mas que sempre abre um grande espaço para a afetivida- do ele expunha sua miséria arrasadora sob minha varanda (lite xde", então impõe-se que o sociólogo submeta-se ao fQ~o ga aç.ªº ralmente, porque recebera da Universidade de Chicago exatamente ·)n situ, que ele coloque, em toda a medida do possível, seu pró o último apartamento disponível em seu parque de alojamentos, prio organismo, sua sensibilidade e sua inteligência encarnadas aquele que ninguém quisera, porque estava justamente situado no cerne do feixe das forças materiais e simbólicas que ele busca na linha de demarcação do bairro negro de Woodlawn, balizado, dissecar, que ele se arvore a adq,=!üjr as ap.$tências e as ~petên­ a cada cinqüenta metros, pelos telefones brancos que permitem cias que tornam o agente diligente no universo considerado, para que se façam chamados de urgência para as viaturas da polícia melhor penetrar até o âmago dessa "relação de presença no mun- privada da universidade, caso necessário). E porque a sociologia o do, de estar no mundo, no sentido de pertencer ao mundo, de ser normal das relações entre classes, castas e Estado na metrópole possuído por ele, na qual nem o agente nem o objeto estão postos norte-americana parecia-me estar formigando de falsos concei como tal", 1 e que, no entanto, os define, aos dois, como tais, e tos que lançam uma tela sobre a realidade do gueto que projeta o ata-os com mil laços de cumplicidade, mais fortes ainda porque senso comum racial (e racista) da sociedade nacional, a começar são invisíveis. Isso quer dizer que os boxeadores têm, aqui, muito pelo conceito de L/lldercJass, neologismo bastardo que permite y a 110S ensinar sobre o boxe, é claro, mas também e principalmente comodamente evacuar a dominação branca e a imperícia das au sobre nós mesmos. toridades do front social e urbano, focalizando a atenção sobre a Seria no entanto artificial e enganoso apresentar a pesquisa da ecologia dos bairros pobres e o comportamento "anti-social" de qual este livro fornece um primeiro relato de predominância nar seus habitantes.' rativa (como prelúdio e primeiro passo de uma segunda obra mais Após vários meses da busca infrutífera de um lugar onde me explicitamente teórica) como se ela estivesse animada pela vonta imiscuir para observar a cena local, um amigo francês e judoca de de provar o valor da sociologia carnal e de comprovar concre levou-me ao gym da rua 63, somente a dois blocs [passos 1d e mi tamente sua validade. Porque na realidade foi o inverso que acon nha casa, mas situado em um outro planeta, por assim dizer. teceu: é a necessidade de compreender e dominar plenamente uma Matriculei-me imediatamente, por curiosidade e porque estava experiência transformadora que eu não desejara nem previra, e evidente que aquele era o único meio aceitável de treinar ali e de que por muito tempo permaneceu confusa e obscura para mim, me encontrar com os jovens do bairro. E desde a primeira seção que me levou a tematizar a necessidade de uma sociologia não dei início a um diário etnográfico, sem desconfiar nem um minu somente do corpo, no sentido de objeto (o inglês fala ofthe body) , to que iria permanecer na acadelnia mais de três anos e que, assim mas também a partir do próprio corpo como instrumento de in sendo, iria acumular duas mil e trezentas páginas de notas brutas vestigação e vetor de conhecimento (fram the body). em que elÍ anotava religiosamente, a cada noite, durante horas, os Aterrissei na academia de boxe de Woodlawn por engano e acontecimentos, as interações e as conversas do dia. É que uma por acaso. Estava na época procurando um ponto de observação vez ingressado no Woodlawn Boys Club encontrei-me confron para ver, ouvir e tocar de perto a realidade cotidiana do gueto tado com meu corpo, diante de um triplo desafio. norte-alnericano, cujo estudo eu empreendera, por convite e em O primeiro era bruto e até mesmo brutal: será que eu seria 12 - Lo'ic Wacquant Corpo e alma - 13 capaz de aprender esse esporte dentre todos. os mais exigentes e gue dos bairros marginais de outras sociedades avançadas.4 Co rudes, de controlar seus rudimentos de modo a conquistar um meçando por recusar a falsa idéia, profundamente ancorada na pequeno lugar no universo ao lneslTIQ tempo fraternal e competi sociologia norte-alnericana das relações entre divisão racial e tivo da luta. de entretecer com os membros da academia relações marginalidade urbana desde os primeiros trabalhos da Escola de " de respeito e de confiança mútuos e. portanto. finalmente. de re Chicago. de que o gueto é um universo "desorganizado". caracte alizar meu trabalho de pesquisa sobre o gueto? A resposta levou rizado pela falta. a carência e a ausência. O gym permitiu-me ques vários meses para chegar. Depois de um começo difícil e doloro tionar com eficácia. ligando trabalho teórico e observação empírica so. durante o qual minha inaptidão técnica só era igual a meu contínua. a visão "orientalizante" do gueto e de seus habitantes. sentimento de frustração e. às vezes. de desânimo (aqueles que assim como repatriar para o âmago de seu estudo as relações de mais tarde se tornaram meus mais queridos companheiros de rin poder que o caracterizam. com propriedade. como instrumento gue apostavam. na época. na minha desistência iminente). conse- de exploração econômica e de ostracização social de um grupo \( gui melhorar minha condição física. enrijecer minha condição desprovido de honra étnica, uma form~ de "prisão etnoracial" na mental. adquirir os gestos e embeber-me da tática do pugilista_ qual estão confinados os pá rias dos Estados Unidos.5 e"" -"fiz minhas aulas no solo. depois fiz minhas provas entre as cor- Restava o terceiro desafio. o mais formidável. aquele que eu das, "treinando" regularmente com os boxistas da academia, ama estava a anos-luz de imaginar ter de enfrentar um dia. ao abrir a dores e profissionais. antes de me engajar. com O apoio entusias porta do Woodlawn Boys Club e para o qual esta obra dá uma mado de todo o clube. no grande torneio das Colden Claves de primeira resposta parcial e provisória (assim como todas as in Chicago e de chegar mesmo a tentar. mais tarde. me "tornar pro vestigações científicas. mesmo quando elas se disfarçam como fissional"jAdquiri um conhecimento prático e afinei meus julga- relatos): como dar conta. antropologicamente. de uma prática tão • mentos sobre a Nobre Arte a ponto do velho treinador DeeDee intensamente corporal, de uma cultura totalmente cinética, de pedir, um dia, que eu o substituísse como "segundo" eln um COIn um universo no qual o mais essencial transmite-se, adquire-se e bate importante que deveria transformar Curtis no boxista estre desdobra-se aquém da linguagem e da consciência - enfim. de la de Woodlawn. e ele gostava de predizer que um dia eu iria abrir uma instituição feita de homem(ns) e que se situa no limite prá minha própria academia de boxe:" YOll gonna be a hellllva coach tico e teórico da prática' Falando de outro modo: uma vez com one day. LOllie. 1 know that." preendendo o que é o ofício do boxeador. no sentido de ocupa Nem bem passara por essa barreira inicial e preenchido a con ção. de estado social. mas também de mister e de mistério (se dição mínima necessária para minha inserção permanente no 'gundo a etimologia da palavra ll1estier), "no corpo", com meus ambiente e eu já estava confrontado com um segundo desafio. o punhos e minhas vísceras, e estando eu mesmo tomado, captura do meu projeto inicial: será que eu poderia apreender e explicar do e cativado por ele, será que eu conseguiria retraduzir essa com- ~ J as relações sociais no gueto negro a partir de minha inserção nes preensão dos sentidos em linguagem sociológica e encontrar as te local particular? A imersão demorada nessa pequena academia formas expressivas adequadas para comunicá-la, sem COIU isso de boxe e a participação intensiva nas trocas que aí se estabeleciam amenizar suas propriedades as mais distintivas? no dia-a-dia permitiram-me-em todo caso. aos meus olhos. mas A organização do livro segundo o princípio dos vasos o leitor poderá julgar por si mesmo - reconstruir de cima a baixo cornunicantes. a proporção de análise e de relato. de conceitual e .i\ minha compreensão do que é um rueto em geral e do que é a de descritivo. invertendo-se progressivamente à medida que as estrutura e o funcionamento concreto do gueto negro de Chica páginas avançavam (de modo que o leitor profano pode percorrê go. em uns Estados Unidos pós-fordista e pós-keynesiano do fi lo de trás para a frente para remontar à sociologia a partir do nal do século XX. em particular. sobretudo naquilo que o distin- vivido, luas de um vivido sociologicamente construído), a 14 - lo"ic Wacquant Corpo e alma - 15 r lnestiçagem dos gêneros e dos lTIodos de escrita, mas tambéln o 6. O leitor brasileiro irá encontrar um complemento disso em Lo'icWacquant, "Os três corpos do lutador profissional", in Daniel Soares Lins et il1., A uso estratégico das fotos e das anotações pessoais, responde a esse dominação llJClscuJina revisitada, Campinas: Papirus, 1998, pp. 73-96; e cuidado de fazer o leitor entrar no cotidiano sensual e moral do "Putas, escravos e garanhões. Linguagens de exploração e de acomodação pugilista comum, de fazê-lo palpitar ao longo das páginas junto entre boxeadores profissionais", Ma1la: Estudos de Antropologia Social, 6- com o autor, de modo a lhe fornecer todo o conjunto e a com 1, outubro de 2000, pp. 127-146. preensão arrazoada dos mecanismos sociais e das forças existen 7. Mareel Mauss, "Alloeation à la société de psychologie" (1923), reeditado ciais que o determinam e a aisthesis particular que ilumina sua em OCHvres, tomo 3: Cohésion sociale et divisioIl de 1<1 sociologie, Paris: intimidade de combatente." Ao entrar na fábrica do boxeador, Minuit, 1969, p. 281. elucidando "a coordenação desses três elementos, o corpo, a cons ciência individual e a coletividade" que o talham e fazem-no vi brar a cada dia, "é a própria vida, é todo o homem" que descobri mos.' E que descobri;;'os em nós. Loic Wacquant Paris, maio de 2002 Notas 1. Bourdicu. Picrre. MéditMiolls pilSCillie1l11CS, Paris:Editions du Scuil, 1997, p. 168. [trad. bras.: Meditações pi:lscalúuJ<ls. Rio de Janeiro: Bertrand Bra sil,20011· 2. Nossa colaboração, que iria durar quatro anos, desfez-se no momento em que Wilson terminou sua obra que marcou os anos 80, The Truly DisCldvantaged (Chicago: The University ofChicago Press, 1987). 3. Wacquant, Lo"ic. "A 'underclass' urbana no imaginário social e científico norte-americano", Estudos A!ro-Asi<íticos, n. 31, outubro de 1977, pp. 37- 50. 4. Uma primeira etapa desses trabalhos pode ser encontrada em meu livro Os condwildos da cidClde, Rio de Janeiro: Revan, 2001, com apresentação de Luiz César Queiroz de Ribeiro; ver também "Elias no gueto", Revista de Sociologia e PolíticCl, 10-11. primavera de 1998, pp. 213-221; e "A Zona", in Pierre Bourdieu et aI., A miséria do mundo (Petrópolis: Vozes, 1997, pp.I77-201). 5. Waequant, Lole. "Três premissas perniciosas no estudo do gueto norte ~ americano". Mana: Estudoide Antropologia Social, 2-2, outubro de 1999, pp. 145-161;" 'A Black City within the Whitc': Revisiting America's Dark Ghetto", Black RcmlÍs$<l1lcC - Remúss<111CC Noire, 2-1, outono-inverno de 1998, pp. 141-151; e "A nova 'instituição particular': a prisão como substi tuto do gueto", iIl __. Punir os pobres (Rio de Janeiro: Freitas Bastos, Coleção Pensamento Criminológico. 2001, pp. 99-112). 16 - lo'ie Wacquant L Corpo e alma - 1 7 Prólogo E m agosto de 1988, como resultado de um conjunto de circuns tâncias,O) inscrevi-me em um clube de boxe de um bairro do gueto negro de Chicago. Eu nunca praticara esse esporte e nem sequer havia passado pela minha cabeça praticá-lo. Exceto as no ções superficiais e as imagens estereotipadas que qualquer pessoa pode formar a respeito dele, pela mídia, pelo cinema e pela litera tura,I nunca havia tido qualquer contato COlTI o mundo do pugi lismo. Encontrava-me, portanto, na situação do perfeito noviço. Durante três anos, participei dos treinamentos, ao lado dos boxeadores locais, amadores e profissionais, com cerca de três a seis sessões por semana, submetendo-me com aplicação a todas as fases de sua rigorosa preparação, o shadow boxing [sombra]!') (1) Conjunto de circunstâncias provocado por meu amigo Olivicr l-Ienninc, a quem serei eternamente grato, por ler me levado ao clube Woodlawn. Gos taria de agradecer a Picrre Bourdieu, por tcr me apoiado, desde o começo, em uma empreitada que, ao exigir o empenho da pessoa física, só poderia ser bem desenvolvida COI11 o apoio moral constante. Seus encorajamentos, seus conselhos e sua visit,l ao Boys Club ajudaram-me, em meus momen tos de dúvida (e de cansaço), a encontrar a força para persistir em minhas investigações. Meu reconhecimento vai também para todos aqueles cole gas, parentes e amigos, demais para serem aqui nomeados, que me apoia ram, estimularam e reconfortaram durante e depois dessa pesquisa - eles sabem quem são e o que lhes devo -, c a Thierry Discepolo, pela energia e ~ paciência com que trabalhou na produção dos originais. Enfim, não é pre ciso dizer que esse livro não existiria sem a generosidade e a confiança fraterna de meus gym huddics de Woodlawn c de nosso mentor DeeOee; espero que eles vejam aqui a marca de minha estima e de meu afeto indestrutíveis. (') Todas as palavras grafadas em inglês estão nesta língua no original. [N. T.1 L_ Corpo e alma - 19

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Sob a forma de relatos mais ou menos apócrifos, de fofocas da academia, de anedotas de combate e de lendas da rua, elas inun- dam esses sião dos encontros, "The Fighting Fireman" - é seu nome de guerra - apresenta-se no ringue vestido com um magnífico rou- pão vermelho cintilante, 'com o
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