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Conjecturando um possível preparo do organismo para enfrentar o Covid PDF

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W.S. Torres Conjecturando um possível preparo do organismo para enfrentar o Covid Wladimir Stoltzenberg Torres¹ ¹Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade Prefeitura Municipal de Porto Alegre Resumo: O presente estudo realiza uma revisão a respeito de vírus enquanto ser vivo, ou não; biologia e taxonomia de vírus; SARS-CoV-2; nutrição como condição de qualificação do sistema imunológico; e possibilidade de uso ácido ascórbico para proporcionar ao sistema imunitário melhores condições de resposta a um processo infeccioso. Palavras-chave: Infecções por coronavírus. SARS-CoV-2. Vitamina C. Conjecture a possible preparation of the body to face Covid Abstract: The present study conducts a review of viruses as long as they are alive or not; virus biology and taxonomy; SARS-CoV-2; nutrition as a condition of qualification of the immune system; and possibility of using ascorbic acid to provide the immune system with better response conditions to an infectious process. Keywords: Coronavirus infections. SARS-CoV-2. Vitamin C. INTRODUÇÃO óbvio, ela conduz a diferentes ideias, tornando-se necessário definir o Quando se fala em seres vivos, uma próprio objeto a que nos referimos. discussão interessante surge no Mas, antes de uma definição é horizonte, qual seja, a de que certas importante distinguir vida, não-vida e entidades sejam desprovidas de vida, morte. Vida e morte representam as embora apresentem um faces opostas de uma mesma moeda; comportamento que sugeriria o não-vida, entretanto, surge como uma contrário. Assim, muito embora a condição alternativa visto que, por palavra vida pareça ter um sentido exemplo, uma pedra não está morta, UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 120 W.S. Torres pois para esta condição se estabelecer de Eigen” (SANTOS, 2011); sua é fato sine qua non que deva ter replicação só épossível dentro de uma existido vida previamente, o que, célula viva, e, além disso, alguns evidentemente nunca aconteceu com desses agentes possuem a capacidade a dita pedra. de se cristalizar quando submetido a Ainda não existe uma Teoria Geral da situações adversas. Apesar disto, são Vida e isso restringe nossa seres orgânicos, sujeitos a mutações e capacidade de entendê-la. Mas, por que conseguem se replicar e que uma definição como algo que perpetuar, de tal forma que, para nasce, respira, cresce, se reproduz e efeitos deste estudo serão morre, não é suficiente para consideradas como entidades vivas a caracterizar a vida? Simplesmente luz de tais características e do fato de porque existem diversos fenômenos possuírem, inclusive, uma estrutura naturais que satisfariam a essa sistemática e um código de definição (DAMINELI; DAMINELI, nomenclatura biológico. 2007), um incêndio, e.g., nasce de Assim, objetivou-se com o presente uma chama, consome oxigênio, se estudo, realizar uma revisão a expande (cresce), gera novos focos respeito de vírus, consolidar (reproduz) até que se extinga (morra). informações a respeito do SARS- Existem muitas controvérsias na CoV-2 e possíveis elementos comunidade científica a respeito dos nutricionais que ocasionem uma vírus serem, ou não, seres providos de interferência positiva para com o vida. Para Damineli e Damineli sistema imunológico. (2007), um organismo vivo é baseado na célula, onde a informação genética OS VÍRUS está codificada no DNA e se expressa na forma de proteínas. Vírus não Conforme referenciado na atendem a nenhum de tais quesitos, introdução, os vírus encontram-se pois se encontram no limiar que submetidos a um código de existe entre o químico e o biológico, nomenclatura biológico, o qual é em muito se assemelhando ao “RNA regulado pelo Comitê Internacional UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 121 W.S. Torres de Taxonomia de Vírus (International ácido nucléico, simetria do capsídeo, Committee on Taxonomy of Viruses presença ou ausência do envelope, - ICTV). tamanho e sensibilidade às O mais importante de todo esse substâncias químicas. Com isto, são princípio é que os vírus podem ser conhecidos mais de 40.000 vírus agrupados de acordo com as suas isolados de bactérias, plantas, animais propriedades físico, químicas e e alocados em sete ordens, 96 biológicas, assim como as das células famílias, 420 gêneros e 2618 espécies que infectam; podendo, então, ser (fig. 1). classificados de acordo com o tipo de Figura 1. Os três domínios da árvore da vida (fonte: modificado de Maier et al., 2009). Com a discussão vigente, conforme se pode verificar, os vírus ainda não se encontram inseridos na árvore da vida. OS CORONAVÍRUS família Coronaviridae (BRASIL, Os Coronavírus se constituem em um 2020), subfamília Betacoronavirus grupo de vírus zoonóticos, sendo que infectam somente mamíferos; RNA vírus da ordem Nidovirales, da sendo altamente patogênicos e UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 122 W.S. Torres responsáveis por causar síndrome CoVs e δ-CoVs (fig. 2), onde, α e ß- respiratória e gastrointestinal. CoVs também são capazes de infectar Conforme Cascella et al. (2020) e mamíferos e, portanto, podem causar Xavier et al. (2020), os CoVs podem infecção em humanos. ser divididos em quatro grupos de Complementado por Chan et al. acordo com critérios genéticos e (2013), tem-se que o grupo ß-CoVs antigênicos: α-CoVs, ß-CoVs, γ- pode se dividir em cinco linhagens. Figura 2. A divergência dos CoVs em Alphacoronavirus, Betacoronavirus, Gammacoronavirus, e Deltacoronavirus é estimada como tendo ocorrido a, aproximadamente, 5000 anos atrás. Esta árvore foi gerada partindo da análise de RNA- dependente e RNA polimerase (RdRp). Valores em pontos de ramificação representam o tempo estimado do evento de divergência em número de anos antes do presente (fonte: adaptado de WOO et al., 2009). Os coronavírus (CoVs) são vírus ácido ribonucléico (RNA) de fita envelopados com diâmetro de 60 a simples de sentido positivo, com 130 nm que contêm um genoma de tamanho variando de 26 a 32 UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 123 W.S. Torres kilobases (Kb) de comprimento humanos. Quatro dessas (SCHOEMAN; FIELDING, 2019; (HCoV.HKV1, HCoV-OC43, CASCELLA et al., 2020). Esse vírus HCoV-NL63 e HCoV-229E) causam pode apresentar capsídeos sintomas comuns de gripe em pessoas pleomórficos e ter projeções radiais imunocompetentes (CUI; LI; SHI, superficiais como uma coroa, daí o 2019; XAVIER et al., 2020), e duas nome coronavírus (CASCELLA et espécies (MERS-CoV e SARS-CoV - al., 2020). fig. 3) provocam síndrome Neste contexto, até este momento, são respiratória aguda grave com taxas seis as espécies de Coronavírus elevadas de mortalidade (CUI; LI; conhecidas que causam doenças em SHI, 2019). Figura 3. Ilustração em 3D representando o SARS-CoV-2 (fonte: modificado de Nexu Science Communication/Reuters). Pelo fato de seu material genômico 3 a 10-4 por nucleotídeo incorporado. ser RNA simples direto, é muito Assim, novas variantes genéticas comum que os coronavírus sofram surgem e se espalham na população mutações ao acaso, muito mais viral como resultado de uma interação frequentemente do que os vírus que complexa de deriva genética, seleção têm como material genético o DNA. natural, processos epidemiológicos e Os vírus RNA são consideravelmente modos de transmissão. Algumas menos estáveis geneticamente, com dessas variantes seguem adiante, taxas de mutação espontânea entre 10- UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 124 W.S. Torres fixando-se na população alvo ocorrem durante a replicação de (hospedeira). RNA. Assim, apesar desses vírus Isso acontece porque as enzimas que serem muito específicos quanto ao acompanham o RNA que é hospedeiro, essas mutações podem introduzido na célula (como a RNA possibilitar que eles passem a polimerase e a RNA integrase - fig. 4) parasitar outros hospedeiros, que não não conseguem reparar os erros que os seus habituais. Figura 4. A) Estrutura genérica de um vírus (fonte: autor desconhecido); B) Estrutura esquemática do SARS-CoV-2 (fonte: modificado de CASCELLA et al., 2020). Embora uma variedade de e uma base nitrogenada (UZUNIAN, coronavírus relacionados ao SARS- 2020). Por ser um vírus RNA, as CoV-2 tenha sido identificada, as bases nitrogenadas são adenina, origens evolutivas desse vírus citosina, guanina e uracila. permanecem indefinidas. Aproximadamente 29 diferentes Assim, conforme Uzunian (2020), o proteínas virais são identificadas; SARS-CoV-2 é um vírus de ácido entre elas, as mais relevantes são a ribonucléico (RNA), cujo material glicoproteína de pico, reconhecida genético é representado por uma como proteína S, e a proteína N, do única molécula de RNA positivo nucleocapsídeo viral (CERAOLO; (RNA+). Todo o seu genoma contém GIORDI, 2020; UZUNIAN, 2020). menos de 30.000 nucleotídeos, cada O vírus SARS-CoV-2 é classificado um deles formado por uma molécula como RNA+ devido à sua direção no de açúcar (ribose), um ácido fosfórico sentido 5’-3’, o que significa que UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 125 W.S. Torres pode ser lido diretamente pelas molécula de RNA- é transitória e, a estruturas celulares (UZUNIAN, partir dela, são produzidas inúmeras 2020). É considerado um tipo de moléculas de RNA+ que são idênticas RNA mensageiro que, ao ser ao RNA+ original (GORDON et al., percorrido por ribossomos celulares, 2020). Portanto, a molécula induz a produção de proteínas virais. transitória de RNA- serve como Outra característica desse tipo de modelo para a produção de moléculas RNA é a presença da enzima de RNA+ (CERAOLO; GIORDI, replicase (RNA polimerase), a qual 2020; UZUNIAN, 2020); cada uma acompanha o vírus ou é produzida delas descenderá do vírus que pela célula infectada, quando então a infectou a célula; esses descendentes produção de uma molécula de RNA parasitarão a célula e se replicarão no negativo (RNA-) ocorre a partir da interior dela (fig. 5). molécula de RNA+, típica do vírus. A Figura 5. Visão esquemática da replicação do SARS-CoV-2 (fonte: modificado de CASCELLA et al., 2020). NUTRIENTES E SISTEMA IMUNOLÓGICO UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 126 W.S. Torres Alguns nutrientes têm a capacidade avaliação do estado nutricional de interferir na resposta imune por (KATONA; KATONA-APTE, terem efeito regulatório direto sobre 2008). os leucócitos, alterando os índices de As variações da normalidade da proliferação, padrão de produção de nutrição, tanto para menos quanto citocinas e diferenciação de para mais, suprimem o sistema populações leucocitárias específicas. imune, constituindo-se na maior As pesquisas que buscavam a relação causa de imunodeficiência adquirida entre imunidade e nutrição surgiram em humanos (LOSS, 1999). Existe em meados da década de 70 quando importante interação entre nutrição, testes imunológicos foram imunocompetência e doenças (fig. 6). implantados como componentes da Figura 6. Interrelação entre desnutrição, imunidade e infecção (fonte: adaptado de CARCIOFI, s/d). Conforme Loss (1999), a literatura revisões e estudos atuais, melhor que tem abordado a ação de desenhados, apontem para uma elementos da nutrição na imunidade é positiva expectativa em relação aos vasta. Infelizmente, ainda se carece potenciais benefícios destes de comprovadas evidências para o nutrientes; com alguns expressando, uso regular destes nutrientes, embora conforme Moraes (2011) a UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 127 W.S. Torres capacidade de interferir na resposta Alguns nutrientes têm a capacidade imune por terem efeito regulatório de interferir na resposta imune por direto sobre os leucócitos, alterando terem efeito regulatório direto sobre os índices de proliferação, padrão de os leucócitos, alterando os índices de produção de citocinas e diferenciação proliferação, padrão de produção de de populações leucocitárias citocinas e diferenciação de específicas. Os mais estudados são a populações leucocitárias específicas glutamina, arginina, ácidos graxos (MORAES, 2011). Segundo Klasing polinsaturados ω-3, taurina e e Leshchinsky (1999), os leucócitos nucleotídeos (LOSS, 1999). possuem receptores que podem ser Entretanto, muito ainda se estuda a regulados pelos hormônios fim de definir quais são e em que relacionados ao status nutricional. A níveis de inclusão os nutrientes são concentração destes hormônios pode capazes de promover influenciar no reconhecimento de imunocompetência e maior antígenos pelos leucócitos, na resistência a desafios sanitários. produção de imunoglobulinas e Pela complexidade das interações que respostas inflamatórias (KLASING; podem ser firmadas entre os LESHCHINSKY, 1999). nutrientes e as células imunitárias, Segundo Carciofi (s/d), a resposta divide-se os mecanismos de imune é dependente de replicação modulação do sistema imune a partir celular e da síntese de compostos da nutrição em cinco categorias: protéicos ativos. Desta forma, é regulação direta a partir dos fortemente afetada pelo status nutrientes, modulação indireta nutricional do indivíduo, que mediada pelo sistema endócrino, determina a habilidade metabólica regulação pela disponibilidade de celular e a eficiência com que a célula substratos, modulação do efeito reage aos estímulos, iniciando e negativo causado pela resposta imune perpetuando o sistema de proteção e e imunidade nutricional (MORAES, autorreparação orgânicas. Energia, 2011). aminoácidos, vitaminas A, D, E, piridoxina, cianocobalamina, ácido UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 128 W.S. Torres fólico, Fe, Zn, Cu, Mg e Se são nutrientes para os quais já se SISTEMA IMUNOLÓGICO E LINFÓCITOS estabeleceu a estreita relação existente entre seu status orgânico e o Kidd (2003) relata que, de todos os funcionamento do sistema imune sistemas orgânicos do corpo, o (CHANDRA, 1992; CARCIOFI, sistema imunológico pode ser o mais s/d). Diminuição de anticorpos difícil de coordenar. Ele abrange uma humorais e da superfície de mucosas, alta quantidade de células imunes da imunidade celular, da capacidade individuais, células imunes bactericida de fagócitos, da produção agregadas, tecidos imunitários e de complemento, do número total de órgãos imunológicos (KIDD, 2003). linfócitos, do equilíbrio dos subtipos Este modo de organização estrutural de linfócitos T e dos mecanismos torna o sistema capaz de responder inespecíficos de defesa - barreiras rápida e eficazmente para qualquer anatômicas da pele e mucosas, corpo que não seja percebido como microbiota intestinal, substâncias próprio do organismo. secretoras como os sistemas Funcionalmente, uma grande antimicrobianos dos neutrófilos são variedade de substâncias difusíveis afetados pela desnutrição, tanto os são usadas para transmitir sistemas oxigênio-dependentes como mensagens, dar instruções, e os oxigênio independentes geralmente permitem que os bilhões (lactoferrina, lisozimas, hidrolases e de células imunes se comuniquem proteases) (CARCIOFI, s/d). umas com as outras (KIDD, 2003). Normalmente, o sistema imune é o O sistema imunológico é constituído primeiro a sofrer alterações na por uma complexa rede de células e desnutrição, respondendo antes moléculas dispersas por todo o mesmo do sistema reprodutivo, suco organismo e se caracteriza gástrico e muco, febre, alterações biologicamente pela capacidade de endócrinas e sequestro de ferro sérico reconhecer especificamente e tecidual - são consequências de determinadas estruturas moleculares deficiências nutricionais. ou antígenos e desenvolver uma UNISANTA Bioscience Vol. 10 nº 1 (2021) p. 120 – 139 Página 129

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