Como Provar QueD E U S E X I S T E M ortim er J. Adler TRADUÇAO Alessandra Lass Como provar que Deus existe - Mortimer J. Adler Impresso no Brasil, Julho de 2013 Copyright (c) 2013 by CEDET 1ª edição - julho de 2013 - Vide Editorial e Ecclesiae Editora Editor Diogo Chiuso Tradução Alessandra Lass Revisão da Tradução Ronald Robson Projeto Gráfico/Editoração Arno Alcântara J: nior Impressão Daikoku Editora e Gráfica Os direitos desta edição pertencem ao CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico Rua Angelo Vicentin, 70 CEP: 13084-060 - Campinas - SP Telefone: (19) 3249-0580 e-mail: [email protected] Conselho Editorial Adelice Godoy Cesar Kyn d Avila Diogo Chiuso Silvio Grimaldo de Camargo Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrónica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio. Sumário Mortimer Adler provou que Deus existe? I. OS ARGUMENTOS DE ADLER A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS 1. Como refletir a respeito da existência de Deus Mortimer J. Adler 2. O Deus a quem rezo (uma conversa) Mortimer J. Adler 3. Adler sob críticas Mortimer J. Adler, William F. Buckley e Jeff Greenfield II. UM DEBATE SOBRE DEUS E A CIÊNCIA 4. A mão condutora de Deus no Universo Owen Gingerich 5. Deus, acaso e Teologia Natural Mortimer J. Adler 6. Respostas de Gingerich a Adler Owen Gingerich 7. A evolução da Ciência reforça o argumento de Adler sobre a existência de Deus John Cramer III. AS DIFICULDADES INICIAIS DE ADLER COM A QUESTÃO DE DEUS 8. A demonstração da existência de Deus (1943) Mortimer J. Adler 9. Uma resposta a Adler sobre a existência de Deus (1943) Herbert Thomas Schwartz 10. Uma nova abordagem da existência de Deus (1943) Mortimer J. Adler A origem dos capítulos deste livro Agradecimentos e autorizações Glossário de termos e expressões Índice remissivo Mortimer Adler provou que Deus existe? Este livro apresenta algumas das mais simples e diretas demons trações dos argumentos de Mortimer Adler a respeito da existência de Deus. Um pouco do que agora aparece neste livro era outrora completamente inacessível ao público. Além disso, outros trechos foram difíceis de ser coletados. Grande parte das primeiras obras do Dr. Adler sobre o assunto parece tomar forma argumentativa contra a existência de Deus. Mas o motivo disso é que Dr. Adler pretendia mostrar que alguns argu mentos que satisfaziam determinadas pessoas não eram inteiramente adequados. Ele queria examinar minuciosamente vários argumentos distintos entre si que considerava insuficientes, embora em alguns casos contivessem excelentes insights, com o propósito de fazer ajustes a estes argumentos e, por fim, alcançar um argumento completa mente consistente. Ele permaneceu esculpindo e polindo seu argu 40 mento entre as décadas e 70. Acreditou, afinal, ter encontrado o argumento perfeitamente consistente que procurava. Vez ou outra Dr. Adler menciona um “salto de fé , mas isso não quer dizer que pensava ser a fé obrigatória para demonstrar a existên cia de Deus. Dr. Adler defendia que a existência de Deus como cria dor e sustentador do Universo poderia ser estritamente demonstrada por argumentos puramente filosóficos, sem recorrer à fé. O salto de fé se torna necessário no momento em que se faz uma conexão entre este Deus e a vida pessoal daquele que crê - pois, afinal de con tas, podemos imaginar a possível existência de um Deus que não se importaria com a condição de meros seres humanos. A obra do Dr. Adler se baseou na tradição da filosofia conhecida 1224 como tomista, conforme a obra de Santo Tomás de Aquino ( 1274 ). A maioria dos tomistas é católica, mas Dr. Adler não era cató lico e muito menos cristão até quase o fim da sua vida. Na maior parte da sua vida ativa como filósofo ele se declarara pagão e, ainda 7 assim, contribuíra com artigos para publicações tomistas, incluindo The Thomist. Seus frequentes artigos seguindo a tradição Tomista, juntamente com seu paganismo declarado, atribuíram ao Dr. Adler o apelido de Tomista em potencial '. Santo Tomás de Aquino declarou que a existência de Deus pode ser provada puramente por raciocínio filosófico, sem a necessidade de apoiar-se na fé, na Bíblia ou na Igreja. Em uma famosa passagem da “Suma Teológica’, Santo Tomás apontou cinco vias pelas quais a existência de Deus pode ser provada, e estas vias tem sido foco de intenso interesse e debate desde então: As Cinco Vias de Santo Tomás A primeira via, e a mais clara, parte do movimento. Nossos senti dos atestam, com toda a certeza, que neste mundo algumas coisas se movem. Ora, tudo o que se move é movido por outro. Nada se move que não esteja em potência em relação ao termo de seu movimento; ao contrário, o que move o faz enquanto se encontra em ato. Mover nada mais é, portanto, do que levar algo da potência ao ato, e nada pode ser levado ao ato senão por um ente em ato. Tal como algo quente em ato, por exemplo o fogo, torna quente em ato a madei ra que está em potência para o calor, e assim a move e altera. Ora, não é possível que a mesma coisa, considerada sob o mesmo aspecto, esteja simultaneamente em ato e em potência, a não ser sob aspec tos diversos: por exemplo, o que está quente em ato não pode estar simultaneamente quente em potência, mas está frio em potência. E impossível que sob o mesmo aspecto e do mesmo modo algo seja motor e movido, ou que mova a si próprio. É preciso que tudo o que se mova seja movido por outro. Assim, se o que move é também movido, o é necessariamente por outro, e este por outro ainda. Ora, não se pode continuar até o infinito, pois neste caso não haveria um primeiro motor, por conseguinte, tampouco outros motores, pois os motores segundos só se movem pela moção do primeiro motor, como o bastão, que só se move movido pela mão. É então necessário chegar a um primeiro motor, não movido por nenhum outro, e este, todos entendem: é Deus. 8 A segunda via parte da natureza da causa eficiente. Encontramos nas realidades sensíveis a existência de uma ordem entre as causas eficientes; mas não se encontra, nem é possível, algo que seja causa eficiente de si próprio, porque desse modo seria anterior a si próprio: o que é impossível. Ora, tampouco é possível, entre as causas eficien tes, continuar até o infinito, porque, entre todas as causas eficientes ordenadas, a primeira é a causa das intermediárias e as intermediá rias são a causa da última, sejam elas numerosas ou apenas uma. Por outro lado, supressa a causa, suprime-se também o efeito. Portanto, se não existisse a primeira entre as causas eficientes, não haveria a última nem a intermediária. Mas se tivéssemos de continuar até o infinito na série das causas eficientes, não haveria causa primeira; assim sendo, não haveria efeito último, nem causa eficiente interme diária, o que evidentemente é falso. Logo, é necessário afirmar uma causa eficiente primeira, a que todos chamam Deus. A terceira via é tomada da questão do possível e do necessário. Ei-la. Encontramos, entre as coisas, as que podem ser e não ser, uma vez que se sabe que nascem e perecem; e, consequentemente, podem elas ser e não ser. Mas é impossível ser para sempre o que é de tal natureza, pois o que pode não ser em algum momento não é. Se tudo pode não ser, houve um momento em que nada havia. Ora, se isso é verdadeiro, até este exato momento nada existiria; pois o que não é só passa a ser por intermédio de algo que já é. Por conseguinte, se num determinado momento nada tivesse existido, teria sido impos sível que algo começasse a existir; logo, hoje, nada existiria: o que é absurdo. Assim, nem todos os entes são meramente possíveis, mas é preciso que exista algo cuja existência seja necessária. Ora, tudo o que é necessário tem ou não a causa de sua necessidade em um outro. Aqui também não é possível prosseguir até o infinito com as coisas necessárias que têm em um outro a sua necessidade, tal como já se provou com relação às causas eficientes. Portanto, é necessário afir mar a existência de algo necessário por si mesmo, que não encontra alhures a causa de sua necessidade, mas que é a causa da necessidade das outras coisas: o que todos chamam Deus. A quarta via se toma dos graus que se encontram nas coisas. Há, entre os seres, os que são melhores ou piores, mais verdadeiros ou menos verdadeiros, mais nobres ou menos nobres e assim por diante. 9 Ora, mais ou menos se diz de coisas diversas conforme elas se apro ximam diferentemente daquilo que é em si o máximo. Assim, mais quente é o que mais se aproxima do que é sumamente quente. Existe em grau supremo algo verdadeiro, bom, nobre e, consequentemente, o ente em grau supremo, pois, como se mostra no livro II da Metafí sica, o que é em sumo grau verdadeiro é ente em sumo grau. Por outro lado, o que se encontra no mais alto grau em determinado gênero é causa de tudo que é desse gênero: assim, o fogo que é quente, no mais alto grau, é causa do calor de todo e qualquer corpo aquecido, como é explicado no mesmo livro. Existe então algo que é, para todos os outros entes, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: nós o chamamos Deus, A quinta via é tomada do governo das coisas. Com efeito, vemos que algumas coisas que carecem de conhecimento, como os corpos físicos, agem em vista de um fim, o que se manifesta pelo fato de que, sempre ou na maioria das vezes, agem da mesma maneira, a fim de alcançarem o que é ótimo. Fica claro que não é por acaso, mas em virtude de uma intenção, que alcançam o fim. Ora, aquilo que não tem conhecimento não tende a um fim, a não ser dirigido por algo que conhece e que é inteligente, como a flecha do arqueiro. Logo, existe algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordena das ao fim, e a isso nós chamamos Deus. Santo Tomás não considerava estas vias como provas rigorosas completamente resolvidas; são breves indicações dos caminhos que tais provas poderiam tomar. Uma objeção óbvia é que nenhuma das cinco vias chega a uma completa concepção de Deus. Por exemplo, o primeiro motor , cuja existência é supostamente demonstrada na primeira via, pode ser alguma entidade menor que o Deus segundo a definição feita por cristãos, mulçumanos e judeus. Santo Tomás esta va ciente dessa limitação e forneceu argumentos no sentido de que estas entidades eram de fato Deus em outra obra, sua Suma Contra os Gentios. Dr. Adler sustentou que algumas destas cinco vias são insuficientes para provar a existência de Deus, enquanto outras delas necessitam ser mais desenvolvidas para chegar a um argumento completamente consistente e resolvido em totalidade. 10 Os primeiros escritos do Dr. Adler sobre a existência de Deus são um tanto difíceis, mas, à medida que ele adquiriu mais experiência, também desenvolveu a habilidade de apresentar suas idéias de modo mais acessível. As partes I e II deste livro mostram um Adler que expressa seus pensamentos de forma muito clara para o público em geral. Nenhum conhecimento prévio do tema é necessário para ler as partes I e II. A parte III contém um artigo que Adler escreveu em 1943 sobre a existência de Deus, em que em que aventa vários pro blemas nos argumentos tomistas tradicionais; um ataque contunden te ao artigo do Dr. Adler pelo tomista tradicional Herbert Thomas Schwartz; e, em seguida, uma abordagem do Dr. Adler muito mais completa e detalhada sobre a questão, incluindo uma vigorosa res posta a cada um dos argumentos de Schwartz. Neste ponto é possível notar o respeito de Mortimer Adler ao rigor lógico, sempre prepara do para abandonar um argumento se este não fosse suficientemente bom, até mesmo no caso de ele ter aparentemente produzido uma conclusão a que se almejava chegar. Nas décadas de 1930 e 1940, Dr. Adler discursou e escreveu a res peito da sua crescente preocupação com a especialização exagerada dos acadêmicos, que produziam escritos inteligíveis apenas aos cole gas do mesmo campo de pesquisa. Dr. Adler percebeu também que todos os autores dos grandes livros do século XIX escreveram para o leitor comum, não para especialistas. E, então, na década de 40, Dr. Adler decidiu que no futuro destinaria seus escritos a este tipo de leitor, não ao público especializado. Mortimer Adler provou que Deus existe? A você, leitor, cabe deci dir a resposta, após a leitura das partes I e II deste livro. Seja qual for sua decisão, você certamente terá uma experiência agradável e cativante, bem como irá aprender algo sobre Deus e argumentos filo sóficos bons e ruins. Ken Dzugan Senior fellow e arquivista, Centro para o Estudo das Grandes Idéias. 11 I EXISTÊNCIA IOSARGUMENTOS DE ADLER AA FVOR DA DE DEUS 1. Como refletir a respeito da existência de Deus Mortimer J. Adler Deus existe? Você acredita em Deus? Estas são perguntas que a maioria das pessoas responde afirmativa ou negativamente - sem muita reflexão. Suas respostas resultam de crenças ou descrenças habituais, condicionamentos na infância, anseios emocionais ou aversões, mas não de raciocínio bem fundamentado ou pensamento reflexivo. Razão para crer em Deus? Temos algum motivo para crer que Deus existe? Pode-se aduzir motivos para nossa crença em Deus? Estas são perguntas que não podem ser respondidas sem ampla reflexão. Filósofos tentaram respondê-las desde a Grécia Antiga. De Platão a Aristóteles até o século atual, todo filósofo de relevo tentou dar sua contribuição ao tema - sem argumentar contra ou a favor da existên cia de Deus, mas sim contra ou a favor da razoabilidade da crença de que realmente exista um ser que corresponda à nossa noção de Deus. E, em nosso século, cientistas eminentes, até o final de suas vidas, também deram palpites sobre o assunto. No que diz respeito ao pensamento, vê-se que não se trata de uma questão simples. Na verdade, é um dos problemas mais difíceis de se considerar clara e convincentemente. Passei mais de cinquenta anos da minha vida filosófica pensando sobre como pensar a respeito de Deus; e agora, caminhando para o fim dela, sinto que finalmente encontrei o modo de conceber uma solução que torna a crença na existência de Deus algo aceitável - pelo menos mais do que uma dúvida racional. Desde o tempo em que eu estudava na Columbia University em 1921 , quando li pela primeira vez o "Tratado de Deus na Suma Teo lógica de Santo Tomás de Aquino, tenho nutrido uma fascinação 15
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