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Como Ler Literatura PDF

280 Pages·1.202 MB·Portuguese
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DADOS DE ODINRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe eLivros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo. Sobre nós: O eLivros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: eLivros. Como posso contribuir? 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Procuro lançar alguma luz sobre temas como a narrativa, o enredo, o personagem, a linguagem literária, a natureza da ficção, problemas de interpretação crítica, o papel do leitor e a questão dos juízos de valor. O livro também discorre sobre alguns autores e correntes literárias como o classicismo, o romantismo, o modernismo e o realismo, para quem talvez se sinta precisado. Sou mais conhecido, creio eu, como teórico literário e crítico político, e talvez alguns leitores perguntem como ficam tais interesses neste livro. Minha resposta é que é impossível levantar questões políticas ou teóricas sobre textos literários sem ter alguma sensibilidade à linguagem deles. Aqui, a intenção é oferecer a leitores e estudantes alguns instrumentos básicos do ofício crítico, sem os quais dificilmente conseguirão passar para outros temas. Espero mostrar que a análise crítica pode ser divertida e, com isso, ajudar a destruir o mito de que a análise é inimiga do prazer. T.E. C 1 APÍTULO Inícios Imagine-se ouvindo um grupo de estudantes num seminário, debatendo o romance O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. A conversa é mais ou menos a seguinte: Estudante A: Não vejo o que tem de tão genial na relação da Catherine com o Heathcliff. Parecem só dois moleques batendo boca. Estudante B: Bom, não é bem uma relação, né? É mais tipo uma união mística de almas. Não dá pra falar disso numa linguagem comum. Estudante C: E por que não? Heathcliff não é um místico, é um brutamontes. O cara não é um herói byroniano; ele é ruim. Estudante B: Tá, tá bom; mas o que deixou ele assim? O pessoal do Morro, claro. Ele era legal quando criança. Mas aí acham que ele não presta pra casar com a Catherine, e então vira um monstro. Pelo menos não fica choramingando feito o Edgar Linton. Estudante A: É, o Linton é meio fracote mesmo, mas trata a Catherine muito melhor do que o Heathcliff. O que há de errado nesse debate? Alguns dos pontos apresentados são bastante perspicazes. Todos parecem ter lido além da página 5. Ninguém está confundindo Heathcliff com o nome de alguma cidadezinha do Kansas. O problema é que, se uma pessoa que nunca ouviu falar de O morro dos ventos uivantes escutasse a conversa, não teria a menor pista para entender que os estudantes estão falando de um romance. Poderia achar que eles estão falando de alguns amigos meio esquisitos. Talvez Catherine seja uma aluna do curso de Administração, Edgar Linton, o diretor da Faculdade de Artes e Heathcliff, um bedel amalucado. Não se fala nada sobre as técnicas que o romance usa para construir os personagens. Ninguém pergunta sobre as atitudes que o próprio livro adota em relação a essas figuras. Os juízos no livro são sempre coerentes ou podem ser ambíguos? E as imagens, o simbolismo e a estrutura narrativa do romance? Reforçam ou enfraquecem o que sentimos sobre os personagens? Naturalmente, continuando o debate, ficaria mais claro que os estudantes estavam falando de um romance. Muitas vezes, até os comentários dos críticos sobre poemas e romances parecem conversas sobre a vida real. Não há nenhum grande crime nisso. Mas, hoje em dia, é o que mais acontece. O erro mais comum dos estudantes de literatura é ir diretamente ao que diz o poema ou o romance, deixando de lado a maneira como se diz. Ler desse modo é abandonar a “literariedade” da obra – o fato de ser um poema, uma peça ou um romance, e não um texto sobre o grau de erosão do solo no Nebraska. As obras literárias, além de relatos, são peças retóricas. Exigem um tipo de leitura especialmente alerta, atenta ao tom, ao estado de espírito, ao andamento, ao gênero, à sintaxe, à gramática, à textura, ao ritmo, à estrutura narrativa, à pontuação, à ambiguidade – de fato, a tudo o que entra na categoria de “forma”. Vá lá que sempre é possível ler uma matéria sobre a erosão do solo no Nebraska dessa maneira “literária”. Significa apenas prestar grande atenção aos modos de utilizar a linguagem. Para alguns teóricos literários, é o que basta para transformá-la numa obra de literatura, embora muito provavelmente não venha a rivalizar com Rei Lear. O que entendemos por obra “literária” consiste, em parte, em tomar o que é dito nos termos como é dito. É o tipo de escrita em que o conteúdo é inseparável da linguagem na qual vem apresentado. A linguagem é constitutiva da realidade ou da experiência e não se resume a mero veículo. Tome-se uma placa de estrada dizendo: “Em obras: grande lentidão na Ramsbottom Bypass pelos próximos 23 anos”. Aqui, a linguagem é simples veículo para algo que pode ser expresso de inúmeras maneiras. Uma autoridade local mais ousada até poderia pôr em versos. Se não soubessem por quanto tempo a estrada ficaria bloqueada, daria para rimar “Obras interditando” com “Sabe Deus até quando”. Já “Ao se putrefazerem, muito mais tresandam os lírios do que as ervas daninhas” [Shakespeare, Soneto 94] é muito mais difícil de parafrasear, pelo menos sem estragar totalmente o verso. E é isso, entre várias outras coisas, o que queremos dizer ao chamá-lo de poesia. Dizer que devemos observar como é feito aquilo que se faz numa obra literária não significa que as duas coisas sempre se encaixem perfeitamente. Você pode, por exemplo, contar a vida de um rato do campo em versos brancos miltonianos. Ou pode discorrer sobre a vontade de ser livre usando uma métrica inflexivelmente rigorosa. Em casos assim, a forma destoa do conteúdo de um modo interessante. Em seu romance A revolução dos bichos, George Orwell transpõe a complexa história da Revolução Bolchevique para os moldes de uma fábula aparentemente simples sobre os animais de uma fazenda. Em tais casos, os críticos falam em tensão entre forma e conteúdo. Podem tomar essa discrepância como parte do significado da obra. Na discussão que acabamos de ouvir, os estudantes têm opiniões divergentes sobre O morro dos ventos uivantes. Isso levanta toda uma série de questões que, falando em termos estritos, pertencem mais à teoria literária do que à crítica literária. O que está presente na interpretação de um texto? Existem maneiras certas e erradas de interpretar? Podemos demonstrar que uma interpretação é mais válida do que outra? Existe uma apresentação de um romance que seja a única verdadeira, à qual ninguém ainda chegou ou à qual ninguém jamais chegará? O Estudante A e o Estudante B podem estar ambos certos sobre Heathcliff, mesmo que o

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