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Combates pela História [incompleto] PDF

165 Pages·1989·8.572 MB·Portuguese
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ó ! ■ LUCIEN FEBVRE E R V B E F Ei \l Ci U L A I R Ó T S I H A L E P S E T A B M O C ÍNDICE PREFÁCIO ........................................................................................................... 7 ADVERTÊNCIA AO LEITOR........................................................................ U PROFISSÕES DE FÉ À PARTIDA DE 1892 A 1933 ................................................................................ 15 Exame de consciência de uma história e de um historiador 15 VIVER A HISTORIA................................................................................. 28 Palavras de iniciação........................................................................ 28 FRENTE AO VENTO.., ................................................................. 42 Manifesto dos novos «Annaies» ......................................... 42 A VIDA, ESSA PROCURA CONTÍNUA ................................. 51 POR E CONTRA POR UMA HISTÓRIA DIRIGIDA................................................. 61 As investigações colecíivas e o futuro da historia ........... 61 CONTRA A HISTÓRIA DIPLOMÁTICA EM SI. HISTÓRIA OU POLÍTICA? ... 67 Duas reflexões: 1930, 1945 67 PELA SÍNTESE CONTRA A HÍSTÓRÍA-QUADRO. UMA HISTÓRIA DA RÜSSIA MODERNA.......................................... 75 Em primeiro lugar a política?................................................. 75 CONTRA O TORNEIO VÃO DAS IDÉIAS. UM ESTUDO SOBRE O ESPÍRITO POLÍTICO DA REFORMA ........... 80 NEM HISTÓRIA DE TESE NEM HISTÓRIA-MANUAL. ENTRE BENDA E SEIGNOBOS .............................................. 85 261 B O HOMEM( EM TUDO ISTO?................................................. 103 A propósito de uni manual ................................................. 103 CONTRA O ESPÍRITO DE ESPECIALIDADE.......................... 107 Uma carta de 1933 ................................................................. 107 CONTRA OS JUIZES SUPLENTES DO VALE DE JOSAFAT 110 I — Camille Desmoulins: História ou Requisitôrío? ... ... 110 II — Um livro pretensioso sobre a Revolução.................. 112 SOBRE UMA FORMA DE HISTÓRIA QUE NÃO É NOSSA. A HISTÓRIA HISTORICEZANTE.......................................... 117 DUAS FILOSOFIAS OPORTUNISTAS DA HISTÓRIA.......... 122 De Spenglcr a Toynbee......................................................... 122 ALIANÇAS E APOIOS A LINGUÍSTICA HISTÓRIA E DIALECTOLOGIA.................................................. 147 Na época em que nascia a Geografia Linguística........... 147 ANTOINE MEILLET E A HISTÓRIA.......................................... 157 A Grécia Antiga através- da sua língua.......................... ... 157 POLÍTICA REAL OU CIVILIZAÇÃO FRANCESA? ............ 167 A conquista do Sul pela língua francesa .......................... 167 PROBLEMAS DE HISTÓRIA ENXERTADOS NO «BRUNOT» 179 A nacionalidade e a língua em França no século XVHI 179 A PSICOLOGIA MÉTODOS E SOLUÇÕES PRÁTICAS.......................................... 199 Henn Wallon e a Psicologia Aplicada.................................. 199 UMA VISÃO DE CONJUNTO......................................................... 205 História e Psicologia................................................................. 205 COMO RECONSTITUIR A VIDA AFECTIVA DE OUTRORA? 217 A sensibilidade e a História............................................... 217 PSICOLOGIA E FISIOLOGIA NACIONAIS .......................... 233 Os Franceses vistos por André Siegfned ou por Sieburg?... 233 ESPERANÇAS A CHEGADA CAMINHANDO PARA UMA OUTRA HISTÓRIA.................. 241 262 LUC1EN FEBVRE COMBATES PELA HISTÓRIA EDITORIAL PRESENÇA I HCÜA Ti.í'Nk A l ilulu umimut: ( pata 1. 7 fi.uniív .-\uios: l.nrtcit ! <’hi'tv Ci>jnii\ilu hv t.ihnuns Antutiuí ('niiii Tnidiiipiu'. !ausiuu .Mitrlitiitn .Siittnrs i' (!isciti Mnntz Kl’\!s;id do icxio: ÍVVmk/íi /wíjííím linprcxs.sii: {/w/íoí ívuchm’. l.du., Sia. Muna tlu 1'Ct/u AiXilv.jníciílu: lúmihn ií- iVcrrv ftíu., .S/h. Muna <iu H'tni .s ‘ ediipso. LinIiii:i. MS') ilcpuMiti N." 2iW>S Reservados iodos os direnos pür;i Poíiuü;iI ;i !;di!un;ií Prc-i-iKü. i.d;i. Kti=i Anísio tiil. :õ-A - j(llil) I.iSBOA PREFACIO Se, ao reunir estes artigos escolhidos entre tantos outros, fosse minha intenção erguer a mim próprio qualquer espécie de monu­ mento, teria dado à recolha um titulo diferente. Tendo fabricado ao longo da minha vida, e esperando fabricar ainda, alguns grandes móveis com que mobilar a história — que podem, pelo menos provi­ soriamente, guarnecer certas paredes despidas do palácio de Clio—. teria então chamado Aparos a esses restos de madeira caidos sob a plaina e apanhados ao pé da banca. Mas não foi de forma nenhuma para me rever nessas obras quotidianas, mas sim para prestar alguns serviços aos meus companheiros, sobretudo aos mais fovens, que pus em prática esta recolha. E, por isso, o titulo que escolhí lembrara o que sempre houve de militante na minha vida. Os mcús‘Tõrnbatcs, certamente qüé'não: nunca me bali nem por mim nem contra este ou aquele, como pessoa. Combates pela História sim. Foi bem por ela que lutei toda a minha vida. Tanto quanto a minha memòna alcança, \'íim^uieJiisUuiudj.lt'~_;x>r PTMZífJiJJ.U..poiudeseio, paru..uao dizer de-cüraçãcxe, dg vocação. Filho de um pai que o prestígio de tienri Weil, helentsta na Faculdade de Letras de Besançon e depois na Bcolc Normale Supeneurc, e o, tão grande, de Thurot, esse filósofo da gramática, desviaram da História, de que nunca, no entanto, se desinteressou; sobrinho de um tio que toda. a. sua vida a ensinou, e desde a minha primeira infância me levou a amá-la; encontrando, ao folhear na biblioteca paterna, por baixo dos faxácutcs do Darcmberg et Saglio, que se sucediam regular­ mente, esses dois álbuns que representavam ao vivo as grandes Histo­ rias dos Gregos e dos Romanos, de Victor Duruy, obras-primas da editora Hacheite da primeira fase; toda a Antiguidade então conhe­ cida, templos, bustos, deuses e vasos, figurados pelos melhores gra­ vadores; devorando sobretudo, com uma paixão incansável, os tomos dessa grande edição Hetzel da História de França de Michelet, que Daniel Vierge, visionário alucinante, encheu de ilustrações tão de acordo com alguns textos do grande sonhador, de tal modo que. me sinto incomodado, hoje, se tenho de os reler na morna edição que 7 houve quem qualificasse de «definitiva»; alimentado por estes con­ selhos, rico destas leituras e dos sonhos que fazia nascer em mim, como não teria eu sido historiador? São esses os meus mestres, os meus verdadeiros mestres — a que se nmtaram mais tarde, entre os meus dezasseis e os meus vinte cinco anos: Êlisêe Rechts e a profunda humanidade,da sua Geografia Uni­ versal; Burekharclí e o Renascimento em Itália; Couraiod e as suas lições da Êcolc du Louvrc sobre o Renascimento na Borgonlia e em França; a partir de 1900 o Jaurès cia História Socialista, tão rica de intuiçães econômicas e sociais; Stendhal, enfim, e sobretudo o Sten- dhai de Roma, Nápoles e Fiorença, da Hisiòna da Arte em Itália, das Memórias de um Turista, da Correspondência; outros tantos «con­ vites à história psicológica e sentimental», qae, durante anos, não deixaram a minha mesa de cabeceira—descobn-os quase por acaso, nesses tempos longínquos, massacrados por Colombo e impressos por Calmann em papel de- candeia, com tipo velho e rombo. Esta a nunha jiqfmq de papel». Ao lado dela, a minha alma cam- pesfre e rústica — essa outra mestra da História que foi parcTTtúm a Terra. Os primeiros vinte anos da minha vida decorreram em Nancy: ai, ao percorrer as matas, os bosques da floresta de Haye, ao descobrir uns após outros, tão nitidamente perfilados, os horizon­ tes das encostas e dos planaltos lojenos, fiz provisão de um conjunto de recordações e de impressões que nunca mais me abandonarão. Mas com que delícia reencontrava todos os anos a minha verdadeira pátria, o Franco-Condado! Primeiro o doce Vale do Saône, a pequena vila de Gray dominando majestosamente o prado que refez- <r felici­ dade a Proudhon; mais a seguir, esse velho severo do Jura, os seus prados-bosques e os seus pinheiros, as suas águas verdes e as suas gargantas desaprumadas por grandes bancos calcários, tais como, com um pincel heróico, os pintava Gustave Courbet — o Franco-Condado, percorrido em todos os sentidos, desde os meus primeiros anos, nas velhas diligências das «Messageríes Bouvet»: fortes cheiros de couro velho, odor acre dos cavalos fumegantes, ruídos alegres dos guizos e do chicote a estalar à entrada das aldeias; o Condado, como a Lo- rena, dotado de altos lugares solitários e sagrados: a «Haute-Pierre de Mouthier», o «Poupei de Salins» a enviar, para lá das cristas, a sua saudação ao Monte Branco; mais longe a «Dole», cume literário, e tantos outros menos notórios; lugares saudáveis em que o espírito sopra com o vento e que, durante toda a vida, nos dão a necessidade de descobrir, de respirar horizontes infinitos. No Condado, não somos nada conformistas. Courbet também não o era, quando pintava UEntcrrcment ã Ornans ou LFAtelier. Nem Pasteur, quando as Aca­ demias con juradas br anuam â morte contra a sua verdade. Nem Proudhon, o filho do tanoeiro, quando dedicava, em homenagem, aos burgueses bem providos de Besançon, a sua obra A propriedade c um roubo. Proudhon, que tena sem dúvida dado a melhor definição de nos, os do Condado: «Anarquistas... mas de governo», se Michelet S não tivesse fornecido a sua: «Souberam a tempo duas coisas: saber fazer., saber parar.» Daí, porque retino a dupla aspereza, «crítica, polêmica e guer­ reira», do Condado e da Lorena — daí que eu não tenha aceitado placidamente a história dos vencidos de 1870. as suas prudêncías_\ vacilantes, as renúncias aaualaiterfõnna dclmtese, o culto laborioso, j nias^íntelec.LualmenJe preguiçoso, jdo_«fact.Q)h_jL...ess<L gosto quase} exclusív_q_.pelaJpstóiiâZdíplomótica («Ah, se a tivéssemos estudado melhor, não estaríamos neste ponto/») que, de Albert Sorei, esse semi-deus, a Émile Bourgeois, esse décimo de deus, obcecava os homens que nos ensinaram de 1895 a 1902; dai que eu tenha reagido instintivamente e quase sem apoio no campo dos historiadores (mas encontrava esse apoio nos meus amigos linguistas e onenialistas, psi­ cólogos e médicos, geógrafos e germanistas, de Jules Bloch e Henri Waliou, a Charles Èlondel, a Jules Sion, a Marcei Rav, enquanto os menos conformistas dos meus companheiros historiadores, com raras excepções, entre as quais a de Augustin Renaudct. aderiram sem mais. e achando-se ousados, ao estandarte ambíguo de Charles Seignoòos); daí que, pela minha parte, imediatamente me tenha ins­ crito entre os fiéis da Revuc de Synlhcse HísLoríque e do seu criador Henri Berr: nada de estranho em tal aventura. Senão isto, que qua­ lifica uma época: nem as minhas ousadias, nem os meus arrebata- mentos puderam fazer insurgir contra num tantos bons ânimos que gostavam de num e mo provavam em todas as ocasiões: penso em Gabriel Monod, em Chnstian Pfister, em Camille Jullian; em Gustave Bloch, também — e em Vidal de la Blache (que no entanto tinha }á feito, para si e para os seus sucessores, a sua própria revolução). A altiva Universidade desse tempo, uma aristocracia do coração e nada menos. E, nos grandes, uma benevolência actuante, uma fra­ ternidade. Portantoxorinfm n/L arena, fiz o juelhor _aue^.pude. Das coisas que fui capaz de dizer, ao longo de cinquenta anos, algumas que pare­ ciam audaciosas quando as formulei pela primeira vez, caíram no domínio comum. Outras continuam a ser postas em questão. A sorte do pioneiro é ilusória: ou a sua, geração lke-dá~Qua$e_Joiio razão e aFsorveji unC,grmul.(L£s forço, .col ectiyo. o_ zeu.ps forço. isolado de inves­ tigador; ou ela lhe resiste e deixa ã geração seguinte o encargo de fazer germinar a semente prematuranxeniejlqnçg.da_nos...regos, Esta a razão por que o sucesso prolongado de certos livros surpreende o seu autor: é que eles não encontraram o seu verdadeiro público senão dez, quinze anos após a publicação, e quando lhes chegaram apoios de fora. Foi um apoio, e uma grande segurança para mim, o descobrir, a partir de 1910, ao mergulhar no pequeno volume da colecção Flam- marion. As antigas democracias dos Países Baixos, depois nos pri­ meiros tomos da História da Bélgica, ã espera que surgissem as esplên­ didas memórias que foram o seu canto do cisne (Períodos da história 9 sociai do capitalismo, 1914; Maomé e Carlos Magno, 1922: Merovín- gios e Carolíngios, 1923: enfim, em 1927, essa jóia que é o livrinho sobre As cidades fia Idade Média), foi primeiro uma segurança, pouco depois uma alegria pessoal, saber que um homem forte percorria, com um passo igual e dominador, os campos da história da Bélgica amiga: Henri Pirenne, E: foi outra alegria quando, oito anos mais novo do que eu e jã, porlst próprio, orientado,de uma forma ligeira­ mente diferente, um jovem historiador veio, ombro a ombro, frater­ nal mente. prosseguir e prolongar o meu esforço no seu domínio de rnedievalista: Marc Bloch. Mas nos Annaíes que, apoiados desde o primeiro número pela fidelidade de Leuilliot,. fundámos juntos etn 1929, com, mais do que a bênção de Henn Pirenne, a sua magnífica colaboração — nesses Annalcs rapidamente conquistadores, â pri­ meira vista reconhecidos como salutares e vivos, como esquecer a parte de mérito que teve cada um dos que formaram â minha volta um circulo fraternal e caloroso. E que ainda o formam: não é ver­ dade, Fernand Braudel, evocador poderoso de um Mediterrâneo tão rico em ressonâncias, amanhã ousado promotor de uma história eco­ nômica renovada; não é verdade, Georges Fnedmann, analisa pene­ trante de almas individuais e colectivas, de Leibniz e Spinoza aos servidores anônimos da máquina — e você. Charles Morazé, desco­ bridor curioso e ardente de terras desconhecidas, intrépido na procura obstinada de métodos novos; vocês enfim, vocês todos, meus colabo­ radores, meus leitores, meus alunos e meus colegas dc França a do estrangeiro, cuja afeição exigente mantêm a minha força e sustenta o meu entusiasmo? Eu tinha de dizer isto, tinha de proclamar à cabeça desta recolha as minhas dívidas sentimentais para com tantos homens e lugares, e tantas casas que me acolheram: da Ècole Normalc Supé- rieure (1899-1902) e da Fcndaüon Thiers às Universidades de Dijon e de Estrasburgo: sem esquecer, entre tantas outras no Velho e no Novo Mundo, a Universidade Livre de Bruxelas, que me cedeu a sua cátedra durante um ano: finalmente, a jmrtir de 1933, este ilustre Collège de France. Foi sujjortada por estas tribunas que a minha voz consegui u fazer-se ouvir tão amplam ente. Possam estas páginas ligadas umas às outras, e, espero-o, tanto mais eloquentes, servir amda as causas que me são caras! Nestes anos enL.Q-áç__tantas angustias nos oprimem, não., quero repetircom 7o Micllelet do PcupieJovens.. e.yelhos,. estamos cansados». Cansados, os jovens? Tenho esperança que não. Cansados, os velhos? Não quero. Para lá de tantas tragédias e perturbações, grandes claríãaâes brilham no horizonte. No sangue e na dor, cria-se uma Humanidade nova. E /jortanto, como sempre, uma História, uma Ciência histórica à medida de tempos imprevistos prepara-se para nascer. Desejo que, antecipadamente, o meu esforço tenha sabido adivinhar e abraçar as suas direcções. E que os meus riachos possam dilatar o seu caudal. Le Souget, Natal de 1952. 10 ADVERTÊNCIA AO LEITOR Traíando-se de prolongar e de estender a influência de alguns artigos escritos, ao longo de meio secuio, para propagar e defendei idéias que se acreditavam e se'julgam ainda úteis, não se evitou; — nem praticar nos textos conservados algumas modificações de forma; — nem aliviá-los de considerações demasiado circunstanciais; — nem modificar certos títulos, para melhor sublinhar o espumo de um artigo; — nem mesmo (mas muito raramente), remeter o leitor para trabalhos posteriores e que permitem uma actualização do primeiro texto. Em contrapartida, resisüu-se á tentação de proceder a essa acíua- Iização. Também è salutar que os jovens historiadores que vão ler esto livro possam ter um seniimento exacto Ja evolução das ulcuiv ** da mudança incessante dos pontos de vista em História. Nau para que se envaideçam com essas transformações. Mas para que digam a si mesmos, com conhecimento de causa, que os seus esforços não serão cm vão. 1!

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