Copyright © Niall Ferguson, 2004 Todos os direitos reservados. Título original: Colossus – The rise and fall of the American empire Revisão: Tulio Kawata Diagramação: Nobuca Rachi Conversão em epub: {kolekto} Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ferguson, Niall Colosso / Niall Ferguson ; tradução Marcelo Musa Cavallari. – São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2011. Título original: Colossus Bibliografia ISBN 978-85-422-0035-5 1. Estados Unidos – Relações exteriores – 2001 2. Estados Unidos – Relações exteriores – Filosofia 3. Estados Unidos – Relações exteriores – Século 20 4. Imperalismo I. Título. 11-04088 CDD-327.73 Índices para catálogo sistemático: 1. Estados Unidos : Relações internacionais : Ciência política 327.73 2011 Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA PLANETA DO BRASIL LTDA. Avenida Francisco Matarazzo, 1500 – 3º andar – conj. 32B Edifício New York 05001-100 – São Paulo-SP www.editoraplaneta.com.br [email protected] Sumário Prefácio à Edição em Brochura Introdução PARTE I - ASCENSÃO Os Limites do Império Americano O Imperialismo do Anti-Imperialismo A Civilização dos Choques Multilateralismo Esplêndido PARTE II - QUEDA? Em Defesa do Império Liberal Indo para Casa ou Organizando a Hipocrisia “Intropério”: A Europa entre Bruxelas e Bizâncio A Porta que se Fecha Conclusão: Apêndice estatístico Agradecimentos Bibliografia A Velha Europa terá que se apoiar em nossos ombros e manquitolar ao nosso lado, sob as cangas monásticas de padres e reis, como puder. Que colosso haveremos de ser. THOMAS JEFFERSON, 1816 ... para mim, a força é minha maldição, e mostra ser a fonte de todas as minhas infelicidades; Tantas, e tão enormes, que cada uma sozinha precisaria de uma vida para ser chorada, mas a maior de todas, Oh, perda da visão, de ti é que mais me queixo! Cego em meio a inimigos, Oh pior do que correntes, Masmorra, ou mendicância, ou a idade decrépita! MILTON, Samson Agonistes Para John e Diana Herzog Prefácio à Edição em Brochura O assessor disse que caras como eu estavam “no que chamamos de comunidade baseada na realidade”, o que ele definiu como pessoas que “acreditam que soluções surgem do seu estudo judicioso da realidade discernível”. Balancei a cabeça, murmurei alguma coisa sobre princípios iluministas e empirismo. Ele me cortou. “Não é mais assim que a palavra realmente funciona”, ele continuou. “Nós somos um império agora, e, quando agimos, criamos a nossa própria realidade. E enquanto você está estudando essa realidade – tão judiciosamente quanto queira – nós vamos agir de novo, criando outras novas realidades, que você também pode estudar, e é assim que as coisas vão ser. Somos atores da história... e a vocês, a todos vocês, caberá apenas estudar o que fazemos.” RON SUSKIND, citando um “alto assessor” do presidente Bush1 “A história”, disse ele, dando de ombros, tirando as mãos dos bolsos, estendendo os braços e sugerindo com sua linguagem corporal que estava muito distante. “Nós não vamos saber. Estaremos todos mortos.” BOB WOODWARD, citando o presidente Bush2 Comecei a escrever este livro na crença de que os Estados Unidos, no mundo de hoje, poderiam ser mais bem compreendidos se comparados a impérios anteriores. Eu já sabia bem que a maioria dos americanos fica incomodada quando se aplica a palavra império ao seu país, apesar de que uma minoria influente (como confirma a primeira epígrafe acima) não fica tão inibida. O que eu não tinha compreendido totalmente, porém, até a primeira edição de Colosso ser publicada, era a natureza precisa da “negação imperial” como uma doença nacional. É, descobri, aceitável entre a esquerda americana dizer que os Estados Unidos são um império – desde que você lamente o fato. Também é permitido dizer, entre os conservadores, que o poderio americano é potencialmente benéfico – desde que ele não seja descrito como imperial. O que não é permitido é dizer que os Estados Unidos são um império e que isso pode não ser totalmente ruim. Colosso se propôs a dizer isso, e assim antagonizou tanto críticos da esquerda quanto conservadores. Os conservadores repudiaram o meu argumento de que os Estados Unidos são e, de fato, sempre foram um império. A esquerda ficou incomodada com a minha sugestão de que o império americano pode ter atributos tanto positivos quanto negativos. Como em Iolanthe, de Gilbert e Sullivan, também nos Estados Unidos hoje, ao que parece, espera-se que “Todos os meninos e meninas/ nascidos vivos no mundo/ ou são um pequeno liberal/ ou então um pequeno conservador!”. Eu, porém, temo que este livro não seja nem um nem outro. Eis, de forma simplificada, o que ele diz: 1. que os Estados Unidos sempre foram funcionalmente, se não conscientemente, um império; 2. que um imperialismo americano consciente pode ser preferível às alternativas disponíveis; 3. que as limitações financeiras, humanas e culturais tornam essa consciência altamente improvável; e 4. que, assim, o império americano, enquanto continuar a existir, vai continuar a ser uma entidade um tanto disfuncional. A defesa de um império americano em Colosso tem, portanto, duas partes. Primeiro, há os argumentos a favor da sua existência funcional; segundo, os argumentos a favor das vantagens de um imperialismo americano consciente. Por imperialismo consciente – tenha em mente, por favor –, eu nunca quis dar a entender que os Estados Unidos deveriam se proclamar deliberadamente um império e o presidente imperador; longe de mim. Simplesmente quero dizer que os americanos precisam reconhecer as características imperiais do seu próprio poder hoje e, se possível, aprender com as conquistas e os fracassos de impérios anteriores. Não é sensato manter a ficção de que existe algo completamente único quanto à política externa americana. Os dilemas enfrentados pela América hoje têm mais em comum com aqueles enfrentados pelos últimos césares do que com os enfrentados pelos Pais Fundadores3. Ao mesmo tempo, no entanto, o livro deixa claros os graves riscos de ser um “império em negação”. Os americanos não são totalmente inconscientes do papel imperial que seu país desempenha no mundo. Mas não gostam dele. “Acho que estamos tentando administrar demais as coisas pelo mundo”, disse um fazendeiro do Kansas ao autor britânico Timothy Garton Ash em 2003, “... como os romanos faziam”4. A esses sentimentos de desconforto, os políticos americanos respondem com uma afirmação categórica. “Não somos um poder imperial”, declarou o presidente George W. Bush em 13 de abril de 2004: “Somos uma potência libertadora”5. De todas as concepções erradas que precisam ser dissipadas, talvez esta seja a mais óbvia: a de que simplesmente porque os americanos dizem que eles não “estão nessa” de império, não pode haver algo como um imperialismo americano. No momento em que escrevo, soldados americanos estão envolvidos em defender governos instalados à força pelos Estados Unidos em dois países distantes: Afeganistão e Iraque. É provável que eles fiquem lá ainda por algum tempo; até o rival democrata do presidente Bush, John Kerry, deu a entender no primeiro debate presidencial dos candidatos em 2004 que, se fosse eleito, apenas “começaria a retirar os soldados em seis meses”6. O Iraque, no entanto, é apenas a linha de frente de um império americano que, como todos os grandes impérios mundiais da história, aspira a muito mais do que só o domínio militar ao longo de uma fronteira vasta e estrategicamente variada.7 Império também significa predominância econômica, cultural e política dentro dessa fronteira (e às vezes também fora dela). No dia 6 de novembro de 2003, no discurso para marcar o vigésimo aniversário do Fundo Nacional pela Democracia, o presidente Bush exprimiu uma visão sobre a política externa americana que, com toda sua linguagem wilsoniana, dava claramente a entender o tipo de missão civilizatória universal que é característica de todos os grandes impérios: Os Estados Unidos adotaram uma nova política, uma estratégia de avanço da liberdade no Oriente Médio ... O estabelecimento de um Iraque livre no coração do Oriente Médio vai ser um acontecimento divisor de águas na revolução democrática global ... O avanço da liberdade é o chamado do nosso tempo; é o chamado do nosso país. ... Acreditamos que liberdade é o desígnio da natureza; acreditamos que liberdade é a direção da história. Acreditamos que a completude e a excelência humanas vêm em resposta ao exercício da liberdade. E acreditamos que liberdade – a liberdade que nós prezamos – não é só para nós, é o direito e capacidade de toda a humanidade8. Ele reafirmou esse credo messiânico no discurso na convenção do Partido
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