PANTONE1525 PRETO Cervantes e a literatura brasileira Ivan Junqueira T odavezquerelemosElingeniosohidalgoDonQuixotedelaMancha, Poeta, crítico literário e ousemprequelemosesteouaqueleensaiopertencenteàinu- tradutor, merável plêiade de textos críticos que se escreveram sobre a obra- presidente da primadeMigueldeCervantesSaavedra,assalta-nosarenovadasensa- Academia Brasileira de çãodoquenelaexistenãoapenasderevolucionáriooudefundador, Letras mastambémdeeterno,deuniversal,decontemporâneoe,àsvezes,de (2004-05). Sua misteriosamenteindecifrável,comoseriaocaso,entreoutros,daquele poesia, desdeOs Mortos(1964) até episódioemqueDomQuixotedesceàcovadeMontesinos.Tudojá A Sagração dos sedissesobreoQuijote.Etudojáseescreveusobreasperegrinaçõese Ossos(1994), desventuras do engenhoso fidalgo manchego. Não estou aqui para está emPoemas Reunidos(Rio: enumerar, como tampouco para interpretar, uma fortuna crítica que Editora Record, superahojeacasadoscincomiltítulosemtodasaslínguasdecultura 1999) e em Poesia Reunida domundomoderno,masnãopossomefurtaraumastantasobserva- (São Paulo: A çõesquetalvezajudemacompreendermelhorasinfluênciasqueexer- Girafa, 2005). Conferência pronunciada na Sala Valle-Inclán, Círculo de Belas Artes, em Madri, em 19.6.2005. 7 Cervantesealiteraturabrasileira PANTONE1525 PRETO Ivan Junqueira Quixote visto por Gustave Doré (1863) “Foi ficando tão obcecado com a leitura, que passava as noites de claro em claro...” 8 PANTONE1525 PRETO Cervantes e a literatura brasileira ceuCervantessobrealiteraturabrasileirajáapartirdoséculoXVII,empleno florescimento do período barroco de nossas letras. UmadasrazõespelasquaisainfluênciadeCervantessetornouavassaladora nomundoocidentaléadequeeleocupaumpapelcrucialentreocrepúsculo daIdadeMédiaeaauroradaRenascença.AobradeCervantes,muitomaisdo que as de Chaucer e de Rabelais, situa-se numa encruzilhada, e sua decisiva contribuição à gênese do espírito moderno somente se compara àquela que nosdeuoteatroshakespeariano.Jásedisseaté,comoofezCarlosFuentes,em lucidíssimoensaioacercadosmúltiplosníveisdeleituraquesejustapõemno Quijote, que, “embora não tenham sido a mesma pessoa, talvez Miguel de Cer- vantesSaavedraeWilliamShakespearetenhamsidoomesmoescritor,omes- moautordetodososlivros”,suposiçãoque,nãofossemdistintosnaépocaos calendários da Espanha e da Inglaterra, encontraria apoio na coincidência de seremosmesmosodiaeoanoemqueambosfaleceram:23deabrilde1615. Assim como Shakespeare, Cervantes está acuado entre a maré montante da RenascençaeorefluxodaContra-Reforma,esólherestavaumaúnicatábua queconseguiriamantê-loàtona:ErasmodeRoterdã,cujavastainfluênciana Espanha do século XVII não é fortuita, cabendo lembrar aqui, como o faz CarlosFuentes,queaeducaçãoformaldeCervantesdevemuitoaJuanLópez deHoyos,umdosmaioreserasmianosdaépoca.EainfluênciadeErasmoso- bre Cervantes pode ser percebida em três temas comuns ao filósofo e ao ro- mancista:adualidadedaverdade,ailusãodasaparênciaseoelogiodaloucura. Operíododetransiçãohistórico-filosóficaeculturalemquesesituaaobra de Cervantes corresponde, portanto, àquele ponto de tangência entre a baixa IdadeMédiaeasprimeirasluzesdaRenascença.Eoquesignificaisto?Signifi- ca,comopretenderamdepoisTurguenieveUnamuno,queaderrotadeDom Quixoteéaderrotadafénummundojásemfé,ouoprotestodavidacontraa razão,oquecaracterizariaapersonagemcervantinacomoumheróidaféidea- lista contra o racionalismo utilitário. Apesar desse idealismo platônico, que temsuasraízesnoneoplatonismodeLeoneEbreo,Cervantesérealista,oque deuorigemàpossibilidadedeumaoutrainterpretaçãodomitocervantino:a 9 PANTONE1525 PRETO Ivan Junqueira deMenéndezyPelayo,paraquemoautordeQuijoteteriarestabelecidoosdirei- tosdarealidade,eoseucasoliterárioteriasidoassimanálogoaodoromance picaresco. E aqui se abririam as portas à tese de Américo Castro, segundo quemootimismodeCervantes,emboramelancólico,resultariadasuperposi- çãodoidealismoplatônico,queeledeveàsuaformaçãorenascentista,sobreo realismo picaresco, que resulta de sua origem plebéia. Cervanteséumidealistacujaconsciêncialheensinaqueasuaféépurailu- sãodiantedarealidade,eessaconvicçãochegaráàprofundidadedoidealismo filosóficodeumDescartesoudeumKant,quandoDomQuixotedizaSan- choPançaqueabaciadeumbarbeiroéoelmodeMambrino.Essaéabaseso- breaqualCervantesfoicapazdetransformaroseuprotesto,queeraoprotes- todeumhumanistaplebeucontraoBarrocoaristocrático,numavisãohumo- rísticadavida,efoiessehumorquelhepermitiuresolveracontradiçãoentrea prosaeapoesia,entreaficçãoeaverdade,entrearealidadeeailusão,ouseja,o problemaquelevariaàloucuraoautordamaiorobradacavalariacristã,oTor- quatoTasso,talvezomodelodaquelefidalgoenlouquecidopelaleituradasno- velasdecavalariaequesórecobraarazãoàsvésperasdamorte,quandoaféo abandona.Eaquisepodedizerque,paraumhomemdaestirpedeDomQui- xote, recuperar a razão equivaleria à suprema loucura. No momento em que sucumbe à “realidade convencional”, Dom Quixote, assim como Hamlet, é condenadoàmorte,emboracontinueaviverparasempreemseulivro,eape- nasemseulivro,ondeaspalavrassãosempreidênticasàrealidade,earealida- de apenas um prolongamento das palavras que ele antes havia lido, e agora transforma em feitos e ações. O fenômeno Cervantes é muito mais complexo do que se imaginava. Entendê-loapenascomoumrealista,eassimofizeramváriosdeseusintérpre- tes,écompreenderdeformalevianaesserealismo,quenelenãoéoresultado deumaoperaçãodoespírito,masantesummétodoparacorrigirofalsoidea- lismo,pararesgataraverdadeiracavalaria,adomilleschristianusdequenosfala Erasmo.Cervantesérealistaquandodescreveaspaisagens,oscostumes,oshá- bitoseocomportamentodaspersonagensquepovoamositineráriosdofidal- 10 PANTONE1525 PRETO Cervantes e a literatura brasileira “Onde estás, Senhora minha, que não te dói o meu mal?” gomanchego,erealistaétambémasualinguagem,todaelacalcadanalíngua do povo, como se pode ver sobretudo nos contumazes adágios populares de quesevaleSanchoemseusdiálogoscomDomQuixote,queatodoinstanteos recrimina,comoanosdizerqueoestilodeCervantesé,docomeçoaofim,o estilo idealista da Renascença, e esse estilo revela a tendência de acentuar-se cadavezmais.Nãofoiassimsemrazãoqueacríticaapontounaobradoescri- tordiversoselementosplatônicoserenascentistas.Eétambémcomrazãoque Joaquim Casalduero destaca visíveis indícios de um Barroco idealizado no pensamento de Cervantes, em especial nas Novelas Exemplares, que são todas, sem exceção, a expressão de um elevado idealismo moral, estritamente con- forme à moral severa e aristocrática da Contra-Reforma. E esse Barroco está presentenaatmosferafantásticaealgosombriadaúltimaobradoautor,Persiles y Sigismunda, cuja importância histórica é imediata, pois o pícaro se nutre do elementorealistadoBarroco.Avertenteidealistairáseprolongarnointelec- 11 PANTONE1525 PRETO Ivan Junqueira tualismorebeldedeGracián,enquantooelementorealistaculminaráemQue- vedo. A síntese, porém, é estritamente cervantina, ou seja, a conseqüência da derrota vital do homem antibarroco em plena vigência do Barroco. NinguémignoraaprofundaeduradourainfluênciaqueoDomQuixoteexer- ceunaliteraturaocidental.Afinaldecontas,Cervanteséocriadordoromance moderno,ejásedisse,comoofezoescritornorte-americanoLionelTrilling, que “toda prosa de ficção é uma variação sobre o tema de Dom Quixote”, ou seja,oproblemadaaparênciaedarealidade.Vamosencontrarsemelhanteopi- niãonocríticonorte-americanoHarryLevin,segundoquemoDomQuixoteéo “protótipo de todos os romances realistas” porque trata da “técnica literária da desilusão sistemática”. E para o ensaísta francês Michel Foucault o Dom Quixoteseriaosintomadeumdivórciomodernoentreaspalavraseascoisas, uma vez que Cervantes procura desesperadamente por uma nova identidade, umanovasemelhançanummundoemqueaparentementenadaseparececom o que antes parecia. A influência de Cervantes começa a manifestar-se ainda durante o século XVII, na Inglaterra, particularmente no Hudibras, do poeta satíricoSamuelButler,e,noséculoseguinte,emTheHistoryoftheAdventuresof JosephAndrewsandHisFriendAbrahameTheHistoryofTomJones,deHenryFiel- ding.EssainfluênciasecristalizaaolongodosséculosXVIIIeXIX,sendo visível especialmente em August Wilhelm Schlegel, Heine, Turgueniev, Gogol, Goethe, Stendhal, Flaubert e Dostoievski, que consideravam como temaprincipaldoDomQuixoteaqueleconflitoentreailusãoearealidade,a poesiaeoprosaísmodavida,asanidadeealoucura,oeróticoeoridículo,o visionário e o escatológico, mas nenhum deles conseguiu chegar à suprema conciliaçãodessespólosantitéticos,quenaobradeCervantessomentesedá através do humor, pois outra coisa não é senão o humor o recurso que har- moniza o diálogo entre o tom elevado e idealista do pensamento de Dom QuixoteeoregistroprosaicoeutilitáriodasponderaçõesdeSanchoPança, que “corrige” a loucura livresca a que foi induzido o seu amor pela leitura das novelas de cavalaria. 12 PANTONE1525 PRETO Cervantes e a literatura brasileira O Dom Quixote chega ao Brasil, como de resto em toda a América Latina, duranteoflorescimentodoBarroco,cujosconceitosepráticasforamtrazidos peloscolonizadoresportugueseseespanhóis.NaépocadaConquista,oBrasil sóconheceaIdadeMédiaeaRenascençagraçasaosseusdesdobramentoses- pirituaiseartísticos,comooforamoBarrocotardio,oManeirismoeoIlumi- nismo. E o Cervantes que nos alcança é o da vertente realista do Barroco, ou seja,aqueledeque,comojádissemos,sealimentaaliteraturapicarescaeasáti- ra dos costumes. Não surpreende assim que a primeira manifestação da in- fluênciadoDomQuixoteentrenóspossaserpercebidanopoetasatíricoGregó- riodeMatos,quedominatodaaliteraturabarrocaproduzidanoBrasilduran- teoséculoXVII.Emumpoemaescritoentre1684e1687,GregóriodeMa- tos,aoreferir-seàpresençadoCondedoPradonaplatéiaqueassistiaàsfestas em louvor das onze mil virgens, observa: Umaaguilhadaporlança Trabalhavaameiotrote, QualomoçodeDomQuixote AquechamamSanchoPança. Ainda neste mesmo poeta, há outra referência a Cervantes no soneto que ele dedicou ao “Tabelião Manuel Marques”, cujo verso final diz que este “ma- nhas tem de Dom Quixote”. E no século XVIII o dramaturgo Antônio José daSilva,cognominado“OJudeu”,condenadoàfogueirapelaInquisição,es- creveuaóperajocosaVidadeDomQuixotedelaMancha,compostaemduaspartes e que foi estreada em outubro de 1733 no Teatro Beira Alta, em Lisboa. MasoséculoXVIII,sobretudoemsuasegundametade,estádominadopela Ilustração francesa e o Iluminismo racionalista, que exerceram forte influência sobrealiteraturabrasileira,emparticularsobreosrepresentantesdoArcadismo edachamadaEscolaMineira,tendoàfrenteCláudioManueldaCostaeTomás Antônio Gonzaga, cujas matrizes e modelos pertencem à estética clássica de Anacreonte,Píndaro,Virgílio,Horácio,Ovídio,Sannazaro,PetrarcaeCamões. 13 PANTONE1525 PRETO Ivan Junqueira O Arcadismo bebe também em fontes espanholas, mas todas posteriores a Cervantes, como as do cultismo de Gôngora e do conceptismo de Quevedo e Gracián,emboraconceptistahajasidotambémLopedeVega,queécontempo- râneodoautordeDomQuixote.EaoArcadismosesegueentrenósoRomantis- mo,escolaliteráriaque,comotodossabemos,seopôsaoneoclassicismodosé- culoXVIII.DuranteesseperíodoarrefeceuointeresseporCervantesnalitera- turabrasileira,maslembre-seaquiqueparaissotambémcolaboraumatragédia queéapenasnossa,enãodaAméricaLatina.Refiro-meaotristefatodequeso- menteapartirde1808,comacriaçãodaImprensaRégia,équeteveinícioaedi- ção de livros no Brasil, enquanto diversos outros países hispano-americanos já dispunham de gráficas e impressoras desde o século XVI. Até então, o leitor brasileirosótinhaacessoaoslivrosimportados,oquevaledizerquedelesapenas fruíamaspessoasdasclassesmaisabastadas. A influência de Cervantes retorna à literatura brasileira com o advento do Realismo e do Naturalismo. Assíduo e atento leitor do Dom Quixote foi Ma- chado de Assis, o maior dentre os nossos escritores e patrono da Academia Brasileira de Letras, de que sou o atual presidente. Machado lia-o com fre- qüêncianumaediçãoanotadaporDomEugeniodeOchoa,publicadaemPa- ris pela Livraria Garnier. E mesmo antes da consolidação da estética realista, mais exatamente durante o período de produção da terceira e última geração romântica,eravisívelointeressedoescritorpelaobra-primacervantina,como sepodeobservarnumpoemadeexaltaçãoaoconhaquepublicadonaMarmota Fluminenseem 12 de abril de 1856, no qual se lê: Cognacinspiradordeledossonhos, Excitantelicordoamorardente, UmatuagarrafaeoDom Quixote Épassatempoamável. MachadodeAssisaludeaCervanteseaoDomQuixoteinúmerasvezesemsua obraficcional,particularmentenoromanceMemóriasPóstumasdeBrásCubas,de 14 PANTONE1525 PRETO Cervantes e a literatura brasileira 1881,noscontos“Teoriadomedalhão”,incluídoemPapéisAvulsos,de1882,e “Elogio da vaidade”, pertencente ao volume Páginas Recolhidas, de 1889, e em diversas crônicas de jornal publicadas na segunda metade do século XIX. Numa delas, datada de 1876, Machado de Assis propôs “a organização de umacompanhialiterária,noRiodeJaneiro,somenteparaeditarDomQuixote com as famosas ilustrações de Gustave Doré”. NoiníciodoséculoXX,esseinteresseporCervantesvê-serenovadograças aumafamosapalestradopoetaparnasianoOlavoBilac,depoispublicadaem espanhol e coligida no volume Conferências Literárias, editado pelo autor em 1906.EDomQuixoteestátambémpresentenapoesiadosimbolistaAlphon- sus de Guimaraens. Em 1936, outro notável leitor de Cervantes, Monteiro Lobato,publicaoseuDomQuixotedasCrianças,adaptaçãodaobraparaopú- blico infantil e que alcançou extraordinário sucesso de livraria. É de 1951 o ensaio “Com Dom Quixote no folclore do Brasil”, da autoria de Luís da Câmara Cascudo e que foi incluído na primeira edição integral da obra de CervantesentrenóspelaEditoraJoséOlympio,amaispoderosaeprestigiada do país naquela época. Nesse ensaio, Câmara Cascudo afirma, com base nas informaçõesdeRodríguezMarín,que,emprincípiosde1606,haviaemterras americanas cerca de 1.500 exemplares da edição da primeira parte do Dom Quixote, seguramente nenhum deles no Brasil. Ofascíniopelostemascervantinospodeseraindarastreadoemtrêsensaios deAugustoMeyer,asaber:“Aventurasdeummito”,emAChaveeaMáscara,de 1964, e “Un Cerbantes” e “Cervantes e a América”, em Preto & Branco, de 1956;emPintodoCarmo,autorde“RuiBarbosaeDomQuixote”;emOli- veiraeSilva,queescreveu“DomQuixoteeCarlitos”;emOsvaldoOrico,que nosdeixouumbeloestudodeliteraturacomparadasobreassimilitudesedes- semelhançasnavidaenaobradeCamõeseCervantes;emFranciscoCampos,au- torde“AtualidadedeDomQuixote”,de1951,demonstraçãodeumaagudae surpreendentesensibilidadepoéticadapartedeumjuristatidocomoautoritá- rio;emJosuéMontello,decanodaAcademiaBrasileiradeLetrasequeseocu- poudoDomQuixoteemalgunsdeseusvolumesdeensaios;eOttoMariaCar- 15 PANTONE1525 PRETO Ivan Junqueira peaux,acujapenasedeveoensaio“DomQuixotedeMigueldeCervantes”,es- critoem1973eincluídoem2005noprimeirovolumedeAsObras-primasQue PoucosLeram,bemcomoasmemoráveis páginasquenosdeixousobreoautor nosegundovolumedesuamonumentalHistóriadaLiteraturaOcidental,publica- daentre1959e1966.Alémdestes,forammuitososensaístasbrasileirosque se debruçaram sobre a obra de Cervantes, mas seria fastidioso relacioná-los aqui, pois esta conferência não se propõe à condição de uma fortuna crítica exaustivasobretudooqueseescreveunoBrasilsobreoDomQuixote.Epenso queoqueciteisejaosuficienteparaqueossenhorestenhamumadimensãodo imenso interesse que Cervantes sempre despertou no leitor brasileiro. TambémaprosadeficçãoqueseescreveuduranteoséculopassadonoBra- sil revela, em alguns casos, uma inequívoca influência do Dom Quixote. Prova dissoéoromanceFogoMorto,deJoséLinsdoRego,publicadoem1943eno qualapersonagemdocapitãoVitorinoCarneirodaCunhaéumaespéciede DomQuixotedosertãonordestino.Alémdeste,quatrooutrosficcionistasde- ixaram-seembeberpelostemascervantinos:DaltonTrevisan;AutranDoura- do; Lima Barreto, em Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), onde a persona- gemdoMajorQuaresmapropõeumprojetonacionalistadenítidainspiração quixotesca;eArianoSuassuna,particularmentenoRomancedaPedradoReino,de 1971,enaHistóriadoReiDegoladonasCaatingasdoSertão,de1976.Entreospoetas brasileiros contemporâneos que pagam algum tributo ao mito de Cervantes, lembrem-se Augusto Frederico Schmidt, autor de “A visita”, obra-prima de prosa evocativa em que o autor se imagina recebendo Dom Quixote em sua casa,ondelheconfessaasangústiaspessoaiseotemoressobreavidadopaís; ManuelBandeiraeCarlosDrummonddeAndrade,talvezomaiordentreto- dosospoetasdenossamodernidadeequenoslegou,sobotítulode“Quixote e Sancho, de Portinari”, um conjunto de 21 poemas originalmente escritos paraumlivrodeartecomdesenhosdograndepintorCândidoPortinariede- poisrecolhidosnacoletâneapoéticaAsImpurezasdoBranco,publicadaem1973. VimosassimcomoaobradeCervantespovoaoimagináriodospoetas,dos ficcionistas,doshistoriadores,dossociólogos,dosjuristasedoscríticosliterá- 16
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