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Cinema e Educacao PDF

109 Pages·1.291 MB·Portuguese
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Mas o cinema lhes era facultado e era por meio dele que vinha o pouco contato que tinham com outras realidades. Essas mulheres iam juntas ao cinema e o faziam quase sempre sem companhia masculina. Talvez compartilhassem fantasias de um amor romântico idealizado ou, quem sabe, buscassem um refúgio das tarefas repetitivas realizadas no ambiente doméstico.1  Assim, por contingências familiares, o cinema entrou na minha vida carregado de significações afetivas, trazendo consigo parte das memórias de minha avó e de minha mãe, dos momentos passados sem a companhia dos noivos ou maridos, na sala escura ou na de espera ao lado desta, ao som de um piano alemão. Vasculhando os guardados delas, ainda é possível encontrar exemplares, dos anos 1940 e 50, da revista Scena muda, uma das mais importantes nos assuntos de cinema da época e folhetos (como o que se segue) destinados a propagandear as virtudes do Cine Central: Eu era ainda bem pequena quando o cineasta Luís Sérgio Person chegou à minha cidade com atores, equipamentos e uma razoável equipe técnica, para filmar “O Caso dos Irmãos Naves” (1967), uma história baseada em fatos reais que relata a terrível injustiça cometida, em 1937, contra dois irmãos acusados de assassinato. Durante algumas semanas, Araguari se viu ocupada por aqueles sujeitos de cinema, tendo o galã Anselmo Duarte como centro das atenções (até muito recentemente pensava ter sido ele o diretor). Meu pai fazia figuração como escrivão de polícia e lembro-me de tê-lo ouvido contar, muitas vezes, como eram feitas as cenas de tortura no filme. Levei muitos anos para conseguir ver o filme, tal o horror que os relatos dessas cenas provocaram em mim, mesmo sabendo que era tudo “de mentira”, como meu pai insistia em afirmar. Vi-o, recentemente, e fiquei profundamente emocionada. Vi muitos filmes quando criança, a maior parte deles na televisão (nessa época o Cine Central já não existia), de madrugada, às escondidas. Não eram filmes para criança, com certeza, pois lembro-me de cenas lúgubres em preto e branco, do monstro criado pelo dr. Frankenstein andando pela floresta e matando, à beira de um rio, uma menininha indefesa; lembro-me do castelo do Conde Drácula, do médico que virava monstro, de raios e tempestades, galhos arranhando mãos, um homem na janela de uma casa à beira do abismo, olhares desesperados no convés de um navio que afundava, figuras de cera, assassinatos... Cenas que, mesmo confusas, são parte do que eu sou. Ia ao cinema, também. Via Tom e Jerry, desenhos do Walt Disney, filmes do Roberto Carlos. Mais tarde, as aventuras de James Bond, cowboys, romances melosos e, muito raramente, filmes brasileiros, porque estes eram, na minha adolescência, vetados às “meninas de família”. Tudo isso para dizer que minha paixão pelo cinema (como, de resto, a da maioria dos cinéfilos2) começou cedo e veio de longe. E, visto que não se pode amar o que não se conhece, depois de vir para o Rio, esse interesse me levaria a ver cada vez mais filmes, a ler sobre cinema, ouvir conferências, participar de debates e conversar com pessoas que tinham o mesmo interesse. Mas isso ainda não era suficiente. Há certos “sacrifícios” que se precisa fazer para ingressar no mundo dos cinéfilos – é preciso conhecer um pouco de história do cinema, ver os filmes consagrados, saber falar de técnica cinematográfica usando vocabulário adequado, identificar os diretores, as tendências, os movimentos; em suma, é preciso saber quem é quem e, sobretudo, aprender a gostar do que é para ser gostado e a detestar o que é detestável. Na minha época, isso incluía, por exemplo, ver filmes soviéticos e dos expressionistas alemães, em versão original, legendada em inglês (hirc!!), na Cinemateca do Museu de Arte Moderna. Tínhamos que enfrentar horas na fila para ver filmes raros, muitas vezes danificados, sentados no chão (por falta de espaço); ir para a porta do cinema duas horas antes da sessão da meia-noite para conseguir comprar um ingresso e coisas assim. Certa vez participei, no Estação Botafogo, de uma maratona de mais de vinte horas de exibição (durante dois dias inteiros) da série Berlin-Alexanderplatz, de Werner Fassbinder. Almofadas e pipocas ainda me vêm à memória sempre que ouço qualquer referência ao nome dessa praça alemã. Eram “tarefas” que, mesmo realizadas com imenso prazer, integravam estratégias de conquista de espaço em um universo que admirávamos incondicionalmente. Tarefas que passariam a ser menos complicadas com o videocassete – juntando informações, era possível organizar a filmografia de um “autor”3 ou a cinematografia de um país, ver tudo que estivesse disponível em vídeo e ir tomando nota. Com o tempo, já nem era preciso consultar as anotações, pois acabávamos desenvolvendo uma certa habilidade para guardar nomes, datas, referências que iam “naturalmente” sendo incorporadas ao vocabulário cotidiano. Tudo isso me ensinou a olhar o cinema de uma certa maneira e a construir com os filmes relações que eu não sabia possíveis. Aprendi a aprender com filmes, a usufruir mais intensamente da emoção que provocam, a interpretar as imagens, a refletir a partir delas, a reconhecer valores diferentes e a questionar os meus próprios. E o fato de essa experiência ter sido tão fundamental na minha formação (muito do que conheço do mundo, das culturas e das artes aprendi vendo filmes) é uma das razões pelas quais decidi estudar, academicamente, as relações das pessoas com o cinema. Este livro é produto de minha experiência com o cinema como espectadora, como pesquisadora e como professora. Nasceu das reflexões que venho fazendo sobre o papel desempenhado pelos filmes na formação das pessoas em sociedades audiovisuais como a nossa e do desejo de compartilhá-las com outros professores. Agradeço à Tânia Dauster, minha orientadora de tese, por ter acolhido prontamente minha proposta de estudar relações com o cinema em um doutorado em educação; ao meu companheiro Édison Moreira e aos amigos Leandro Konder e Joana Santos, pela valiosa contribuição na construção de minhas reflexões e na escrita dos meus textos; a Camila Leite, Maria Muanis e Luana Lemgruber, parceiras incansáveis nas discussões sobre o assunto, no curso de Pedagogia da PUC-Rio; à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelo apoio financeiro às minhas pesquisas; e ao coordenador desta coleção, Professor Alfredo Veiga-Neto, pelo generoso convite para que eu viesse a fazer parte dela. 1 Pesquisas de mercado indicam que, ainda hoje, as mulheres compõem a maior fatia de público de cinema no Brasil. 2 No mundo do cinema, cinéfilos são aquelas pessoas que desenvolvem uma relação muito intensa com filmes: veem de tudo, vão ao cinema regularmente, veem filmes em vídeo e na tevê, frequentam festivais e podem passar horas e horas discutindo o assunto com os amigos. Vamos voltar a essa questão em outros capítulos, analisando, inclusive, o modo como esse conceito foi forjado. 3 A ideia de autoria, no cinema, é tema bastante polêmico. Vamos tratar melhor disso mais adiante. A PEDAGOGIA DO CINEMA De acordo com o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1979), a experiência das pessoas com o cinema contribui para desenvolver o que se pode chamar de “competência para ver”, isto é, uma certa disposição, valorizada socialmente, para analisar, compreender e apreciar qualquer história contada em linguagem cinematográfica. Entretanto, o autor assinala que essa “competência” não é adquirida apenas vendo filmes; a atmosfera cultural em que as pessoas estão imersas – que inclui, além da experiência escolar, o grau de afinidade que elas mantêm com as artes e a mídia – é o que lhes permite desenvolver determinadas maneiras de lidar com os produtos culturais, incluindo o cinema. Significa dizer que, dependendo de suas experiências culturais e da “maneira de ver” do grupo social ao qual pertencem, onde uns veem um filme romântico com Leonardo di Caprio, outros verão um James Cameron exibicionista, em mais um produto do “cinemão” americano.4 Tomando essa análise como ponto de partida, somos levados a admitir que o gosto pelo cinema, enquanto

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