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Cinco ensaios sobre poesia PDF

105 Pages·1964·2.858 MB·Portuguese
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COLETÂNEA 2 Reservados os direitos de tradução, reprodução c adaptação. Copyright by Assis Brasil. Direitos de publicação do pre­ sente volume para o Brasil, Portugal e Colônias, reservados por A.G.R. DOR ISA, rua Alcindo Guanabara, 25 —1 s. 404 — Rio de Janeiro, GB. COLETÂNEA k M Apresentação de ASSIS BRASIL ÍNDICE ASSIS BRASIL Apresentação .............................................................................. 9 P lí i mu ira Parte Para que poesia? ............................................................................ 17 O poeta e seu mundo ................................................................... 35 Que é poesia? ..................................................................................... 55 Segunda Parte Concretismo e poesia brasPeira ..................................................... 71 Stéphane Mallarmé ............................................................................ 84 APRESENTAÇÃO Assis Brasil FAZ UM ANO E MEIO que o poeta e ensaísta Mário Fauslino morreu num desastre aéreo no Peru. Com trinta e dois anos de idade, deixou apenas um livro de poesia publicado (O Homem e sua Hora) e alguns excertos de uma obra em progresso, que foram lançados pela revista Invenção (junhoA963) e estu~ dados pelo ensaísta Benedito Nunes: "O poeta, que assume tôdas as coisas, para quem a vida é sempre per­ feita, porque ama a morte e aprofunda o sentimento trágico da existência, convertendo~o na aceitação ju~ bilosa do ser, fará do poema uma encarnação do Verbo, nova Galatéia, "contrafação de canto e eternidade’’, es- tátua que êle fabrica miticamente, na peça final de seu livro." Ê VASTA, no entanto, a obra que Mário Faustino deixou, nos cinco anos de atividade crítica, no SDJB (Suplemento Dominical do Jornal do Brasil); ensaios e estudos críticos de grande importância para o en~ saismo literário brasileiro, serão reunidos e publicados, na medida do possível, pelo editor GRD, que assim presta homenagem ao poeta e a nossa cultura. Nós, que nos encarregamos da empresa de selecionar os tra- balhos, e que compartilhamos com Mário Faustino uma árdua atividade crítica naquele Suplemento, estamos 10 ---- ASSIS BRASIL tendo nova oportunidade para apreciar a seriedade e erudição com que o poeta sempre tratava os assuntos ligados à arte. OS ENSAIOS, em número de cinco, inicialmente es- colhidos para formar essa primeira coletânea de Mário Faustino, têm no entanto uma unidade, por tratarem de assunto referente à Poesia e ao Poeta e, como o próprio Mário sempre admitia, têm um sentido didá­ tico, e seu endereço certo é o jovem poeta brasileiro. Salientemos logo que no Brasil o ensaio literário ■— por não ser ainda publicado pelas Universidades ■— nunca encontrou acolhida por parte de nossos edi­ tores. E o que se lamenta é a falta crucial — impli­ cação desse problema ■— de cultura por parte de nossos escritores. OS ENSAIOS aqui reunidos, formando duas partes, foram divididos em: Para que Poesia? O Poeta e seu Munclo, e Que é Poesia?, e a segunda parte abran­ gendo Concretismo e Poesia Brasileira, e Stéphane MalJarmé, Os trabalhos da primeira parte foram ela­ borados na forma dos diálogos imaginários de Gide, e são apaixonante estudo das relações do poeta com a sua percepção artística, com o mundo e com o seu meio social. Mário Faustino levanta e estuda uma série de problemas ligados à criação artística, e li­ gados, sobretudo, à criação de uma linguagem poética, tais como: "Que posição deve assumir o poeta perante a sociedade no seio da qual vive? Afinal de que serve a poesia? Que é poesia?”, e muitos e muitos outros de interesse atual, NA .SEGUNDA PARTE desta Coletânea, Mário Faustino, inicialmente, levanta o problema da poesia concreta, no ano de seu surgimento. Depois de ana- liar, sempre coerente e objetivo, a situação da poesia APRESENTAÇÃO — 11 brasileira na época (1957), destacando os poetas bra­ sileiros aparecidos depois de 1922, passa a justificar o movimento de vanguarda, declarando, no entanto, não ser um de seus prosélitos. Mas o apoiava e sempre o apoiou, por sentir a sua seriedade e prever o seu reflexo na poesia brasileira futura, A Coletânea se completa com um longo estudo sôbre a poesia de Stêphane Mallarmé, um poeta de sua predileção, e pela primeira vez analisado em profundidade no Brasil, Êste estudo é a aplicação, de alguns tópicos, da teoria poética consubstanciado na primeira parte deste volume. Na época cm que escrevia esses ensaios, por volta de 1957, entre os seus vinte e seis e vinte e sete anos, Mário Faustino dizia em entrevista, interrogado sôbre os problemas do poeta jovem: ‘Os problemas devem ser os mesmos das outras gerações: dificuldades eco­ nômicas (ter de trabalhar, fora da literatura bem mais do que dentro, para ganhar o panem nostrumj; falta de uma vida genuinamente artística, falta de emula­ ção, falta de debates (no Brasil quase todos os escri­ to, quando reunidos, ou não tocam em problemas literários ou então, se falam de literatura, é da maneira mais vaga e leviana ■— discussões de personalidades, troca de elogios, gratuitas afirmações de valor ou de intenção, frases feitas, detestáveis mots cTesprit. . .); falta de verdadeiras bibliotecas, universidades, museus, falta de revistas de cultura, falta de tradição filosófica, poética e crítica na língua, falta de um público inte­ ligente, concorrência desleal (talvez não haja país no mündo com tanta gente errada em lugares errados), etc. Um jovem poeta brasileiro, como eu, queixa-se, entre outras coisas, do nível infra-ginasiano, para não dizer primário, da maioria do que é publicado aqui em livros, jornais e revistas; das tolices que é forçado 12 — ASSÍS BRASIL a ler e a ouviv a respeito de sua poesia (elogios ou não), a respeito da arte e dos poetas que admira; da falta de amor à poesia, do egoismo e da vaidade que registra em muitos de seus colegas mais velhos, entre os quais raríssimo é aquele que forma escola, que realmente se interessa pelo progresso da língua e da arte —< vivem a pensar em self-promotion .— O jovem poeta queixa-se ainda da falta de profissionalismo econômico e ético; da péssima qualidade de quase tôda a nossa* crítica literária (sobretudo quando se mete a falar de poesia) de todos os tempos; um poeta jovem queixa-se, para resumir, de muita coisa. Mas con­ gratulasse, em compensação, por pertencer a um país jovem e épico, a um povo amante, vigoroso, resistente, humano e amável como poucos outros, por ter nascido nesta época extremamente propícia à grande poesia, por falar uma língua petenciaimente tão boa quanto qualquer outra e, em particular, por ver que as coisas, em nossa literatura, estão a olhos vistos mudando para melhor •—- está acabando o estrelismo, estuda-se mais e trabalhasse mais. Disso não tenho dúvidas.” Que estas palavras fiquem aqui como introdução a êsse livro póstumo de Mário Faustino; que os jovens poetas saibam aproveitar o seu exemplo de humildade, trabalho e rigor; que seus ensaios sirvam de iniciação poética às geraçes que vêm; que Edições GRD, depois do passo certo e positivo de divulgar as obras de Mário Faustino, encontre incentivo e apoio, para que outros trabalhos do poeta, igualmente importantes, venham a tomar a forma de livro. E terminemos esta apresentação, invocando o poeta, com Benedito Nunes:”... no meio-dia de sua fôrça criadora, o poeta Mário Faustino, que tanto dialogara com a Morte, foi por ela arrebatado em pleno vôo.” PRIMEIRA PARTE

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