CARTAS PAU LI NAS ANTONIO PITTA - - INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS BÍBLICOS - - /li EDITORA Y VOZES CARTAS PAU LI NAS ANTONIO PITTA FAJE Biblioteca Padre Vaz l llllll 111111111111111111111111111111 lllll lllll llll llll 011325898 Título: Cartas Paulinas. ataJogação na Publicação ~CIP) a do Livro, SP, Brasil) adução de lis, RJ: Vozes, 2019. - --• INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS BÍBLICOS --• o : introduzione alie lenere autoriali e interpretação 2. Bíblia. N .T. Epístolas Tradução de Leonardo AR.T dos Santos T. Epístolas de Paulo - Teologia CDD-227 tálogo sistemático: • EDITORA vo Testamento : Bíblia 227 Y VOZES ibliotecária - CRB-8/9427 Petrópolis 1 j BIBLIOTECA PE. A/ CARTAS PAULINAS ANTO N 1O PITTA FAJE Biblioteca Padre Vaz 1111111111111111111111111111111111111111111111111111111 011325898 Título: Cartas Paulinas. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pitta, Antonio Cartas paulinas / Antonio Pitta ; tradução de Leonardo A.R.T. dos Santos - Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. - - - INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS BÍBLICOS --• (Introdução aos Estudos Bíblicos) Título original: [evangelo di Paolo : introduzione alie lettere autoriaJi ISBN 978-85-326-6190-6 1. Bíblia. N.T. Epístolas - Crítica e interpretação 2. Bíblia. N.T. Epístolas Tradução de Leonardo A.R.T. dos Santos de Paulo - Comentários 3. Bíblia. N.T. Epístolas de Paulo -Teologia 1. Título. II. Sé~ie. 19-27018 CDD-227 Ih Índices para catálogo sistemático: EDITORA 1. Epístolas de Paulo : Novo Testamento : Bíblia 227 Y VOZES Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427 Petrópolis 1 1 BIBLIOTECA PE. VAZ © 2013 Editrice ELLEDICI Título do original em italiano: I:evangelo de Paolo - lntroduzione alie lettere autoriali Direitos de publicação em língua portuguesa - Brasil: Sumário 2019, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25689-900 Petrópolis, RJ www.vozes.com.br Brasil ~ Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios Apresentação da coleção original italiana - Manuais de introdução (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em à Escritura, 7 qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora. Prefácio, 11 CONSELHO EDITORIAL Diretor 1 Paulo, as cartas e os destinatários, 13 Gilberto Gonçalves Garcia 2 1T essalonicenses - O Evangelho e o encontro final com Cristo, 64 Editores Aline dos Santos Carneiro 3 1C oríntios - O Evangelho nas várias situações eclesiais, 86 Edrian Josué Pasini Marilac Loraine Oleniki 4 2Coríntios - A serviço do Evangelho da reconciliação, 125 Welder Lancieri Marchini 5 Carta aos Gálatas - O Evangelho da liberdade, 159 Conselheiros Francisco Morás 6 Carta aos Romanos - Jesus Cristo, o Evangelho de Deus, 193 Ludovico Garmus Teobaldo Heidemann Volney J. Berkenbrock 7 Carta a Filêmon - Gerar para o Evangelho no cativeiro, 249 Secretário executivo 8 Carta aos Filipenses - O progresso do Evangelho nas adversidades, 262 João Batista Kreuch Índice geral, 297 Editoração: Fernando Sérgio Olivetti da Rocha Diagramação: Sheilandre Desenv. Gráfico Revisão gráfica: Alessandra Karl Capa: Editora Vozes ISBN 978-85-326-6190-6 (Brasil) ISBN 978-88-01-04 709-7 (Itália) Editado conforme o novo acordo ortográfico. Este livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Ltda. Apresentação da coleção original italiana Manuais de introdução à Escritura Em continuação ideal com II Messaggio della Salvezza [A mensagem da salvação] e Logos [Logos], coleções que marcaram a divulgação e a forma ção bíblica nos estudos teológicos italianos depois do Concílio Vaticano II, em 2010 um grupo de biblistas decidiu, de comum acordo com a Editora Elledici, proceder à elaboração de um novo projeto. Nasce assim esta série de volumes, intitulada Graphé - Manuais de Introdução à Escritura. Ovo cábulo grego "graphé" indica, como termo técnico, aquilo que chamamos a "Escritura": com efeito, no Novo Testamento é comumente empregado, junto com o plural "graphái" [Escrituras], para indicar a coleção dos livros sagrados da tradição hebraica, aceitos também pela comunidade cristã e integrados com as novas obras dos apóstolos, centradas sobre Jesus Cristo. Além do título, evocativo do ambiente das origens cristãs, o subtítulo esclarece de que se trata. O objetivo visado pelo projeto é o de propor um curso completo de es tudos bíblicos básicos, fornecendo manuais úteis para os cursos bíblicos nas faculdades de teologia, nos seminários e demais institutos. Não se trata, por tanto, de pesquisas novas sobre assuntos particulares, mas do enquadramen to global da matéria, proposto de maneira séria e acadêmica aos estudantes que iniciam o estudo da Sagrada Escritura. Faltam também ensaios de exe gese específica, porque estes são deixados à iniciativa particular dos docen tes, que, assim, dentro da lição frontal, podem inserir os aprofundamentos sobre a base introdutória oferecida por esses volumes. Os autores dos vários volumes são biblistas italianos, comprometidos há anos no ensino da específica disciplina que apresentam; por isso, podem mais facilmente dirigir-se de modo realista aos efetivos destinatários da obra e propor assim, de maneira orgânica, cursos já realizados e, portanto, efeti zado em parágrafos não excessivamente longos e é marcado por numerosos vamente realizáveis nos atuais planos de estudo. pequenos títulos que ajudam a seguir a argumentação. O plano da obra prevê dez volumes com a divisão da matéria segundo os Em cada volume estão presentes algumas seções de bibliografia comen - habituais módulos acadêmicos. Determinam a moldura do conjunto o pri tada, onde se apresenta - sem as indevidas exigências de exaustividade - o meiro volume, dedicado à introdução geral, e o décimo, que oferecerá algu que é disponível no mercado atual sobre o tema tratado. Durante o tratado, mas linhas de teologia bíblica. Dos outros volumes, quatro tratam dos livros porém, as referências bibliográficas são o mais possível limitadas a algum do Antigo Testamento (Pentateuco, Livros Históricos, Livros Sapienciais e envio significativo ou circunscrito, não presente na bibliografia posterior. Poéticos, Livros Proféticos) e quatro introduzem o Novo Testamento (Evan Há milênios, a Escritura é testemunha do encontro entre a Palavra de gelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos, cartas de Paulo, literatura paulina e Deus viva e gerações de crentes que nesses livros encontraram motivos e cartas católicas, literatura joanina). alimento para sua caminhada. Esta coleção quer pôr-se hoje a serviço desse Cada volume procura apresentar de maneira clara o quadro global de re encontro sempre renovado e renovável. Aos que hoje, no século XXI, pre ferência para as várias seções bíblicas, propondo o estado atual da pesquisa. tendem pôr-se à escuta daquele que, através desses testemunhos escritos, De maneira geral, as componentes constantes de cada tomo são: a introdu continua a se manifestar, estes volumes querem oferecer os conhecimentos ção geral aos problemas da seção, depois a introdução a cada livro segundo a (históricos, literários, teológicos) adequados para fazê-lo. E, ao mesmo tem sucessão considerada escolasticamente mais útil e, por fim, o tratado dos temas po, são dirigidos também a quem não considera a inspiração mais alta, para teológicos importantes, mais ou menos transversais às várias obras do setor. que possam experimentar o valor dos testemunhos fiéis que a Bíblia contém e A articulação das introduções aos diversos livros varia necessariamente confrontá-los com as perguntas e as opções de seu pessoal itinerário de vida. segundo o tipo de volume; mas um elemento é constante e constitui a parte Claudio Doglio mais original desta coleção: trata-se de um guia à leitura,.,.n o qual o au or Germano Galvagno acompanha o leitor através de todo o texto, mostrando sua amiculações, Michelangelo Priotto seus problemas e seus desenvolvimentos. Longe de ser um simples resumo, constitui uma concreta introdução ao conteúdo e aos problemas de todo o livro, com a possibilidade de apresentar o conjunto do texto literário para fazer que o estudante capte a maneira em que o texto se desenvolve. O estilo dos textos é intencionalmente simples e claro na exposição, sem períodos demasiadamente longos e complexos, com um uso moderado de termos técnicos e raros, explicados e motivados caso por caso. As palavras em língua original, hebraica e grega, são propostas sempre em transliteração e o recurso a elas é limitado ao estritamente indispensável: a transliteração e a acentuação dos termos gregos e hebraicos respondem unicamente à exigên cia de legibilidade para aqueles que não conhecem adequadamente tais lín guas, sem contudo comprometer o reconhecimento dos termos para os com petentes. Onde, por necessidade, se usarem termos estrangeiros, sobretudo alemães, oferece-se a tradução; da mesma forma, as notas de rodapé são muitíssimo limitadas e usadas só para oferecer o indispensável documento daquilo que é afirmado no texto. Para facilitar a leitura, o conteúdo é organi- 8 9 Prefácio As sete cartas cuja autoria é atribuída a Paulo resistiram às intempéries da Escola de Tübingen (séc. XIX) que reconheceu sua autenticidade. Algumas dessas, como 2Coríntios e Filipenses, foram divididas em mais cartas, mas nunca colocadas em discussão, uma vez que compartilham o estilo epistolar e os sistemas argumentativos típicos de Paulo. Sem querer diminuir a inspi ração de todo o epistolário paulino, nas cartas autorais pulsa o seu coração de apóstolo, servo e prisioneiro por Cristo. O Evangelho de Paulo que é de Deus e se identifica com Jesus Cristo perpassa suas cartas, e em cada uma assume as diferentes nuanças que vamos especificar. A história e inte~pretação da teologia de Paulo é bimilenar e, um caso -1 único, começa já no Novo Testamento com as duas tradições que desenvol vem seu pensamento, os Atos dos Apóstolos e 2Pedro. Uma galeria de arte ideal recolhe retratos que o representam. O primeiro (F. Nietzsche) ou o segundo inventor do cristianismo (W. Wrede), que deturpou o pensamento de Jesus (J. Klausner) ou que o seguiu mais do que outros (A. von Harnack), o teólogo da justificação sem qualquer jactância humana (R. Bultmann) ou da participação vital na morte e ressurreição de Cristo (K. S tendhal), o após tata (D. Boyarin) ou o apóstolo de Israel, até mesmo o primeiro místico (A. Schweitzer) ou cientista político cristão (J. Taubes). Teólogos e filósofos de suma importância foram inspirados por ele: Marcião, Orígenes, Caio Mário Vitorino, João Crisóstomo, Agostinho, Pelágio, Tomás de Aquino, Erasmo de Roterdã, Martinho Lutero, João Calvino, Filipe Melâncton, Karl Barth, Jacques Maritain, A. Schweitzer, R. Bultmann, R. Guardini e H.U. von Bal thasar. O pensamento do Apóstolo não nos deixa indiferentes: a Paulo, ou se ama ou se odeia visceralmente! Em nossa introdução, seguiremos a ordem cronológica e não canônica das cartas paulinas, pois isso permite observar melhor as evoluções e cor- reções dos temas principais. O pensamento de Paulo não é um pensamento fraco, mas um pensamento forte e de ruptura com o que antes e depois dele foi dito e escrito sobre Jesus Cristo, Deus, o homem, o Espírito e a Igreja. Jesus Cristo e o homem são o duplo ponto focal de suas cartas. O amor de 1 Cristo e por Cristo e a sua paixão pelas pessoas levaram-no a evangelizar as grandes cidades do Império. Seu Jesus Cristo não pertence ao passado, mas está vivo e continua a apoiá-lo com sua graça. Não o Jesus pela metade dos Paulo, as cartas e os destinatários evangelhos gnósticos, que tendem a rebaixar a humanidade, mas o rico que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza, o crucificado por sua fraqueza e ressuscitado pelo poder de Deus, aquele que se fez pecado para que nele nos tornássemos justiça de Deus. E o homem não ideal ou perfeito, mas na carne que passa pelas dificuldades diárias de conformar sua vida à de Cristo. Um homem que poderia ter todas as riquezas e conhecimentos do Introdução mundo, mas que não é ninguém sem amor. Não uma Igreja abstrata, mas Se se prescinde de Jesus de Nazaré, o maior espaço do Novo Testamento composta de homens e mulheres que entram em desespero diante de mortes é ocupado por Paulo de Tarso, a tal ponto que, na esteira de F. Nietzsche, ele prematuras em suas comunidades, que cometem o pecado do egoísmo e foi chamado de o primeiro ou o segundo inventor do cristianismo. Voltare confundem o batismo e a Eucaristia com um simples culto de mistério, sem mos a esse lugar-comum que vez ou outra reaparece com ares de novidade, esperar uns pelos outros. Com todas as coordenadas históricas, que é im não obstante os desenvolvimentos da pesquisa sobre a história do cristianis portante conhecer para não as instrumentalizar, suas cartav ão de uma rea mo das origens. Em todo caso, deve-se a Paulo a primeira pregação cristã aos lidade desconcertante porque revelam o poder explosivo de seu ,Evangelho. gentios sem outras condições, exceto a fé em Jesus Cristo. Com ele, a sequela Uma nota sobre a enorme bibliografia sobre Paulo: no final de cada de Jesus é repensada na ótica da participação vital na morte e ressurrei capítulo, são mencionadas apenas as contribuições que parecem mais ção de Cristo. E o querigma ou a pregação da morte e ressurreição de Cristo úteis para examinar a carta em discussão. Trata-se de uma bibliografia se encontra no centro do seu Evangelho. Graças a seu impulso missionário, não exaustiva, mas essencial e fundamentada; caso contrário, um volume as comunidades cristãs se multiplicam em diversos centros urbanos do Oci separado seria necessário! dente: em Corinto e na Cencreia, na Acaia; em Tessalônica e Filipos, na A introdução às cartas paulinas, que tenho o prazer de entregar ao pre Macedônia; em Éfeso, na Ásia, perto de Ancira (atual Ancara); na Galácia lo, não pretende substituir conteúdos magmáticos de Paulo, mas é um guia Setentrional (atual Anatólia da Turquia) e em Colossos, na Frígia. para ler ou analisar o arranjo argumentativo. Será esse mesmo arranjo que Enquanto na sua vida pública de Jesus de Nazaré agiu nos vilarejos da oferecerá as coordenadas dos principais conteúdos das cartas paulinas. O Baixa Galileia, com Paulo o movimento cristão assume dimensões urbanas leitor terá o privilégio de se debruçar sobre as cartas de Paulo, estabelecendo dominantes, caracterizado por um impulso missionário sem par. Talvez sem as sintonias mais pessoais. Paulo, o movimento religioso, iniciado sob a condução de pessoas escolhidas por Jesus durante a vida pública, não teria cruzado o limiar da Palestina, já que é com ele que se coloca a alternativa entre a justificação pela fé em Cristo ou mediante a Lei e suas obras, como a circuncisão, as regras de pu reza alimentar e a observância do calendário judaico, com clara escolha pela primeira alternativa. 12 Nos Atos dos Apóstolos, Paulo desempenha o papel principal na missão Por sua vez, a disposição canônica das cartas paulinas segue um crité e na difusão do Evangelho: de Antioquia da Síria (cf. At 13, 1) a Roma rio de resumo quantitativo: do mais substancial (Romanos) ao mais curto (cf. At 28,31). A sua theologia crucis reverbera no Evangelho de Marcos, (Filêmon). Na verdade, a carta mais antiga é a Primeira aos Tessalonicenses que é o mais antigo (entre 65 e 70 d.C.), e sua visão de salvação ou sote (50-52 d.C.), e a crítica literária contemporânea distingue, com consenso riologia influencia substancialmente a do Evangelho de Lucas. A Primeira geral, as cartas autorais ou prolegoumena (1 Tessalonicenses, l-2Coríntios, Epístola de Pedro retoma, em termos gerais, o pano de fundo e vários temas Gálatas, Romanos, Filipenses e Filêmon), da primeira (2Tessalonicenses, do epistolário paulino, como a salvação em Cristo, a concepção do Espírito Colossenses e Efésios) e segunda tradição ou antilegómena das Cartas Pas e a geração dos crentes através da Palavra. E a Segunda Epístola de Pedro, torais (1 Timóteo, Tito, 2Timóteo). Mais do que falar em cartas autênticas e escrita no final do século I d.C., sai em defesa de Paulo contra aqueles que pseudoepistolográficas ou de escola paulina, preferimos falar em autógrafos instrumentalizam sua mensagem (cf. 2Pd 3,15-16). ou autorais e de cartas de tradição paulina, porque por trás destas não há Sem dúvida, o cristianismo das origens não pode ser reduzido a Paulo, "escolas" propriamente ditas, mas tradições de vida das Igrejas que tentaram já que inclui linhas posteriores condensadas no Evangelho de Mateus, na preservar e adaptar o pensamento de Paulo aos contextos eclesiais subse teologia do Quarto Evangelho e da tradição joanina (que inclui as três cartas quentes. A distinção não afeta a questão da inspiração bíblica, já que as epís de João e o Apocalipse), na Carta de Tiago e na Carta aos Hebreus. No en tolas da tradição paulina devem ser consideradas tão inspiradas quanto as tanto, esse "vaso de eleição", conforme definido em At 9, 15, é escolhido pelo autorais. Por outro lado, as questões sobre o cânon e sobre a inspiração Ressuscitado para propagar o Evangelho às fronteiras do Ocidente. Infeliz das fontes do Novo Testamento vêm no final do século 1 e o início do sé mente, nem todas as suas cartas foram preservadas: algumas foram perdidas culo II d.C.; e não se devem a nenhuma política central da Igreja da época, devido ao crescente antipaulinismo, que explode no século II d.C. com as mas ao consenso crescente nas e entre as Igrejas particulares. Na prática, a cartas Pseudoclementinas. Todavia, grande parte da história de dois mil anos formação do cânon do Novo Testamento deriva do uso litúrgico e catequéti da teologia cristã ganha consistência graças às cartas que che ám a nós. co dos escritos e não de imposições externas. No entanto, do lado histórico, a distinção entre as cartas autorais e as da tradição paulina é necessária devi Do cânon à formação histórica das epístolas do às diferenças de estilo, linguagem e conteúdo que as caracterizam. O cânon do Novo Testamento situa as Epístolas Paulinas depois dos No que se refere à Carta aos Hebreus, o discurso muda. Ela "não é para evangelhos e os Atos dos Apóstolos. A escolha se deve à evolução dos even os judeus (mas para os judeus cristãos da diáspora), não é de Paulo (mas de tos, vale dizer: de Jesus à Igreja e às cartas apostólicas. Todavia, do ponto de um autor anônimo) e não é uma carta (mas um discurso homilético sobre vista redacional, os escritos neotestamentários seguem uma cronologia dife o sacerdócio de Cristo)"1• Esse belo tratado ou "discurso sobre o sacerdó rente, porque o epistolário paulino foi redigido entre os anos 50 e 60 d.C., cio de Cristo" foi provavelmente composto pouco antes da destruição do enquanto os evangelhos sinóticos vão da segunda parte dos anos 60 até segundo Templo em um ambiente itálico (65-70 d.C.). Portanto, em nossa 0 final dos anos 80. Naturalmente, nós nos referimos ao nível editorial ou sin introdução, seguiremos um escaneamento cronológico e não canônico do crônico e não ao estratificado ou diacrônico das fontes do Novo Testamento epistolário paulino, para podermos detectar os desenvolvimentos e variações já que nos evangelhos são vertidas tradições anteriores às cartas paulinas: de conteúdo entre uma e outra carta. como a fonte O (a coleção de ditos e eventos dedutíveis de paralelos entre Mateus e Lucas, mas ausente em Marcos), boa parte das parábolas de Jesus e o chamado "Relato da Paixão", dedicado à exploração dos últimos dias da vida de Jesus. 1. VANHOYE, A. Structure and Message of the Epistle to the Hebrew. Roma: PIB, 1989, p. 5 [Subsidia Biblica 12]. 14 15 O curriculum vitae de Paulo gios desfrutados por Alexandria sejam concedidos e mantidos para Infelizmente, Paulo não menciona as coordenadas cronológicas de sua todos os judeus sob o Império Romano, eu, de bom grado, não existência: quando e onde ele nasceu, em que data o Ressuscitado lhe apa simplesmente para agradar os que o solicitam, mas também por receu nem empreendeu as três viagens missionárias, até a prisão que o levou que, na minha opinião, os judeus merecem que sua aplicação seja a Roma. Para reconstruir seu curriculum vitae é mister recorrer aos Atos aceita por causa de sua lealdade e amizade para com os romanos. dos Apóstolos que são também incompletos, uma vez que não é intenção de [ ... ] Por isso, é bom que os judeus, em todo o mundo sujeitos a Lucas elaborar uma biografia exaustiva de Paulo, mas apresentá-lo por meio nós, mantenham os costumes de seus pais, sem qualquer oposição. de eventos exemplares, como a principal testemunha de evangelização no No entanto, eles devem fazer uso de minha concessão benevolen Ocidente. Contudo, a cronologia imperial sobre os principados de Cláudio e te com um espírito razoável e não ridicularizar crenças sobre os Nero e sobre os procônsules das províncias romanas oferece pontos de refe deuses seguidos por outros povos, mas observar suas próprias leis rência bastante documentados. (19,287-290). Quando as relações com os judeus se deterioraram, Cláudio decidiu pro A cronologia imperial mulgar o decreto de expulsão de Roma, embora muito provavelmente esta Rei Aretas IV Filopator reinou sobre os nabateus de 8-9 até 39-40 d.C.: não tenha sido uma decisão de grandes proporções, capaz de causar um mais para o final do seu reinado pode-se colocar a fuga de Damasco, quando êxodo geral dos judeus romanos. O edital é confirmado na Vida dos doze Paulo foi procurado pelo governador do rei para ser capturado. O episódio é césares por Caio Suetônio Tranquilo, na primeira década do século II d.C.: contado, com poucas discrepâncias, em 2Cor l 1,32-33 e em At 9,23-25. Como "Porque os judeus constantemente perturbavam, por incitamento de Cresto, a primeira menção da fuga ocorre por volta dos anos 53-54, por ocasião da ele os expulsou de Roma" (Vida de Cláudio 25,4: "Judaeos instigador Chres redação de 2Coríntios, podemos remontá-la ao final do reinado de Areta IV. to tumultuantis assídua expulit Roma"). Portanto, é mais provável datar o No mesmo período, Paulo se lembra da visão e da revelação'tl arrebataclen to até o terceiro céu (cf. 2Cor 12,1-3), que ocorreu quatorze ;~os antes da decreto de expulsão em 49 d.C. do que em 41. O dado é confirmado pelas saudações finais de 1 Coríntios e Romanos. Em 1C or 16, 19 são enviadas de composição de 2Coríntios. Assim, em retrospecto, o encontro com o Ressus Éfeso as saudações a Áquila e Priscila: estamos em 53-54. E se em Rm 16,3-5 citado pode ser datado entre 35 e 36 (cf. 1C or 15,8, Gl 1, 15-16) e entre 36 e 39 sua permanência em Damasco (cf. Gl 1,21). Paulo envia saudações de Corinto a Priscila e Áquila, isso significa que a sua estada em Corinto foi transitória e voltou a Roma no início dos anos de paz O Imperador Cláudio emanou um decreto para expulsar os judeus, in clusive os cristãos, de Roma. O édito é mencionado em At 18,2, quando sob Nero (54-57 d.C.). No entanto, considere-se o impacto do decreto. É Paulo, chegando em Corinto, encontra o judeu Áquila e sua esposa Prisci1a, essencial observar que a menção a Chresto faz alusão aos judeus que aderi "seguindo a ordem de Cláudio, que distanciava de Roma todos os judeus". ram a Cristo e as incitações se referem a situações internas de turbulência e Alguns estudiosos propõem datar o decreto em 41 d.C., mas a hipótese não não externas à comunidade judaica e judaico-cristã de Roma. é muito sustentável, porque Cláudio, no início de seu governo, concedeu aos Finalmente, a inscrição grega de Delfos refere-se ao décimo segundo ano judeus os privilégios que Calígula, seu antecessor, revogara. Assim Flávio Jo sob Cláudio, imperador de 40 a 54 d.C., e ao proconsulado de Lúcio Júnio sefa recorda nas Antiguidades judaicas o édito favorável de Cláudio enviado Gálio Aniano na Acaia. O procônsul, irmão do filósofo Sêneca, é menciona a Alexandria do Egito: do em At 18, 12, quando, durante a primeira evangelização de Corinto, Paulo Cláudio César Augusto Germânico Pontífice Máximo com o poder foi levado ao seu tribunal pelos judeus da cidade, entre 51 e 52. Situa-se do tribunal, eleito cônsul pela segunda vez, diz: os reis Agripa e nesse período da pregação de Paulo em Corinto o envio de 1T essalonicenses. Herodes, meus queridos amigos, pedindo que os mesmos privilé- Desdobra-se, entre essas datas do século I d.C., a fascinante vida de Paulo. 16 17