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capitalismo, ciência e natureza: do ideário iluminista do progresso à crise ambiental contemporânea PDF

139 Pages·2017·0.95 MB·Portuguese
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RODRIGO DE SOUZA FERREIRA CAPITALISMO, CIÊNCIA E NATUREZA: DO IDEÁRIO ILUMINISTA DO PROGRESSO À CRISE AMBIENTAL CONTEMPORÂNEA Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós- Graduação em Extensão Rural, para obtenção do título de Doctor Scientiae. VIÇOSA MINAS GERAIS – BRASIL 2016 AGRADECIMENTOS À Universidade Federal de Viçosa, por franquear suas portas para a construção do saber. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo fornecimento das bolsas de estudos que permitiram uma dedicação plena à atividade acadêmica. Ao Departamento de Economia Rural, seus professores e funcionários, pelo trabalho em favor deste programa de pós graduação. À professora Maria Izabel Vieira Botelho, pelo apoio irrestrito a este trabalho e pela sempre gentil presença. Aos professores Eder Jurandir Carneiro, Edgar Pereira Coelho, Fabrício Roberto Costa Oliveira, Leonardo Civale, Paulo Gracino de Souza Júnior, Rennan Lanna Martins Mafra, Rubens Leonardo Panegassi, Wescley Silva Xavier e Willer Araújo Barbosa, pela leitura atenta deste trabalho em suas diversas fases e pelas relevantes considerações que estimularam um permanente amadurecimento das reflexões. A Josa, Heloísa e Paulo, meus amores, por tornarem essa caminhada mais feliz e cheia de esperanças. O perigo que ameaça a prática dominante e suas alternativas inevitáveis não é a natureza (...), mas sim o fato de recordar a natureza. (ADORNO e HORKHEIMER, Dialética do esclarecimento, 1944). RESUMO FERREIRA, Rodrigo de Souza, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, dezembro de 2016. Capitalismo, ciência e natureza: do ideário iluminista do progresso à crise ambiental contemporânea. Orientadora: Maria Izabel Vieira Botelho. Há um paradoxo fundamental na lógica operacional do sistema capitalista, que determina que este seja um sistema autodestrutivo. Esse paradoxo pode ser expresso pela seguinte equação: o consumo de recursos naturais é diretamente proporcional ao ritmo do crescimento econômico. Portanto, quanto mais efetivo é o sucesso do modelo econômico capitalista, mais intensa é a dilapidação dos seus próprios meios de reprodução, ou seja, mais perto ele se encontra da carestia e, logo, da ruína. Pari passu às transformações que determinaram a ascensão e a expansão do capitalismo como modelo econômico hegemônico, surgiu e se projetou também de forma hegemônica uma lógica de pensamento que respaldou e incitou a lógica operacional da exploração capitalista, não obstante todas as correntes contrárias. Essa lógica de pensamento, que pode ser traduzida como ideário (ou filosofia) do progresso, se assenta na ideia de que a expansão do saber científico e tecnológico é determinante para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, uma vez que viabiliza a ampliação da produção e do consumo de bens materiais. Ao admitir que a produção e o consumo são os indicadores máximos da prosperidade das nações e da qualidade de vida dos indivíduos, esta perspectiva infere que quanto maiores são os níveis de produção e consumo, mais próspera é a nação e, em última instância, mais felizes são seus cidadãos. Tornando-se hegemônica, essa lógica de pensamento se afirmou como a melhor expressão da própria racionalidade humana, legitimando todos os esforços voltados para a ampliação da capacidade produtiva e, logo, do consumo. Sob a égide do ideário do progresso, a ciência moderna se tornou um dos principais instrumentos da expansão capitalista. A especificidade da forma de produção do conhecimento científico estimulou (e estimula) incrementos técnicos sucessivos, que, em última instância, determinaram (e determinam) o ritmo do crescimento econômico e, logo, do escasseamento dos recursos naturais. Portanto, o ideário do progresso contribuiu decisivamente para a produção do cenário de crise ambiental contemporânea. ABSTRACT FERREIRA, Rodrigo de Souza, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, December, 2016. Capitalism, science and nature: from the enlightenment ideary of progress to the contemporary environmental crisis. Adviser: Maria Izabel Vieira Botelho. There is a basic paradox in the operational logic of the capitalist system, which determines it to be a self-destructive system. This paradox may be expressed by the following equation: the consumption of natural resources is directly proportional to the rhythm of economic growth. Therefore, the more effective is the success of the capitalist economic model, the more intense is the dilapidation of their own reproduction means, that is, the closer it is to scarcity, and soon, to ruin. Pari passu to the transformations that determined the ascension and expansion of capitalism as a hegemonic economic model, a logic of thinking which supported and incited the operational logic of capitalist exploitation also arose and projected in a hegemonic way, notwithstanding all the opposing currents. This logic thinking, which can be translated as ideary (or philosophy) of progress, is based on the idea that the expansion of scientific and technological knowledge is essential to improve the life quality of people, once it enables the production expansion as well as the consumption of material assets. When one admits that the production and the consumption are the maximum indicators of prosperity of nations and the life quality of individuals, this perspective infers that the bigger the levels of production and consumption, the more prosperous a nation is and, ultimately, the happier their citizens are. When this logic of thinking became hegemonic, it asserted itself as the best expression of human rationality itself, making all the efforts towards the expansion of productive capacity, thus, consumption as well, legitimate. Under the auspices of the ideary of progress, modern Science has become one of the main tools of the capitalist expansion. The specificity of the way of production of scientific knowledge stimulated (and still stimulates) successive technical increments which, ultimately, determined (and still determine) the rhythm of economic growth and, consequently, the scarcity of natural resources. Furthermore, the ideary of progress has contributed decisively to the production of the contemporary environmental crisis scenario. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1 2. O ADVENTO DA CIÊNCIA MODERNA E O DOMÍNIO DA MÁQUINA DO MUNDO.................................................................................................. 16 2.1. Da concessão divina à conquista pela ciência: faces do império humano sobre a natureza......................................................................... 20 2.2. E uma ciência de filósofos e técnicos nasce fora da universidade... 29 2.3. Quando o universo se tornou uma máquina..................................... 33 2.4. Por fim, uma ciência moderna: entre ganhos e reveses................... 41 3. SOB O PRIMADO DA RAZÃO: ELEMENTOS DO PROGRESSO ILUMINISTA.................................................................................................. 44 3.1. Ofensiva à verdade revelada: a racionalidade científica e o projeto secularização do pensamento.................................................................. 51 3.2. Produção material e mercado da felicidade...................................... 61 3.3. Jean-Jacques Rousseau e a reação romântica................................ 75 3.4. Capitalismo e ciência: uma caminhada entre otimistas e pessimistas............................................................................................... 87 4. ELEMENTOS DE UMA TRAJÉDIA ANUNCIADA: UMA REFLEXÃO PÓS-MODERNA........................................................................................... 90 4.1. O advento da modernidade e o ideário do progresso....................... 92 4.2. A ciência moderna no contexto do capitalismo................................. 100 4.3. A sociedade de consumo.................................................................. 107 4.4. Das artimanhas do consumo ao risco da carestia............................ 115 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 119 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 125 6.1. Obras utilizadas como material empírico.......................................... 125 6.2. Obras utilizadas como referencial teórico......................................... 128 1 1. INTRODUÇÃO Estava imerso de corpo e alma na busca das descobertas que esperava fazer. Só os que já sentiram o fascínio da ciência podem compreendê-lo. Em outros estudos é possível ir até onde outros já chegaram, e nada mais há para se saber; mas numa pesquisa científica há sempre margem para a descoberta e para a maravilha. (MARY SHELLEY, Frankenstein ou o Prometeu moderno, 1818). Em 1818, Mary Shelley publicou aquela que se tornaria uma das mais célebres obras da literatura mundial: Frankenstein ou o Prometeu moderno. O romance narra a história de Victor Frankenstein, um jovem e talentoso cientista, que, a partir de uma ousada pesquisa, descobre o segredo para criar a chama da vida. Então, em seu laboratório, ele monta um corpo humano de proporções descomunais e realiza o impensável: dá vida a um corpo inanimado. Entretanto, tão logo concretizada a proeza, que poderia revolucionar o mundo da ciência, Victor se enche de pavor diante da criatura hedionda que concebera. Diante da repulsa sofrida, a criatura resolve abandonar seu criador e vagar pelo mundo em busca de acolhimento, mas, a cada contato com os seres humanos, ela é rechaçada e agredida. Os recorrentes infortúnios enchem de ódio a criatura artificial, que decide se vingar da humanidade, a começar pelo seu próprio criador. Na sequência da trama, a criatura começa a assassinar os mais queridos entes de Victor, levando a desgraça e o amargor para a vida da família Frankenstein. Victor, por sua vez, toma como propósito eliminar a criatura, fruto de sua prepotência, passando a persegui-la obstinadamente pelos mais distantes confins do mundo. Nessa busca, Victor Frankenstein definha e morre na mais lastimável penúria. Na aurora do século XIX, quando a obra foi escrita, a ciência moderna se afirmava em definitivo como a forma de conhecimento à qual se atribuía a primazia para explicar os fenômenos da natureza, solapando, depois de séculos, o lugar de detentor da verdade da Igreja Católica. O sonho cartesiano de tornar o homem o “senhor da natureza” a partir do conhecimento científico se revelava cada vez mais plausível e a obra Frankenstein ou o Prometeu moderno leva ao extremo as expectativas que se descortinavam naquela 2 época. Ao mesmo tempo (e talvez nisso esteja a genialidade desta obra literária), ela coloca questionamentos éticos fundamentais sobre a ciência. Há (ou deve haver) limites para a criação científica? Há (ou pode haver) neutralidade na criação científica? Qual a responsabilidade do criador perante a criatura? É possível que a criatura (científica) se torne uma ameaça à existência do criador (humano)? Um salto de dois séculos demonstra o quão emblemáticas são estas questões. Os avanços alcançados por intermédio do conhecimento científico são, de fato, notáveis e colocaram à disposição do homem contemporâneo uma infinidade de artifícios, capazes de oferecer toda sorte de comodidades à sua vida, além de ampliar exponencialmente sua capacidade produtiva. No entanto, o ritmo de transformação da natureza decorrente desse processo tem colocado em questão a capacidade de recomposição do meio ambiente e, logo, de reprodução do próprio ser humano. Não estaria o homem contemporâneo diante do dilema de Victor Frankenstein, vendo sua fabulosa criação ameaçando a sua existência? Hoje, virtualmente todos concordam que houve uma séria degradação do ambiente natural em que vivemos, em comparação com 30 anos atrás, a fortiori em comparação com 100 anos atrás, para não falar de 500 anos atrás. E isto apesar de terem havido invenções tecnológicas significativas contínuas e uma expansão do saber científico, de que se poderia esperar que tivesse levado a conseqüências [sic] opostas. Resulta que hoje, à diferença de 30, 100 ou 500 anos atrás, a ecologia se tornou uma questão política séria em muitas partes do mundo. Há movimentos políticos razoavelmente significativos, organizados centralmente em torno da temática da defesa do meio ambiente contra mais degradação e da reversão da situação na medida do possível (WALLERSTEIN, 2002, p. 111). Para Porto-Gonçalves (2006), a problemática ambiental contemporânea está imbuída de um claro sentido ético, filosófico e político, à medida que coloca em questão os próprios limites da relação da humanidade com o planeta. Apesar disso, o autor denuncia que prevalece nos discursos atuais uma tendência a se tratar da questão ambiental a partir de uma perspectiva estritamente técnica, como se a ciência pudesse oferecer respostas para todos os desajustes oriundos do modo de vida moderno (capitalista). Segundo Porto-Gonçalves (2006), essa crença acrítica no potencial da técnica, que é tributária do ideário filosófico iluminista que se impôs ao pensamento ocidental desde a Revolução Industrial, camufla o fato

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Aos professores Eder Jurandir Carneiro, Edgar Pereira Coelho,. Fabrício Roberto Costa Oliveira, Leonardo Civale, Paulo Gracino de Souza. Júnior, Rennan . 4. ELEMENTOS DE UMA TRAJÉDIA ANUNCIADA: UMA REFLEXÃO.
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