unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP CARLOS EDUARDO MONTE A REESCRITA IRÔNICA DE ANGELA CARTER: “O QUARTO DO BARBA-AZUL”. ARARAQUARA – S.P. 2014 CARLOS EDUARDO MONTE A REESCRITA IRÔNICA DE ANGELA CARTER: “O QUARTO DO BARBA-AZUL”. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Mestre em Letras (Área de conhecimento: Estudos Literários) Linha de pesquisa: Teoria e Crítica da Narrativa. Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan Bolsa: CNPQ ARARAQUARA 2014 2 Monte, Carlos Eduardo A reescrita irônica de Angela Carter: \"O quarto do Barba-Azul\" / Carlos Eduardo Monte – 2014 172 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências e Letras (Campus de Araraquara) Orientador: Luiz Gonzaga Marchezan l. Contos. 2. Paródia. 3. Pós-modernismo (Literatura). 4. Carter, Angela, 1940-. 5. Perrault, Charles, 1628-1703. I. Título. 3 CARLOS EDUARDO MONTE AAA RRREEEEEESSSCCCRRRIIITTTAAA IIIRRRÔÔÔNNNIIICCCAAA DDDEEE AAANNNGGGEEELLLAAA CCCAAARRRTTTEEERRR::: “O quarto do Barba-Azul”. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Bacharel, Mestre em Letras (Área de conhecimento: Estudos Literários). Linha de pesquisa: Teoria e Crítica da Narrativa. Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan Bolsa: CNPQ Data da defesa: 30/04/2014. MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Prof. Dr. LUIZ GONZA MARCHEZAN Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. Departamento de Literatura. Membro Titular: Prof. Dr. SÉRGIO VICENTE MOTTA, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Instituto de Biocências, Letras e Ciências Exastas de São José do Rio Preto. Departamento de Estudos Linguísticos e Literários. Membro Titular: Prof. Dr. MÁRCIO NATALINO THAMOS Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências e Letras. Departamento de Linguística. Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Araraquara 4 À minha família, em especial, à minha esposa, Evelyn. E aos irmãos, Tony, Vera, Jorge e Bel, pelo apoio e incentivo constantes. Ao iluminado contador de coisas sérias, Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan, fonte de inesgotável inspiração. 5 AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Luiz Gonzaga Marchezan, pela disponibilidade em me orientar, pela paciência, compreensão e atenção constantes. Mas, sobretudo, pela capacidade singular de infundir cada vez mais o gosto apaixonado pela literatura em seus alunos. À Professora Doutora Maria Lúcia Outeiro Fernandez, com quem aprofundei a pesquisa no estudo do pós-modernismo, essa coisa eternamente incodificável. Às Professoras Doutoras Maria Célia Moraes Leonel e Maria Celeste Consolin Dezotti, pela contribuição valiosa oferecida nas disciplinas ministradas durante o mestrado, Aspectos na narrativa e Formas da fábula, respectivamente. Aos debatedores que, em dado momento, foram fundamentais para algumas escolhas. Agradeço enormemente ao Professor Doutor Arnaldo Franco Júnior; à Professora Doutora Sheila Pelegri de Sá; e à Professora Doutora Vera Lúcia Rodella Abriata. Aos membros da Banca Qualificadora e Banca de Defesa, pontuais em suas observações, pacientes diante de minha evidente incipiência, Professor Doutor Sérgio Vicente Motta e Professor Doutor Márcio Natalino Thamos. A todos os amigos, colegas e conhecidos que me incentivaram e me ajudaram com seus gestos e palavras de apoio. Agradeço, principalmente, àquelas pessoas que me responderam oficiosamente acerca das impressões que os contos de fadas engendraram em suas vidas. 6 A REESCRITA IRÔNICA DE ANGELA CARTER: “O QUARTO DO BARBA-AZUL”. Carlos Eduardo Monte RESUMO: O presente trabalho tem como escopo uma análise do conto contemporâneo de Angela Carter. Como ponto de partida, fizemos uma abordagem sobre algumas noções que permeiam a produção artística a partir da década de 60, do século passado, para, então, no capítulo primeiro, traçarmos alguns lineamentos sobre o conto como forma literária, observando os contextos em que Charles Perrault e Angela Carter produziram seus textos. Procuramos demonstrar características fundamentais não apenas destes autores, mas como a tipologia do conto, historicamente, pouco a pouco contribuiu para especificidade e sedimentação do gênero tal como o conhecemos hoje. Assim, classificações e formas de analisar seus procedimentos narrativos e discursivos permearam essa primeira parte de nosso estudo, quando nos deparamos com autores como Poe, Tchekhov, Maupassant, Joyce, Borges, Cortázar e Barth, entre outros. O segundo capítulo pretende melhor descrever uma nova abordagem da produção artística, pelo viés da pós-modernidade, quando elementos como saturação cultural, decadência, perda da energia, secundariedade e posterioridade, entre outros, canalizam para um novo ânimo produtivo, como observam teóricos como Moser, Jameson ou Lyotard, a quem recorremos, entre outros. A análise dessa descrição social permitiu-nos, como desdobramento do mesmo capítulo, chegar a algumas formas de arte que se sedimentam nesse novo contexto, fortalecendo tendências e vanguardas, tal como o feminismo, movimento a que se liga nossa autora. Interessa-nos, em particular, o atual conceito de paródia, conforme Linda Hutcheon, cujo texto, Uma teoria da paródia (1985), torna- se arcabouço fundamental em nosso trabalho. Tendo definido estes conceitos, destacando a relevância do uso da ironia para o trabalho da reescrita, partimos para o capítulo fundamental, em que o texto paradigmático de Charles Perrault, O Barba-Azul é comparado com seu hipertexto, O quarto do Barba-Azul, de Angela Carter. Para tanto, procuramos demonstrar a transformação do personagem, através do apagamento do arquetípico e do caricatural, para presidir um homem que se mistura socialmente; o deslocamento do protagonismo, com vistas à mulher que se firma como narradora de sua história; a sedimentação do literário, suplantando fragmentos da oralidade em Perrault, pelo desfazimento da moral como discurso interpretativo do conto, chegando à antimoral; observamos, também, os procedimentos discursivos como estratégia de uma escrita feminista, numa espécie de subversão narrativa; para, enfim, descrever o que entendemos tratar- se de uma transvalorização axiológica, a partir de um deslocamento da moral realizado dentro da ótica feminista. O capítulo final, destinado às conclusões, menos do que alinhavar os capítulos precedentes, procura focalizar a importância de Angela Carter dentro desse gênero camaleônico, que é o conto literário, onde certamente cada vez mais se fixará. PALAVRAS-CHAVE: Angela Carter; Charles Perrault; conto contemporâneo; paródia; reescrita; pós-modernismo. 7 ANGELA CARTER’S IRONIC REWRITING: “O QUARTO DO BARBA- AZUL”. Carlos Eduardo Monte ABSTRACT: Our goal with this research was constructed on an analysis of Angela Carter’s contemporary tales. From the bottom line we introduced an approach about some notions of her artistic productions-starting from the 60s of last century-for us to be able, in the first chapter, to start speculating about those tales, based on their literary forms, observing the contexts in which Charles Perrault and Angela Carter produced their texts. We expected to demonstrate fundamental characteristics, not only about these writers, but according to those tales' typology, constructed historically, step by step that contributed to gender’s specificity and fragmentation as we may live it, nowadays. This way, categorizations and forms to analyse some procedures used in narrative and discursive composition, surrounds this first part of our work, just when it allows us to mention Poe, Tchekhov, Maupassant, Joyce, Borges, Cortázar and Barth, among many others. The second chapter, intended to describe a new approach to the artistic production from a postmodern perspective when some elements as cultural satiety; decadence; loss of energy; secondariness and posteriority (surrounded by other possibilities), can point us to a new productive direction, as some researchers as Moser; Jameson and Lyotard (that represent a source for us) could have observed. The analysis of this social description allowed us in the development to reach some other forms of art, that compose all this new environment, reinforcing some tendencies and vanguards as feministic movement linked to the author. We were interested, particularly, in current parody’s concept, according to Linda Hutcheon, whose text: Uma teoria da paródia (1985), turned to a bases to this research. Due to these concepts, focusing to the relevance of irony, used to rewrite jobs, we keep on to reach our goal in the fundamental chapter, in which paradigmatic text is Charles Perrault’s: O Barba-Azul is compared to its hypertext, Angela Carter’s: O quarto do Barba-Azul. To achieve this goal we intended to demonstrate character’s transformations based on neutralization of archetypal to represent a man whom can be socially involved; this displacement, fulfilled with the woman as narrator of her own story, the sedimentation of literary, supplanting oral fragments in Perrault, due to undo of the moral as discursive interpretative of the tale reaching the anti-moral; also observing the discursive procedures as features of a feministic writing, in a kind of a subversive narrative; at last, to describe what we understand about an axiological transvaluation, from the point of a displaced moral accomplished inside feministic perspective. Our last chapter, destined to conclude our considerations (less to link to the following chapters) intended to focus Angela Carter’s significance inside this flexible genre which is literary tale, where it will be kept on. KEY-WORDS: Angela Carter; Charles Perrault; Contemporary tale; Rewritten; Parody; Postmodernism. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO. ONCE UPON A TIME… UM ZEITGEIST…....……...……........................11 1. O CONTO…………………………………………………………………………………….22 1.1. CONTO TRADICIONAL E CONTO LITERÁRIO……………………………………...…22 1.1.1. “For sale: baby shoes, never worn.”…………………………..…………………….........22 1.1.2. Esforços contativos……………………………………………………………………...…27 1.1.3. Diálogos da tradição…………………………………………………………………….…29 1.1.4. Quem conta um conto aumenta um ponto…………………………………………………32 1.2. LINEAMENTOS SOBRE A EVOLUÇÃO DO GÊNERO…………………………………36 1.2.1. Do conto ao conto…………………………………………………………………….……36 1.3. O ESBOÇO DO CAMALEÃO…………………………………………………………...…39 1.3.1. A circunstância atávica do contar………………………..………………………………...39 1.3.2. Passeando com artistas inspirados………………………………………………………....43 1.3.3. A forma clássica. A forma moderna. A teoria do iceberg, de Hemingway……………..…52 1.4. A CONTINUIDADE DAS VOZES……………………………………………………...….55 1.4.1. A estrutura do conto de fadas. O Barba-Azul, versão de Charles Perrault…………….…..57 2. A PRÁTICA ARTÍSTICA CONTEMPORÂNEA………………………………………....64 2.1. ONCE UPON A TIME... UM SPÄTZEIT...............................................................................64 2.2. OS CINCO ELEMENTOS DO SPÄTZEIT.............................................................................67 2.2.1. A perda de energia...............................................................................................................67 2.2.2. Decadência...........................................................................................................................70 2.2.3. Saturação cultural...............................................................................................................70 2.2.4. Secundariedade (ou o intertexto, o palimpsesto, a metaficção, etc)....................................72 2.2.5. Posterioridade......................................................................................................................75 9 2.3. A PARÓDIA COMO PRÁTICA REVISIONISTA................................................................78 2.3.1. A paródia no século sério: “Poetas imaturos imitam; poetas maduros roubam”...............78 2.3.2. Desdobramentos paródicos. O conceito em Linda Hutcheon……………………………...81 2.3.3. O referencial da ironia..…………………………………………………………………....87 3. O BARBA-AZUL E O QUARTO DO BARBA-AZUL………………………………….……91 3.1. O BARBA-AZUL: UM PERSONAGEM PARA LADIES E GENTLEMEN………..…….91 3.1.1. “Por que, diabos, o Barba-Azul não tira logo a barba?”……………………………...…91 3.2. A NARRADORA DE CARTER: UMA PROTAGONISTA POSICIONADA......................99 3.3. A MORAL E A ANTIMORAL…………………………………………………………….116 3.4. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ESTRUTURA NARRATIVA…………………….....130 3.5. UMA OPOSIÇÃO FUNDAMENTAL: WAGNER ENCONTRA DEBUSSY…………....135 3.6. A TRANSVALORIZAÇÃO TEMÁTICA…………………………………………………145 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................161 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......…………………………..………………………166 10
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