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Candomblés da Bahia PDF

102 Pages·2008·24.405 MB·Portuguese
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Ed1son Curne1ro foi, sem dü1'1da, dos últ1m~ repre~ntante.\­ e dos mais notclvm-de uma ~eraçdo que st debatia entr~ as estruturas acadimica.\ c a tradiçtlo cmptrico-vocacional Jnordcnadu, mas criutmJ, dominantes na sua tpoca. Ele micia com mvtjávd modtma e mvul~ar ~medade, na sua obra. uma no1a linha metodológica nos chamados estudos afro-bra.~llelro~. é.m Candomblés da Bah1a. Carneiro definiu um rotc1ro metodoi"'-'ICO que, desde entao, tem servido de ~iu básiCo para todos os prsqwsc1dores que, a partir daquela monowafia s1ngular. vtm estudando os candomblts da Bah10 e os cultos afro-bras!lmos em geral. De~e 1948, quando fot publicado em sua J• cd1çt1o, rstt: hvro despretensioso e logo tor nudo um clrusiCO tem sido referido como obra mdispensávtl de oricntaçdo c consulta A or~amzaçclo socwl dos terre!Yos; sua econom10; Candomblés da Bahia o simbol1smo de sua linguagem c de seu ntual, as hierarquias mrucas e o s1stema de controle intragrupal-, tudo ISSO esta ali, como um ~ia definitivo que tanto tem serv1do às anal1ses Edison Carneiro posteriores, parl'entura mais sofisticadas no grau de abstraçdo teórica e de ampl11ude temática. "Tentei ser claro, JUSto e objetivo", escreve Carneiro em sua nota introdutória. E assim fOI, com certeza, toda a sua clara etnografia, comprometida com o observado e o VIvido, Interpretando a trad1çt2o oral e proclamando os prínclpios da liberdade do culto, "sem o que a democrac10 ndo passa de uma palavra sem sentido" VIVALDO DA COSTA UMA Edison Carneiro, ttnlllogo, hiStoriador t folclori5((l, um dos ma1orts tstudlosos das ongtns c lnjlutnclliS do ntgm brasilrlm,Jm autor dt obras importantts, como O Qu1lombo dos Palmares, A salxdona popular, ladmos e cnoulos, Dmâm1ca do folclor(. Nasuu em 1912, rm Sah·ador (BA), ontk m~eiou sua sól1da carrrlra Foi, JUnto com )orgt Amado, Aydano do Couto Ftrraz t outros 1mportantts colrgas da "Acadrmia dos Rebtltks", um dos grandes dtftnsorts dos candomblts, consltkrados att tnt<lo "caso tk policia" Fixou rrsldtncla rm ISB.N 9l71-i1~-7 127-001-1 1939 no R1o tk )anmo, ondt velo a Jaltctr tm 1972. Entrt muitos prtmios, 'I rtctbtu o "Prtmw Machado dt AssiS", da Acadmna Brasileira tk !Ltras FOI um dos d~r<torrs <fundadores do "Campanha de r:kfrsa do Folclort", Jlll.l atualmtntt Museu dt Folclore Ed1son Camtim, do Mlllisttno da Cultura. Chtfwu a tkltga{<lo brasllma ao I o FtstH'al de Ants Negras, tm Dacar ~ ll'llifmartinsfontes RAÍZES Candomblés da Bahia Candomblés da Bahia Edison Carneiro Apresentação e notas de Raul Lody wmfmartinsfontes SÃO PAULO 20 19 DICE Ct>I'Y":.:ht C lOtJil, LwrarUr Martm' I out,.... [1iltora l.td11., St1o P,m/o, pam a prN'IIIt' ,.,ti,t11>. 8~ edição /99/ Cil·rli~·Un EJra,,/rrra 9~ edição 11N18 l<t"l''"'a r 'óuprn•J4:wtmdtl JtOr Philo11 Camt'lro 2~ tiragem 11119 APRESENTAÇÃO I Agô .. . XI Acompanhamento editorial Hf'lnw Cuimafil.ro.t Blltnwourt Preparaçdo do origine~ I PRIMEIRA PARTE I Os cultos de origem africana no Brasil Marin Fenumdtl All-'cln~ ffott>jo com oriRmal) Revisões INTRODUÇÃO . ................ .. . 5 lt'tmi Aparrcida Martms 01:nrim 1. O modelo de culto I 2. Irradiação I J. Um .fenômeno de cidade I Andréa Stn/re/ M. da Slfm Produção gr.Hica 4. Designaçcics I .5. Monoteísmo I 6. Características: a) A possessão Grraldo AI~>>< pela divindade: b) O caráter pessoal da divindade; c) O oráculo c o Paginação Moacir Kat5.umi Matsusnki mensageiro I 7. Áreas e tipos I 8. Subtipos I 9. Folclolização I lO. Permanência I li. O último reduto 112. Subcultura Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (0Pl (Câmara Brasileira do Uvro, SP, Brasil) Carneiro, Edison, 1912-1972. SEGU DA PARTE I Candomblés da Bahia Candomblés da Bahia I Edison Carneiro ; apresentaçAo e notas de Raullody.-9~ ed.-5.\o Paulo: Editora WMF Mar 33 lins Fontes, 2008.-(Raizes) INTRODUÇÃO . ISBN 978-85-7827-001-8 l. Candomblé (Culto)-Bahia (BA) 2. Candomblé (Cullo)- CAPITULO l .. ..... .. ... .... . 35 1-lislória 3. OrixAs I. lody, Raul. !1. lilulo. 111. Série. 1. Fisionomia geral da casa de candomblé I 2. A casa como habita 08-09898 CDD-299.6 ção - a luz e a água I J. Estudo das condições de habitação no En fndices para catáJogo sistemático: genho Velho 1. Bahia : Candomblés : Religiões de origem africana 299.6 2. Bahia : Orixás : Cullo : Religiões de origem africana 299.6 CAPITULO li .. 47 Todos os direitos desta ediçtio resen•llllos à Editorn WMF Martins Fontes Ltda. 1. Procedência africana dos candomblés 12. Os candomblés atuais I Rua Prof Úlerte Ramos de Carvalho, 133 01325-030 São Paulo SP Brasil 3. A obra do sincretismo I 4. Localização dos candomblés I 5. Anti Te/. (11) 3293.8150 e-ma i/: injo@u•mfmartinsfontes.com.br http://lmm~>.wmfmartinsfontes.com.br guidade do candomblé do Engenho Velho 16. Uma frase de Aninha CAPITULO IIl ................................ . · · 57 CAPÍTULO IX. . . . . . . . . . . . . ...................... . 127 I. Como se desenrola uma festa de candomblé 12. Pequenos incidentes 1. Os babalaôs I 2. Martiniano do Bonfim c fdrshcrw Sow::er I 3. Olhar com o Ifá I 4. A conwntncw dos chefes de wndomble I CAPITULO IV .................................... . 63 5. Os elu6s de hoje 1. Olorum, Zaniapombo, Oxalá I 2. Os mi.xás nagôs 13. As iaha.- I 4. Oçãe e Obá I 5. Exu I 6. Ibêji, os gêmeos I 7. Os voduns jcjrs I 133 NOTAS À MARGEM · · · · · · · · · · · · · · • · • · · · · • · · · · · • · · · · · 8. Dã I 9. Os inquices de Angola e do Congo I /0. Os encantados UMBANDA ............. ....... ........ ...•.....•. 139 caboclos I 11. Mar/im-Pescador I 12. Os presentes para a màr 145 MEMENTO NOMINUM · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · d'água 113. O caruru de Cosme e Damrclo I 14. A representaçclo dos VOCABULÁ.RIO DE TERY10S t.;SADO~ :"-OS CA:\Dm.IBU ~ DA B.\lllA .. . 149 deuses 115. Visão de conjunto 163 NOTICIA BIOGRAFI<..A Dl: EDI::,O;o-. CAR:"<EIRO ......... ..... . 169 NOTAS ............................ . .. .... . .. .. . CAPÍTULO v ......... ........ .......... ... . 87 1. A liturgia dos candomblés 12. As homenagens coletivas aos ori.xás I 3. Saudaçôes especiais 14. Os encantados pedem cachaça 15. Dan ças 16. A orquestra dos candomblés I 7. Ritos de pu1~[icação 18. Ma lembes 19. Salva o galo 110. Ingorõssi I 1/. Provas da possrssclo I 12. Repasws conwnais I 13. Distribuiçclo dos dias da semana entre OS OliXáS CAPITULO Vl ................... ....... ..... . 99 1. O caráter pessoal dos ori.xás I 2. A feiLUra do santo I .3. A com pra e a quitanda das iaôs I 4. O quelê, símbolo da sujeiçclo 15. Iaos c ebômins I 6. Posição da filha dentro do candomblé I 7. Condição social e econômica das filhas 18. Filhas de Aninha, de Maria Neném e de Flaviana CAPÍTULO VIl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... . 109 1. Os chefes dos candomblés 12. Pais e mães 13. A concorrência mas culina 14. Saudações devidas à mãe 15. O exercício da autoridade CAPÍTULO VIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 1. Divisão do poder espiritual nos candomblés 12. A mãe-pequena I 3. O axogum, sacrificado r de animais I 4. Os ogãs I 5. Filhas e filhos I 6. As equedes I 7. As abiãs,força de reserva 18. Um oficio de mulher I 9. Seniority IX APRESENTAÇÃO AGO Em língua ioru/Já, agõ quer dizer "licença". Então peço licença aos 01i.xás c ao candomblé da Bahia. Assim, com um agô, mergulha-se nesta obra fundamental de Edi son Carneiro, que recorreu a múltiplas fontes documentais para es crevê-la. Candomblés da Bahia dirige-se ao povo do santo e a todos os interessados nas relações entre África e Brasil, em especial a Bahia, por meio do sagrado, das muitas religiões tradicionais atualizadas cada vez mais como formas e expressões patrimoniais do Brasil. Edison Carneiro conta o que ele chama de cultos de oligem aflica na no Brasil, tendo como foco principal a Bahia, sua terra. Destaca-se, assim, um olhar diante do Recóncavo, onde se encontram as cidades do Salvador, Cachoeira, São Félix, Muritiba e tantas outras que expe rimentam no cotidiano inúmeras memórias africanas. E assim as pessoas se vêem e se reconhecem como afrodescendentes. O autor nos põe em contato com Nina Rodrigues, médico baia no que nos anos 1930 procurou entender a fé africana em terra bra sileira. Como todos os pioneiros, Nina Rodrigues merece leitura atenta, de modo que se entenda como o candomblé da Bahia acon tecia em período da forte repressão policial durante o Estado Novo. XI Além do candomblé em seu melhor estilo baiano, o livro apre a partir do século XVI na nova terra. chegando aos milhares para senta ao leitor uma diversidade de tipos e de formas religiosas. plantar e produzir açúcar, para as minas de ouro, para o café. e de Mostra-se o batuque de forma geral e em particular a macumba _ mais formas e tipos que desenvolveram tecnologtas e comercializa em alguns locais o termo macumba passou a ser alvo de muito pre vam nas ruas com os chamados ganhos, entre outras auvidades. conceno, como ocorria com o uso da palavra batucada. que signifi Despojados de seus símbolos, objetos, enfim, de representações ca qualquer manifestação musical e coreográfica de matriz africana materiais, trouxeram um grande legado, principalmente pela pala no Brasil. vra, pelo canto, pela dança, pelas inúmeras representações do cor Outra questão dominante nos estudos sobre as religiões africanas po, assim retomando fé, desejos religiosos e identidades vividas no no Brasil refere-se ao sistema social e sagrado dos iorubás/nagõs. outro lado do Atlântico. Esse sistema nasce das histórias dos orixás que representam os ele A economia mercantilista da Europa no século XVI incluiu de mentos da natureza e importantes personagens relacionados ao po cisivamente uma mercadoria: o homem em sua condição escrava, der hierarquizado em reinos e Cidades-Estados. Exemplo é o reino destacando-se entre os países dominadores Portugal e Inglaterra. O de Oió, cujo alafim mais notável foi Xangó, ou, ainda, o reino ele lfé resultado foi o desenvolvimento capitalista, que em sua esteira de com o reinado de Oxalá, entre outros. Assim, os orixás, são ampla exploração econômica acarretou a sujeição sociocultural dos povos mente popularizados e relacionados a processos de memória, identi dominados, assentando assim o imperialismo e a opressão. dade e principalmente de resistência afrodescendente. Nesse âmbito de interesses econômicos, o continente africano Edison Carneiro mostra que as maneiras regionais de viver as foi alvo de uma série de investidas que, da segunda metade do sé religiões africanas revelam lugares e referências étnicas em virtude culo XVI à primeira metade do XIX, serviram de cenário para o dos muitos grupos, povos, culturas da África Ocidental e da África transporte de milhares de homens e mulheres da África para o Bra Austral, trazendo os orixás, voduns e inquices. sil, reunindo diferentes etnias, contrastantes estágios culturais e di Além dos deuses que dominam os elementos da natureza, o tema ferenciados sistemas sociais, econômicos, políticos e religiosos. ancestralidade é fundamental aos sistemas sociais, hierárquicos e re Na intensidade do comércio transatlântico de escravos, muitos ligiosos dos africanos e de suas relações no Brasil. Assim, já nacional, aspectos dos interesses de Portugal e de comerciantes brasileiros o caboclo é a síntese do ancestral dono da terra, terra brasileira. estavam sujeitos às pressões internacionais, notadamente da Ingla Edison Carneiro aponta para a diversidade de modelos e das terra, que se opunha ao tráfico de escravos africanos. Não que hou chamadas nações, sistemas organizados a partir de referências etno vesse interesses humanitários; só por interesses comerciais. Mesmo lingüísticas e demais componentes sociais e culturais de povos que assim, o tráfico correu, fluentemente, de 1551 a 1850. experimentam seus legados no forçado processo do escravagismo O comércio escravagista pode ser compreendido em quatro no Brasil. grandes ciclos: Em ação afrodescendente, vêem-se novas formas de reunir, rea l. Ciclo da Guiné: segunda metade do século XVI. grupar segmemos na diáspora, buscando-se assim retomar, viver e 2. Ciclo de Angola-Congo: por todo o século XVII. adaptar memórias, transmitir sabedorias que as religiões legiti 3. Ciclo da Costa Mina: até o início da segunda metade do sé mam. Nesse cenário, reforçam-se as condições do homem africano culo XVlll. XII XIII 4. Ciclo de Benim: até metade do século XIX. ralmente determinados pelos cargos e funções, que vão do ser agri Crê-se que o total de escravos africanos no Brasil tenha chegado cultor, artesão ou sacerdote a ser um a/afim (rei), por exemplo. à cifra de quatro milhões. Uma força vital é permanentemente perpassada, seja nos exem Além dos grupos que buscavam na nova terra viver suas cxpc plos da cultura material ou em inúmeras expressões imateriais. A nências de memória em condição escrava, seguindo modelos e sis produção cultural realiza uma eficaz aliança entre os planos sagra temas organizados em diferentes religiões, o própno Estado Colo do e humano. É o caso das máscaras, esculturas, adornos diversos, nial buscou também reunir a grande população escrava e crioula pintura corporal, escarificações e outros, necessários para cada mo em Irmandades, segundo a ordem e o poder da Igreja Católica. Es delo étnico formalizar e manter sua unidade de grupo social e seu sas organizações conviviam com formas ele fé ancestrais, milenares, equilíbrio cotidiano, justificando os ciclos e as passagens que profundamente integradas aos mitos, heróis, reis, personagens transgridem o próprio cotidiano. fundamentais ao que se quer chamar de penencimento social e A deidade da natureza e as expressões dos antepassados têm efi cultural na afrodescendência. cácia no controle e guarda da própria sociedade, dizendo da vida c Nos diferentes processos históricos, sociais e econômicos, o da morte. candomblé assumiu o significado de núcleo de africanidade no Os conceitos de Deus, divino e antepassado se multiplicam, na Brasil, em especial na Bahia. Independentemente das nações, das variedade c especificidade de ações peculiares a cada mito ou elen mitologias, dos rituais de iniciação, das diferentes liturgias e rituais co de mitos. Assim, a energia da natureza e dos reis e heróis divini fúnebres, entre outros, há um grande modelo consagrado para o zados são alguns dos principais motivos do plano do sagrado, ínti Brasil que é o candomblé da Bahia. mo e cotidiano para o homem africano. Essa presença está na casa, A Bahia ganhou um significado exemplar do que é africano no no santuário, no comércio, nas tarefas, nos campos, nos rios, no Brasil, assumindo um lugar de referência e de matriz, certamente a mar, no desenvolvimento de técnicas artesanais e nas formas lúdi mais próxima do modelo africano. Contudo, o sistema escolhido e cas, desenhando dessa maneira o próprio ser cultural. assumido como representante é o candomblé. Tudo isso marca a história e a ação do homem africano, prota Embora eminentemente religioso e constituído por papéis hie gonista e autor dos seus próprios caminhos como indivíduo, cole rarquizados de homens e mulheres, o candomblé assume sua voca tividade, civilização. ção de reunir e de manter memórias remotas e outras próximas, re ferenciando culturas, idiomas, códigos éticos e morais, tecnologias, Três grandes modelos sociorreligiosos ganham os espaços na culinária, música, dança, entre tantas outras maneiras de manter Bahia e no Brasil, reconhecidos nas nações Queto/lorubá/Nagô, identidades, de situar e manifestar cada modelo, nação. jeje/Nagô de base fon/ewe e iorubá, e Angola!Congo ou Moxicon Sem dúvida, a fundamentação religiosa norteia o homem africa go. São referências dos grandes e contínuos processos de reinos, de no no que ele testemunha materialmente ou em seus múltiplos mi cidades sagradas como lfé, Nigéria, para os iorubás, como também crossistemas de poder não só temporal mas também ritual-religioso. o reino de Queto, Benim, ainda para os iorubás. Esses modelos que Os modelos africanos encontram sustentação na história oral, forte e concentram memórias tradicionais e especialmente mitologias dos predominante, em que regras e papéis de homens e mulheres são ge- orixás, dos vocluns e dos inquices revivem nos candomblés matri- XIV XV zes africanas incluídas no nosso cotidiano brasileiro. aqui do outro Nação Angola-Congo (banto): lado do Atlântico. Nação de Caboclo (modelo afro-brasileiro). O candomblé assume, então, a função de manutenção de uma Edison Carneiro alerta para a ênfase dos estudos sobre os ioru memória reveladora de matrizes africanas ou já elaboradas como bás, destacando que os povos bantos chegaram primeiro e em afrodescendentes, criadoras de modelos adaptativos ou mesmo maior quantidade e que sua importância como matriz é fundamen embranquccidos- nos casos em que a religiosidade brasileira oficial tal à compreensão da afrodescendência. o participa definitivamente desse sistema. autor reforça o sentido de pólo irradiador das religiões africa A identidade do candomblé segue soluções étnicas chamadas nas no país com o iorubá, contudo aponta e destaca as nações An de nações de candomblé. Não são, em momento algum, transcultu gola e Congo na formação das religiões de matriz africana. Sem dú rações puras ou simples: são expressões e cargas culturais de certos vida, há uma fone tendência a ver a Bahia, especialmente a cidade grupos que viveram encontros aculturativos intra- e interétnicos, do Salvador, como um amplo e diverso modelo do que seria o mais tanto nas regiões de origem quanto na acelerada dinâmica de for próximo e legítimo nas relações com o continente africano, muitas mação da chamada cultura afro-brasileira. vezes considerado mãe Africa - reunindo dessa maneira sentimen Quem ocupou maciçamente o Brasil foram os sudaneses oci tos idealizados de matriz, de território que reúne todas as identida dentais, nagó (iorubá) e jeje (fon) -destacando-se a evidente isla des e os saberes tradicionais que buscam recuperação no dinâmico mização desses e de outros grupos que ainda hoje habitam a região processo da diáspora, do crescente abrasileiramento. do golfo de Benim - , e os africanos austrais- destacando-se entre Ampla, diversa e complexa é a diáspora em lugares tão distintos eles os bantos divididos em muitos grupos étnicos. nos processos de africanizar em novos lugares, construindo assim O agrupamento e a identificação dos muitos grupos étnicos deu novos territórios. se com o reconhecimento de suas línguas, critério também utilizado Não só de candomblé, porém, é a vida religiosa afro-brasileira hoje no estabelecimento das nações de candomblé. Os termos reli apesar dos Xangôs de Sergipe, Alagoas e Pernambuco; Casas Minas giosos, os nomes gerais para os alimentos, roupas e deuses, as his no Maranhão e Pará; Babassuê e Tambor ainda no Pará; Catimbó tórias e os cânticos rituais, entre outros, quando ouvidos em ewe, na Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. indicam que o terreiro tende a seguir o modelo jeje; ouvidos em io Ao lado da umbanda, que é nacional, dos batuques do Rio Gran rubá, indicam um provável modelo das nações Queto e Nagó. de do Sul e até de um fenômeno bem recente, o saravá, em Mato Assim, os modelos chamados nações foram organizados a partir Grosso, acrescentando a mesa da Jurema e o xambá, no Nordeste, de semelhanças principalmente lingüísticas. está o candomblé como o modelo religioso mais difundido, e suas Hoje, o candomblé apresenta a seguinte divisão: informações são velozes, dizendo mais da estética que da liturgia. Nação Queto-Nagó (iorubá); Cada modelo religioso apresentado é tema de longa análise no Nação jexá ou ljexá (iorubá); livro, com elaborada organização, compreendendo cargos hierár Nação jeje (fon); quicos, mitologias, alimentações votivas, indumentárias, músicas, Nação Angola (banto); calendários de festas e obrigações, vocabulários e rituais de inicia Nação Congo (banto); ção e fúnebres. XVI XVII

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