Obra-prima da lírica inglesa, as Canções da Inocência & da Experiência [Songs of Innocence & of Experience], escritas e ilustradas por William Blake (1757-1827), foram publicadas em conjunto pela primeira vez em 1794. Organizadas segundo o princípio geral de demonstrar o contraste entre os estados da inocência (a infância, o idealismo, a alegria, a mansidão do cordeiro) e da experiência (a desilusão, a opressão, a hipocrisia, a ferocidade do tigre), as Canções são um bom exemplo da visão dualista que perpassa o universo de Blake. Para o autor, inocência e experiência são dois estados contraditórios, mas também complementares, da existência. Participam da Criação e são necessários um ao outro, pois, conforme afirmou em seu Casamento do céu e do inferno, “sem contrários não há progresso”. Numa visão arquetípica da existência, não os enxerga como qualidades abstratas ou conceitos, mas como forças ativas e estados psíquicos. Com as Canções, Blake transformou as baladas e rimas populares destinadas às crianças de sua época em alguns dos mais altos momentos da lírica inglesa e universal, ao mesmo tempo em que compôs uma alegoria capaz de apreender e expressar alguns dos diversos estados físicos, psíquicos e espirituais da alma humana.