ebook img

Caminhos da liberdade. História da abolição e do pós-abolição no Brasil PDF

529 Pages·2011·8.37 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Caminhos da liberdade. História da abolição e do pós-abolição no Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor: Roberto Sousa Salles Vice-Reitor: Sidney Luiz de Matos Mello Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Antônio Claudio Lucas de Nóbrega Assessora de Comunicação e eventos: Ana Paula Campos Coordenação do Programa de Pós-Graduação em História: Maria Fernanda B. Bicalho e Carlos Gabriel Guimarães Revisão: Sheila Louzada Diagramação: Gabriel Brasil Nepomuceno Produção: Carolina Vianna Dantas Capa: André Castro C183 Caminhos da liberdade : histórias da abolição e do pós-abolição no Brasil / Martha Abreu e Matheus Serva Pereira (orgs.) . – Niterói : PPGHistória- UFF, 2011. 528 p. ISBN 978-85-63735-027 1. Escravidão.2. Abolição da escravatura. 3. Liberdade. 4. Brasil. I. Abreu, Martha. II. Pereira, Matheus Serva. CDD 981.0435 Organizadores MARTHA ABREU MATHEUS SERVA PEREIRA CAMINHOS DA LIBERDADE: HISTÓRIAS DA ABOLIÇÃO E DO PÓS-ABOLIÇÃO NO BRASIL 1ª Edição Niterói - RJ PPGHISTÓRIA-UFF 2011 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO - Martha Abreu e Matheus Serva Pereira 6 ABERTURA 9 Os abolicionistas brasileiros e a Guerra de Secessão - Maria Helena 10 Pereira Toledo Machado Domingo, dia 13: O underground abolicionista, a tecnologia de ponta 29 e a conquista da liberdade - Eduardo Silva CAPÍTULO I - O FIM DO TRÁFICO E A EXPERIÊNCIA ESCRAVA 38 Outras dimensões do Infame Comércio: As perspectivas de liberdade no contexto da ilegalização do tráfico de africanos - Thiago Campos 39 Pessoa Lourenço (UFF) A lei de 1831: debates e representações dos escravos africanos 57 - Flávia Campany do Amaral (UFF) Os africanos livres na Casa de Correção: trabalho e escravidão 67 como eixo de pesquisa - Gustavo Pinto de Sousa (UERJ) Conflitos e estratégias sociais em torno da liberdade: famílias escravas 76 em Mangaratiba no século XIX - Manoel Batista do Prado Junior (UFF) A economia à margem do Vale do Paraíba: o papel da cachaça no 95 litoral sul fluminense – século XIX - Camila Moraes Marques (UFF) Os usos sociais das leis de 1761 e 1773: Negociação e resistência na segunda metade do século XVIII – Brasil colonial - Ana Carolina 107 Teixeira Crispin (UFF) CAPÍTULO II - PROJETOS DE LIBERDADE 127 Famílias negras: Santa Maria, século XIX - Letícia Batistella Silveira 128 Guterres (UFRJ) Paternalismo e Liberdade no norte de Minas Gerais Oitocentista 143 - Rodrigo Castro Rezende (UFF) Gestão populacional e conflito no oitocentos: o recenseamento 164 frustrado em 1852 - Renata Franco Saavedra (UNIRIO) Entre a escravidão e a liberdade: casos da fronteira sul do Brasil e seu impacto nas relações diplomáticas com o Estado Oriental 178 (1842-1858) - Rachel da Silveira Caé (UNIRIO) “Remeto para a Corte os pretos por achar perigosa a conservação deles na Província”: A Trajetórias de libertos pela Guerra (Revolução 193 Farroupilha, séc. XIX) - Daniela Vallandro de Carvalho (UFRJ) Liberdades em movimento. As disputas em torno da liberdade (São Paulo, 1886-1889) - Matheus Serva Pereira (UFF) 210 CAPÍTULO III - PROJETOS ABOLICIONISTAS 236 A abolição da escravidão sob outro prisma: os projetos de reforma na 237 imprensa espírita da Corte, 1881-1888 - Daniel Simões do Valle (UFF) Intelectuais, escravidão e liberdade em São João del-Rei no final do 257 século XIX - Denílson de Cássio Silva (UFF) Entre amantes da ordem e candidatos a revolucionários: escravidão, liberdade e abolicionismos na imprensa mineira da 281 última década da escravidão - Luiz Gustavo Santos Cota (UFF) “Aqui abro-lhe os braços da liberdade”: os rumos abolicionistas no 302 Amazonas Imperial - Provino Pozza Neto (UFA) Condenado pela cor: o preconceito racial no Brasil de José do 321 Patrocínio - Rita de Cássia Azevedo Ferreira de Vasconcelos (UFF) CAPÍTULO IV - PÓS-ABOLIÇÃO: A LIBERDADE EM JOGO 338 Uma necessidade imposta pela Abolição: algumas reflexões sobre as tentativas de regulamentação do trabalho doméstico 339 na cidade do Rio de Janeiro - Flavia Fernandes de Souza (UERJ) “Precisa-se de um pequeno”: negociação, conflito e estratégia de vida da mão-de-obra infatil negra no pós-abolição no Rio de 362 Janeiro (1888-1927) - Aline Mendes Soares (UFRRJ) A PECUÁRIA LEITEIRA NO PÓS-ABOLIÇÃO - As transformações econômicas em Resende - RJ (1888-1940) - Maria Fernanda de 376 Oliveira Coutinho Rodrigues (UFRJ) Folia de Reis, a Metáfora da Migração: Folia de Reis e a migração de pretos e pardos no pós-abolição -Vale do Paraíba e Baixada 391 Fluminense (1888-1940) - Carlos Eduardo C. da Costa (UFRRJ) A herança de Manoel Inácio: sobre a lógica da sucessão 414 camponesa no pós-abolição - Rodrigo de Azevedo Weimer (UFF) CAPÍTULO V - FESTAS DA LIBERDADE E MEMÓRIAS DA ESCRAVIDÃO 430 Os registros iconográficos das festas da abolição - Renata 431 Figueiredo Moraes (PUC-Rio) “Diabos Atlânticos”: abolição, crioulização e racialização em 450 carnavais da década de 1880 - Eric Brasil Nepomuceno (UFF) Um confronto literário: abolição e cidadania negra na ficção 469 baiana da Primeira República. - Marcelo Souza Oliveira (UFBA) Quilombos & quilombolas, hoje: sobre a reconstrução de conceitos 489 para o ensino da história - Ana Maria Reis de Faria (PUC-Rio) “Os pretos dos Breves permaneceram nas fazendas” – A Ilha da 501 Marambaia no pós-abolição - Daniela Yabeta (UFF) Políticas Patrimoniais e o ‘Jongo no Sudeste’: a memória da 510 escravidão em lutas contemporâneas - Luana da Silva Oliveira (UFF) 6 :: Caminhos da Liberdade: Histórias da Abolição e do Pós-Abolição no Brasil :: Apresentação Era uma vez uma turma do Programa de Pós-Graduação em História da Uni- versidade Federal Fluminense. Seus alunos entravam nessa aventura no ano de 2009 e começavam suas pesquisas. Não possuíam muita experiência, mas sobrava entusiasmo para levar adiante suas ideias. Nem todos se conheciam. O encontro ocorreu quando o professor Humberto Fernandes Machado decidiu retornar às sa- las de aula com um curso sobre a imprensa e as elites intelectuais no final do século XIX brasileiro, utilizando como estudo de caso a campanha abolicionista. Era uma vez uma disciplina. Seus encontros eram todas as sextas-feiras na parte da tarde. Os alunos inscritos se depararam com uma agradável surpresa: mais da metade da turma, cada um com um viés diferenciado, estudava temas referentes à Abolição e ao Pós-Abolição no Brasil. Dessa constatação surgiu uma ideia simples: iniciar um grupo de estudos. Apesar de parecer simples, o grupo de estudos nunca conseguiu sair do pla- no das ideias. Porém, a história não se encerrou com o insucesso inicial. Com o in- centivo do professor Humberto Machado e das professoras Hebe Mattos e Martha Abreu, mais o apoio do PPGHistória-UFF, do Laboratório Cidade e Poder (LCP), do Núcleo de Pesquisas em História Cultural (NUPEHC) e do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI), o que era para ser apenas um grupo de estudos transfor- mou-se num seminário. Era uma vez um seminário. Organizado por pós-graduandos da UFF Camila Mendonça, Flávia Campany do Amaral, Rita Vasconcelos, Denílson Silva, Eric Brasil, Matheus Serva e Luis Gustavo Cota − e intitulado Caminhos da Abolição e do Pós- -Abolição – I Seminário de Pós-Graduandos em História do Processo de Abolição e do Pós-Abolição no Brasil, foi realizado, com grande sucesso, entre os dias 11 e 13 de maio de 2010.1 Certamente, o brilhantismo das conferências de Eduardo Silva e de Maria Helena P. T. Machado e as questões colocadas pelos professores Carlos Gabriel, Marilene Rosa Nogueira da Silva e Keila Grimberg, ao coordenarem algumas das mesas, contribuíram diretamente para isso. Tivemos ainda a inscrição de diversos trabalhos de mestrandos e doutorandos de diferentes programas de pós-graduação do Brasil e a presença de um público muito maior que o esperado. Tornava-se evidente que havia uma nova demanda do meio acadêmico de História por encontros de discussão sobre a Abolição e o Pós-Abolição. Mantendo-nos atentos aos conselhos de Bourdieu de que “quanto mais a 1 O site do evento: http://www.historia.uff.br/nupehc/caminhosdaabolicao/ 7 :: Caminhos da Liberdade: Histórias da Abolição e do Pós-Abolição no Brasil :: gente se expõe, mais possibilidades existem de tirar proveito da discussão e [...] mais benevolentes serão as críticas ou os conselhos”,2 o evento seguiu uma linha reflexiva a respeito das pesquisas apresentadas. A partir de diálogos francos en- tre os pós-graduandos, pesquisadores-aprendizes e reconhecidos pesquisadores, compartilhamos incertezas, frustrações, alegrias e experiências de jovens historia- dores no trato das fontes e com a elaboração dos textos finais. Com a apresentação dos trabalhos, muitos deles resultados parciais de pesquisa, as afinidades pessoais e acadêmicas cresceram e percebemos que era possível construir um livro com foco central na discussão sobre os Caminhos da Liberdade. A oportunidade surgiu com o apoio do PPGH/PROEX aos encontros e publicações dos pós-graduandos por meio de um edital específico no final de 2009. Não podemos deixar de mencionar o incentivo recebido de Eduardo Silva que, em meio a sua impactante e inédita conferência, mobilizou todos os expecta- dores a refletirem sobre a importância do registro daquele momento. Seguindo em grande parte as palavras do historiador, agora publicadas em nosso livro, os textos de Caminhos da Liberdade partilham da ideia de que foi fundamental a “participa- ção do povo negro” na obra da abolição da escravidão. Era uma vez um livro, ou melhor, um e-book. Este e-book que chega até a tela de vocês leitores é o resultado de toda essa história que acabamos de regis- trar. Após um longo ano de preparo, que contou com a revisão de Sheila Louzada e Matheus Serva, com os comentários de Martha Abreu, a diagramação de Gabriel Brasil e o apoio internáutico de Haydée Oliveira e Carolina Viana Dantas, o livro Ca- minhos da liberdade: histórias da Abolição e do Pós-Abolição no Brasil finalmente está pronto. Há mais de vinte anos, em 1988, em torno das comemorações pelos 100 anos da Abolição diversos seminários abriram uma nova pauta de pesquisa e re- flexão sobre a escravidão e a Abolição no Brasil. Desde então, tem sido impressio- nante acompanhar a renovação historiográfica em todo o país, especialmente no campo dos estudos de escravidão. Como destacou Eduardo Silva na conferência de abertura, o tema da Abolição e do Pós-Abolição não recebe desde então as mes- mas atenções. No seminário que realizamos em 2010, a presença de tantos jovens e qualificados pesquisadores, de diversos programas de pós-graduação do Brasil, interessados nas temáticas da liberdade certamente indica que estamos diante de outro momento de renovação, agora mais centrado nos desafios colocados pelo desmonte da escravidão e pelas lutas sociais posteriores a 1888. A variedade de temáticas, fontes e discussões, permite-nos, além de demonstrar a riqueza do se- 2 BOURDIEU, Pierre. “Introdução a uma sociologia reflexiva”, in O poder simbólico. Lisboa: Difel; Brasil: Bertrand. 1989. P. 17. 8 :: Caminhos da Liberdade: Histórias da Abolição e do Pós-Abolição no Brasil :: minário, vislumbrar promissores desdobramentos futuros, quando esses jovens historiadores divulgarem seus trabalhos finais e tornarem-se formadores de outros jovens, pesquisadores, professores e historiadores. O livro está dividido em cinco partes. Mesmo que a maior parte dos traba- lhos se refira ao Sudeste, encontram-se também textos sobre Rio Grande do Sul, Bahia e Amazonas. As duas primeiras partes, com trabalhos sobre as possibilidades de liberdade antes de 1888, abordam as tensões legais pelo fim do tráfico, a ex- periência de africanos livres e das famílias escravas, assim como o recenseamento populacional, a Revolução Farroupilha e as disputas em áreas da fronteira sul. A terceira parte apresenta, por meio da discussão sobre os projetos abolicionistas, o papel de intelectuais, jornalistas, espíritas e lideranças negras nas lutas pela abo- lição. A quarta parte centra a atenção nos limites da liberdade após o fim da es- cravidão, discutindo sobre trabalho infantil, economia leiteira, festas populares e ações camponesas. Por fim, a quinta parte apresenta reflexões sobre as festas da liberdade e as memórias da escravidão a partir de imagens da Abolição e dos car- navais, da literatura, dos quilombos e das políticas patrimoniais. O livro Caminhos da liberdade apresenta ainda - na parte que denominamos “Abertura” – as contribuições originais de Eduardo Silva e Maria Helena Machado. A presença desses dois consagrados historiadores confere ao livro maior visibilida- de e incentivo à trajetória de tantos novos pesquisadores. Os organizadores do livro – e todo o PPGH-UFF - estão orgulhosos de trazer ao público este trabalho. Boa leitura! Matheus Serva Pereira Martha Abreu 9 :: Caminhos da Liberdade: Histórias da Abolição e do Pós-Abolição no Brasil :: ABERTURA 10 :: Caminhos da Liberdade: Histórias da Abolição e do Pós-Abolição no Brasil :: Os abolicionistas brasileiros e a Guerra de Secessão1 Maria Helena Pereira Toledo Machado* Nesta comunicação vamos abordar uma questão que, embora tenha sido percebida pelos homens de seu tempo como fundamental, tem recebido pouca atenção dos historiadores do presente. Trata-se aqui de procurar enfocar as inte- rações entre os EUA e o Brasil do século XIX em torno da escravidão. O objetivo é avaliar o impacto do contexto norte-americano, sobretudo das décadas que ante- cederam e sucederam a guerra civil, nos destinos da escravidão e no desenvolvi- mento do pensamento abolicionista no Brasil. O tema é obviamente estratégico, uma vez que Brasil e Estados Unidos (juntamente com Cuba) surgiam como as prin- cipais potências escravistas do continente entre os anos de 1830 e 1860, estando ligadas por uma série de conexões íntimas, seja em termos do tráfico de escravos, seja em relação à circulação de ideais e projetos, tanto de senhores de escravos e seus ideólogos a respeito de como preservar a escravidão no continente, como de abolicionistas, que se conectavam em torno de discussões a respeito da abolição. Nesse sentido, procuraremos mostrar aqui como no decorrer do século XIX os dois países estavam unidos e separados pelo problema da escravidão e pelas opções a serem adotadas para sua superação. Com vistas a delinearmos tais conexões, três perspectivas serão aqui enfoca- das de maneira sintética. Nosso objetivo não é, de forma alguma, esgotar um as- sunto tão complexo, mas apenas propor algumas linhas de raciocínio que nos per- mitirão esboçar horizontes de indagação. Uma primeira linha de análise enfocará as ligações desenvolvidas entre as décadas de 1830 e 1860, as quais uniram, de ma- neira íntima, as potências escravistas, isto é, Brasil e EUA, em torno de projetos de preservação da escravidão. Uma segunda linha de conexões colocará em pauta as interações desenvolvidas entre os EUA e o Brasil em termos da circulação de ideias a respeito das raças e das possibilidades de integração dos afro-americanos às so- ciedades pós-emancipação e da superação do legado da escravidão por meio da * Professora Titular. Departamento de História da Universidade de São Paulo. Pesquisa- dora CNPq. 1 Esta palestra foi apresentada na Universidade de Columbia (Nova York, EUA), no congres- so Nabuco e o Novo Brasil, organizado pelo The Brazilian Endowments for the Arts, em outubro de 2010. Ao receber o convite de Martha Abreu e Matheus Seva Pereira para publicar no simpósio Caminhos da Liberdade: Histórias da Abolição e do Pós-Abolição no Brasil, optei por enviar este texto por considerar esta uma oportunidade valiosa para apresentar aos pesquisadores e alunos de pós-graduação brasileiros, especialmente os da UFF, algumas ideias a respeito de um tema provocativo e ainda pouco explorado, das inter-relações entre Brasil e Estados Unidos em torno da abolição da escravidão no Brasil.

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.