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Caio Fernando Abreu : inventário de um escritor irremediável PDF

193 Pages·2008·1.264 MB·Portuguese
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Jeanne Callegari CAIO FERNANDO ABREU inventário de um escritor irremediável CD SEOMAN    http://groups.google.com.br/group/digitalsource    Esta  obra  foi  digitalizada  pelo  grupo  Digital  Source  para  proporcionar,  de  maneira  totalmente  gratuita,  o  benefício  de  sua  leitura àqueles que não podem comprá‐la ou àqueles que necessitam  de meios eletrônicos para ler. Dessa forma, a venda deste e‐book ou  até mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é totalmente  condenável em qualquer circunstância. A generosidade e a humildade  é a marca da distribuição, portanto distribua este livro livremente.  Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir  o original, pois assim você estará incentivando o autor e a publicação  de novas obras. Copyright © 2008, Editora Seoman Coordenação Editorial MANOEL LAUAND Capa e Revisão HENRIQUE MINATOGAWA Projeto Gráfico GABRIELA GUENTHER Foto da Capa e da Abertura do livro ADRIANA FRANCIOSI/AGÊNCIA RBS Checagem CLARA YWATA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Callegari, Jeanne Caio Fernando Abreu: inventário de um escritor irremediável / Jeanne Callegari. — São Paulo: Seoman, 2008. ISBN 978-85-98903-10-1 1. Abreu, Caio Fernando 2. Escritores brasileiros — Biografia I. Título 08-05638 CDD — 928.699 índices para catálogo sistemático: 1. Escritores brasileiros : Biografia 928.699 EDITORA SEOMAN Rua Pamplona, 1465 — cj. 72 — Jd. Paulista São Paulo — SP — Cep 01405-002 Fone: 11 3057-3502 [email protected] www.seoman.com.br Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora. Foi feito depósito legal. Para Caio F, pela paixão; Para Jonas Lopes, pelo apoio; e para Eduardo Nasi, com amor. PREFÁCIO O perfil de Caio Fernando Abreu escrito por Jeanne Callegari pode ser lido como um romance. Um delicado romance que, cheio de paixão mas também de pudor, pisa devagar sobre a matéria ardente. A estratégia narrativa de Jeanne combina com a estratégia existencial de Caio, que também viveu como se sua vida não passasse de um romance, um desses romances tensos, cheios de tristeza e de revolta, de atração pelo risco mas também de fascínio pela beleza, em cujas páginas avançamos com o coração na mão. Jeanne começa imitando os romances clássicos. Ela parte dos extratos remotos, mas decisivos da infância, das primeiras descobertas e dos primeiros sustos, para acompanhar, à distância, a formação difícil do escritor. "Desde muito pequeno, o menino Caio demonstrou uma inclinação para a arte", diz. Esta tendência logo se revela uma disposição para a fermentação interior, movimento que o arrastou, desde cedo, para temas ameaçadores como o erotismo, a fraqueza e o risco de morte. Nem mesmo a prática do jornalismo, que se apóia no concreto e na objetividade, lhe serviu para abrandar as turbulências íntimas. Em um conto como Pequeno monstro, de Os dragões não conhecem o paraíso, nos mostra Jeanne, Caio já rascunha, através de um jovem ai ter ego e por vias tortas, um terrível retrato de si. "Pernas e braços demais, pêlos nos lugares errados, uma voz que desafinava igual a um pato, eu queria me esconder de todos". Viver é não só suportar, mas sobretudo lutar contra o que se é. Talvez se possa pensar que, com sua alma efervescente, Caio Fernando Abreu tenha sido um eterno adolescente — e o livro de Jeanne Callegari, por vezes, nos enche de argumentos a favor dessa idéia. Mas Jeanne nos mostra também que, se o jovem rebelde persistia, grudado a ele, como um duplo, havia desde logo um poeta (pela postura, e não porque escrevesse versos, pois, se os escrevia, nunca publicou). Um homem que nunca desconheceu o peso do caminho que lhe coube atravessar. Mesmo amparando-se no recurso mais didático da ordem cronológica, nem assim a autora consegue organizar e domar a atmosfera de inconstância e de desamparo que cercou a vida do escritor. Períodos fundamentais — como aquele em que, fugindo da perseguição da ditadura militar, ele se escondeu no sítio da escritora Hilda Hilst, na periferia de Campinas — ajudam a fixar traços mais firmes. Em sua chácara, Hilda seguia a idéia do escritor grego Nikos Kazantzakis, segundo quem, para entender a sociedade, é preciso primeiro dela se afastar. Lição que o jovem Caio tratou logo não só de imitar, mas de incorporar como fundamento de sua existência, e que o ajudou a delimitar, de vez, a figura de um sujeito à margem, de um desviante, um rebelde. Pode-se dizer que foi na chácara de Hilda, escoltado por ela — como uma parteira que de um corpo arrancasse não outro corpo, mas um espírito — que o escritor adulto veio a nascer. "As vezes que tentei morrer foi por não suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo", Caio escreve em uma carta aos pais, datada do final dos anos 1960. Quando, no início da década de 1970, vai para a Europa, já é um homem que deseja abraçar o mundo, perder- se na esperança de, enfim, se achar. Leva então uma existência precária, faz bicos, lava pratos, sobrevive como pode, mas avança, na Suécia, na Holanda, na Inglaterra. A bissexualidade se abre, rompendo de vez os limites de uma vida burguesa. Mas, nos mostra Jeanne, quanto mais Caio se liberta e expande seus horizontes, mais afunda na dor. "Escrevo por uma espécie de incompatibilidade de gênios com a vida, escrevo para reinventar, escrevo para organizar o caos, para não enlouquecer de impotência, para re-fazer", ele mesmo descreve em uma crônica da época. Dor e escrita se conectam de modo fatal, e é nesse nó que Jeanne Callegari puxa o fio de "um escritor irremediável". E aqui se deve entender o irremediável em dois sentidos: como uma condenação (algo que não tem remédio), e como um destino (algo em que ele se lança para a vida e com grande vigor). De volta a São Paulo, Jeanne reencontra Caio, aos 30 anos, "de calça de couro, jaqueta, gestos finos, elegantes", encostado em um carro. "O ser todo exalava algo de sexual, e de solitário também", ela resume, em uma descrição que, mesmo rápida, fisga quase toda a alma de Caio Fernando Abreu. Um sujeito que, apesar da sensibilidade extrema e da volúpia de viver sempre frustrada, nunca desiste de recomeçar. O medo da loucura, do desastre, do fracasso, se agiganta. A relação de amor e tensão que tem com a poeta Ana Cristina César — que, depois de muita luta interior, termina por cometer suicídio — é uma síntese desses sentimentos. É também o momento em que, em O triângulo das águas, mais especificamente na novela Pela noite, pela primeira vez, Caio menciona o terror da aids — que naquela época, de ignorância e preconceito, ainda era chamada, muitas vezes, de "câncer gay". Mesmo cheio de terrores, Caio avança. Dedica-se cada vez mais a ler poesia — sobretudo Adélia Prado, Fernando Pessoa e Mario Quintana. Sua escrita está cada vez mais impregnada de lirismo, um lirismo seco e doloroso, e também de um misticismo vago, que se acentua na atitude pessoal — que cultiva com esmero — de um bruxo. O anjo negro chega ao extremo até que ele mesmo, depois de uma doença longa e estranha, recebe a notícia de que é soro-positivo. Fato, que comunica, de modo frontal, em uma série de crônicas publicadas no jornal O Estado de S. Paulo. É o momento da virada — em que o positivo que indica a doença, negativo, portanto, é convertido por Caio em algo positivo mesmo. A vida lhe abre uma nova face. Fraco, mas cheio de coragem, ele volta a morar com os pais, no sul, e se dedica a rever seus livros, procurando extrair, dos mergulhos negativos, sentidos novos e vitais. A morte o pega quando vivia como um romântico jardineiro, quieto entre suas flores domésticas, apegado ao prazer de cuidar dos próprios espinhos. É nesse andar das coisas pequenas que Jeanne o persegue até o fim. Seu livro tem a objetividade dos relatórios científicos, mas também o encantamento das cartas de amor e, ainda, a reserva temerosa das grandes confissões. Jeanne se contém sempre, o mais que pode, porque sabe que aventurar-se na vida e na obra de Caio Fernando Abreu guarda sempre um grande risco, é mergulhar no veneno terno da imperfeição. José Castello INTRODUÇÃO: CEM MIL CAIOS Um, nenhum e cem mil. O título de Pirandello ronda as noites de quem se impõe a tarefa, desde o início condenada ao fracasso, de traduzir e dar unidade a todos os muitos que algum outro foi. Escrever sobre Caio Fernando Abreu, camaleão, estrangeiro, inquieto, não foi a exceção da regra. Ele foi milhares. O Caio obsessivo com o lado escuro de todas as coisas, mas apaixonado pela vida, sempre em busca da luz, das flores, da leveza. O Caio simpático com os outsiders, com quem, curioso e temerário, gostava de andar no limite, nas noites mais perigosas, mas nunca a ponto de se perder, nunca a ponto de perder o caminho de volta, que marcava, como João e Maria da fábula, não com pedacinhos de pão ou pedrinhas, mas com seus textos, a literatura. O Caio que usava as palavras como arma de sobrevivência quando batia a depressão, a vontade de ficar sozinho, o desespero. O Caio do equilíbrio sempre além do comum, do banal, que alternava fases macrobióticas com costelas gordas, chás medicinais com whisky, cigarro com jardins e flores, sempre flores. Avencas, rosas, girassóis. O Caio F, apaixonado sempre, de uma fidelidade canina com os amigos, de um humor implacável e ácido, do qual ele mesmo era um dos principais objetos. O Caio inclassificável, que se recusava a fazer parte de movimentos, filosofias e seitas, mas que passeava e pairava por todas elas. O amigo difícil de conviver, fácil de amar; o escritor admirado e cheio de seguidores. O Caio erudito, o Caio pop, o Caio filosófico, o Caio abobrinha, o Caio deprimido. Com todos esses tive que lidar, e também com seus órfãos, herdeiros e viúvas, todos aqueles que ficaram carentes quando ele se foi, de aids, em 1996. Muitos não queriam falar, dar entrevista. Tinham ciúme e zelo de tocar em memórias tão delicadas. Costuma ser assim, em uma tentativa como essa, de retrato; sempre algo fica de fora da moldura, oculto pela linha fina, reservado para poucos olhos. Muitos, pelo contrário, queriam dividir sua visão do Caio, suas memórias. Achavam quase egoísmo deixar a beleza de anedotas e palavras para trás, queriam que o mundo conhecesse o homem por trás do texto, e que homem extraordinário era esse!, pensavam. Não há razão mais certa que a outra, e a todos agradeço a colaboração, a boa vontade, a delicadeza em retornar meus pedidos insistentes. Cansa forçar a memória, buscar fatos muitas vezes esquecidos num cantinho das lembranças. Cansa reviver momentos tristes e a partida de alguém que se amou. Por trás de depoimentos e histórias que marcaram, por trás de frases ditas e registradas em cartas, através de contos e romances, emergia aquilo que eu buscava, como o personagem de Pirandello: a unidade. Fui achando que entendia Caio, me sentindo íntima dele. Sobre o que conversaríamos se ele estivesse aqui? Sobre a infância em Santiago, a adolescência em Porto Alegre. A vida adulta em São Paulo, no Rio. A triste e heróica caminhada para o fim, em meio a suas rosas e a sua família. Sim, teríamos sobre o que falar. Fiz algumas descobertas sobre esse jardineiro- escritor marcante e apaixonado, personagem e autor da própria vida. Se a importância como escritor era flagrante desde o início, a importância como filho, amigo, jornalista e personalidade foi surgindo devagar, aparecendo como em uma revelação fotográfica. Apesar dos tantos traços, do contorno esboçado, faltam ainda detalhes. É que esse relato não se pretende definitivo, uma biografia exaustiva. Antes é um perfil, um recorte dessas milhares de faces. Ainda há muito a dizer sobre Caio Fernando Abreu. Muita gente para prosear a respeito, muitos arquivos a revirar, muitas fotografias para nos fazer lembrar. Mais cem mil para serem estudados. Partindo daqui, dá para ir apreciando o caminho, cada nova nuance, detalhe. Pois o ponto de chegada não existe. Por definição, é imperfeito. Jeanne Callegari As cartas de Caio citadas no livro foram extraídas de Caio Fernando Abreu — Cartas, organizado por ítalo Moriconi e publicado pela editora Aeroplano em 2002. A carta de Manuel Abreu para o filho Zaél nunca foi publicada, faz parte do acervo da família e foi gentilmente cedida por ela, assim como algumas das cartas de Vera Antoun e os postais de Pedro Paulo de Sena Madureira.

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