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Cadernos do cárcere, Vol. 1: Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce PDF

499 Pages·1999·10.06 MB·Portuguese
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Antonio Gramsci Cadernos do cárcere INTRODUÇÃO DE Carlos Nelson Coutinho Volume 1: Introdução ao estudo da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce TRADUÇÃO DE Carlos Nelson Coutinho CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA Rio de Janeiro 1999 Sumário INTRODUÇÃO DE CARLOS NELSON COUTINHO 7 AGRADECIMENTOS 47 CRONOLOGIA DA VIDA DE ANTONIO GRAMSCI 49 CADERNOS DO CÁRCERE. VOLUME 1 75 Projetos de Gramsci para os Cadernos 77 I. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA FILOSOFIA 81 1. Caderno 11 (1932-1933): Introdução ao estudo da filosofia 83 [ADVERTÊNCIA] 85 APONTAMENTOS E REFERÊNCIAS DE CARÁTER HISTÓRICO-CRfTICO 85 APONTAMENTOS PARA UMA INTRODUÇÃO E UM ENCAMINHAMENTO AO ESTUDO DA FILOSOFIA E DA HISTÓRIA DA CULTURA 93 I. Alguns pontos preliminares de referência 93 II. Observações e notas críticas sobre uma tentativa de “Ensaio popular de sociologia” 114 m. A ciência e as ideologias científicas 168 IV. Os instrumentos lógicos do pensamento 176 V. Tradutibilidade das linguagens científicas e filosóficas 185 VI. Apontamentos miscelâneos 191 5 CADERNOS DO CÁRCERE 2. Dos cadernos miscelâneos 227 CADERNO 1 (1929-1930) 229 CADERNO 3 (1930) 230 CADERNO 4 (1930-1932) 231 CADERNO 5 (1930-1932) 233 CADERNO 6 (1930-1932) 234 CADERNO 7 (1930-1931) 235 CADERNO 8 (1931-1932) 250 CADERNO 9 (1932) 255 CADERNO 14(1932-1935) 257 CADERNO 15(1933) 259 CADERNO 17 (1933-1935) 2 66 II. A FILOSOFIA DE BENEDETTO CROCE 275 1. Caderno 10 (1932-1935): A filosofia de Benedetto Croce 277 [PARTE I] PONTOS DE REFERÊNCIA PARA UM ENSAIO SOBRE B. CROCE 279 [PARTE II] A FILOSOFIA DE BENEDETTO CROCE 309 2. Dos cadernos miscelâneos 431 CADERNO 4 (1930-1932) 433 CADERNO 6 (1930-1932) 433 CADERNO 7 (1930-1931) 440 CADERNO 8 (1931-1932) 445 CADERNO 15(1933) 448 NOTAS AO TEXTO 455 (NDICE ONOMÁSTICO 489 6 Introdução Quando foi preso pelo fascismo, em 8 de novembro de 1926, aos 35 anos de idade, Antonio Gramsci era secretário-geral do Partido Co­ munista da Itália e deputado ao Parlamento italiano.1 Sua obra como escritor era ainda muito pouco conhecida. Decerto, já havia escrito uma enorme quantidade de artigos para a imprensa operária, um bom número de informes para serem discutidos pelo seu Partido, várias cartas privadas sobre questões de estratégia revolucionária e, pelo menos, um ensaio mais denso, dedicado a Alguns temas da questão meridional, no qual ainda trabalhava no momento da sua prisão. Mas nada disso havia sido publicado em livro. Convidado por um editor amigo, antes da prisão, para reunir em coletânea alguns desses arti­ gos, Gramsci se recusou a fazê-lo, alegando que, tendo sido escritos “para o dia-a-dia”, tais artigos eram destinados a morrer “tão logo se encerrasse o dia”. Contudo, pouco tempo depois de preso, numa carta à cunhada Tatiana Schucht, de 19 de março de 1927,2 Gramsci comunica-lhe um programa de trabalho intelectual a ser desenvolvido no cárcere, um trabalho que — diversamente de sua produção pré-carcerária, volta­ da para o “dia-a-dia” — ele pretendia que viesse a ser agora algo “de­ sinteressado”, für ewig, ou seja, “para sempre”. Concebe esse traba­ lho sobretudo como um meio privilegiado para enfrentar e superar o 1 Para maiores detalhes biográficos, cf. “Cronologia da vida de Gramsci”, no pre­ sente volume, infra. 2 A. Gramsci, Lettere dal cárcere, ed. por A. A. Santucci, Palermo, Sellerio, 1996, p. 55. 7 CADERNOS DO CÁRCERE desgaste material e moral a ser gerado pela vida carcerária, que ele já previa de longa duração. Quando morreu, em 27 de abril de 1937, Gramsci não podia ter a menor idéia de que esses apontamentos carcerários, que ocupam cerca de 2.500 páginas impressas, tornar-se-iam uma das obras mais influen­ tes, comentadas e discutidas do século XX. Nenhuma área do pensa­ mento social — da filosofia à crítica literária, da política à sociologia, da antropologia à pedagogia — ficou imune ao desafio posto pela publicação póstuma dessa obra de Gramsci. Traduzidos em inúmeras línguas, os chamados Cadernos do cárcere deram lugar a uma imensa literatura secundária, que de resto cresce cada vez mais, igualmente difundida em múltiplos idiomas.3 Como conseqüência da publicação dos Cadernos, também sua obra pré-carcerária foi finalmente reunida e editada em vários volumes, despertando igualmente intensos debates.4 Como Gramsci não publicou em vida nenhum livro, pode-se dizer que, de certo modo, toda sua obra é uma obra póstuma. Isso significa que o modo pelo qual os textos de Gramsci foram lidos e tiveram influência — sobretudo no caso dos Cadernos do cárcere — dependeu não apenas do conteúdo dos mesmos, mas também, em grande medi­ da, da forma pela qual foram tornados públicos pelos seus vários edi­ tores.5 Desse modo, conhecer a história das edições dos apontamen- 3 Cf. J. M. Cammett, Bibliografia gramsciana 1922-1988, Roma, Riuniti, 1991; J. M. Cammett e M. L. Righi, Bibliografia gramsciana. Supplement updated to 1993, Roma, Fondazione Istituto Gramsci, 1995. Em conjunto, esses volumes registram mais de 10.000 títulos sobre Gramsci, publicados em cerca de 30 lín­ guas. A bibliografia Cammett, sempre atualizada, pode também ser consultada na Internet: cf. http://www.soc.qc.edu/gramsci/index.html 4 No quadro da presente edição brasileira das “Obras de Antonio Gramsci”, da qual a publicação dos Cadernos constitui o primeiro momento, estão previstos também — além de uma edição completa das Cartas do cárcere — dois volumes contendo os textos mais importantes do período pré-carcerário de Gramsci (1910-1926). s Guido Liguori, “Le edizioni dei Quademi di Gramsci tra filologia e politica”, in G. Baratta e G. Liguori (orgs.), Gramsci da un secolo aWaltro, Roma, Riuniti, 1999, p. 217 e ss. 8 INTRODUÇÃO tos carcerários de Gramsci é condição necessária para compreender adequadamente a sua fortuna crítica. Mas, antes de recordar a histó­ ria dessas edições (e, em particular, de apresentar e justificar aquela que agora propomos ao leitor brasileiro), cabe fornecer a esse leitor uma descrição do formato com que chegaram até nós os famosos Cadernos do cárcere. 1. UMA DESCRIÇÃO DOS CADERNOS Somente no início de 1929, ou seja, mais de dois anos depois de pre­ so, quando já fora encaminhado para o cárcere de Túri, na província de Bári, Gramsci obteve autorização para dispor em sua cela do mate­ rial necessário para escrever. A partir de então e até abril de 1935, ou seja, enquanto suas condições de saúde lhe permitiram continuar tra­ balhando, Gramsci utilizou 33 cadernos escolares, todos de capa dura, que lhe iam sendo fornecidos à medida que os requisitava ao diretor do presídio. Alguns desses cadernos (sobretudo os primeiros) foram inteiramente preenchidos, enquanto outros (os mais tardios) contêm — em maior ou menor medida — várias partes em branco. Praticamente todos eles têm o timbre da diretoria do cárcere, condi­ ção para que Gramsci pudesse utilizá-los.6 Também por determinação dos seus carcereiros, Gramsci podia dispor apenas, em sua cela, de no máximo três cadernos de cada vez. Quatro desses cadernos são inteiramente dedicados a exercícios de tradução, sobretudo do alemão e do inglês, nos quais Gramsci ver­ teu autores como Marx, Goethe e os irmãos Grimm, além de muitos artigos de revista. Esses exercícios de tradução se iniciam já em 1929 (Gramsci os pratica antes mesmo de começar a redação de suas notas) e são interrompidos em 1932, a partir de quando ele se dedica apenas à redação ou revisão de seus próprios apontamentos. Na notável edi­ 6 Cf. infra, neste volume, o encarte fotográfico. 9 CADERNOS DO CÁRCERE ção crítica de Valentino Gerratana,7 que reproduz apenas poucos fragmentos de traduções gramscianas de Marx, tais cadernos são designados e datados como A (1929), B (1929-1931), C (1929-1931) e D (1932). Há também exercícios de tradução ocupando partes dos cadernos de apontamentos 7 e 9. Segundo Gerratana, tais exercícios de tradução não teriam maior significação teórica, razão pela qual — com as poucas exceções mencionadas — ele os excluiu de sua edição. Contudo, o próprio Gerratana registrou a presença, em tais tradu­ ções, de pelo menos um ponto de indiscutível valor teórico: quando Gramsci verte o termo marxiano “bürgerliche Gesellschaft”, usa a expressão “sociedade burguesa” e não o consagrado termo “socieda­ de civil”, indicando com isso, provavelmente, a percepção de que seu próprio conceito de “sociedade civil” tinha uma acepção diversa daquela que possuía em Marx.8 Os demais 29 cadernos (com exceção, como vimos, das partes do 7 e do 9 dedicadas a traduções, de alguns rascunhos de cartas ou de elencos dos livros de que dispunha no cárcere) são inteiramente dedi­ cados a apontamentos da autoria do próprio Gramsci. A numeração com que esses cadernos são hoje internacionalmente conhecidos (e que é utilizada também em nossa presente edição) — ou seja, de 1 a 7 A. Gramsci, Quademi dei cárcere, ed. crítica de V. Gerratana, Turim, Einaudi, 1975 (a seguir citada como QC). Para os critérios utilizados na elaboração dessa edição crítica e para uma descrição dos cadernos, cf. V. Gerratana, “Sulla prepa- razione di un’edizione critica dei “Quademi dei cárcere”, in F. Ferri (ed.), Gramsci e la cultura contemporanea, Roma, Riuniti, 1969, vol. 2, p. 455-476; e, sobretudo, Id., QC, “Prefazione”, p. XI-XLII, e “Descrizione dei Quademi”, p. 2367-2442. Também é de grande utilidade a leitura de Joseph A. Buttigieg, “Introduction”, in A. Gramsci, Prison Notebooks, ed. by J. A. Buttigieg, Nova York, Columbia University Press, 1992, vol. 1, p. 1-64. 8 V. Gerratana, in Franco Ferri (ed.), Gramsci e la cultura contemporanea, cit., vol. 1., p. 169-173. Para a distinção entre os conceitos de “sociedade civil” em Marx e em Gramsci, bem como para uma introdução geral aos principais concei­ tos gramscianos, sobretudo aqueles elaborados nos Cadernos, remeto o leitor a G. N. Coutinho, Gramsci. Um estudo sobre seu pensamento político, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999, 320 p. 10 INTRODUÇÃO 29, em função da ordem cronológica — é da responsabilidade de Valentino Gerratana, o qual, com rigorosos critérios filológicos, empenhou-se em encontrar para eles uma datação o mais possível exata. (Logo após a morte de Gramsci, sua cunhada Tatiana Schucht, sem nenhuma preocupação cronológica, numerara os cadernos com algarismos romanos, de I a XXXIII, incluindo nessa série os cadernos de traduções. Essa numeração é utilizada nos índices da velha edição temática, sobre a qual falaremos mais adiante.) Gerratana observa que a sua própria datação dos cadernos é, em alguns casos, problemá­ tica: Gramsci escrevia em diferentes cadernos ao mesmo tempo, o que torna praticamente impossível estabelecer a ordem cronológica de suas várias notas, já que essa ordem nem sempre coincide com a or­ dem material com que as notas se sucedem nos cadernos. Tais notas, separadas entre si por um espaço maior, são quase sempre introduzi­ das por Gramsci com um sinal de §. Em sua edição, Gerratana nume­ rou tais parágrafos, caderno a caderno, seguindo quase sempre a ordem material na qual estão dispostos nos vários cadernos.9 Além disso, a edição Gerratana usa a data provável da primeira nota de cada caderno para estabelecer a numeração progressiva dos mesmos. Ambos os critérios foram adotados na presente edição brasileira. Os 29 cadernos temáticos são divididos por Gerratana, seguindo indicações explícitas do próprio Gramsci, em dois tipos: “cadernos misceláneos” (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 14, 15 e 17) e “cadernos espe­ ciais” (10,11,12,13, 16,18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29).10 Nos “cadernos misceláneos”, Gramsci redige notas sobre varia- 9 A principal exceção encontra-se no caderno 10, que Gramsci dividiu em duas partes. Gerratana supõe que a segunda parte foi escrita antes da primeira; por isso, não só inverte a ordem de apresentação das mesmas, mas também atribui nume­ ração própria aos parágrafos de cada uma das partes. 10 Com efeito, no início do caderno 15, que é um “caderno misceláneo” situado entré “cadernos especiais”, o próprio Gramsci observa: “Caderno iniciado em 1933 e escrito sem levar em conta as divisões de matéria e os agrupamentos de no­ tas em cadernos especiais.” Como ele intitulou os cadernos 2 e 17 como “Misce­ lânea”, essa observação serviu como base para a divisão proposta por Gerratana. 11 CADERNOS DO CÁRCERE dos temas, muitas das quais iniciadas por títulos idênticos ou seme­ lhantes (“Passado e presente”, “Noções enciclopédicas”, “Introdução ao estudo da filosofía”, “Intelectuais italianos”, “Jornalismo”, “Lo- rianismo”, “Os filhotes do Padre Bresciani”, etc., etc.), títulos que se repetem tanto no interior de cada caderno quanto ao longo dos mes­ mos. Já os “cadernos especiais” reúnem apontamentos sobre assuntos específicos, razão pela qual, com duas únicas exceções (as do 11 e do 19), eles têm títulos dados pelo próprio Gramsci. (Também recebem títulos dados por Gramsci os seguintes cadernos misceláneos: 1, “Pri­ meiro caderno”; 2, “Miscelânea I”; e 17, “Miscelânea”. Os demais cadernos têm títulos dados por Gerratana, nesse caso sempre entre colchetes, critério que também seguimos em nossa presente edição.) Articulada com essa divisão entre cadernos “misceláneos” e “especiais”, Gerratana propôs também, em sua edição crítica, uma outra importantíssima distinção: a que divide as notas gramscianas entre o que ele chama de textos A, B e C. Os textos A são os que Gramsci redigiu nos “cadernos misceláneos” e depois retomou ou reagrupou (literalmente ou com modificações, maiores ou menores) em textos C, todos eles — com a exceção de três notas presentes no caderno 14 — contidos nos “cadernos especiais”; os textos B, por sua vez, são aqueles de redação única, que aparecem sobretudo nos “cadernos misceláneos”, mas também, em um número menor de casos, em alguns “cadernos especiais”. Essa distinção nos permite perceber que os “cadernos especiais”, todos mais tardios, são em sua esmagadora maioria elaborados a partir de uma retomada de mate­ riais já presentes nos “cadernos misceláneos”, ou seja, de uma conver­ são de textos A em textos C.11 li Duas importantes exceções são a parte II do caderno 10 (onde quase todas as notas são de tipo B) e o caderno 29 (todo ele formado por notas B). Sempre que se valia de um texto A para a elaboração de um texto C, Gramsci cancelava o primei­ ro com finos riscos diagonais, que não impedem de modo algum a leitura do tex­ to cancelado. Para uma visualização desse aspecto dos Cadernos, cf. o encarte de fotos contido na presente edição, infra. U2

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