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Bestiário: Aforismos de João César Monteiro PDF

33 Pages·2014·10.127 MB·Portuguese
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BESTIÁRIO Aforismos de João César Monteiro EDITORA ROSEBUD Bruno G. Heller BESTIÁRIO Aforismos de João César Monteiro 01 Edições ROSEBUD Avenida Paulista , 2000 – Bela Vista CEP: 01310-200 – São Paulo – SP [email protected] 2014 © EDITORA ROSEBUD ISSN 224 7527 02 PREFÁCIO Este pequeno texto de apresentação serve como homena- gem do público brasileiro ao diretor português João César Monteiro. Não raras vezes, o Brasil ignora Portugal, e Portugal receia o Brasil no seu trauma recente de passar de império a colónia em apenas 40 anos. Entre o paternalismo, a vergonha e a recusa, temos que aceitar essa naturalidade, mas não ensurdecer nesse processo. No Brasil, João César Monteiro é quase desconhecido, vítima geral dessa dificuldade auditiva, a que a Língua comum obriga. É uma separação, uma distân- cia recíproca, onde em breve, a triangulação atlântica que o futuro desenha, acabará por fazer brotar belas, e até agora, insuspeitas cumplicidades. Se os brasileiros são os portugue- ses à solta, João César Monteiro é esse brasileiro livre, cativo por nascença a essa terra originária. Porém, todas as origens são ficções, e todos os começos sonháveis. Ou, nas palavras do maior poeta português, temos de inventar a nossa vida verdadeira. João César Monteiro sonhou-se livre e resisten- te dentro de um lugar fechado. Aqui se apresentam essas diferentes figuras da resistência, sob a forma de fragmentos e variações aforísticas sobre a arte, o mundo e a vida. Meto- dologicamente os aforismos não serão assinalados quanto à sua pertença específica, para que constituam um todo indes- cernível, procurando no seu leitor a interrogação pela sua origem. Dessa forma, o sistema anárquico de escolha e sua apresentação, obedecem unicamente ao princípio do caos. É essa contemplação e livre leitura que aqui é proposta. Novembro de 2013, Bruno Heller 03 “ad se ipsum” 04 §1. Um conselho paterno: foge da sociedade como o diabo foge da cruz. A única sociedade que deves fazer é contigo próprio. §2. Não se nasce português, fica-se português. §3. Encontra em ti o teu próprio consolo. §4. Se o Dostoievski tivesse sido diretor de um ban- co suíço, talvez fosse uma perda irreparável para a humanidade. Mas tinha-se ficado a rir como um possesso. §5. A única saída era condená-los à vida. §6. Sei que nunca poderia ser político, engrossar o cortejo dessa corja que põe e dispõe do ser huma- no, guiando-o para um devir cada vez mais favorável à condição de rastejante. 05 §7. Quando eu subi aos céus, disse para todos os mortais: fodam-se voçês agora, que a mim já não me fodem mais. §8. A fartura é como a lua, se não cresce mingua. §9. É íngreme e árdua a escadaria da fama. §10. A ordem é o respeito pela morte. §11. Este país, senhores, é um poço onde se cai, um cú donde se não sai. §12. Um filme mesmo informe, inacabado como um nado morto, é um prenúncio da nossa própria histó- ria, a projeção silenciosa dos nossos fantasmas. 06 §13. Os porcos comprazem-se mais na merda do que na água pura. §14. Mas os chatos por serem chatos, cá estão. Pa- rece que às carradas e com carradas de razão. Não nos vemos livres deles com pós de demagogias, os chatos por serem chatos, estão fartos de ocas democracias. Por serem chatos os chatos, querem deixar de o ser, mas só param de chatear, quando o Estado ladrão desaparecer. §15. Quem chora ao pé de quem chora, fica-se sem- pre a chorar. §16. Maior desgraça foi ter nascido em Portugal. §17. Gracejo não é ofensa. §18. Afinal os crimes são coisas que se repetem. 07 §19. É melhor ires-te embora. Isto está a arrefecer. §20. Tente impingir à jovem o poema a troco de esta lhe mostrar as mamas. §21. Não há terra como a nossa. §22. Levante-se o réu. Levanta-te tu meu filho da puta. §23. Contra todos os fogos, o fogo. O meu fogo. §24. A barbárie anuncia sempre a queda dos impé- rios. 08 09

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