Em junho de 1961, Nikita Khruschóv chamou Berlim de “o lugar mais perigoso do mundo”. Ele não exagerava: a resistência das potências ocidentais em desocupar militarmente a porção oeste da cidade, conforme exigido por diversos ultimatos do líder comunista — que tentava conter as correntes de refugiados do Leste —, gerou sem dúvida a mais grave crise política do pós-guerra. Culminando na construção do símbolo máximo da divisão do globo entre dois grupos antagônicos — o Muro de Berlim, que tornava palpável a metafórica Cortina de Ferro de Winston Churchill —, a crise de 1961 foi a primeira e única vez na história em que militares e tanques norte-americanos e soviéticos estiveram frente a frente, a metros de distância. Um erro, um soldado que perdesse o controle, um comandante menos preparado, qualquer escaramuça poderia ter gerado uma guerra atômica em questão de minutos. Era um jogo temerário, de cujo resultado poderia depender a sobrevivência do planeta. De um lado da mesa, um presidente norte-americano pouco experiente e ainda carregando as cicatrizes da condução desastrada dos eventos na baía dos Porcos. De outro, um premiê soviético sofrendo pressões dos chineses, alemães orientais e grupos linhas-duras em seu próprio governo — e que, com a aproximação do congresso do Partido Comunista, sabia que Berlim seria determinante não apenas para o seu futuro como para o do próprio Kremlin. Nenhum dos jogadores conseguia decifrar (nem sequer entender) o outro, e a cada semana que passava a situação se tornava mais crítica.