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Batalhas morais: Política identitária na esfera pública técnico-midiatizada PDF

53 Pages·2021·64.461 MB·Portuguese
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ffi&WffiLwffiffi ffiffiffi&ffiffi I .i PmüÊtât:a *dffiffitítffinla r.lm ms{q}ü"m }3Nh}[mm * tmq: ffi i*r.r- r"a; id I mt ixm d Richard Miskolci \trdrffi -@" w PROGED auüêntica Copyright @ 2021 Programa de Educação pêra ô Diversidade _ proEx/UFOp Tpooddoqsr áoss edrirreepÍtroosd ruezsiedrvaa, dsoesj a ppeorar Arnuetlêosn timcae cEadníit.oorsa, Letdlea.i iNàe"ni.hàuim,"ap p arte desta pubricaçao rem autorização prévia da Editora. "ir.ópiaxer.ográfica, CooRDENADoRA DA sÉRtE EDIIOBA5 RESPONSÁVEiS. CADERNOS DA DIVLRS]DADE Rejane Dias Keila Deslandes Çecilia Martins coruseLHo eotroRrar Adrians l{ascimento - ILFMG JRuEVliIa§Ã SOottsa Alcilene Caualçante de Oliveira _ uFG Car.la Cabral - UFRN CAPA Érika Lourenço - tJFMtrG Alberta Bittencourt Keila Deslandes - UFA? (Sobre imagem de Bloomicon/ Mônica Rahme - ptJC Minas Shutterstock) Richard Miskalçi - tJNtFESp DIAGÂÁMAÇÀo Larissa Ca rva I ho Mazzon í Dados lnte(crnáamcaioran aBisr adsiete Ciraa tadl"o g-Laçúã;;o, inla Bpu;b;l;ic;atic*ã-o (''C''t,p) lViskolci, Richard /d., Ra_ .icD Bhivaaetrardslh idMaasids ekm oor/ crcai ois-o r: dipe oneliatdiçc ãa-o i dBre(euntoiltê itH áDri;a*u ";n;;aà; àe,Ã;s;feii êrarv. tlpr;úl: b:I r:lir;cL:aoi '1 tzé'v.c"Án_ icI _'o_ miiãdiaftfizia:da tSBN 978_65_5928_022-3 r. D"'1,.r .Dilr;v;e:'rüsi;dia1d,e:, í2 .r ,Gi:ê:n:eir:o r:,iflua lidade 3 rdeorosja 4. sexuaridade 21-54569 cDD.305.4 Índices. para catálogo sistêmátirol 1. Gênero, mÍdia e socjedade: Sociologia 305_4 Alinê Gràziele Bênitez - Bi lioterái:ia - CRB-1/3129 @ cnu co aurÊNrrca Belo Horizonte 5ão Paulo Rua Carlos Turner, 420 Av Pâulista, 2.073, Conjunto Nacional, Horsa SiJvejÍa . 31j40-520 Sêla 309 . Cerqueira César 01311€40 I Belo Horizonte. MG 5áo Paulo . Sp Tel.: (55 31) 3465 4500 Tel.: (55 I 1)30344:468 wwwiqÍupoautêntica.com.br SAC: atê[email protected]ã.com.br lt:'l ii:', Sumário |!,tepltulo r l,i As diftrenças na esfera CapÍtulo 2 ${i uldeologia f,,. de Gênero": cruzada 1t.', os empreendedores morais e sua ...........49 ;. . CapÍtulo 3 l,ri' A política identitária no neo1ibera1ismo.........,.........................67 : Êiapítulo 4 1 l0 voeaburtário identitário: 'loca l de fa la", "experiência' e'lcisgeneridade" ................."... 8 1 -,, Capítulo s I Epíloqo para uma era de batalhas morais...,.............."............91 iL Apresentação Bila Sorjl Este livro, denso e provocativo, enfrenta questões cen_ i trais para o Brasil contemporâneo. por um lado, examina a aglutinação de diversos setores sociais em torno do combate ár uma suposta "ideologia de gênero'] e o avanço da agenda iii econômica neoliberal e c1a pauta de costumes encarnados na lil vitória eleitoral de |air Bolsonaro. Por outro, dedica atenção à erosão do debate democrático no país nas últimas décadas, aos atiyismos identitários e sua relação ambivalente com a univer- sidade, a ciência e as instituiçoes. Todos esses acontecimentos estão alinhavados pelo olhar sociológico e analítico aguçado de Richard Miskolci, que, sem produzir explicações simplistas, relaciona-os aos abalos, rup- turas e transformações impulsionados pelo impacto das redes sociais digitais na esfera pública na última década. Ao fazê-lo, o autor conecta debates e trabalha com conceitos que hoje se encontram dispersos ou confrnados a áreas de especialização acadêmica que raramente se comunicam. O intercâmbio de teorias e conceitos entre os estudos de gênero, os estudos de sociologia digital e o campo de inves- tigação dos movimentos sociais permite que uma teia com- plexa de relações sociais venha à tona. Gênero e sexualidade tornaram-se o eixo principal de uma verdadeira guerra cultu_ ral em torno de valores, crenças e práticas no Brasil em anos recentes. Nesse embate, contrapõe-se a cruzada moral contra I Professora Tit'lar de sociologia na universidade Federal do Rio de Janei- ro (UFRf). a "ideologia de gênero" de segmentos religiosos e da extrema_ l)c acordo com a análise histórica de Miskolci, a última direita à "política das identidades" dos setores progressistas. tlt't irtla testemunhou um duplo movimento: ao mesmo tempo Se, à primeira vista, essa oposição sugere mundos apartados, (lu(' a ação desses empreendedores morais fazia minguar os Richard mostra como esses dois polos se conectam em uma (,unris cle interlocução dos rnovimentos sociais com o Estado, linguagem comum, que tem como eixo principal uma chave ,r:, r'crlcs sociais digitais acenavam como um espaço no qual os individualista e moral * e, portanto, antissociológica e anti_ rnovinrentos poderiam ter acesso ao microfone público. No intelectual - de leitura da realidade. t'rrtrrnto, assim como recepcionaram os movimentos LGBTI+, Sem incorrer em determinismo tecnológico, o autor mos_ ('ssirs redes, dada a sua natureza comercial, foram terreno ain- tra como as redes sociais contribuíram para esse estado de coi_ tlrr nrais fértil para grupos politicos de extrema-direita e para a sas, ao se tornarem o espaço hegemônico do enfrentamento tlisscminação de pânicos morais sexuais. político. A contrapelo do senso comum comercial e de muitos Até então detentores de pouca representatividade social, analistas que concebem as redes sociais como espaços mais ('sses atores encontraram nas redes sociais o ambiente propício democráticos devido à sua suposta horizontalidade, o autor l)ara construir uma base mais ampla de seguidores. Adotando mostra, de maneira convincente, como as plataformas operam t onro estratégia de comunicação nas redes sociais a propaga- L na promoção da polarização do debate e sua metamorfose em çiio c1e notícias fraudulentas, angariaram apoio e votos para disputa moral, através de simpliÍicaçoes facilmente viralizáveis scr-rs líderes e candidatos, e chegaram ao poder em 2018. Con- e da exacerbação do individualismo. lirrilm, para tal, não apenas com a complacência das corpora- O livro traça a emergência do termo "ideologia de gêne_ çÕes que detêm essas redes, mas também se adaptaram ao seu ro'] criado em oposição à agenda dos direitos sexuais e repro_ rnodelo de negócios, que remunera cliques e curtidas indepen- dutivos promovida em conferências internacionais da ONU clentemente da sua veracidade, destaca e prioriza conteúdos da década de 1990, em torno da qual se construiu uma aliança através da venda de anúncios segmentados por audiência e política conservadora, que reúne religiosos e laicos. Investi- abre amplas brechas para a montâgem de operaçoes ilegais de gando os protestos de 2013 no país, que surpreenderam muitos disseminação de notícias fraudulentas. analistas, e o contexto político que contribuiu para a sua ocor_ Os efeitos apontados por Richard, no entanto, não se de- rência, esta obra mostra como os grupos de extrema_direita têm nesse ponto, mas se estendem, também, ao próprio campo ganharam influência crescente na vida política nacional. progressista. Como o autor demonstra, as tecnologias incor- Tâl qual uma cruzada, os empreendedores morais des_ poram os valores de quem as projeta em sua própria arqui- se campo político passaram a defender ativamente a família tetura. Uma plataforma como o Facebook, por exemplo, foi como indissociável da heterossexualidade e do controle dos inspirada nos anuários das escolas norte-americanas de ensino homens em relação às mulheres e aos Írlhos. Opondo_se às médio e reflete a cultura escolar de disputa por popularidade mudanças legais e comportamentais em curso na sociedade e empreendedorismo de si que viceja nesses ambientes. Cabe brasileira, disseminaram o pânico moral sobre o que enten_ acrescentar que o design das redes sociais digitais atende fun- der.n como uma ameaça à ordem natural ou divina de gênero, damentalmente a objetivos econômicos. Seu lucro é baseado família e sexualidade. na coleta de quantidades massivas de dados e na venda de 12 '13 L mercados e predições futuras das ações dos usuários. para que rrr rr I r .rlrt llro constante da sua gestão através de açôes reiteradas isso seja possível, as plataformas os incentivam a fazer perfor_ ( lÍ ( ( )nstr'ução da diferença, da manutenção de fronteiras bem mances, construir expressões indiüduais de si nos seus perf,s, ,l, lrrrrrtirrlas com o seu exterior e da produção de repertórios além de se conectar e interagir constantemente com os outros, t lt' ;,1 ;i1i1'11c c cle conceitos que favorecem a sua coesão interna. de modo que a informação gerada se converta em mercadoria ( onr() r'esultado, disseminou-se nas redes sociais a "novilíngua" a ser vendida para anunciantes. ,l.r ,rrt'l tlc gênero e sexualidade, que tem no seu léxico expres- Por consequência, tais redes incentivam práticas com_ ,,o('., ( ( )nto "local de fala'i "experiêncid' e 'tisgeneridade'l petitivas por meio de posts, reposts, curtidas e comentários, M isl<.olci examina as premissas ontológicas e epistemoló- que constroem, assim, uma espécie de "ranking,, social dos lirt rrs t ontidas nessas expressões, conjugando os debates sobre usuários através da quantidade de seguidores e de respostas r'piste nrologia e metodologia das ciências sociais às reflexões positivas às suas postagens. No campo progressista, isso tem se ,r,.rtli'nricirs do campo de estudos de gênero. Ao fazê-lo, ofe- traduzido em mostrar-se sempre mais virtuoso, moral e puni_ rct t' liçÕes sociológicas valiosas. Em comum, elas apresentam tivista do que os outros - o que se traduz nas constantes .,tre_ ,r ( ()n)[)reensão do conhecimento e da política como algo pes- tas" e'tancelamentos" que dilaceram a esquerda e dificultam sorrl, tla ordem das escolhas individuais e, no limite, morais. O a construção de coalizoes. ,rrrtor clemonstra como essa lente despolitiza e esvazia a dis- O autor mostra como os movimentos identitários bra_ ( ussii() sobre o papel do Estado, da legislação e das políticas sileiros, sobretudo o de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trayestis, pirtrlicas na promoção dos direitos humanos e sexuais, e acaba Transexuais, Pessoas Intersexo e outros/as (LGBTI+), a des_ 1,or- lcvar essas questões para o terreno em que a direita age peito de serem muito anteriores à internet, potencializaram_se rrriris confortavelmente e tem conquistado vitórias sucessivas: pela emergência de uma nova geração de ativistas que cresceu o tlrr rnoralidade e dos costumes. conectada a essas redes sociais e que foi introduzida na luta No seu entendimento, as características das redes sociais política na década de 2010. Os jovens socializados nas plata_ potencializam seu uso por empreendedores - quer à direita ou formas técnico-comunicacionais e culturais, que seguem uma à cscluerda, a favor ou contra os direitos humanos -, mas, ape- lógica neoliberal, experimentam um processo de descoberta sirr de suas perspectivas opostas, contribuem da mesma forma de questões políticas a partir da compreensão de si como par_ para o empobrecimento do debate político. Essas ideias pas- te de uma identidade-perÍil da ação política sem mediações. s;ul também a frequentar o ambiente acadêmico, produzin- Aderindo a respostas imediatas e diretas ao que sua rede virtu_ clo um apagamento das diferenças entre o trabalho militante al reconhece como injustiças, eles recusam a presenÇa de me_ e científico. Isso porque, quem legitima seu argumento e sua diadores sociais e instituições. os usuários assumem práticas visão da sociedade em nome da vivência pessoal, ancorada nas de ação direta, que, na versão on-line, se expressa no escracho próprias experiências de vida, às quais só ele tem acesso, retira contra os adversários. qualquer função da pesquisa científica. A consequência disso e As redes sociais e sua tendência à produção de bolhas in_ a desvalorização das universidades, dos professores universitá- l formacionais ou'tâmaras de eco" mostraram possuir uma série rios e de sua produção científica como fonte de conhecimento de afinidades eletivas com a política da identidade, que implica legítimo. Os ataques conservadores contra a liberdade de 14 cátedra e a função das universidades, sobretudo na área de ( rr'Irt'r1'v11'1ção). Há, de acordo com ela, uma série de proble- Humanidades, refletiriam a mesma recusa de mediações no rrr,r,, t' t[' !]raves riscos na ênfase excessiva na cultura e no dis- campo progressista. Certamente, toda pesquisa científica apre- L il r \( ) ('nl detrimento da crítica à economia política. senta algum tipo de orientação normativa e é historicamente lr sobre a própria noção de identidade do movimento datada, mas o que diferencia a ciência de outras formas de ,lr'lilrr'r'tação de lesbicas e gays que incide a reflexão crítica busca do conhecimento é que ela se assenta em argumentos ,1.' l{ir'lrrrcl. A noção de que a escolha de objeto sexual pode, racionais, que podem ser refutados empiricamente e pelos ',,'1',trntkr o autor, deÍinir quem é uma pessoa é desafiada em quais pesquisadores e instituições assumem responsabilidade. lrtrrclírio cle uma visão que descontrói e desnaturaliza as iden- A "política das identidades", como modo de expressão Irrlrrtles, concebidas como mais fluidas e matizadas do que da diferença, tem sido criticada há várias décadas. Muitos co- ,,ul)()(' o esforço de seu enquadramento em categorias fi.xas e mentaristas de esquerda veem a política de identidade como , orrrpartimentadas. uma espécie de incômodo representando a supremacia da crí- l'rocluto de uma tese de titularidade apresentada à Uni- tica cultural em detrimento da análise das raízes materiais da v,'r.sirlacle Federal de São Paulo (UNIFESP), o livro de Richard opressão e do capitalismo. Os marxistas muitas vezes interpre- Nlisl<olci atravessa as fronteiras entre o texto acadêmico, o en- tam a ascensão da política de identidade como representando srrio c o memorial, sem prejuízo do rigor científico. Além de o Íim da crítica materialista do capitalismo. Ela é considerada .rrtir'ular pesquisas desenvolvidas pelo autor ao longo da sua como divisionista e despolitizante, pois desloca a atenção dos lrirjctirria, o texto traz reflexões sobre o campo de estudos de problemas do capitalismo para demandas culturais, mantendo 1ii'ncro e suas transformaçôes ao longo de uma década. No en- inalteradas as estruturas socioeconômicas. Para eles, a ideia de lirnto, possui a qualidade rara de enxergar além do horizonte que é preciso mudar as pessoas para modificar desigualdades, tlcssc campo de estudos e, ao analisá-lo, examinar também uma deixando as relações em que as pessoas se encontram intoca- tlccada de profundas transformações na sociedade brasileira. das, é a receita perfeita para manter as desigualdades e permi- Esta obra promove um exercício que tem se tornado in- tir o avanço de leituras individualistas e neoliberais de mundo. ('onrLlm. No ambiente das redes sociais, mecanismos algorít- Tanto para esses críticos quanto inclusive para aqueles nricos são calibrados para nos servir sempre mais e mais da que, mais recentemente, propugnam por uma aliança estra- lllesma dieta de informaçoes, baseada nos nossos gostos e pre- tégica entre movimentos sociais, de caráter não hierárquico, làrências. O autor, poÍ outro lado, propoe que lidemos com sem pretensões hegemônicas, o tema do ativismo em modo icleias incômodas, desconcertantes e que questionemos nossas identitário permanece inquestionado. Reflexões sobre gênero, certezas. De escrita fluida e acessível, o trabalho convida estu- raça e desigualdades a partir de uma base material, estrutu- clantes, professores e ativistas a fazer uma pergunta fundamen- ral e institucional - e não apenas comportamental - também tirl: como desejamos nos relacionar uns com os outros, com têm grande força. Apenas para mencionar um exemplo, Nancy nossas diferenças e discordâncias? Fraser (2006) tem frisado há décadas a importância de con- A publicação pela revista americana Harper de'A Letter jugar as agendas políticas que envolvem injustiça na cultura on |ustice and Open Debate" ["Uma carta sobre justiça e deba- (reconhecimento) com a economia (redistribuição) e a política te aberto'1, assinada por centenas de proeminentes escritores, 16 *W lntrod ução acadêmicos e artistas, abordando o enfraquecimento da cultu- ra pluralista e o livre confronto de ideias, em particular, vindos do campo progressista, é um sintoma por demais eloquente do mal-estar com os fundamentos da cultura democrática na atu- alidade. Esta preocupação está presente também em autores como Paul Gilroy, Asad Haider, Angela Nagle e outros. Vivemos um tempo em que a democracia tem navega- do em meio a paradoxos. Por um lado, é inegável que há o As origens dos conflitos atuais em torno dos estudos de fortalecimento de demandas por reconhecimento e igualdade li('n('r'o c dos direitos sexuais e reprodutivos remonta a 2010. social de grupos historicamente marginalizados, sobretudo [.l,rtgrrelc ano aconteceu a camPanha eleitoral em que - pela rrrrcira vez na história - duas mulheres concorriam à presi- mulheres, negros e minorias sexuais. Por outro, intensificou-se l,r um conjunto de representações, e práticas políticas e ,llrrt iir com chances reais de vitória: Dilma Rousseffe Marina morais que tendem a enfraquecer as normas da convivência l,rlvir, lato que trouxe a possível descriminal\zaçao do aborto democrática, baseadas na tolerância, no convencimento, na ,r(r ( ('nlr-o das discussões públicas (LuNa, 2014)- No segundo livre troca de ideias. Irrlrro, a fbrça dos segmentos conservadores convenceu a en- Diante disso tudo, é difícil exagerar a importância da t.ro canclidata Dilma a se unir a lideranças religiosas, prome- Icrrtlo náo propor a modificação da legislação sobre aborto contribuiçáo deste livro para pensarmos o momento político ('n) scu governo. brasileiro. Trata-se de um estudo sociológico aprofundado e l{ousseÍT foi eleita e, ainda que não tenha avançado na sofisticado da erosão do debate democrático no país nas últi- mas décadas, exacerbado pela emergência de um espaço pú- .rgcncla dos direitos sexuais e reprodutivos, uma coincidência blico técnico-mediatizado que potencializa o individualismo rrurlcaria seu primeiro ano de governo e criaria uma liderança neoliberal, incentivando a recusa dos mediadores sociais, quer (prc se tornaria central em sua queda e posterior substituição sejam instituiçoes ou pessoas. na prresidência. Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Fede- rll (STF) reconheceu legalmente as uniões entre pessoas do A obra que o leitor tem em mãos é um convite auspicioso para repensarmos a política pautada por confrontos identitários nlcsnlo sexo. Em retaliação, um deputado obscuro com bases e cultivarmos concepções mais amplas de justiça social, que po- eleitorais militares e religiosas'denunciou" um programa fe- dem acomodar demandas pelo reconhecimento da diferença, clcral de combate à discriminação sexual e de gênero nas es- sem perder a capacidade de diálogo e questionamento. Essas são colas como sendo um suposto "kit gay" que ameaçaria nossa reflexões urgentes para quem deseja fortalecer o espaço público irrÍância. Assim, Jair Messias Bolsonaro desencadeou um pâni- democrático e construir coalizões políticas amplas que possam co homossexual e colocou a escola no olho do furacão político fazer frente aos processos de precarização da vida e desdemo- que se armava. cratizaçã.o que estão atualmente em curso no Brasil. Retrospectivamente, é possível reconhecer que a eleição da primeira mulher como presidente da república por um partido cle esquerda - em meio à extensão de direitos a homossexuais - 19 18 t_!_. -=ryw mmpcorioinloíratuaicç l.uoã m oOp a usm deoexepsudosaoerlt muenn vaciosdoc aemasddeceoço a lpanra saar a élau sqdtasueo e ccq oisuaenert t,oar ar seee sso q d àumi sedtarirrditebeaiur tiaaíad ulno mao, n aett oisadrpginseeaccnrrtdiir_aoa rlrIr, rr,l rlrr\ rt,rr,rrrr n,,,lrIrr r,r,r i'rri,.s.' r i'rtl;trrlrrs.rr trgalseclsagliecirsÍ ofala pmtaidvsa,osai.usr mi Nzuaiamsçss aáer oe va de pedzosi r lceísetçoidcãceaoiau ei dsem a ep ctneooarrm mnsioosits cidãuieao ds qa duddeeee m,du icamroen mditdoaeess_- caos ncvreianncçears Rhooumssoesfsfae xvueatiasr. oO mpaâtneicrioa l ree vseelorvui_us pea srau faic dieirneteita p acora_ '' ,lrr i l,r,1{' 1|; ,r1 1(1)1n11lu.1lgl lc cleo dmiroe isteonsd qou ue mraap aidgaemndean tdee fcoois ttruamdeusz.ida para o mteermçainr aar iuan sire nbdaose esn dcea baepçoaidoa e pmo rt oBronloso dnea ruom. a plataforma que r\ tlisptrtir se dava entre lideranças políticas evangélicas _ no ROouss psreinffceinpyaoislv earvaamn ços sociais encampados pelo gover_ ', l1,'i,l,(,' .l1)(, .stl(c[l ipsarost acgoomnois maso d em soarnatlo dse es dMee al oC (o2n0s1tgit)u mintoes tdraem 1 9tgegr gcloavsesren. oD iemppoliesm deen atopuro vadaass d epseilgou aSlTdFa,d eesm éatgnoicsot_or adc.eia 2is0 1e2 ,d oe , "l.r rrttl'rtslt 'sir cairtcivlêismtaicso sid eden tgitêánriearso ce osmex ureallaidçaõdees, cfoantotr oevseter sqause aeoxs- pprúobvleicnoie fnetdees radle, gesacroalnaastsi n padúçoõb el5isc 0aa%sfi,r mdcaaostmi yva absga anixsoa p earnersnaid neaos ,t sunudepagenrrotieoss,r ,ll,,lr,r,'l,r, r,rrr tr'i.tz.lrtir 'çsc1 r1sne' csdi aee itsian lihnbeai ,r c mdriiaaáçilsoã goao ddsiae. nutem, an oe sCfearap íptuúlbol ic1a, saofberieta oa p carpiaerl p7p2ea lro(da oC"Pso Eneg Cirne dsdísagose ndNaoasmc. éioEsntmiacl a asob" )pr,ir lo udjmeet o2m 0da1er3c E,o mt aneman bedéxatm eCn osfoãnios atidtpuer codiioiarnedaio-l ,,1 l,ri, lr,ri'li Al.isl icnspetpoxruceaasiss, ã aeo riedmpepr oqreudneu stiovaso esq u eaers as mere ordepeluisgn iohssoaomcsia, aiesos apajevucadianalçmroae mdno tesa ssmmtoiimdeasen biotrtórearali irabcaa oalmnismleh, gaiesprfnateeatstlaaso er d i agaoc omsomv m neare riebsnga aoaçdi txõeidvae oa sse me psdisaece onr mstltaieedirlg,ioh dm õaededemoness t. ot edTsTer rmaa simbsoo acusmilah lheeiasedcd rioqodenuraseeôs,s m es fue(mic ptcuo Torssan)u .__ea, tl{l\ ri('lo\lr'o,lr .jrinu lrrl rlnlcrlulncnic'nult iicotitenoo csesm l rupnaaaíe iasaso tppoucereumneniadsat sae e dcmonoo tassrmetiooaa ,ire isisrla.ee s vcpi ino-so nvírevhi smemeílc v eue_eimro lí aa d tdmméee oopc usvea imltmooó lefiofcaanlotthtooosa drdem ee saa oqctiécsuoi eonan lmtãotaao__rl Em 2013, quando o Supremo Tribunal Federal igualou as rt'ligi,sos. Lideranças políticas com eleitorado religioso i puunlisõoe sf oei ndtared op eàs sForeasn ted op amrelasmmeon tsaer xoE vaaon gcéalsicaam e(FntpoE, ) nnoov oC oimn__ rlrltcr'crr ccÍhicaimaraavma md ad ef o"rfumnad acmomenot aalitsivmisota rse lsigei ovsoolt']a rcaomn trciobnutinrad sooe msgereugsmusno d uNoma aRc ieboganisanela , elduleomi t opcrroaanln jrudenil itgeo i oRdseea np aea nrul am\Âmale dpnotlaasrt aeSfsao nrqmtouase t(mê2m0o1r ae7ml) ,q ecuome_, trl)'rsirr eorirxra uql auàle ids oaac daieegd eacndodema ebdçreaa ssdisilreeeimriato .as see rae már evais dtaes p ceosmquois uam eam agmêenaeçrao seu estudo sociológico, é mais rígida do que a de seus próprios Na esfera política, assim, começava a se esfumaçar a fron_ ------.-----.-----------.--- tcira entre os movimentos sociais e uma área de investigação ' teOrso tváime irnpscoialrustíacdnootm ee onm traaesr c eaosç sõdeesas apavrafoinrmmçouasltg ivapaçosãr qoeu eda apn ELãoeC i rddeaoss u Fldteoomum iéensmitci cícdaosion. f l(Oit2o 0so1 b5eje )c tnoivãnoc-r lr.rlcoa ccolêmmuicma .c oEmntor es e2 0fo1s4s eem 2 0a1 m5 e-s mema cmoiesaio, naoo sc aesmo,b autmes i nsiombri_e aqui é enfatizar medidas que geraram reações e acumulararn ressenti rr i.clusão de uma perspectiva de gênero no plano Nacional mentos em relação ao governo que, posteriormente, seria impedido. cle Educação (cf. DEsraNons, 2015), no contexto de oposição 20 21 crescente ao governo Dilma Rousseffe aos escândalos de cor- ,,,Ir., l,rrrr() ()tratlros, vencer a esquerda com Fernando Collor rupção envolvendo o PT -, tal inimigo comum, que se mistu- , I rrrrl,,'nr t otttritruiu para a ascensão de Luiz Inácio Lula da rava à agenda de direitos sexuais e reprodutivos, aos estudos ,llr,r ,r,r l)()(l('t'el}r 2002. de gênero, à presidente mulher de esquerda e à corrupção, co- ',, r ( ()rltt'it a corrupção é como ser contra a fome: óbvio meçou ser chamado de "ideologia de gênero'. , llrrl,rnlt'l Algr-rem aÍLrmaria o contrário? A pauta anticor- As disputas sobre a inclusão do termo "gênero" nos con- I I rl,r,,r r ('il( ( )lltrou o momento oportuno para voltar ao centro gêneres planos estaduais e municipais de educação capilariza- ,l.r r r,l.r política em meio à Operação Lava )ato e, como nos ram a polarização política, disseminando consigo, Brasil afora, i ,iltro', rrrotttcl.ttos históricos mencionados, tendo como alvo cttl exercício. Os novos protagonistas da cruzada um pânico moral. Pânico este que criou uma plataforma ca- 'r l,rr\'('nr() paz de articular segmentos sociais diversos em uma campanha ;,, l,r rrr,rlrtlirlade pública não focaram (apenas) na corrupção com feições de cruzada. Os cruzados contemporâneos - na 'lr', n('ll()Li()s públicos, mas aproveitaram para associar a ela verdade, empreendedores morais com objetivos bem materiais Ir.rrr',lor ttritções recentes nas relações de poder entre homens e terrenos - encontraram na retórica da moralidade pública a , ilrullr('r'('\, hétero e homossexuais. janela de oportunidade para articular sua vitória eleitoral. ( ) t'rrtbate entre os blocos antagônicos se estendeu das "Ideologia de gênero'l um termo criado em oposição aos r ,u n.u irS lcgislativas às redes sociais, revelando-se um elemen- direitos sexuais e reprodutivos em conferências internacionais to ,rl,,ltrtirtaclor que ampliou exponencialmente o número de da Organização das Naçoes Unidas (ONU) na década de 1990, ',,'11rr rtkrt-es dos conservadores, garantindo-lhes uma audiên- foi emprestado ao conservadorismo católico e ressignificado no I r,r ( irtiva que lhes servia naquele momento, mas seria ainda Brasil da segunda metade da decada de 2010. Afinada com uma nr,ris tk'cisiva nas eleições de 2018. Do período das disputas tendência internacional, mais forte em países europeus de pas- ('nr [()l lto clos planos de educação, grosso modo entre 2014 e sado comunista, como Hungria e Polônia, e latino-americanos .'() l(), pussou-se ao de denúncias e perseguições a educadores' que tiveram goyernos de esquerda recentes, nossa direita encon- ,rr.( islrrs e intelectuais vistos como alguma forma de ameaça' trava a oportunidade para articular uma vitória eleitoral contra lroi então que iniciei a pesquisa que resultou neste livro, trnintkr a revisão da bibliografia disponível sobre o ttso das a esquerda que podia associar corrupçáo econômica e moral. Diferentemente de teorias da conspiração que imaginam rt'rlcs cligitais e da observação sistemática da aliança c1e grtt- uma articulação global antigênero, os dados empíricos de mi- 1,os políticos de extrema-direita que se forjou a partir de 20I -1' nha investigação apontam para o fato de que a maioria dos t.onstruí a base empírica de minhas análises' A observirção tlos embates em torno de gênero e sexualidade tem se dado a par- llr Lrpos se deu de duas formas: qualitativamente, por tl.tcio tl'' tir de conflitos políticos locais (Mrsrorcr, 2018a; 2018b). A selcção, acompanhamento e análise dos perÍrs e dlrs postirlit'rr'' crtzada moral brasileira contra a propalada "ideologia de gê- tlrrqueles que se aliaram desde 2013 em torno cle ttttlit rt1i,'rr,l.r nero' só é compreensível quando inserida em nosso contexto política comum; e, de modo complementar, ctlt (e l.lll.r";tt'ttt histórico e político. No Brasil, desde ao menos a Era Vargas, a titativos, também pelos dados disponibilizrttlos ttt,,. tr'l,tlo t r' ' luta contra a corrupção é periodicamente acionada pela opo- se tlanais do site manchetometro'conl'br solrlt t '" lr,"l r rt rr ' sição para desestabilizar governos. Ajudou a eleger populistas compartilhados em plataformas colllo () lirt"'1""'l' 22 t!

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