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Babilônia: A Mesopotâmia e o nascimento da civilização PDF

436 Pages·2018·4.57 MB·Portuguese
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Paul Kriwaczek Babilônia A Mesopotâmia e o nascimento da civilização Tradução: Vera Ribeiro Consultoria: Marlene Suano Professora do Departamento de História ‒ FFLCH/USP Especialista em história e arqueologia do Mediterrâneo Antigo Sumário Lista de mapas 1. Lições do passado: uma introdução 2. A realeza desce do céu: a Revolução Urbana Antes de 4000 a.C. 3. A cidade de Gilgamesh: a regra do templo Entre c.4000 e 3000 a.C. 4. O dilúvio: uma cesura na história 5. Homens grandes e reis: as cidades-Estado c.3000 a 2300 a.C. 6. Soberanos dos quatro cantos da Terra: a heroica Idade do Bronze c.2300 a 2200 a.C. 7. Ressurgimento sumério: o Estado dirigista c.2100 a 2000 a.C. 8. Antiga Babilônia: o apogeu c.1900 a 1600 a.C. 9. Império de Assur: colosso do I milênio c.1800 a 700 a.C. 10. Passando o bastão: um fim e um começo Depois de 700 a.C. Leitura adicional Notas bibliográficas Créditos das imagens Agradecimentos Índice remissivo Lista de mapasa 1. Antiga Mesopotâmia 2. O Crescente Fértil 3. As cidades-Estado sumérias 4. O Império de Acad 5. Terceira Dinastia de Ur 6. O Antigo Império Babilônico 7. O Império Assírio 8. O Império Neobabilônico a Os mapas são puramente indicativos e omitem muitas linhas e marcos, a bem da clareza. A história que não instrumenta as preocupações atuais equivale a pouco mais que um antiquarismo autogratificante. QUENTIN SKINNER, professor emérito de história moderna da Universidade de Cambridge; aula inaugural, 1997 1. Lições do passado: uma introdução ENFORCARAM SADDAM HUSSEIN no primeiro dia da Festa do Sacrifício, ’Eid ul- Adha, 30 de dezembro de 2006. Não foi uma execução digna. Ao ler as matérias jornalísticas sobre esse ato macabro – e grosseiro – de barbarismo, mais vingança que justiça, e ao ver as imagens de vídeos de telefones celulares distribuídas imediatamente em seguida, é impossível que eu tenha sido o único a achar que a linguagem do jornalismo cotidiano era insuficiente para abarcar acontecimentos tão extravagantes e de tamanha imponência. Desmoronam os exércitos do cruel tirano. Ele próprio foge, desaparece de vista por algum tempo, mas acaba sendo descoberto, imundo e com a barba enorme, encolhido feito um bicho num buraco no chão. É levado preso, publicamente humilhado, mantido em confinamento solitário por mil dias e submetido a julgamento perante um tribunal cujo veredicto é uma conclusão previsível. Ao enforcá-lo, seus carrascos exultantes quase lhe arrancam a cabeça. Como nos tempos bíblicos, Deus passou a falar novamente com os homens, instruindo os fazedores da história. Numa reunião secreta entre oficiais de alta patente do Exército, no Kuwait, durante os preparativos para a Primeira Guerra do Golfo, Saddam havia explicado que invadira o Kuwait seguindo instruções expressas do céu: “Deus é testemunha de que foi o Senhor quem quis que acontecesse o que aconteceu. Nós recebemos essa decisão quase pronta de Deus… Nosso papel na decisão foi quase nulo.” Num documentário da BBC exibido em outubro de 2005, Nabil Sha’ath, ministro de Relações Exteriores da Autoridade Palestina, relembrou que “o presidente Bush disse a todos nós: ‘Sou movido por uma missão divina. Deus dignou-se dizer-me: ‘George, vá combater aqueles terroristas no Afeganistão.’ E eu o fiz; e então Deus me disse: ‘George, vá pôr fim à tirania no Iraque…’ E eu o fiz. E agora, mais uma vez, sinto as palavras de Deus vindo até mim.’” Não seria grande surpresa que o conflito começasse com uma voz trovejando nos céus, clamando “Ó presidente Saddam” e prosseguindo como no Livro de Daniel, 4:31: “A ti se diz: Passou de ti o reino. E serás tirado do convívio dos homens, e a tua morada será com os animais do campo.” Faz-se necessária a linguagem do Velho Testamento, talvez do Livro dos Reis, para retratar os detalhes do fim de Saddam Hussein em toda a sua dimensão quase mítica. Assim: Era a manhã do sabá, antes do nascer do sol. E o levaram a entrar na cidade e o conduziram ao local da execução. E lhe ataram as mãos e os pés, como era seu costume no preparo da execução. E o vilipendiaram, dizendo: “Quão decaídos estão os poderosos, e que sejas amaldiçoado pelo Senhor.” E puseram a corda em torno do seu pescoço e de novo o vilipendiaram, louvando os nomes e títulos dos seus inimigos, e disseram: “Que Deus te amaldiçoe e que desças às profundezas do inferno.” E ele retrucou, dizendo: “É esta a vossa virilidade? Isto é um cadafalso da vergonha.” E de novo eles lhe dirigiram a palavra, dizendo: “Prepara-te para ir ao encontro de Deus.” E ele rezou a Deus, dizendo: “Não existe Deus senão o Senhor.” E assim eles o enforcaram. E do local da execução ergueu-se um grande clamor, e das ruas e dos mercados. Era a manhã do sabá, e o sol se ergueu sobre as muralhas da Babilônia. Ver a Guerra do Iraque de George W. Bush pela ótica bíblica não é apenas uma fantasia de escritor, a reação de alguém como eu, apresentado à história do Oriente Médio pela Bíblia, quando criança. Saddam também se via como sucessor dos soberanos da Antiguidade. Particularmente, tomou por modelo Nabucodonosor II (605-562 a.C.), conquistador e destruidor de Jerusalém e seu templo, descrevendo-o, num múltiplo anacronismo, como “um árabe do Iraque”, que lutou, como o próprio Saddam, contra persas e judeus. (Nabucodonosor não era árabe, e sim caldeu, não haveria Iraque por mais dois milênios e meio, e o judaísmo, tal como o conhecemos, ainda não existia.) O emblema do Festival Internacional da Babilônia de 1988 mostrou o perfil de Saddam superposto ao de Nabucodonosor; segundo um jornalista do New York Times, o contorno de seu nariz foi alongado para torná-lo mais parecido com o rei mesopotâmico. Saddam também enaltecia Hamurabi (c.1795-1750 a.C.), o soberano do Antigo Império Babilônico que ficou famoso por seu código judicial do olho por olho, dente por dente, e deu à mais poderosa força de ataque do Exército iraquiano o nome de Divisão Blindada Hamurabi da Guarda Republicana; outra unidade era a Divisão de Infantaria Nabucodonosor. O líder iraquiano, nas palavras de John Simpson, da BBC, era “um inveterado construtor de monumentos a si próprio” e realizou projetos grandiosos de construção, numa imitação consciente de seus ilustres predecessores. Imagens gigantescas do líder iraquiano mostravam-no, como um antigo monarca sumério, levando no ombro um cesto de operário da construção civil, embora os antigos fossem retratados segurando o primeiro punhado de argila para a feitura de tijolos, enquanto Saddam foi representado carregando uma tina de cimento. Ele iniciou uma reconstrução maciça do sítio em que se localizava a antiga Babilônia, embora a reconstrução que empreendeu, no dizer de um historiador da arquitetura, fosse “um pastiche de má qualidade e com erros frequentes de escala e nos detalhes…”. Como os monarcas da Antiguidade, Saddam mandou gravar seu nome nos tijolos; milhares deles traziam a inscrição “A Babilônia de Nabucodonosor foi reconstruída na era do líder presidente Saddam Hussein”. Nunca dado a exibir um desnecessário bom gosto, mandou gravar o texto em árabe moderno, e não na escrita cuneiforme babilônica. As razões políticas do interesse de Saddam Hussein de se ligar ao passado distante e pré-muçulmano de seu país são claras. Como no caso do xá do vizinho Irã, que fez em 1971 a famosa declaração de seu parentesco com Ciro, o Grande, fundador do primeiro Império Persa, da dinastia aquemênida, qualquer tentativa de chegar à liderança do Oriente Médio exige que, primeiramente, o aspirante neutralize as afirmações das sagradas Meca e Medina, na Arábia Saudita – as cidades do Profeta –, de serem elas a única fonte suprema da legitimidade islâmica. Há muita ironia no fato de que a política anglo-americana no Oriente Médio, desde a Operação Ajax – a deposição do primeiro-ministro secularista, socialista e democraticamente eleito do Irã, Mohammed Mossadegh, em 1953 – até a Operação Liberdade do Iraque – a derrubada do ditador nacionalista secular Saddam Hussein, em 2003 –, tenha servido, na prática, se não na intenção, para assegurar a dominação contínua do islamismo sobre quase todos os países da região. E com isso promoveu, inevitavelmente, a afirmação do islamismo salafista – que recorre aos sucessores imediatos do Profeta na busca de seus modelos políticos – de fornecer os únicos princípios autênticos sobre os quais erigir um sistema político legítimo. Talvez Saddam – o que quer que ele possa ter sido, não era burro nem desprovido de perspicácia – também tenha reconhecido outra verdade ainda maior da política de poder do Oriente Médio. Nosso estilo de vida e nossa compreensão do mundo podem ter mudado profundamente desde a Antiguidade, mas estaremos fazendo a nós mesmos um elogio indevido se acharmos que nosso comportamento é diferente em algum sentido ou que a natureza humana se alterou muito no correr dos milênios. A história nos diz que a região que os gregos chamavam de Mesopotâmia, por se situar “entre os rios” Tigre e Eufrates, foi disputada por romanos e partas, bizantinos e sassânidas, muçulmanos e magos, até que perfeitos forasteiros

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Uma narrativa fascinante sobre o início da civilização tal como a conhecemos hoje Em Babilônia, Paul Kriwaczek conta a história da antiga Mesopotâmia, desde as primeiras povoações, em torno de 5400 a.C., até a chegada dos persas no século VI a.C. O autor faz a crônica da ascensão e queda
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