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Aves da Baía do Araçá e arredores PDF

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Aves da Baía do Araçá e arredores s e r o d e r r a e á ç a r A o d a aí B a d s e v A ISBN 978-85-922643-0-7 Patricia Luciano Mancini Bianca Santos Matinata +10 9788592264307 Luciano Gomes Fischer Aves da Baía do Araçá e arredores Patricia Luciano Mancini Bianca Santos Matinata Luciano Gomes Fischer 2017 Copyright © 2017 Patricia L Mancini, Bianca S Matinata e Luciano G Fischer Para uso das fotografias ou de trechos do livro consulte os autores por e-mail. O PDF pode ser acessado em ResearchGate.net ou solicitado aos autores. Coordenação Geral do Projeto Biota/FAPESP-Araçá Antônia Cecília Zacagnini Amaral Alexander Turra Aurea Maria Ciotti Carmen L. D. B. Rossi-Wongtschowski Yara Schaeffer-Novelli Revisão Luís Fábio Silveira Aos nossos pais, que acreditam nos nossos sonhos. Fotografias Luciano Gomes Fischer Patrícia Luciano Mancini Bianca Santos Matinata Daniel Mello Gabriel Mello Capa, Projeto Gráfico e Diagramação Luciano Gomes Fischer Citação sugerida: Às aves, que nos fazem sempre levantar os olhos e Mancini, P.L.; Matinata, B.S.; Fischer, L.G. 2017. Aves da Baía do Araçá e arredores. 1ª Edição, Patricia Luciano Mancini, São Paulo, 108 p. enxergar muito além do nosso próprio mundo. Mancini, Patricia Luciano Aves da Baía do Araçá e arredores. / Patricia Luciano Mancini, Bianca Santos Matinata, Luciano Gomes Fischer. São Paulo: Patricia Luciano Mancini (Editora), 2017. 108p.; il. ; 21 cm ISBN 978-85-922643-0-7 1. Avifauna - São Sebastião, Brasil 2. Aves, Baía do Araçá, São Sebastião 3. Aves - Fotografia 4. Aves - Manguezal. I. Matinata, Bianca Santos. II. Fischer, Luciano Gomes. III. Título. CDD 598.298161 5 SUMÁRIO Prefácio 7 Apresentação 8 Agradecimentos 11 Introdução 12 Ameaças às Aves 15 A Baía do Araçá 16 As Aves da Baía do Araçá 18 O Mangue da Balsa 20 As Aves do Mangue da Balsa 20 O Canal de São Sebastião 22 As Aves do Canal de São Sebastião 22 O Porto de São Sebastião 24 Dicas para Observação de Aves 26 Ciência Cidadã 28 Como Usar o Guia 30 Morfologia Externa Básica das Aves 31 Fichas das Espécies 32 Pranchas das Espécies 90 Glossário 98 Bibliografia 100 Sites Consultados 102 Lista de Espécies 103 Créditos Fotográficos 106 Sobre os Autores 108 Egretta thula - garça-branca-pequena 7 Coereba flaveola - cambacica Prefácio Este guia é um produto do projeto temático "Biodiversidade e funciona- mento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integra- da" (FAPESP 11/50317-5). Ele tem por objetivo fornecer informações práticas que permitam a identificação das aves comumente presentes na Baía do Araçá, como também na zona costeira de grande parte do Sudeste do Brasil. Ao longo de muitos anos, a comunidade acadêmica tem estudado a Baía do Araçá que, quando observada com detalhes, impressiona por sua beleza e elevada diversidade biológica. Neste projeto houve o envolvimento de mais de uma centena de pesquisadores e revela o conhecimento adquirido nestes quatro últimos anos, por meio de publicações em revistas científicas, folders, livros e guias como esse, sobre as aves da baía, o qual, como coordenadora do Projeto Biota/FAPESP-Araçá, tive o privilégio de ter sido convidada para ser a prefaciadora. Não sou ornitóloga, como os autores bem sabem, porém, minha curiosi- dade em conhecer as aves começou quando iniciei em 1973 minha pesquisa de mestrado, trabalhando com fauna de praias. A dificuldade em reconhecer aquelas aves que sobrevoavam a praia ou caminhavam pela areia era imensa. Onde obter este conhecimento de forma correta e simples? Por esta razão, te- nho certeza que este guia tem várias destinações. Dentre elas disseminar o co- nhecimento adquirido pelos colaboradores envolvidos pelo entusiasmo e com- promisso da Patrícia Mancini em preparar um material de fácil acesso, porém com rigor científico, proporcionando conhecimento à população, capacitando- -a a participar das decisões que impactam a biodiversidade da região. Além disso, esse guia deve ficar disponível em bibliotecas, laboratórios de pesquisa, salas de aulas e com certeza, nas mãos de pessoas de diferentes formações e interesses. Ele também deve ser distribuído em pousadas à beira-mar e que com certeza sentirão orgulho em folhear um guia de aves ilustrado e de lingua- gem simples, acessível e identificar as aves que se encontram em seu entorno. Iniciativas como esta, compor um guia de altíssima qualidade sobre as aves que frequentam a Baía do Araçá, só podem enriquecer o interesse das pessoas em observar e preservar a avifauna e seus hábitats. A observação de aves é extremamente difundida em diversos países, porém no Brasil apesar da grande diversidade, essa atividade ainda é pouco praticada. A edição do guia "Aves da Baía do Araçá e arredores" é extremamente bem vinda, e reflete a excelência e maturidade do trabalho investigatório que tem sido desenvolvido pelo Projeto Biota/FAPESP-Araçá. Este guia revela a elevada diversidade de aves no local, até aqui desconhe- cida e que, sobretudo constitui um sólido argumento para a preservação da baía. A. Cecilia Z. Amaral Coordenadora do Projeto Biota/FAPESP - Araçá 9 Apresentação Esse guia de aves faz parte do projeto "Avifauna associada à Baía do Araçá (sudeste do Brasil): composição, abundância, uso de hábitat e relações trófi- A elaboração do guia "Aves da Baía do Araçá e arredores" é fruto de inúme- cas", desenvolvido pela Dra. Patricia Mancini e colaboradores, sob a super- ras horas de persistente observação e esforço da Dra. Patricia Luciano Mancini, visão do Prof. Luís Fábio Silveira, do Museu de Zoologia da Universidade de da colaboração de Bianca Santos Matinata e da magnífica fotografia do Dr. Lu- São Paulo. A pesquisa visou preencher a lacuna de conhecimento sobre a ciano Gomes Fischer. avifauna na região, e que se torna ainda mais relevante visto a eminência da Este guia de aves foi produzido dentro do contexto do Projeto Biota/FA- expansão do Porto de São Sebastião, que ameaça diretamente a existência da PESP-Araçá "Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro sub- Baía do Araçá. tropical: subsídios para gestão integrada", subvencionada pela Fundação de Quando convidamos a Dra. Patricia para participar do Módulo Sistema Amparo à Pesquisa do Estado De São Paulo (FAPESP). O Projeto Biota/FAPESP- Nectônico, realizando o levantamento das aves da Baía do Araçá, não tínha- -Araçá é um marco nos estudos sobre ecossistemas costeiros. Os resultados mos ideia sobre a riqueza da avifauna ali presente, onde até hoje foram con- obtidos sobre sua importância ecológica, social, econômica e política viabili- tabilizadas 78 espécies terrestres e aquáticas que fazem parte da teia trófica zarão o entendimento dessa região sob uma ótica integrada, de forma a gerar do local. subsídios para o diálogo entre sociedade e tomadores de decisão, e definir A Patricia não se contentou em estudar apenas as aves da Baía do Araçá: políticas públicas voltadas a seu uso sustentável. Isso é especialmente impor- se deslocou para o Canal de São Sebastião e para o Mangue da Balsa, ávida tante considerando que a Baía do Araçá encontra-se dentro de duas unidades para entender o que acontecia no entorno. Esta curiosidade foi premiada, e de conservação, a Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte do outras espécies foram acrescentadas ao registro inicial, revelando a maravi- Estado de São Paulo (APA do Litoral Norte) e da Área de Proteção Ambiental lhosa avifauna da região. Além disso, constatou-se a importância do Mangue Municipal dos Alcatrazes (APA de Alcatrazes). da Balsa para a nidificação de algumas espécies de aves aquáticas, como o No âmbito do Projeto Temático Biota-FAPESP/Baía do Araçá, e atendendo a savacu-de-coroa (Nyctanassa violacea), ameaçado de extinção no estado de demanda necessária dentro do Módulo Sistema Nectônico, (responsável pelo São Paulo, além de diferentes espécies de garças. levantamento da diversidade de peixes, tartarugas marinhas, aves e mamíferos O livro se propõe a estimular a prática de observação de aves na região, marinhos), os autores registraram mensalmente, ao longo de um ano, as aves oferecendo dicas e sugestões de como iniciar as "passarinhadas". Um esque- da Baía do Araçá e áreas adjacentes, localizada ao lado do porto de São Sebas- ma da morfologia externa das aves foi inserido para facilitar a descrição das tião e ao Canal de mesmo nome (veja mapa abaixo). aves e a compreensão do leitor. São apresentadas fichas de 42 espécies con- tendo fotos, descrição das espécies, e informações sobre distribuição, hábi- tat, alimentação e curiosidades sobre cada uma delas. Procurando minimizar o volume de informações, sem deixar de registrar outras espécies que foram avistadas na área, pranchas com fotos de outras 42 aves constam no final do livro. Este livro apresenta de forma simples, didática e bem ilustrada muitas das aves que habitam a região e, acreditamos que constituirá importante ferra- menta para disseminar o conhecimento adquirido, ao ser utilizado por toda a comunidade que mora nos entornos do Araçá, lideranças locais, escolas e formadores de opinião. Serve ainda para alertar as autoridades públicas e privadas sobre a neces- sidade de preservar essa belíssima fauna de aves para que, no futuro, outros dela desfrutem. É com muito orgulho que escrevo esta apresentação e quero elogiar e agradecer os autores pelo belíssimo resultado. Carmen L.D.B.R. Wongtschowski Coordenadora do Módulo Sistema Nectônico, Projeto Biota/FAPESP-Araçá 10 11 Egretta caerulea - garça-azul Agradecimentos À coordenação do Projeto Biota/FAPESP-Araçá (2011/50317-5): Profa. Dra. Antônia Cecília Zacagnini Amaral, Prof. Dr. Alexander Turra, Profa. Dra. Aurea Maria Ciotti, Profa. Dra. Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski e Profa. Dra. Yara Schaeffer-Novelli pela elaboração do projeto temático "Biodiversida- de e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integrada". À Profa. Dra. Carmen Lúcia Del Bianco Rossi-Wongtschowski, coordenadora do Módulo II: Sistema Nectônico, e à Profa. Dra. Lucy Satiko Hashimoto Soares, coordenadora do Módulo VII: Interações Tróficas, pelo convite para participar desse importante projeto, pelo incentivo, apoio, palavras de carinho e por se- rem profissionais inspiradoras! Ao Prof. Dr. Luís Fábio Silveira pela criteriosa revisão e valiosas sugestões que contribuíram para aperfeiçoar a qualidade deste livro. À Profa. Dra. Yara Schaeffer-Novelli, coordenadora do Módulo IV: Sistema Manguezal, pelos ensinamentos e informações sobre o manguezal. Aos pesquisadores Dr. Thiago Vernaschi Vieira Costa, Dr. Vítor de Queiroz Piacentini, Dr. Leandro Bugoni e Dr. Luís Fábio Silveira pelos esclarecimentos na identificação de algumas das espécies. Ao Gabriel Mello e Daniel Mello por colaborarem com as belas fotos de Eudocimus ruber, Aramides cajaneus, Herpsilochmus rufimarginatus e Cantor- chilus longirostris. Aos colegas da Seção de Aves do Museu de Zoologia da USP, pelo auxílio em campo e pela troca de experiências, em especial à Ariane Campos Gouveia, Fernanda Bocalini, Jeremy Kenneth Dickens e Natália da Mata Luchetti. A todos os moradores da Baía do Araçá, especialmente aos prestativos Neemias Nobre Borges, Marcelo Alves (Latinha) e Moacir Nobre de Jesus (tio Moa) pelas dicas e informações sobre as aves. Ao querido Sr. Luís Paulo Dutra, motorista de taxi, por nos auxiliar na logís- tica e transporte sempre com pontualidade, eficiência e bom humor. Ao Secretário do Meio Ambiente da Prefeitura de São Sebastião, Dr. Eduar- do Hipólito do Rego pela autorização para desenvolver as atividades de pesqui- sa no Mangue da Balsa (Autorização 0003/2014 SEMAM). Ao Museu de Zoologia da USP, pela disponibilização da infraestrutura e por abrigar a Coleção de Aves, sob a curadoria do Prof. Dr. Luís Fábio Silveira. Ao Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar/ USP), pelo apoio logístico e infraestrutura durante as amostragens e a todos os seus funcionários, sempre muito prestativos e atenciosos. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo auxílio para o desenvolvimento do projeto e pela bolsa concedida. 12 13 Introdução O formato e tamanho das asas diferem entre as espécies, possibilitando uma grande variedade de estilos de voo. Você já deve ter notado urubus pla- As aves encantam os seres humanos graças à sua extraordinária beleza e nando durante muito tempo no ar com suas largas e compridas asas, ou mes- diversidade de cores de suas penas, vocalizações e comportamentos, sem falar mo o voo com muitos batimentos de asas, como observado nos biguás e nas na invejável capacidade de voar. O voo só foi possível devido às várias adapta- marrecas. As andorinhas fazem rápidas manobras no ar devido às asas com- ções morfológicas, tais como: pridas, e os beija-flores podem bater suas pequeninas asas até 90 vezes por • Penas recobrindo o corpo. As penas são estruturas muito leves, que au- segundo, voando em diferentes sentidos ou mesmo pairando no ar. As penas xiliam na manutenção da temperatura corporal, entre outras funções vitais; da cauda das aves, conhecidas como retrizes, também são fundamentais pois • Esqueleto formado por ossos pneumáticos (ocos e cheios de ar) resis- auxiliam no direcionamento durante o voo. tentes e leves; Muitas espécies de aves são migratórias, ou seja, se deslocam periodica- • Membros anteriores modificados em asas, que geram o impulso neces- sário para o voo, além de possibilitar manobras; mente entre os locais de reprodução e os locais de descanso reprodutivo ou • Presença de uma quilha no osso esterno, onde localizam-se músculos de invernagem. Algumas espécies podem voar milhares de quilômetros entre peitorais muito desenvolvidos que movimentam as asas; essas duas áreas. Todos os anos alguns visitantes procedentes do Canadá e dos • Ausência de bexiga urinária e dentes, que contribuem para a redução do Estados Unidos, após a reprodução, vêm passar as "férias" no Brasil. Esse é o peso corporal. caso das batuíras-de-bando, dos maçaricos-de-sobre-branco e dos maçaricos- Algumas aves, como as emas e os pinguins, apesar de possuírem muitas -pintados, também encontrados na Baía do Araçá e no Mangue da Balsa (e que das características citadas acima, acabaram perdendo a capacidade de voar ao você conhecerá mais adiante). São animais que viajam mais de 10 mil quilôme- longo da sua evolução. tros só para apreciar a "gastronomia local" composta pelos vermes poliquetas, A capacidade de voar foi importante para que as aves conseguissem se larvas de insetos, pequenos camarões e outros invertebrados de pequeno por- distribuir amplamente por vários ambientes em todo o planeta, ocupando os te que vivem nesses locais. mais distintos hábitats como florestas, praias, campos, manguezais e ilhas, des- As aves tem papel essencial na manutenção e no funcionamento dos há- de as regiões tropicais até os polos. Atualmente existem cerca de 12.000 espé- bitats onde vivem. Muitas espécies auxiliam na polinização das plantas (beija- cies de aves no mundo e destas, 1.919 ocorrem no Brasil, que é o segundo país -flores e cambacicas), na dispersão de sementes e frutos (tiês, saíras e tuca- com a maior diversidade de aves no planeta. Apenas a Colômbia, com 1.921 espécies, supera o Brasil. nos), fundamentais para a reprodução de muitas espécies vegetais, garantindo Algumas características marcantes das aves são os variados formatos, a manutenção de matas e florestas. Gaviões e corujas controlam populações tamanhos e cores de seus bicos e suas chamativas penas coloridas. Os bicos de roedores. Andorinhas e outras aves se alimentam de mosquitos, cupins e estão diretamente relacionados ao tipo de alimento que as aves consomem. outros insetos, incluindo alguns prejudiciais ao homem. Os urubus são extre- Note, por exemplo, o longo e forte bico das garças que é utilizado para pescar, mamente importantes, pois se alimentam de carcaças e restos de animais mor- enquanto que os das andorinhas são diminutos e servem para capturar pe- tos. As aves também servem de alimento para outros animais, incluindo outras quenos insetos em voo. Os beija-flores tem o bico fino e longo, próprio para aves que predam os ovos e os filhotes, como o tucano e o anu-branco. alcançar o interior das flores e se alimentar do néctar, e os urubus e gaviões O acúmulo dos excrementos das aves marinhas, também conhecido como possuem bico forte e afiado adaptado para dilacerar carcaças. guano, é utilizado como fertilizante na agricultura. O guano é encontrado em Os pés das aves, por sua vez, são um indicativo do tipo de ambiente em grande quantidade em várias ilhas oceânicas, hábitat de colônias de aves ma- que elas vivem. As aves terrestres possuem variados arranjos na disposição rinhas. Nas ilhas oceânicas do Peru, o guano foi o principal produto exportado dos dedos, permitindo agarrar as suas presas (como nos gaviões e corujas, por durante o século XIX e o início do século XX. Até hoje existe uma grande de- exempo), manipular o alimento (papagaios, araras e periquitos) ou mesmo es- manda por guano peruano, por ser um excelente fertilizante natural. calar árvores (pica-paus e arapaçus). Aves aquáticas como os marrecos, ato- bás, gaivotas e trinta-réis têm membranas entre os dedos dos pés (conhecidas Algumas espécies de aves são utilizadas como indicadoras da qualidade do como membranas interdigitais) que facilitam seu deslocamento na água. Ou- seu ambiente, pois só são encontradas quando este se apresenta em bom esta- tras espécies como as garças e os colhereiros possuem pernas e dedos longos, do de conservação. Entre muitos casos, destacamos aqui o savacu-de-coroa ou adaptados para caminhar em ambientes alagados. socó-caranguejeiro, que habita as áreas de mangue bem preservados. 14 15 Ameaças às Aves Embora o Brasil tenha a segunda maior diversidade de espécies de aves no mundo, infelizmente, não estamos preservando nossa rica fauna de aves nem os ambientes onde elas vivem. O Brasil é o país com o maior número de espécies ameaçadas de extinção. De acordo com a "Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção", existem seis espécies extintas e 234 espécies de aves ameaçadas no Brasil (MMA 2014), que representam 11% de todas as espécies de aves do Brasil, ou 13% de todas as aves ameaçadas no planeta (1.227 espécies) segundo a BirdLife International (2015). A principal ameaça para a maioria das espécies de aves é a destruição ou a descaracterização do ambiente natural onde elas vivem. Por isso é essencial conhecer o uso que elas fazem de cada área, visando conservar esses ambien- tes e garantir a manutenção dos hábitats essenciais para o seu ciclo de vida. Essa é uma ameaça muito grave que ocorre em todas as regiões do Brasil. No levantamento da avifauna realizado na Baía do Araçá e seu entorno (descri- to em detalhes a seguir), das 84 espécies registradas, cinco estão ameaçadas devido à perda de hábitat, ou seja, 6% das espécies. O trinta-réis-real (Thalas- seus maximus) e o trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna hirundinacea) constam na Lista Nacional da Fauna Ameaçada (MMA 2014), enquanto que o savacu- -de-coroa (Nyctanassa violacea), o papagaio-moleiro (Amazona farinosa) e o guará (Eudocimus ruber) estão na Lista Estadual da Fauna Ameaçada de São Paulo (Silveira et al. 2009). Caracara plancus - carcará Platalea ajaja - colhereiro Sterna hirundinacea trinta-réis-de-bico-vermelho A captura e o comércio ilegal de aves silvestres também é uma ameaça para muitas espécies. Capturar, perseguir e manter aves em cativeiro, sem li- cença da autoridade competente, é crime (Lei 9.605/1998). É possível adquirir aves legalizadas, que devem sempre ser mantidas em condições que garantam o seu bem estar em cativeiro. Outra ameaça são as colisões das aves contra vidraças, muros e prédios das cidades, cada vez mais frequentes. Estima-se que milhões de aves ao redor do mundo sejam mortas a cada ano dessa forma. Aplicar adesivos e deixar crescer plantas trepadeiras são algumas soluções para evitar esses acidentes. 17 A Baía do Araçá principalmente para as aves aquáticas que aproveitam esse cardápio diversi- A Baía do Araçá é uma pequena enseada com área de aproximadamente ficado. 0,5 km², localizada no município de São Sebastião, no litoral norte do Estado Segundo a legislação vigente, por abrigar núcleos de manguezal, a Baía de São Paulo. No entanto, seu pequeno tamanho não é proporcional à sua im- do Araçá é uma Área de Preservação Permanente (APP), sendo considerada portância. Dentro da Baía do Araçá existem diversos ambientes, como costões um Patrimônio Nacional pela Constituição Brasileira (05/10/1988). As APPs são rochosos, quatro praias arenosas (Deodato, Pernambuco, Germano e Topo), áreas naturais, com rígidos limites de exploração que tem por objetivo prote- duas ilhotas (Pernambuco e Pedroso), uma ampla planície lamosa, que fica ger os solos. A Baía do Araçá também faz parte da Área de Proteção Ambiental exposta na maré baixa, o Córrego Mãe Izabel e seis remanescentes de mangue. Marinha do Litoral Norte do Estado de São Paulo (APAMLN) e a Área de Prote- Em todo o litoral norte do Estado de São Paulo existem apenas 3,4 km² de ção Ambiental Municipal de Alcatrazes (APA de Alcatrazes). manguezais. Essa diversidade de ambientes da Baía do Araçá abriga mais de Mas você sabe o que é uma Área de Proteção Ambiental? A Área de Prote- 1.400 espécies de organismos, incluindo 78 espécies de aves, 122 de peixes ção Ambiental (APA) é uma categoria de unidade de conservação de uso sus- e centenas de espécies de invertebrados. Os invertebrados são muito abun- tentável, que tem como objetivos "proteger a diversidade biológica, disciplinar dantes servindo de alimento para centenas de espécies que vem se alimentar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos dentro da Baía do Araçá. Lá habitam muitas espécies de camarões, carangue- naturais" (Lei 9.985 de 18 de julho de 2000, do Sistema Nacional de Unidades jos, siris, ermitões, mexilhões, berbigões, ostras, estrelas-do-mar, ouriços-do- de Conservação - SNUC). No entanto, mesmo inserida em duas Unidades de -mar, esponjas, anêmonas, cracas, entre outros. As macroalgas também são Conservação, esse pequeno refúgio que abriga tamanha biodiversidade vem importantes como alimento e para a manutenção da biodiversidade local, pois sofrendo com ocupações irregulares, emissão de efluentes de esgoto domésti- centenas de espécies de pequenos organismos vivem associadas a elas. As ma- co e vazamentos de óleo constantes por estar localizado aos arredores do Por- croalgas também são o alimento preferido das tartarugas-verdes observadas to de São Sebastião e do Terminal Aquaviário da Petrobrás. Além disso, existe na Baía do Araçá durante a maré alta. Graças a essa fartura de alimento é que a a eminência da expansão do Porto de São Sebastião, que ameaça diretamente Baía do Araçá pode ser considerada um verdadeiro "restaurante" a céu aberto, a existência da Baía do Araçá. 18 19

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