Universidade Federal de Santa Catarina Centro Sócio-Econômico Departamento de Economia e Relações Internacionais Curso de Graduação em Ciências Econômicas TITO LUIZ PEREIRA AUTORITARISMO E CHOQUE: A violência como forma de aplicar políticas neoliberais na ditadura Pinochet Florianópolis (SC), 2014 TITO LUIZ PEREIRA AUTORITARISMO E CHOQUE: A violência como forma de aplicar políticas neoliberais na ditadura Pinochet Monografia apresentada ao Departamento de Economia e Relações Internacionais Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito obrigatório para a obtenção do Título de Bacharel em Ciências Econômicas. Florianópolis (SC), 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota 10,0 (dez) ao aluno TITO LUIZ PEREIRA na disciplina CNM 5420 – Monografia, como requisito obrigatório para a obtenção do grau de Bacharelado em Ciências Econômicas. Banca Examinadora: ____________________________________________ Prof. Dr. Valdir Alvim da Silva Orientador – CNM/CSE/UFSC ____________________________________________ Prof. Dr. José Antônio Martins Membro 1 - CNM/CSE/UFSC ____________________________________________ Prof. Ms. Daniel Piassa Giovanaz Membro 2 - HST/CFH/UFSC . FLORIANÓPOLIS, 2014 2 À angústia AGRADECIMENTOS Agradeço, é claro, meus pais, dona Dadá e seu Aristo, mamãe e papai, eles que até hoje não entendo como conseguiram me dar suporte inimaginável, que, acima de tudo, me ensinaram a amar e a lutar intensamente, a eles devo tudo. Ao meu orientador Alvim, pela paciência, confiança e ajuda na monografia. Ao Andrey, meu melhor amigo. À Jaque, minha melhor amiga. À Tamara pela insistência em me fazer amá-la, pelas fofocas, pelas brigas, pela cumplicidade e por ter me acompanhado por toda minha jornada. À Glenda pela insistência em me amar, mesmo quando eu não merecia. Pelo encanto, pela inteligência e pela paixão. Nunca realeza foi mais legítima, mais natural, mais aclamada pelo reconhecimento, mais confirmada pela impotência da rebelião. Por ser quem é, e por me amar do jeito que sou. À Iô, pela parceria, por nunca me deixar ficar infeliz, por me entender e por ser essa mulher única que é. À Renata, pela convicção, inteligência, rebeldia e paixão. Por ter decidido meu tema e minha referência bibliográfica, por atrasar em um mês a conclusão da minha monografia. Por acreditar na minha inteligência, e me incentivar a usá-la. Ao CALE, o melhor Centro Acadêmico da história da humanidade. Ao DCE e ao ME o ponto crucial de transformação na minha vida, lugar onde fiz meus melhores amigos, onde aprendi quase tudo que sei, onde vivi tão intensamente que mal consegui respirar, onde sofri e amei todo momento, onde cresci. Ao Ufsctock, maior festival de bandas independentes de Santa Catarina e melhor experiência da minha vida universitária. Ao Coletivo Maruim, pelo potencial e promessa de futuro. Ao Reino da Babúcia, à Manacéia e todos os lugares onde morei ou considerei meu lar. Às minhas irmãs, Domi, Lívia e Clarice, por aprendermos a nos amar. À Arlete, que é muito mais do que família. À toda família Pereira e de Pieri. E finalmente, às Brigadas Populares, a alternativa socialista para a realidade brasileira, a chama revolucionária sempre acesa, a todos os companheiros que partilham do mesmo horizonte e amam intensamente o povo brasileiro. A todos meus amigos. A todos que esqueci. A meu próximo. A meu distante. A quem me incendeia. — Calma, pequeno louco, rosnou o lobisomem. Quando chegar a sua vez de saltar para o Nada, você se transformará também num servidor do poder, desfigurado e sem vontade própria. Quem sabe para o que vai servir? É possível que, com sua ajuda, se possa convencer os homens a comprar o que não necessitam, a odiar o que não conhecem, a acreditar em quem os domina ou a duvidar de quem os podia salvar. Por seu intermédio, pequenos seres de Fantasia, fazem-se grandes negócios no mundo dos homens, desencadeiam-se guerras, fundam-se impérios... Gmork para Atreyu (Michael Ende, A História Sem Fim) RESUMO PEREIRA. Tito Luiz. Autoritarismo e Choque: a violência como forma de aplicar políticas neoliberais na ditadura Pinochet. Florianópolis, 2014. 99f. Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Sócio-Econômico. A tese da doutrina do choque, elaborado por Naomi Klein em seu livro A Doutrina do Choque: Ascensão do Capitalismo do Desastre, definida como um estado de terror e choque coletivo de complexo social é usado pelo Estado para conseguir aplicar políticas neoliberais que vão contra os interesses da classe trabalhadora. Este trabalho então, busca analisar através da experiência chilena a veracidade do conceito, tentando, ao mesmo tempo, inseri-la dentro de um arcabouço teórico marxista através da discussão da Teoria Marxista da Dependência de André Gunder Frank e Rui Mauro Marini, a ontologia do ser social e ideologia proposta por György Lukács e hegemonia proposta por Antônio Gramsci. Palavras chave: Doutrina do Choque; Lukács; Naomi Klein; Chile; Pinochet; Friedman; Gunder Frank. ABSTRACT PEREIRA. Tito Luiz. Authoritarianism and Shock: the violence as form of applying neoliberal politics in the dictatorship Pinochet. Florianópolis, 2014. 99f. Monograph (Undergraduate) - Federal University of Santa Catarina, Socio-Economic Center. The thesis of the Shock Doctrine, written by Naomi Klein in her book The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism, defined as a state of collective terror and shock of a social complex is used by the State to to apply neoliberal policies that go against the interests the working class. This paper then seeks to analyze through the Chilean experience the truth of the concept, trying at the same time, insert it within a Marxist theoretical framework through discussion of Marxist Theory of Dependence by André Gunder Frank and Rui Mauro Marini, the ontology of social being and ideology proposed by György Lukács and hegemony proposed by Antônio Gramsci. Keywords: Shock Doctrine; Lukacs, Naomi Klein, Chile, Pinochet, Friedman; Gunder Frank. 10 SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................................1 ABSTRACT..............................................................................................................1 CAPITULO I. DOUTRINA DO CHOQUE: ASCENSÃO DO CAPITALISMO DO DESASTRE ........... 11 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11 1.1. Tema e problema........................................................................................................... 11 1.2. Objetivos....................................................................................................................... 14 1.2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................ 14 1.2.2. Objetivos Específicos ................................................................................................. 14 1.3. Metodologia ................................................................................................................. 14 CAPITULO II. NAOMI KLEIN E A TESE DO CHOQUE ............................................ 16 2.1. A tese do choque .......................................................................................................... 19 CAPITULO III. AS DETERMINAÇÕES ECONÔMICAS ............................................. 27 3.1. Divisão Internacional do Trabalho ................................................................................ 27 3.2. Teoria Marxista da Dependência .................................................................................. 32 3.2.1. Origens do Subdesenvolvimento na América Latina ................................................... 32 3.2.3. A Superexploração da Força de Trabalho .................................................................. 39 CAPITULO IV AS DETERMINAÇÕES IDEOLÓGICAS ............................................. 43 4.1. O Problema da Ideologia .............................................................................................. 43 4.2. Ideologia para Lukács e Gramsci .................................................................................. 47 4.2.2. Ideologia para Lukács ............................................................................................... 53 4.2.3. Ideologia e Hegemonia em Gramsci .......................................................................... 61 CAPITULO V. BRUTALIDADE INOCENTADA: O CASO DO CHILE ......................... 72 5.1. Os Primeiros Passos ..................................................................................................... 72 5.2. O Projeto Chile ............................................................................................................ 75 5.3. O Caso da Argentina .................................................................................................... 87 5.4. Brutalidade Inocentada: liberalismo e violência separados ............................................ 89 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 94 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 97 11 CAPITULO I. DOUTRINA DO CHOQUE: ASCENSÃO DO CAPITALISMO DO DESASTRE 1. INTRODUÇÃO Em 2007, a jornalista Naomi Klein lança o livro intitulado Doutrina do Choque: ascensão do capitalismo do desastre. Nesta obra, aclamada internacionalmente, a jornalista faz um mapa do desenvolvimento das políticas neoliberais durante toda a sua história, desde sua primeira experiência no Chile, até o processo de privatização da segurança nos Estados Unidos pós 11 de setembro e, conjuntamente, cria uma nova tese: toda aplicação das políticas neoliberais só se deram em períodos de choque, ou seja, momentos que por causa de alguma calamidade política, social, econômica ou natural - uma ditadura, hiperinflação, um atentado terrorista, um tsunami - a população não tinha condições de reagir ativamente às políticas que prejudicariam a capacidade de reprodução de sua própria vida. Assim, ela propõe que os "arquitetos econômicos" destes movimentos - isto é, Friedman, a Escola de Chicago e teoria econômica liberal - sejam também responsáveis pela destruição que causaram - no caso, fome, violência, desigualdade e repressão. 1.1. Tema e problema Embora a tese do choque isoladamente sofra de alguns inquéritos lógicos e de certa falta rigor metodológico mais rebuscado, como por exemplo, quais são as determinações estruturais e históricas que permitem a ascensão das políticas neoliberais em detrimento do descenso de uma ordem política keynesiana e socialista na esfera global, parecendo em certos momentos que os avanços neoliberais foram frutos apenas do desejo individual de um grupo de intelectuais, em especial Friedman e a Escola de Chicago, de convencer retoricamente os agentes de poder da qualidade de seu programa – ou seja, um pressuposto fortemente idealista. Quando as descrições epifenomênicas expostas pela jornalista Naomi Klein - sob uma base essencialmente empirista – são vistas sobre o prisma metodológico marxista, em especial dentro da esfera da luta ideológica proposta por Lukács e Gramsci e determinada
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