AUGUSTO JOBIM DO AMARAL DISCURSO PENAL E POLÍTICA DA PROVA: NOS LIMITES DA GOVERNABILIDADE INQUISITIVA DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO Coimbra 2011 DISCURSO PENAL E POLÍTICA DA PROVA: NOS LIMITES DA GOVERNABILIDADE INQUISITIVA DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO Dissertação de doutoramento em Altos Estudos Contemporâneos (área Ciência Política), apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra sob a orientação do Doutor Rui Luís Vide da Cunha Martins. Augusto Jobim do Amaral Coimbra 2011 A Evangelista, Ieda, Juliana e Ana Carolina, que sempre fizeram la différance dans l´écriture. O um-para-o-outro repousa numa significação que não é um mero compromisso. Descreve o ponto de des- inter-esse necessário para a proximidade autêntica. Neste sentido, meu agradecimento trata de ordenar a responsabilidade pela não-indiferença diante daqueles que fazem com que o dito abra o fundo da sabedoria do dizer. Mesmo correndo o risco da omissão frente aos outros colegas e amigos que colaboraram de muitas formas (às vezes sem o saber), não posso deixar de referir expressamente meus profundos agradecimentos, em especial, aos meus familiares, no nome do meu avô Nero Jobim e, in memoriam, às minhas avós Hirma Luiza Teixeira do Amaral, Arci Jardim Jobim e Rita Ladyr Fröner de Souza; ao meu amigo e orientador Professor Doutor Rui Luís Vide da Cunha Martins, pela acolhida em Portugal para muito além das margens da hospitalidade; aos Professores do Programa de Doutoramento em Altos Estudos Contemporâneos da Universidade de Coimbra, Doutores Fernando Catroga e Maria Manuela Tavares Ribeiro; a amizade imprescindível de Ricardo Timm de Souza e Dorilda Grolli; aos companheiros daqui e d´além-mar Maurício Jorge Daugustin Cruz, Alexandra Kunze Sandi e Eduardo Caletti, bem como às também colegas de morada na Trindade Coelho em Coimbra, Mariana Andreola e Talita Alvitos; ao Professor Doutor Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, pelo amparo na Universidade Federal do Paraná (UFPR); à Professora Doutora Ruth Maria Chittó Gauer, aos Professores Doutores Salo de Carvalho, Aury Lopes Júnior, Clarice Beatriz Sohngen, Alexandre Morais da Rosa, Germano Schwartz, Renata Almeida da Costa; aos Professores Alexandre Wunderlich, Gustavo Pereira, Cícero Krupp da Luz, André Luiz Olivier da Silva e Gabriel Ferreira dos Santos pelas permanentes lições nestes últimos anos; aos compadres Ricardo Gloeckner Jacobsen e Joseane Ledebrum Gloeckner; aos professores e alunos da Universidade de Passo Fundo (UPF), da Universidade de Caxias do Sul (UCS), da Escola Superior de Administração, Economia e Direito (ESADE – Laureate International Universities) e da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em particular meu apreço ao Observatório da Violência e dos Direitos Humanos, nos nomes dos professores Alberto Wunderlich, Hamilton Jesus Pereira Júnior, Daniela de Oliveira Pires e Juliano Gomes de Carvalho; last but not least ao irmão de todas as horas, Sandro Brescovit Trotta. Profundamente grato a todos. “O que é que você ainda quer saber?”, pergunta o porteiro. (...) “Todos aspiram à lei”, diz o homem. “Como se explica que, em tantos anos, ninguém além de mim pediu para entrar?” (O Processo Franz Kafka) RESUMO O campo político do processo penal – espaço ordenador, permeável a inversões e ingerências, sobreposições e distensões, não apenas determinado por normas jurídicas – contém sobre si uma permanente auréola de exceção que o fundamenta e o excede. É da ordem do discurso inquisitorial que aduzimos uma governabilidade vivida neste patamar e a nós cabe aprender a reconhecê-la através de suas metamorfoses. Nas franjas destes nexos entre violência e direito que a montagem argumentativa estrutura-se desde três platôs diferenciados, todos eles tendo a prova como disposição privilegiada. O primeiro plano pretende investigar os rastros do estilo inquisitorial que acabam por veicular os diferentes ambientes de instalação da prova, tornando o trabalho capaz de confrontar o caminho das ideias processuais penais no Brasil. Num segundo plano, a cena acerca da estética atual da cultura penal é atravessada pela linha de força dos discursos sobre a pena e preocupa-se, para tanto, com a análise das formações punitivista e populista das dinâmicas securitárias. A abordagem sobre a governabilidade inquisitiva no campo processual penal apresenta, por fim, a singularidade de poder indicar, desde uma micrologia da prova, minuciosamente os mitemas contemporâneos do quadro político no processo penal brasileiro, assentando a face apresentável das escolhas decisivas em sede de sua democracia processual penal. Neste nível, pois, é que se concentram as estratégias de poder e as dobras do pensamento, sobremodo, dotando os valores democráticos, atribuídos a cada lugar nesta paisagem, de significações inéditas. Palavras-chave: Governabilidade, Política Penal, Inquisitorialismo, Processo Penal Brasileiro, Prova. SINTESI Il campo politico della procedura penale – spazio di regolamentazione, permeabile a inversioni e ingerenze, sovrapposizioni e distensioni, non solo determinato da norme giuridiche – ha su di se una permanente aureola di eccezione che lo fonda e lo migliora. È dall’ordine del discorso di analisi che adduciamo una governabilità vissuta in questo livello, che deve riconoscerla attraverso le sue metamorfosi. È nei meandri di questi nessi tra violenza e diritto che la costruzione argomentativa si struttura su tre piani distinti, tutti essi con la prova come disposizione privilegiata. Il primo piano si occupa di indagare le scie dello stile inquisitivo che finiscono per divulgare i differenti ambienti di costituzione della prova, rendendo il lavoro capace di confrontare i percorsi delle idee processuali penali in Brasile. Nel secondo piano, la scena in merito all’estetica attuale della cultura penale è attraversata dalla linea di forza dei discorsi sulla pena e si preoccupa, pertanto, dell’analisi delle forme punitive e populiste delle dinamiche assicurative. L’approccio sulla governabilità inquisitiva nel campo processuale penale presenta, infine, la peculiarità di poter indicare, sin dalla micrologia della prova, minuziosamente i mitemi contemporanei del quadro politico nel processo penale brasiliano, mostrando la parte presentabile delle scelte decisive nella condizione della sua democrazia processuale penale. È in questo livello che si concentrano le strategie di potere e le pieghe del pensiero, soprattutto, dotando i valori democratici, attribuiti a ciascun luogo in questo panorama, di significati inediti. Parole-chiave: Governabilità, Politica Penale, Inquisitivo, Processo Penale Brasiliano, Prova. ABSTRACT The political field of criminal procedure – space ordering, pervious to reversals and interferences, overlaps and strains, not only determined by legal norms – carries a permanent exception aureole that its foundation and its transcendence. It is from the order of inquisitorial discourse that brings forward the lived governance on this degree, which lies to learn and to recognize it by its metamorphosis. On the fringes of these links between violence and law the settle argumentative structure is provided by three different plateaus, having the proof as the privileged disposition. The first plan relates to investigate the traces of inquisitorial style that ultimately serve the different environments of proof establishment, making the task able to confront the ideas’ path of criminal procedure in Brazil. In the second plan, the scene of the current aesthetics of the criminal culture is crossed by the line of force of the discourse on the penalty and worries, and then, with an analysis of the punitive and populist formations of the security dynamic. The governance inquisitive approach to the field of criminal procedure provides, finally, the uniqueness power of state, from a proof micrology, minutely the contemporary mythemes of the policy framework in the Brazilian criminal process, laying the presentable face of decisive choices on the ground of its criminal procedural democracy. At this level, therefore, is the focus of the strategies of power and the folds of thought, greatly, endowing democratic values, assigned to each place in this landscape, original meanings. Key-words: Governance, Penal Policy, Inquisitorialism, Brazilian Criminal Procedure, Proof. RESUMEN El campo político del proceso penal – espacio ordenador, permeable a inversiones e injerencias, superposiciones y distensiones, no sólo determinado por normas jurídicas – contiene sobre sí una permanente aureola de excepción que lo fundamenta y lo excede. Es del orden del discurso inquisitorial que aducimos una gobernabilidad vivida en este nivel, la cual cabe aprender a reconocerla a través de sus metamorfosis. En las franjas de estos nexos entre violencia y derecho que el montaje argumentativo se estructura desde tres platós diferenciados, todos ellos teniendo la prueba como disposición privilegiada. El primer plano dice respecto a investigar los rastros del estilo inquisitorial que acaban por difundir los diferentes ambientes de instalación de la prueba, volviendo el trabajo capaz de confrontar los caminos de las ideas procesales penales en Brasil. En un segundo plano, la escena acerca de la estética actual de la cultura penal la atraviesa la línea de fuerza de los discursos sobre la pena y se preocupa, para tanto, con el análisis de las formaciones punitivista y populista de las dinámicas securitarias. El abordaje sobre la gobernabilidad inquisitiva en el campo procesal penal presenta, por fin, la singularidad de poder indicar, desde una micrología de la prueba, minuciosamente los mitemas contemporáneos del cuadro político en el proceso penal brasileño, asentando la cara presentable de las elecciones decisivas en sede de su democracia procesal penal. En este nivel, pues es que se concentran las estrategias de poder y los pliegues del pensamiento, sobremodo, dotando los valores democráticos, atribuidos a cada lugar en este paisaje, de significaciones inéditas. Palabras clave: Governabilidad, Política Penal, Inquisitorialismo, Proceso Penal Brasileño, Prueba. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................................12 PARTE I: MATRIZES DA INQUISITORIALIDADE CAPÍTULO 1. CONSTANTES INQUISITORIAIS DE ESTILO (AMBIENTES DE INSTALAÇÃO DA PROVA)....................................................17 1.1 A Situação na Antiguidade: entre o domínio privado e público do delito...............18 1.2 Um Olhar sobre a Cena do Medievo......................................................................30 1.2.1 Prembulares Germânicos.............................................................................33 1.2.2 A Fixação das Engrenagens Inquisitoriais....................................................39 1.3 O Apogeu Jurídico Inquisitorial Armado no Ancien Régime: ápice de estilo em 1670................................................................................................................60 1.3.1 Articulando Tortura e Prova........................................................................69 1.4 Reforma, via Revolução: recuo estratégico – para depois, a metástase...................73 Parêntesis: Réquiem sobre a Transmissão do Objeto Institucional.........................81 CAPÍTULO 2. A ESTRUTURA ÍNTIMA DO PROCESSO PENAL (BRASILEIRO) E A INSTÁVEL POSIÇÃO DO MAGISTRADO...............................94 2.1 Breve Apresentação Histórica do Processo Penal Brasileiro..................................94 2.1.1 O Precedente Italiano...................................................................................95 2.1.2 Uma Genealogia do Processo Penal Brasileiro..........................................101 2.2 Nas Entranhas do Processo Penal e seu Ponto de Viragem ..................................117 2.3 A Posição (Paranoica) do Juiz e a Atribuição de Poderes Instrutórios..................142 PARTE II: PENA E CULTURA PUNITIVA
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