Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de História «ATÉ AOS PILARES DO CÉU» ESTRATÉGIAS DE DOMÍNIO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO NA SÍRIA-PALESTINA NO REINADO DE TUTMÉS III DANIELA FILIPA FERREIRA MARTINS Dissertação Mestrado em História Antiga 2013 Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de História «ATÉ AOS PILARES DO CÉU» ESTRATÉGIAS DE DOMÍNIO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO NA SÍRIA-PALESTINA NO REINADO DE TUTMÉS III DANIELA FILIPA FERREIRA MARTINS Dissertação orientada por Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo e Prof. Doutor José Varandas Mestrado em História Antiga 2013 ÍNDICE RESUMO / ABSTRACT ......................................................................................................... 3 PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS ................................................................................... 5 AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 6 ABREVIATURAS .................................................................................................................. 10 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11 CAPÍTULO I CAOS VERSUS ORDEM: O SISTEMA-MUNDO ........................................................... 15 1) O Egipto e os «outros» ................................................................................................... 15 2) A maet como arma política e militar .............................................................................. 19 3) A ordem cósmica através da guerra ................................................................................ 21 4) Choque de concepções e de ideologias ........................................................................... 23 CAPÍTULO II ACÇÃO MILITAR SOBRE A SÍRIA-PALESTINA: CAUSA OU CONSEQUÊNCIA? ......................................................................................... 29 1) O Corredor siro-palestino como problema geo-estratégico ............................................ 29 1.1) Modelo económico ...................................................................................................... 34 1.2) Toponímia ................................................................................................................... 35 2) Os Hicsos: impulso de um «império»? ........................................................................... 37 3) As campanhas militares: defesa de fronteiras ou de interesses?..................................... 45 CAPÍTULO III O ESPAÇO EXPLORADO: HEGEMONIA EGÍPCIA? ................................................... 49 1) O Mitanni e a Núbia ....................................................................................................... 49 1.1) O Mitanni: da unidade política à política «imperial» ................................................. 50 1.2) A Núbia ...................................................................................................................... 55 2) Incursões militares ............................................................................................................ 62 1 2.1) De Ahmés a Hatchepsut ....................................................................................... 68 2.2) As campanhas de Tutmés III ................................................................................ 73 a) Meguido ....................................................................................................... 73 b) Campanhas na Síria-Palestina ..................................................................... 78 c) A ofensiva sobre Kadech ............................................................................. 80 d) A ofensiva contra o Mitanni ........................................................................ 82 e) Defesa do «império» .................................................................................... 84 3) A resistência das cidades levantinas ................................................................................. 85 4) Liminaridades e choque de fronteira(s) ............................................................................ 90 5) Tutmés III: rei hegemónico? ............................................................................................ 98 CAPÍTULO IV ESTRUTURAS E ELEMENTOS DE CONTROLO E DE MANUTENÇÃO DOS TERRITÓRIOS .................................................................. 101 1) Os centros político-administrativos .............................................................................. 103 a) A subjugação dos chefes asiáticos ............................................................................ 106 b) O governador egípcio ................................................................................................ 110 1.1) O kap ......................................................................................................................... 114 1.2) Centros político-religiosos: os templos ........................................................................... 118 2) Estruturas, elementos e processos de controlo militar .................................................. 121 2.1) A estratégia de ocupação do espaço .......................................................................... 121 2.2) Acampamentos militares, «palácios» em campanha, fortificações e postos de controlo e vigia ............................................................................................................................... 129 2.3) Guarnições militares: recrutamento, treino e missões ............................................. 136 a) «Homens do rei»: «diplomatas», mensageiros e «espiões» ................................. 140 b) Os mercenários ..................................................................................................... 144 2.4) A logística: abastecimentos a longa, média e curta distância ................................... 146 2.5) Elementos navais: marinha e estruturas portuárias ................................................... 150 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 156 BIBLIOGRAFIA ANEXOS 2 RESUMO Durante muito tempo, os estudos dedicados ao reinado de Tutmés III privilegiaram a faceta guerreira do faraó, centrando-se, essencialmente, na análise e descrição das batalhas travadas em contexto levantino. No entanto, Tutmés III fora também um brilhante político e administrador do espaço que havia conquistado, e sobre isto as produções historiográficas são pouco abundantes. O estudo do reinado de Tutmés III e da sua política administrativa relacionada com a Síria-Palestina é de vital importância, não só porque até então os Egípcios não tinham dominado de maneira efectiva o território levantino, como também é o ponto de partida para o desenho de novas estratégias de controlo, diferentes daquelas que haviam sido aplicadas à Núbia, desde o Império Médio. Deste modo, é objectivo deste trabalho desenvolver a análise sobre procedimentos práticos dos Egípcios no terreno, procurando assim colmatar uma vertente pouco explorada na egiptologia, partindo para novas abordagens, na sequência de alguns estudos internacionais das últimas décadas, como é o caso dos valiosos contributos de Graciela Gestoso Singer, Ellen Morris e Mario Liverani, entre outros. Em suma, procurar-se-á compreender, primeiramente, qual o tipo de visão e de relação dos Egípcios com os seus contemporâneos, e em que circunstâncias e com que ambições é que se avançou para a Síria-Palestina no século XV a. C. (XVIII dinastia). Seguidamente tentar-se-á compreender a malha governativa criada e aplicada nessa região no reinado de Tutmés III, possibilitando vislumbrar, no fundo, como era feita a gestão desse espaço e de que modo ela se articulava com os interesses egípcios. A intenção é abrir novas perspectivas sobre este período histórico e, se possível, contribuir de algum modo para uma área de estudo em desenvolvimento. 3 ABSTRACT For a long time, studies devoted to the reign of Thutmose III favored the facet of the warrior pharaoh, focusing mainly on the analysis and description of the battles fought in Levantine context. However, Thutmose III was also a brilliant politician and administrator who had conquered space and over that the historiographical productions are in short supply. The study of the reign of Thutmose III and his administrative policy related to Syria- Palestine is of vital importance, not only because by then the Egyptians did not mastered effectively the Levantine territory, as is also the starting point for the design of new control strategies, different from those that had been applied to Nubia, from the Middle Kingdom. Thus, the objective of this work is to develop practical procedures of the Egyptians on the ground, attempting to bridge a strand underexplored in Egyptology, seeking for new approaches, following a number of international studies in recent decades, such as the valuable contributions of Graciela Gestoso Singer, Ellen Morris and Mario Liverani, among others. In short, we will seek to understand, first, what kind of vision the Egyptians had about their contemporaries, and under what circumstances and with what ambitions they moved to Syria-Palestine in the fifteenth century B. C. (18th dynasty). Then, we will try to understand the governing mesh created and applied in this region during the reign of Thutmose III, giving a glimpse in the background, as it was made the management of this area and how it was linked with the interests of Egyptians. The intention is to open up new perspectives on this historical period and, if possible, to contribute in some way to the development of this area of study. 4 PALAVRAS-CHAVE Tutmés III; Síria-Palestina; «Império»; Administração KEYWORDS Thutmose III; Syria-Palestine; «Empire»; Administration 5 AGRADECIMENTOS Enche-me de felicidade o trabalho que hoje aqui figura. Se ele é a prova de que vale a pena sonhar, acreditar num projecto e lutar pela sua concretização, por ser aquilo que nos preenche, ele é, também, o produto final de uma caminhada individual e colectiva e, por isso, a gratidão que sinto é maior que o meu modesto orgulho. Quero agradecer aos meus pais, em primeiro lugar, o apoio nesta caminhada e os exemplos que são para mim de muito trabalho, coragem, luta e determinação. Agradecer à minha irmã, pois as diferenças que nos separam são as mesmas que nos unem. Agradecer ao Telmo todas as palavras de incentivo, todos os momentos de conversa sobre as (in)certezas nas minhas (in)capacidades e sobre o futuro. Agradecer ainda toda a compreensão, apoio, e pelo facto de uma separação física nunca ter significado uma separação emocional. À família do Telmo, que considero também minha, mas em particular ao seu pai, um obrigado pelas gentis palavras e gestos ao longo deste percurso. Às minhas avós, mulheres marcadas pela dureza da vida, que me relembram todos os dias a virtude da humildade, estou grata pelas palavras simples mas ricas em sabedoria. À minha tia Glória, coração aberto, sempre pronto a ajudar, e cujos valores de bondade são escassos neste mundo, o meu muito obrigada. Aos meus padrinhos, que mesmo ausentes do país, estiveram sempre presentes, obrigada por me fazerem sentir quase como uma filha. Pelo meu percurso académico, e pela elaboração desta tese, quero agradecer primeiramente ao Professor Doutor Luís Carlos Amaral, a grande referência da minha passagem pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e que muito me marcou pelo exemplo humano, e pelas extraordinárias capacidades científicas. Além disso, é a prova mais evidente de que há, de facto, quem se interesse e acompanhe o percurso dos alunos, mesmo quando mudam de instituição. Ter sido sua aluna é realmente um enorme orgulho. Agradecer também ao Professor Doutor Rogério Sousa, que juntamente com o Professor Doutor Luís Carlos Amaral me encaminharam no sentido certo, rumo a Lisboa e à Faculdade de Letras desta universidade. Agradeço à Pastoral Universitária da Diocese do Porto, pelo apoio financeiro dispensado em tempos conturbados e de crise, e que muito me auxiliou na estadia por Lisboa, e no prosseguimento de estudos. 6 Agradeço ao colega Filipe Soares pela disponibilidade e ajuda no primeiro ano de mestrado, e que me permitiu abrir caminhos em terrenos onde nunca me havia movimentado. Um obrigada também à Sara Rodrigues, pelo companheirismo durante este ano da tese, e pelos momentos divertidos que duas portuenses partilharam na capital. Agradeço ao Professor Doutor António Ramos dos Santos, que embora na primeira aula me tenha enviado de alfa para o Porto, foi o primeiro a acreditar em mim, e me abriu a porta do Centro de História para a linha de investigação de «História Militar e das Relações Internacionais» e à minha primeira participação no colóquio «A Guerra na Antiguidade». Agradecer ainda ao Professor Bernard Mathieu e à Professora Graciela Gestoso Singer que se disponibilizaram, de forma gentil, a enviar-me artigos aos quais de outra forma seria difícil ter acesso. Por último, mas com o merecido e devido destaque, um agradecimento especial aos meus orientadores, pelos quais nutro uma profunda admiração. Ao Professor Luís Manuel de Araújo, o Tutmés III da Egiptologia em Portugal, estou muito grata pela paciência e pela minudência no acompanhar deste trabalho, pela entrega e dedicação, pelo exemplo de sapiência, e pela gentileza constante, um verdadeiro exemplo de maet. Humilde quanto às suas conquistas faraónicas, e sempre disponível para ajudar, é para mim um verdadeiro exemplo de trabalho, esforço e paixão por uma época tão remota quão fascinante. Ao Professor José Varandas, imirá-mechá desta tese, mas cujo cargo militar é insuficiente para fazer jus à sua pessoa, muito agradeço a disponibilidade, o incentivo, e o contributo para o desenhar de novos caminhos, de novas perspectivas no rumo desta dissertação. Medievalista de base, é para mim um exemplo notável e extraordinário de interdisciplinaridade, de investimento e trabalho em várias cronologias, e de novos discursos historiográficos, que são sinónimo de inovação e de grande capacidade científica. Aos meus orientadores, sintetizo com o meu muito obrigado, pois não tenho palavras para conseguir expressar como o vosso acompanhamento na concretização de um sonho de menina me deixa profundamente feliz e satisfeita. Para além da vossa excelência académica, o vosso espírito naturalmente divertido, fez-me sentir uma autêntica privilegiada por ter dois orientadores tão fora de série. Agradeço ainda, de forma geral, a todos aqueles com quem me cruzei na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa durante estes dois anos, e cuja amabilidade me fez sentir verdadeiramente «em casa». Termino sublinhando algo que me move nesta caminhada, a paixão pela História em geral que me acompanha desde os bancos da escola primária, e pelo Egipto em particular, que 7 não sei de onde vem, mas que me faz querer saber mais, fazer mais, dia após dia, e que sempre me surpreende com o facto de eu saber sempre muito pouco. Porém, que seria da vida se não fosse ela, por si só, uma longa e eterna aprendizagem? A todos, o meu muito obrigado. 8
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