Julho a Dezembro 2014 (cid:46)(cid:14)(cid:142)(cid:0)(cid:20)(cid:20)(cid:0)(cid:115)(cid:0)(cid:19)(cid:138)(cid:0)(cid:51)(cid:179)(cid:50)(cid:41)(cid:37) Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em Lisboa NESTE NÚMERO 94º ANIVERSÁRIO DA A CASA DOS ESTUDANTES VIAGEM À ESCÓCIA TOMADA DA BASTILHA DO IMPÉRIO E COIMBRA E ISLÂNDIA PAG. 04 PAG. 08 PAG. 13 ÍNDICE 03 EDITORIAL As Associações de Antigos Estudantes de Coimbra no Senado da Universidade 04 TOMADA DE BASTILHA 94ª Comemoração da Tomada da Bastilha 08 EM DESTAQUE A Casa dos Estudantes do Império e Coimbra – Dr. Vitor Ramalho 09 CONFERÊNCIA Oito Séculos de uma Língua de Várias Culturas – Dr Guilherme d’ Oliveira Martins 11 TERTÚLIA ACADÉMICA “O Sudário de Turim, fonte de extraordinária informação científi ca” de Prof Doutor Victor Manuel Matos Lobo 12 CONVERSAS MENSAIS 12 OPINIÕES “Sou um Miraculado” de Carlos Anselmo Vaz 13 OS NOSSOS PASSEIOS LÁ FORA: – Viagem à Escócia e Islândia CÁ DENTRO: – Passeio do Outono “Penafi el e Rota do Românico em Terras do Sousa” 18 A VOZ DA FILANTRÓPICA - Magusto - Almoço de Natal 19 MEMÓRIAS DOS TEMPOS DE COIMBRA Coimbra d’Encanto e Paixão - O Penedo da Saudade tem mais um Memorial 20 VISITAS LOCAIS 21 OS NOSSOS POETAS Poesia de Florêncio Campos 22 NOTÍCIAS BREVES 23 SE NÃO SABIAS, FICAS A SABER QUE… 23 NOVOS SÓCIOS 23 IN MEMORIAM Os textos publicados podem ter sido ajustados ao espaço disponível. A versão integral pode ser consultada na Sede ou no sítio da Internet: www.aaec-lisboa.com 2 CAPA e BATINA | Julho a Dezembro 2014 EDITORIAL AS ASSOCIAÇÕES DE ANTIGOS ESTUDANTES DE COIMBRA NO SENADO DA UNIVERSIDADE Na reunião do Senado da Universi- nente sem direito a voto. A proposta direito a voto aproveitou o ensejo dade de Coimbra, de 4 de Novembro foi aceite por unanimidade. para também saudar o Reitor e os de 2014, presidida pelo Reitor Pro- Em reunião dos Presidentes das vá- restantes membros do Senado afi r- fessor Doutor João Gabriel Montei- rias AAEC, foi designado o Presiden- mando que as Associações de Anti- ro de Carvalho e Silva, no seu ponto te da Associação dos Antigos Estu- gos Estudantes de Coimbra estarão 4, “Possibilidade da presença como dantes de Coimbra, “Casa-Mãe”, no sempre dispostas a dar o seu contri- convidados permanentes no Sena- dizer da Presidente da Associação de buto se solicitado. do de um representante das asso- Antigos Estudantes de Coimbra em Para nós, antigos estudantes de ciações de antigos estudantes, e do Lisboa, por um período de um ano e Coimbra e suas Associações este dia presidente da Direcção Geral da As- em rotatividade com as outras AAEC. será sempre um marco no que res- sociação Académica de Coimbra”, o Convocado para a reunião do Sena- peita a, por fi m, estarem represen- Reitor fez uma proposta sobre a pos- do de 3 de Dezembro de 2014 este- tadas nos órgãos governativos da sibilidade de haver um representante ve, assim, presente pela 1ª vez um Universidade de Coimbra. das Associações de Antigos Estudan- representante das AAEC, o que foi tes de Coimbra, no Senado – com a vivamente saudado pelo Reitor e pe- Augusto Roxo, condição de um entendimento des- los restantes presentes. Presidente da Associação dos sas AAEC – como convidado perma- Como convidado permanente sem Antigos Estudantes de Coimbra NOTA: Já na nossa 75ª Comemoração da Tomada da Bastilha, o então Magnífi co Reitor Prof. Doutor Rui Alarcão pro- clamou que “A vertente dos Antigos Estudantes é uma das características fundamentais da nossa Universidade, que é a única que tem a dimensão das gerações, no sentido vertical”, em resposta à Petitionem (lavrada em latim macarrónico e subscrita por todos os representantes dos antigos e jovens estudantes) que aí lhe foi entregue, no sentido de a Universidade de Coimbra erigir uma estátua ao Estudante, como representação e ponto de encontro de todas as gerações, tendo o Magnífi co Reitor reiterado o seu empenhamento pessoal (Capa & Batina nº 7). A desejada 1ª pedra ter-se-á convertido, para já, numa 1ª presença do Antigo Estudante num Órgão Social da Universidade de Coimbra, quiçá como incentivo para alcançarmos assento de pleno direito, a par do perene Memorial que merece (estátua? monumento?). A Direcção da AAECL Julho a Dezembro 2014 | CAPA e BATINA 3 TOMADA DA BASTILHA 94ª COMEMORAÇÃO DA TOMADA DA BASTILHA CASINO ESTORIL – 22 DE NOVEMBRO DE 2014 O menor número de participantes nesta onde couberam as habituais sauda- Carranca (nosso Assessor Cultural) no comemoração anual – e diversas ra- ções a todos os convivas, em especial canto, e os que colaboraram na Balada zões podem justifi cá-lo – não diminuiu ao Magnífi co Reitor Prof. Doutor Eng. da Despedida. a alegria do reencontro e do convívio João Gabriel Silva e ao Vice-Reitor Prof Após a entrega pelo presidente do entre gerações, tendo-se congregado Doutor Luís Filipe Menezes; aos pre- Conselho Fiscal, José Manuel Costa, as atenções e os aplausos, em primeiro sidentes das Associações dos Antigos ao Magnífi co Reitor de mais uma plano, para os consagrados veteranos Estudantes de Coimbra presentes, da bolsa de estudo – a Bolsa “VIOLA de António Toscano e Durval Moreirinhas, Casa da Académica em Lisboa e da Coimbra” a ser atribuída pelo Instituto personifi cando os executantes da VIOLA Casa dos Açores; aos jovens dirigentes Universitário Justiça e Paz – teve iní- de Coimbra, muitos deles presentes. da Associação Académica de Coimbra cio o Show Nosso com a actuação do Tal correspondeu ao desiderato da (Direcção-Geral e Assembleia Magna); e Orfeon Académico de Coimbra “Fado- Direcção da Associação dos Antigos aos representantes da Escola de Teatro Vozes do Património”. Este Orfeon de- Estudantes de Coimbra em Lisboa num de Cascais. E também justos agradeci- cidiu criar o seu próprio espectáculo, momento em que já havia homenage- mentos ao Casino Estoril, aos patro- pretendendo realçar o reconhecimento ado, no mesmo palco, intérpretes vo- cinadores e a todos os intervenien- que o Fado adquiriu com o sucesso da cais do Fado de Coimbra: Paradela de tes: os distintos apresentadores Luísa sua candidatura a Património Imaterial Oliveira (1976), Ângelo Araújo, António Alexandra e José Viegas, o jovem criati- da Humanidade (UNESCO) e a valorização Bernardino, Luiz Goes (homenagem vo Orfeon Académico de Coimbra (regi- resultante desta nova rede que faz a li- nacional), Almeida Santos e Augusto do pelo maestro Artur Pinho), a Escola gação entre Portugal e o Mundo. Além Camacho. de Teatro de Cascais pela 3ª oferta de do seu repertório, enquanto represen- Assim foi revelado pela presidente da excelentes actuações dos seus alunos, tante da Academia Coimbrã, o Orfeon Direcção, Fátima Lencastre, nas pa- sob a mestria da sua coreógrafa Helena ofereceu temas de personagens céle- lavras de abertura do “Show Nosso”, Vascon, na dança, e regência de Carlos bres tanto do Fado de Lisboa como do 4 CAPA e BATINA | Julho a Dezembro 2014 TOMADA DA BASTILHA Fado de Coimbra, acompanhadas por guitarra portuguesa, guitarra clássica e quarteto de cordas. Seguiram-se os preitos aos homenage- ados em elocuções pelas vozes escolhi- das pelos próprios homenageados, en- riquecidas com coreografi as em dança de composições poéticas de cada um. Das palavras que António de Almeida Santos proferiu em louvor de Durval Moreirinhas ressaltam: “O nosso Durval é um poço de virtudes. É além disso uma notabilidade enquanto executante da viola portuguesa, desig- nadamente da viola de Coimbra, que com o tempo se distanciou da viola de Lisboa e da viola clássica. Foi seu pai, ofi cial do exército que o fa- êxito crescente, com o velho Orfeon a de Nova Iorque e o Olympia de Paris. miliarizou com esse simpático instru- que eu também pertenci. E foi também assim que visitou – nal- mento, que viria a marcar a sua vida. … guns casos por diversas vezes – Macau, Desde logo pela negativa, determinando Quando, porém, o domínio de um ins- Hong-Kong, a Indonésia, Timor, diversos que, fi ndo o curso dos liceus, que tirou já trumento, designadamente da guitarra lugares dos Estados Unidos e da França, em Coimbra, no D. João III, que foi tam- ou da viola, atingia alto nível, como foi a Áustria, a República Checa, a Holanda, bém o meu, viesse a interromper o curso o caso da associação de toda a vida en- o Japão, o Brasil, Cabo Verde, o Uruguai, superior de Ciências Geológicas, preen- tre o Durval e a sua viola, as visitas ao a Argentina e, claro, repetidas vezes a chido como estava, já nesse então, pelos estrangeiro eram mais do que muitas, e Espanha. seus êxitos como tocador de viola. a vida do artista passava a ser domina- … Ainda “bicho” – leia-se estudante do da por elas. O Durval foi um caso típico O Durval Moreirinhas gravou, pelas mi- liceu – e no seu caso escandalosamen- desta afi rmação. nhas contas, mais de uma centena de te com 15 anos apenas, entrou para a … composições de Coimbra e compôs ele Tuna Académica da Universidade de O nosso Durval Moreirinhas, em maté- próprio a música de larguíssimas deze- Coimbra, e veio, claro, a pertencer tam- ria de deslocações ao estrangeiro, tem nas. Posso garantir que vai continuar. bém ao Orfeon Académico. Aliás aos um currículo de fazer inveja ao mais Agora, é o seu prestígio que o exige. orfeons académicos, visto que, a partir irrequieto embaixador: entre outras, Acresce que ele acompanhou os maio- de certa altura, o “Alma de Coimbra” se menciono os Estados Unidos e a Europa res nomes da canção de Coimbra: Luiz autonomizou e passou a competir, com – designadamente o Lincoln Center Goes e, à guitarra o Durval Moreirinhas Julho a Dezembro 2014 | CAPA e BATINA 5 TOMADA DA BASTILHA teve outro parceiro com idêntico signi- Mas para aquelas e aqueles que, por in- razão, “descrer do chão duro e ruim” ou, fi cado: o que depois se tornaria, e hoje fortúnio, não tiveram a privilégio de, em como nos cabe dizer, vivê-la com todas ainda é, apesar da sua modéstia, o Prof. algum tempo das suas vidas, encontrar- as veras da alma. Doutor Jorge Tuna. se com a de António Toscano, deixo-vos, Este é o segredo da longevidade do nos- … aqui, uma brevíssima resenha do seu so António Toscano: o de nunca desistir O Durval teve, inclusive, a honra de percurso. e acreditar com uma lucidez por vezes acompanhar alguns dos maiores gui- Nasceu a 29 de Setembro do ano de excessiva na precaução, que mais ain- tarristas do nosso país, sem excluir al- 1932, em Santa Maria da Feira, na vila da o humaniza e o torna exemplar aos guns dos mais notáveis de sempre da “(…)de gente que parte / E não pode re- olhos daqueles que com ele convivem guitarra de Lisboa. Além do Jorge Tuna, gressar”. Fez a instrução primária na sua de perto. É que ele, nascido no mesmo do João Bagão, do António Portugal, do terra natal, o liceu no Colégio de S. Luís, dia e mês de Miguel de Unamuno - o Carlos Couceiro e do Teotónio Xavier já em Espinho e, fi nalmente, assentou ar- ano é que faz umas decadazinhas de referidos, o Jorge Godinho, o Eduardo raiais em Coimbra, matriculando-se no diferença… - herdou desse dia, como o de Melo, o António Andias, o Octávio curso de Direito da sua Universidade, reitor de Salamanca, o genes da singu- Sérgio, o Fontes Rocha, o Ricardo Rocha, que é como quem diz, onde gerundiou: laridade. O Toscano é espécie única! o Manuel Mendes e o João Alvares, estes estudando, namorando, boemiando, No seu tempo de Coimbra, integra- de Lisboa. tocando guitarra (só mais tarde veio a do nos organismos académicos, como … viola), deixando correr o tempo, “que o os outros, participou em digressões Quem o conhece sabe que presidiu sem- tempo dá-o Deus de graça”, diz o Povo, à Madeira, aos Açores (com a Tuna pre à sua vida e à sua maneira de ser e o nosso homenageado, inteligente Académica); no ano de 54, ao Brasil um toque de bondade, de suavidade e como é seu timbre, tudo fez para cum- com o Orfeon; ainda no mesmo ano, de compreensão para com o seu seme- prir o provérbio. à Holanda com o Coro da Faculdade lhante. Daí a facilidade com que conce- Nos idos de 50, a partir da “sua” casa de Letras (em 55), e ainda… lhe sobrou beu harmonias musicais e relacionais na Cruz de Celas, a República dos Bija- tempo para estudar, vejam lá! E como que são verdadeiras obras de arte. Godes, lá frequentou os bancos (não, o tempo era generoso para o nosso Fui sempre, e continuo a ser, irresistivel- não são os que estão a pensar, esse são Toscano, partiu para Goa, e lá cumpriu mente seu admirador e amigo.” os de hoje!...) do curso de Direito que lhe o seu dever de português intrépido, o Carlos Carranca, preiteando António abriu as portas de outro tempo, a Oriente de eterno viajante, qual Fernão Mendes Toscano, salientou: - os das mil e uma noites… -, que as de Pinto, sempre em consonância com a “Sirvo-me dum poema roubado confes- Coimbra já as havia experimentado. E aventura que é a vida. sadamente a Leonel Neves, para iniciar porque o nosso Amigo é um exemplar Nos anos vividos na cidade en(cantada) o meu aplauso a um Amigo: humano da arte de bem repartir o tem- - Vergílio Ferreira afi rmava que a pala- “O Toscano é do Douro,/ é do Douro po, e lá diz o Povo “quem parte reparte e vra Coimbra tinha a sonoridade de uma Litoral, / P’ra mim humano tesouro / da não fi ca com a melhor parte…”, vai dos guitarra – tudo concorria para que o raiz de Portugal”. anos 50 a 55, vivê-los em Coimbra; de 55 Toscano viesse a ser amigo e companhei- Não terão sido estes os versos criados a 59 em Goa e Diu e em 60, para quem ro de muitos e ilustres nomes da guitar- pelo poeta algarvio, mas, estou certo não dissessem que não sabia fechar a ra, da viola e do canto de Coimbra: Pinho que não desdenharia da mensagem a década com chave de ouro, licencia-se Brojo, Manuel Branquinho, Júlio Ribeiro, partir da sua, até porque desta amizade em Direito, para gáudio dos seus pais, A. Portugal, Fernando Xavier, Jorge Tuna, surgiu, por humano milagre, uma obra restante família e amigos. Jorge Godinho, Abreu Lima, Manuel registada em quatro LP’s sem dogma, Curso tirado, surgem outros tempos - os Mora e Carlos Couceiro. Na viola, Manuel onde a voz de Luiz Goes se ergue da terra da responsabilidade profi ssional, onde virá Pepe, Fernando Neto, Levy Baptista, “como braços suplicantes”, procurando a ocupar os cargos de adjunto do serviço Dário Cruz e Polybio Serra e Silva. No o “indizível infi nito”. Se não tivesse exis- de pessoal na TAP, adjunto do ministro da canto, Augusto Camacho, Alexandre tido naquela hora um Toscano amigo do República para os Açores e fundou e diri- Herculano, Anarolino Fernandes, Higínio poeta, nem a Vila da Feira guardaria “…o giu os serviços de pessoal da Fundação Faria, José Afonso, Luiz Goes, Machado Natal, a Primavera”, nem o seu Castelo Gulbenkian até à sua aposentação. Soares, Fernando Rolim, Sutil Roque, José saberia hoje defender “a poesia / De um E agora? Estou obrigado a falar de al- Henrique Dias e Mário Medeiros. presépio todo verde”, nem mesmo o pes- guém que na vida tem cumprido exem- Mas vai ser em Lisboa que António cador teria achado o seu “Cântico” nes- plarmente a obrigação de a honrar – Toscano mais criativamente se envolve se “silêncio (em que) a luz desmaia/ e é Jorge de Sena falava-nos da “honra de com o Fado de Coimbra, quando, a partir maior que o mar, a praia”. estar vivo” -, e Torga de, por nenhuma do ano de 66, passa a acompanhar esse 66 CAPA e BATINA | Julho a Dezembro 2014 TOMADA DA BASTILHA contemplado desses atributos, ao asso- ciar dois poemas a músicas já concluí- das: Uma intitula-se “Fratria” e a outra “Sono do menino “. É isso mesmo que estão a pensar, fi ze- mos um menino! Como diria o nosso Luizinho “Fraquezas!...” Toninho, Muitos serão aqueles que hoje aqui es- tão para te abraçar – a começar pela Clarisse e pelos teus fi lhos António e José Bento, mas esses abraços valem por uma vida - e porque fui honrado com esta incumbência de falar de ti, deixo-te, poeta da guitarra que foi João Bagão. Desfeito o grupo de João Bagão, após simbolicamente, o abraço poético dos Nesta fase grava com Luiz Goes quatro a sua morte no fi nal da década de 80, que não podem estar contigo, dos que já LP’s, entre os anos de 66 e 82: “Coimbra Toscano continua a tocar, agora com partiram e de todos aqueles que conti- de Ontem e de Hoje”, “Canções do mar o grupo “ Porta Férrea”, onde pontifi - nuam a gostar de ti por seres como és. e da Vida”, “Canções de Amor e de cava o nosso querido e saudoso Carlos Ao meu amigo Toscano / uma prenda eu Esperança “ e “Canções para quase to- Couceiro acompanhado do seu Teotónio quero dar, /o abraço onde me irmano / dos”. Os dois primeiros e o último destes Xavier, hoje símbolo vivo desse grupo no gosto de o abraçar.“ trabalhos discográfi cos foram acom- congraçador na independência de cada Dentre as fl ores para as Consortes (de panhados pelo grupo de João Bagão e um. Eram componentes do grupo Durval muita sorte…) dos homenageados, as o terceiro por António Andias, Durval Moreirinhas (viola), Soares da Costa fi guras de barro representando-os na Moreirinhas e João Gomes. São da sua (viola) e o, então, jovem João Reis (na sua arte, as pequenas violas para todos autoria as seguintes músicas “Cantiga guitarra). os cultores presentes e as reproduções de um pescador”, “Aqui”, “Alegria “, Integra, ainda, o Grupo Jurídico de numeradas de uma aguarela da autoria “Trova da Vila da Feira”, “Regresso da Fados e Guitarradas formado em 1997, do Colega da AAEC do Porto António Pesca”, “Canção para quem vier” e “Velas onde constam Lopes de Almeida (gui- Moniz para os alunos/artistas, ressaltou no Mondego”. Neste tempo participou tarra), David Leandro (guitarra) e o viola a Despedida, naquela Balada mensa- com Goes e outros cantores em digres- Levy Baptista. geira de Coimbra entoada no palco pela sões a Viena de Áustria, Brasil, África do Mas o nosso Toninho Toscano não para, ETC, pelo OAC, pelos cantores interve- Sul, Estados Unidos da América e Suiça continua permanentemente atento e nientes e, na plateia, por todos quantos (Palácio das Nações Unidas). criativo e foi assim que me tornei o feliz se despedem até para o ano! A Direcção Julho a Dezembro 2014 | CAPA e BATINA 7 EM DESTAQUE A CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO E COIMBRA PIDE encerrado a CEI em 1965. A homenagem prosseguirá no auditó- A circunstância do anterior regime po- rio do edifício novo da Assembleia da lítico ser uma ditadura forjou solida- República no dia 24 de Fevereiro próximo, riedades múltiplas entre os nossos po- às 16horas, com um debate sobre o mo- vos, incluindo o povo português face vimento estudantil e a CEI, seguindo-se ao regime que a todos oprimia. um colóquio internacional na Gulbenkian Daí que a UCCLA União das Cidades em Lisboa nos dias 22,23 e 25 de Maio, Capitais de Língua Portuguesa, levasse uma exposição sobre a CEI na Câmara a efeito uma homenagem aos associa- Municipal de Lisboa ainda em Maio, e dos da CEI, tendo-a iniciado em 28 de no dia 25 o encerramento solene na Outubro de 2014 no auditório da Aula Fundação Calouste Gulbenkian com a in- Magna da Reitoria da universidade de tervenção de associados da CEI que aca- Coimbra, cidade onde existiu uma de- baram Primeiros Ministros ou Presidentes Vitor Ramalho legação da CEI. da República dos Países de onde eram (Secretário Geral da União das Cidades Foram convidados para tomarem a pa- originários – Joaquim Chissano, Mário Capitais de Língua Portuguesa - UCCLA) lavra um número signifi cativo desses Machungo, Pascoal Mocumbi, Miguel antigos estudantes universitários, que Trovoada, França Van Dunem, Pedro Pires, hoje são, como se disse, referências contando-se também com a presença de A Casa dos Estudantes do Império incontornáveis das letras dos países Eugénia Neto, viúva de Agostinho Neto e (CEI) foi criada em 1944 pelo regime africanos lusófonos. um grande ativista da CEI. anterior para enquadrar os jovens es- tudantes das ex-colónias portuguesas que vinham frequentar o ensino supe- rior em Portugal. Sob os ventos da descolonização, ini- ciada após o termo da segunda guerra mundial, esses jovens procuram apro- fundar o conhecimento da identidade dos territórios de onde eram originá- rios. Ao fazê-lo editaram e distribuí- ram antologias poéticas, contos e vinte e dois livros de bolso, estes integrados na coleção autores ultramarinos. Uma parte muito signifi cativa dos po- etas e escritores de referência dos hoje países independentes de Língua Ofi cial Portuguesa de África iniciaram-se na CEI, tal como políticos de nomeada. Em 1961 cerca de cem desses jovens empreenderam uma saída clandesti- na organizada de Portugal para inte- grarem os partidos e movimentos de libertação entretanto criados, tendo a 8 CAPA e BATINA | Julho a Dezembro 2014 CONFERÊNCIAS 8 SÉCULOS DE UMA LÍNGUA DE VÁRIAS CULTURAS Conferência proferida no Jantar/Conferência organizado pela Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra em Lisboa, em parceria com a Associação dos Antigos Alunos da Universidade de Lisboa. No Lisboa Plaza Hotel, 7 de Novembro de 2014 (Lisboa). sido salientado pelos estudiosos da de Coimbra, criou um centro erudito, questão portuguesa, a nossa identida- animado pelo riquíssimo diálogo me- de tem-se afi rmado ao longo dos tem- diterrânico, renovador do pensamento pos, desde o século XII, a partir da sua europeu. Santo António de Lisboa, dis- capacidade de se enriquecer através cípulo de Santa Cruz e companheiro do contacto com outras identidades e do Pobre de Assis contribuiu decisi- outras culturas. A cultura portuguesa vamente para a renovação teológica e sempre se tornou mais rica, abrindo- cultural do franciscanismo na Europa e se, dando e recebendo. Formámo-nos no mundo. Gil Vicente, Sá de Miranda como um cadinho de diversas infl u- e Camões usaram o tempo e o espírito ências – a partir dos vários povos que para pôr a tónica nesse universalismo Por Guilherme d’Oliveira Martins foram chegando à fi nisterra peninsu- de ideias e valores. E o Padre António Presidente da Associação dos Antigos lar e se misturaram. E essa qualidade Vieira tornou as «Trovas» de Bandarra Alunos da Universidade de Lisboa, de receber e de se relacionar permitiu, uma chamada a um desejo vivo e não Presidente do Tribunal de Contas e do a partir do século XV, a gesta de ir à morto, transformando a lembrança Centro Nacional de Cultura. descoberta de outras terras e outras funesta de Alcácer Quibir num ape- gentes. Há, assim, um enigma bem pre- lo de renascimento e restauração. No «A identidade nacional, tal como existe sente, que é o de tentar saber por que entanto, era mais fácil a invocação de hoje, resulta de um processo históri- motivo fomos mar adiante – a «dar no- um encoberto morto, com raízes fundo co que passou por diversas fases até vos mundos ao mundo». E se Eduardo celta, trazido da noite dos tempos do atingir a expressão que atualmente Lourenço fala de uma superidentidade, ciclo bretão e dos cavaleiros da tábua conhecemos» - disse José Mattoso, por di-lo como uma espécie de compensa- redonda. Daí a ciclotimia que ainda nos certo o mais lúcido analista da iden- ção, de quem vive dividido entre a re- distingue – entre momentos altos e tidade portuguesa. E a verdade é que cordação histórica de velhas glórias e baixos, entre o mistério da história e a a permanência do território europeu e a consciência presente de difi culdades dura tomada de consciência das fragi- das suas fronteiras, ao longo dos sécu- e limitações. Por isso, os nossos mitos lidades, que Alexandre O’Neill resumiu: los, bem como a importância de uma tornam-se importantes, não para ex- «Portugal: questão que eu tenho comi- língua antiga, com projeção intercon- plicar, mas para cuidar da sua crítica go mesmo, / golpe até ao osso, fome tinental, falada por mais de duzentos para obter a respetiva superação. Jaime sem entretém, / perdigueiro marrado milhões de falantes constituem duas Cortesão falou do «nosso» humanismo e sem narizes, sem perdizes, / rocim características importantes que deve- universalista de fundo franciscano, engraxado, / feira cabisbaixa, / meu re- mos lembrar. Temos as fronteiras es- para signifi car que a dignidade huma- morso, / meu remorso de todos nós». táveis mais antigas da Europa, somos na está no centro da nossa «aventura». a terceira língua europeia mais falada S. Teotónio, companheiro de D. Afonso O atual tempo de crise leva-nos a lem- no mundo e o idioma mais usado no Henriques e alma dos cónegos regran- brar uma ancestralidade, que obriga a hemisfério sul. No entanto, como tem tes de Santo Agostinho, de Santa Cruz superar o «país sonâmbulo», que Miguel Julho a Dezembro 2014 | CAPA e BATINA 9 CONFERÊNCIAS Real recorda, bem como o prefaciador da obra, José Eduardo Franco: a história antiga; o amor-próprio; a sede arreiga- da de independência; os nove séculos de difi culdades e de vontade; a capaci- dade de manter uma identidade aber- ta; a recusa do fatalismo da medio- cridade; o sentido crítico que permite ir à luta e não desistir; a consciência dos defeitos e a tentação do ilusório sonho; a contradição de nos acharmos os melhores ou os piores e o sentido trágico que leva à permanência, apesar de tudo. No entanto, estes elementos têm de ser vistos num percurso lento e complexo. Fernão Lopes retrata os alvores da realidade dos portugueses como projeto próprio de autonomia e emancipação, para além do reino po- lítico. João de Barros, nas «Décadas», encontra pela primeira vez os por- europeísmo de que Eduardo Lourenço e uma ligação generosa de caminhos tugueses no mundo. «Os Lusíadas» e tem falado e cuja crise profunda- independentes e complementares, sem Camões apresentam a nossa história mente o preocupa não é concebido paternalismos nem saudosismos. A como uma epopeia digna dos clás- doutro modo – Portugal é Europa e é lusofonia é uma teia complexa de di- sicos. Fernão Mendes Pinto ligou a universalismo. Lorenzo Natali sempre ferenças. E, como disse Vieira na sua aventura e o drama, o picaresco e a afi rmou que Portugal na Europa traria «Clavis Prophetarum» é uma prefi gura- história. A restauração de 1640 obri- sempre a sua história, e o cosmopo- ção do respeito inteiro pela eminente gou a consolidar a herança histórica litismo somar-se-ia ao universalismo. dignidade de todas as pessoas. própria. O quinto império abriu cami- «Deste modo, o máximo de recursos nho à consideração do universalismo possíveis dos países lusófonos deve Falar da identidade e da língua é in- da dignidade humana, até que os últi- ser vazado na educação e na cultura, vocar, antes de tudo, a responsabilida- mos séculos foram afi nando a «arte de pondo a tecnologia ao serviço destas de da cidadania. Não há cultura viva ser português», agora, mais uma vez e não o contrário, como a Europa tem sem o envolvimento dos cidadãos. em encruzilhada decisiva. E a vontade, feito, desenraizando de valores comu- Daí a importância da mobilização de como afi rmou Alexandre Herculano, nitários o atual homem europeu, um todos em torno do estudo, da inves- tem tido um papel decisivo. «Somos homem tecno-burocrata». E, em sín- tigação, da divulgação, da cooperação porque queremos». Eis um motivo de tese: «fi nalmente, a comunidade lu- científi ca e académica, da partilha de esperança e de sentido crítico. sófona deve constituir um espaço de informações, da proteção do patrimó- paz absoluta sob tripla garantia: a da nio cultural e da utilização adequa- «Se a Europa é o lugar natural de inexistência de guerra entre os seus da de recursos materiais e imateriais Portugal, o seu lugar histórico é, hoje, membros; a da inexistência de guer- com vista à afi rmação da identidade a lusofonia (…). Os Descobrimentos ra no interior do território de cada e da língua, numa perspetiva aberta fi zeram-nos, constituíram o nosso membro e a da defesa comum, caso e fecunda. Um mundo global obriga à tempo de adultos históricos, selaram um dos seus membros seja atacado. preservação das diferenças e ao susci- a nossa identidade nacional. (…) Neste Neste sentido, o regime democrático, tar das trocas e complementaridades. sentido, (continua Miguel Real) deve- por mais imperfeito que seja, deve ser Daí a importância do Observatório da mos sempre juntar ao nosso lugar na- considerado a confi guração política Língua Portuguesa – espaço de coo- tural (a Europa) o nosso lugar históri- constitucional do Estado entre todos peração e de partilha, numa lógica em co (a lusofonia), este atualmente mais os membros da comunidade, obstan- que a Língua seja um espaço de várias importante do que aquele, porque do à substituição do poder por via mi- culturas e em que a cultura salvaguar- conquistado e realizado com sucesso». litar» (M. Real). A refl exão obriga, no de a vitalidade das línguas, como reali- E diga-se, em abono da verdade, que o fundo, a ligar uma identidade aberta dades vivas de inovação e criatividade. 10 CAPA e BATINA | Julho a Dezembro 2014
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