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As Singularidades Da Franca Antartica PDF

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Singularidades da França An tarctica li O .M. O H O MI N t , N E M I N I N .E M O. l. Fr. André Thevet, em habito de cordel{er. * BRASILIANA * Série 5.ª Vol. 2/9 BIRLIOTF.CA PEDAGÓGICA BRASILEIRA FR. ANDRÉ THEVET Singularidades da França Antarctica, a que outros chamam de America. Prefacio, tradução e 110tas do PROF. ESTEV ÃO PINTO Com um estudo sobre o "pian", em appenso, da autoría do dr. Eustachio Duarte. EDIÇÃO ILLUSTRAD.t\ *· l 9 4 4 COMPANHIA EDITORA NACIONA L São Paulo - Rio de Janeiro - Recife - Baía - Porto Alegre OBRAS DO PROF. ESTEVÃ O PINTO Per,iambuco no Secu/o XIX - Recife, 1922 (esgotado). Lições & · E:rercicios de Historia do Brri;iil - Publicação do govêrno de Per namLuco - Recife, 1930 (esgotada). A Esco/p e a Fo,nnação da Mentalidade Popular do Brasil - Recife, 1931 (esgotada); idem (2.• ed., wl. XVI da "B1bliotheca de Educação", Comp. Melhor.), São Paulo, 1932. O Problema da Edricação dos Bms Dotados - Vai. XIX da "Bibliotheca de Educação" cit. São Paulo, 1933; idem, z.• ed. (trad. espanhola da Revista de Pedagogia, de Madrid), Madrid, 1933. Os Indig~,.a·s do Nordeste (l vai.) - Vai. XLIV da "Brasiliana", São Paulo, 1935; idem (II vai.) - Vol. CXII da mesma collecção, São Paulo, 1938. Alg1111s Aspectos da C"/t,irrt Artistica do,s Pancarús de Tacaratú - Em "Rev. do Serv. do Pat. Hist. e Art. Nac. ", n. 2, Rio, 1938. Obs; - A presente traducção foi feita através da edição de 1ss·s (Paris). Tambem me servi da edição de Gaffarcl (1878), que é accrescida de seiscentas e sete notas. En~tanto, dessas seis centenas de notas, só utilizei realmente umas poucas dellas - cerca de quarenta - sendo que algumas foram mesmo ampliadas ou robustecidas de novos dados. Muitas outras notas de Gaffarel tiveram de ser por mim clesprezadas, umas porque, como é natural, já não estavam em correspqndencia com o estado actual dos cpnhecimentos scientificos (por exem plo, aquellas sobre a ·viagem de Orellana), outras porque não passavam de erros ou lapsos desse illustre escíptor francês (vejam•se os meus comentarias, nos lugares pertinentes, cap. XXIII, XXV, LIV, LVI, LX, LXXIV e LXXXIII). Devo, aqui, consignar os meus agradecimentos aos drs. Rodolpho Garcia o Jorge Calmon, dircctores, respectivamente, d~ibliotheca Nacional do Rio de Janeiro e da Bibliotheca Publica do Estado da Bahia, pela maneira prcs+i. n1osa com que facilitaram os meus estudos. Como tambem não quero esquecer os directores do Gabinete Português de Leitura em Pernambuco. Minha volta antecipada do Rio, em 1939, não me deu tempo para a con sulta mais demorãda da Cosmographie Universelle de Thevet, cujo estudo eu havia reservado para os ultimas dias de minha estadia na capital do país. Aguardo outra opportunidade para sanar essa falha. - E. P. PREFACIO DO TRADUCTOR. Frei André Thevet nasceu na velha cidade francesa de Angoulême, bem no começo do seculo XVI (1502). Gaffa rel, que andou fazendo pesquisas na terra natal desse fran ciscano não encontrou nada sobre a sua familia e sobre a sua mo~idade, concluindo, melancolicamente, que o autor das Singularidades da França Antarctica devia ter sido de origem modesta: "The\·et ( escreve aquelle escriptor) só muito tar diamente recebeu educação, aliás bastante artificial, pois, du rante toda a vida, arrastou comsigo o fardo de sua ignoran cia. E, apesar dos esforços por apparentar erudição, o boné <'Om que tãb liberalmente o cobriu o maligno Rabelais, deixou sempre à mostra a ponta das orelhas" 1. Kão é dem;lis accrescentar que, além de ter sido de origem modesta, era Thcvet igualmente pobre 2• Thcvet, na verdade, não nega as suas poucas lettras 3• Mas, numa epocha em que toda a educação não ia muito acima dos romances de cavallaria, do Pantagruel e de alguns Lii-rf's d'lzeures maravilhosamente illustrados 4, não é de des denhar que um pobre clerigo. de humilde estirpe, tivesse ai- , 1 f'.. VI e VII da Noticia biogcaf,Jiica appensa à edição de 1878 das S1,11gufandadts. Gafforel. com e~sa pbrasc, repete uma esriirituos~. observação rJe Fer<linand Denis, qu·e vern em s"u ('St'udo Lí!tlrc J"1tr l11'ntroductio11, d11 tal-ac e" Franca (1851). Estava ~m moda, nos m,ados do seculu XVI, cspa Jhar as mai:, jocosas ancdoctas a. respeitf) do nosso franciscano. Le Duch.::1.t. por exemplo, conta que Tltcvct trouxe do Oriente· um cuonne crocodilo, ao f'Ua1 chamavam de grossc bête de Thevct. Cf. Biograpliie Univcr.rcllc Anciemzc et Modcr11e .... dirigée par 1111c S<·ciété dcs Gens de Latires et de Sava,rts XLV, Paris, 1826, p. 387. ' • Les Si1tgt1/arite1: de la F.-auce Antarctiq11e, f. 3, ecÍ, de 1558, Paris. 8 '• bt si Dieu. uc m 'a fait grace de consu.tner ma ictrncsse es bonnes letlr,s"... (ib, f, 166). ª" • Cf. Abel Lefranc, La vie q1<otidicn1ie te,nps d, la Renaissance, P· 96 sq., Paris, 1938. 8 FR. ANDRÉ THEVET guma leitura dos autores antigos (Plinío, Aristoteles, Arria- 11O, J osephus, Procopio, Tacito, Platão, Ptolomeu e tantos outros). Isso sem falar nos seus incontestaveis conhecimen tos de cosmographia e mesmo de cartographia 1• É de um dos seus melhores biographos a observação de que, se Thevet vivera em nossos dias, teria possuído a mania do bric-à-brac. Sabe-se, realmente, que esse francis cano amava as suas "singularidades" com um sentimento -quasi de pae, guardando-as, ciosamente, até a sua extrema velhice, como aconteceu, para citar apenas um caso, ao pos sante tacape de Cunhambebe. Mas, tambem não se deve es quecer que, quando era preciso cortejar os poderosos ou re compensar os amigos esse seu amor logo se desmancha 1 va todo, abrindo mão Thevet de suas ricas preciosidades com um desprendimento e uma generosidade mais de pi;odigo : os mantos de plumas de guará para o senhor de Troistieux, gentilhomem da casa do cardeal chanceller de França; os maracás para Nicolas de Nicola"i, geographo da côrte real ; e as aves sombreiros para o rei; as pelles de preguiça para 1 Lcs Sing., cit., f. 166. Cf. ainda Heulhard (Víl/egagnon, Roi de l' Amé l'iquc, etc., p. 109, Paris, 1897). "Thevet dessinait u,n peu, et c'est ce qui donne ·une certaine valeur anx images de ses· livres". J. Vieira Fazenda ("Fundamentos da cidade do R'o de Janeiro", em Rev. do Inst. Hist. e Geog. Bras., t. 80, Rio, 1917, p. 539 sq.) critica a carta da bahia de Guanabara atribuída a Thevet, cuja data é de 1557. Essa carta foi vulr:arizada pelo velho llfrllo Moraes (na Chronica geral e minucio.s-a do Im pari,, do BrasU) e, depois, por Paul Gaffarel (na Histoirc du Hrésil Fralzçais), isto é, respectivamente em 1871 e 1878. Acha Vieira Fazenda que das três i.1has kcalizadas à entrada da barra. duas foram tragadas por a!Jwm catac'ysmo ignorado; que a Lage ficou fora do lugar; qtle, emfim, a Ville gagnon tomou proporções exaggerndas. Mas, é preciso notar que essas obser ,·ações são um t:;into apressadas. Examinando-a attentamente, vê-se que a carta de Thevet foi desenhada tendo-se em vista as leis de perspectiva, isto é, como se a carta fôra desenhada do alto de um monte. Uma photographia aerea, se diria hoje. E é natural que os três ilheus da ante-barra, - talvez a• ilhas hoje chamadas de Cotunduba, Pae e Mãe, - localizadas no primeiro plano, tomassem proporções apparentemente exaggeradas. Muito mais defeituosa é a celebre carta de Vaulx de Claye, diffundida por Heulhard (oh. cit., p. 208 e 209). Tambem o autor da carta da bahia do Rio de Janeiro, a qual faz parte de um codice quinhentista da Bibliotheca de, Ajuda, - o Roteiro de todos os si!lnaes, conhecimentos, f11ndos, baixos, al•«ras. que há na costa do Brasil (vj. Hist. da Cal. Port. do Eras. • III, Porto, 1924, p. 230 e 231), - incide em erros mais graves. E, todavia, o autor do citado codice dPsenhou a uma epocHa e-m que se conhecia muito melhor o rc· concavo da Guanabara. SINGULARIDADES DA FRANÇA ANTARCTICA 9 Conrad Gessner; as sementes raras para Philippe Melanchton. E isso sem falar nas conchas de todas as variedades e nas plantas de todas as especies, com que Thevet satisfez a curio sidade dos amigos. Em suma, no homem do bric-à-brac não havia só o avarento; havia tambem o prodigo. A contradicção, ou melhor, o contraste foi mesmo um traço bem accentuado na vida de frei André. Assim, o cos mographo, que ainda adopta o systema dos céus concentri cos, o cartographo, que ainda emprega a technica medieval, o geographo, que ainda crê nos imans attrahindo a ferragem dos navios, o philosopho, ·que ainda lê a Melttsine, - é tam bem o autor ele teorias e hypotheses por assim dizer quasi actuaes. Hypothescs e theorias, que muitos sociologos mo dernos, com poucos reparos, não vacillariam em subscrever. Como, por exemplo, a <la habitabilidade das zonas terrestrei; C"m geral: "Só nas regiões estereis (diz Thevet) não se pode viver, como tive occasião de verificar na Arabia Deserta e em outras regiões. Deus dotou o homem de meios necessa rios para occupar qualquer parte do globo, - zonas frias, c111entes ou temperadas" 1. Ou como a da origem e antigui dade da agricultura, com' a qual se colloca Thevet entre os precursores da ·escola his.torico-cultural, isto é, entre os adep tos do descontinuo das formas em que se processa a evolu ção social 2• Quantos ethnologos comtemporaneos - para dar mais outro exemplo - não apoiarimn a sua theoria sobre é'. nudez dos selvicolas? "Em materia de vestes ( diz o frade) os índios canadenses estão acima dos aborígenes sul-america nos, pois se cobrem com pelles de animaes selvagens, confec rionadas à sua maneira. Os pellos são conservados. Esse costume é, talvez, oriundo da necessidade de precaver-se o ' Les Si110., f. 37. ' _ld,, f .. 113: ."Fi~tretanto, é mais fabuloso do que real dizer que a hutn"n!dade viva,. ~r1m1ttyamente, como os animaes selvagens. Os poetas é G.Ue t~m. essa Jp1n1ão, que ~lguns a~tores acolhem, como se vê em Virgitio, n'l primeira das suas Ge6rgiros. Creio antes nas Santas Escripturas, onc.1e se faz menção da., trabalhos de lavoura de Abel e das offerendas que este fez " Dtus". 10 FR. ANDRÉ THEVET índio contra o frio e não de qualquer sentimento, ou idéia moral. Com& os demais indigenas americanos não se vêem obrigados por tal necessidade, andam todos nus, sem mostras de nenhum pudor" 1. É êsse seu temperamento tão cheio de contrastes que explica como, apesar dos cordões de franciscano, pôde The vet tomar parte em uma expedição de calvinistas, ou em uma expedição pelo menos chefiada por um guerreiro de idéias religiosas no momento tão trefegas e indecisas 2• Como tam bem explica por que jàmais foi esse frade muito doei! às 1 lá. f. 153. Cf. H. Obermaier, El hombre prehist6rico y Ios Oi'Íge»e.r de la huma»idad, p. 103, Madrid, 1932; A. M. Hocart, Les progres de l' hom ,n;, p. 106 sq., Paris. 1935; Robert H. Lowie, Manuel d'anthroPologie ciilturelle, p. 85 .rq.,_ Paris, 1936. • ''Hypocrita, a fingir tolerancia religiosa para angariar colonos e adeptos ao seu commcttimento ( escreve Ramiz Galvão. "O livro de Paul Gaffarel ". em Rev. do lnst. Hist. Bras., t. 102, p. 571 sq., 1927); ambicioso de glorias e quem sabe se de plantar as raizes de um ·principado; duro e violento. a ponto de 1nvestir em pessoa contra Dubourdel, quando este teve a audacia de insistir em suas opiniões calvinistas; desleal e falsario, que não duvidou assentir na retirada dos genebrinos para a França, a bordo do Jacques, mas fazendo-os acompanhar de uma vil denuncia, que os podia levár ao garrote ou à fogueira, naqueles tempos de perseguição religiosa; emfim, desigual no trato e nas opiniões, e, sobretudo, arrebatado e cruel por natureza e educação; - Villegagnon era isto, e o sr. Gaffarel o confirma, ainda que uma vez ou outra não deixe de suavisar as linhas do perfil, fazendo sentir a suspeição dos autores protestantes, que de facto escreviam a este respeito ~om certa paixão". · t verdade que com esse conceito não concordam, porém, algumas teste.. munhas insuspeitas da epoch11, inclusive Anchieta. Pelo menos 110 que diz res peito às relações de Villegagnon cbm os indigenas. Vi!legagnon (affirma o celebre jesuita) "castigava mui rijamente e creio que com pena de morte os que peccavam com as indias pagãs". E nccrescenta: "Era muito zeloso de se guardar a fé catholica, mas como não podia com tantos dissimulava até ver se podia fazer a sua" (Carias, infONnações, fra{/mentos historicos e ser• mões, p. 311, Rio, 1933). Por outro lado. Heulhard (ob, ct., D· 103 sq.) defende Villegagnon de qualquer idéia relacionada com a vinda dos calvinistas no Brasil. Mas, o certo é que Villegagnon correspondia-se. com Calvino, - tendo sido a sua celebre carta, cscripta primitivamente em latim, divulgada por Léry (hoje se conserva numa hibliotheca de Genebra). Com espirito, observa Ca· pistrano rle Abreu que Villegagnon "no Brasil foi protestante a •eu modo, antes de decidir-se pelo dogma catholico, de que não mais divergiu 110 resto dSeã o sePuas uldoi, as3". • (Cedf.., Hs/ids..) .G eg. do Bras. do Vic. de Porto Seguro, I, 0• 376, O facto de os colonos franceses preocuparem-se com o ensino do trabalho manual, entre os indígenas, está tambem indicando que a gente sob a guarda de Villegagnon era constituída, em sua maioria, por protestantes, entre os quacs o gosto por esta atividade parecia ,er mais congenito do que entre "0º1 catholico•- A observação é de Gilberto Freyre (cf. Um e"{!rnh~iro francê, Brasil, p. 28, Rio, 1940).

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