Curso Tópico da Cultura de Cana IAC AS PRINCIPAIS DOENÇAS DA CANA-DE-AÇÚCAR Eng. Agr. Dr. Alvaro Sanguino1 1 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC 1. INTRODUÇÃO Alvaro Sanguino1 Para relatar a importância das doenças na cultura da cana-de-açúcar, deve-se salientar que, quando da sua introdução no ocidente, a cultura se assentou principalmente em alguns cultivares da espécie Saccharum officinarum, fazendo com que os problemas fitossanitários fossem gradativamente se agravando e até mesmo chegando a um colapso total em determinadas épocas. No estado de São Paulo, entre os anos de 1922 e 1930, uma severa epidemia de “Mosaico” reduziu a produção de açúcar em 93% e a de álcool em 90%, só se recuperando com a introdução dos cultivares POJ, produzidos no programa de melhoramento da ilha de Java, que possuíam alguma resistência. Surtos epifitóticos periódicos são característicos da cana-de-açúcar devido à importância dada a uma variedade apenas para as características de produção, subestimando as características de resistência a pragas e doenças ou negligenciando a qualidade fitossanitaria do material utilizado. O aumento excessivo de áreas com variedades que apresentam problemas fitossanitários graves, podem representar sérios prejuízos no futuro. Os casos mais recentes desta prática que podemos citar são, a epidemia de “Carvão” na década de 1980, sobre a variedade NA56-79, que chegou a ocupar mais de 60% da área com cana no estado de São Paulo e a ocorrência do vírus do amarelecimento (Amarelinho), sobre a variedade SP71-6163, na década de 1990. Nos programas de expansão da lavora canavieira, um grande número de variedades são introduzidas em novas áreas ou novos locais, sem um adequado sistema de avaliação da qualidade fitossanitária, que pode cooperar para que algumas doenças sejam disseminadas. Os resultados desse procedimento unilateral, na tentativa de solucionar problemas referentes à rápida produção, acarretarão um problema maior pela introdução de uma doença, que futuramente poderá ser limitante para esta produção. O ponto de vista do técnico em cana-de-açúcar, deverá considerar conjuntamente os problemas das variedades, dos locais onde serão plantadas e as possíveis doenças que poderão ocorrer, evitando que os problemas venham acontecer. 2 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC 2. IMPORTÂNCIA DAS DOENÇAS Na cultura da cana-de-açúcar, a importância das doenças é de difícil quantificação, pela diversidade das cultivares e das condições ambientais em que são exploradas. Como uma doença é produto da interação patógeno-hospedeiro-ambiente, seus efeitos podem variar de um local para outro, e somente com estudos e pesquisas para cada condição, é que se pode chegar ao estabelecimento da sua importância e dos meios mais eficientes de controle. O conhecimento das reações das espécies e híbridos do gênero Saccharum para as principais doenças é de primordial importância para os programas de melhoramento de variedades onde a resistência às doenças é parte importante do processo. Como é praticamente impossível se obter um híbrido que seja resistente a todas as doenças e ainda possua características agroindustriais desejáveis, o controle das doenças pelo uso de variedades resistentes torna-se um problema complexo, uma vez que, sempre surgirá em cultivo variedades que são suscetíveis a uma ou algumas doenças. Poderemos, no entanto, estabelecer prioridades de acordo com a importância econômica de cada doença em determinadas condições, de forma que as variedades melhoradas tenham como um dos seus predicados a resistência para as doenças mais importantes de cada região e também as necessárias orientações para que se mantenham estas variedades em perfeito estado fitossanitário. Como as mais importantes doenças da cana são de caráter sistêmico, portanto facilmente disseminadas pelas canas usadas nos plantios, deveremos dar especial atenção para a qualidade das mudas quando vamos expandir os canaviais em um novo local ou região, pois poderá significar a introdução de uma doença em um ambiente extremamente favorável ao seu desenvolvimento e provocar sérios problemas. 3. PRINCIPAIS DOENÇAS DA CANA E SUA IMPORTANCIA PARA A CULTURA 3.1 MOSAICO O mosaico é uma doença de importância oscilante, variando com a estirpe do vírus predominante, suscetibilidade das variedades e da proximidade dos canaviais de plantas hospedeiras, dos pulgões transmissores e dos vírus. 3 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC Como já descrevemos anteriormente, a doença assumiu forma epifitótica desastrosa quando se cultivavam as canas nobres (Saccharum officinarum), decrescendo em sua importância, quando estas foram substituídas pelas variedades POJ, que também não eram resistentes, mas, eram tolerantes à doença e produziam satisfatoriamente. Em nossos dias, é preocupação dos melhoristas, que uma variedade seja resistente à infecção das estirpes do vírus predominante e não apenas tolerante a doença, pois, variedades tolerantes aumentam a fonte de inoculo e facilitam a variabilidade dos vírus que poderá provocar futuras epidemias. Agente causal - Um vírus de RNA, da família Potyviridae, de forma filamentosa, com 750nm, estando descritos pelo menos 14 estirpes nomeados de A a N com algumas sub- estirpes dentro de cada uma delas. A estirpe B parece ser a predominante na América do Sul e também no Brasil. Para detecções ou mesmo classificações destas estirpes são usadas, testes de PCR, sorologia e também variedades diferenciais, onde pela sintomatologia pode-se separar as estirpes. Sintomas – O principal sintoma para o reconhecimento do mosaico, aparece nas folhas. A presença de uma alternância, entre o verde normal da folha e um verde mais claro ou amarelado, formando manchas por todo o limbo foliar, principalmente nas folhas mais novas, caracterizam a doença. A intensidade deste quadro sintomatológico é bastante variável, pois, esta manifestação, depende da estirpe do vírus envolvido, da variedade de cana-de-açúcar e das condições ambientais. Os sintomas são mais facilmente percebidos olhando-se as folhas contra a luz. Figura 1. Sintomas do Mosaico 4 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC Em variedades com alta suscetibilidade, as folhas tomam uma coloração amarelada, as plantas não desenvolvem, chegando em alguns casos à morte por inanição, não sendo difícil nesses casos o aparecimento de sintomas no próprio colmo, os quais apresentam alternâncias de cores como nas folhas. Disseminação – Devido ao seu caráter sistêmico a disseminação do mosaico se dá principalmente por intermédio das mudas de cana contaminadas e de insetos vetores, os aphideos (pulgões), entre os quais, o Melanaphys sacchari e o Rhopalosiphum maidis. A transmissão se dá rapidamente, através da picada de prova (não persistente), onde o inseto, testa com seu estilete sugador, se este é seu hospedeiro ideal. Outras culturas, como o milho o sorgo e gramíneas naturais funcionam como hospedeiras do vírus e dos pulgões e facilitam a disseminação da doença. Controle – A maioria das medidas de controle para o mosaico baseia-se na utilização de variedades resistentes. Sendo uma doença sistêmica e de transmissão por insetos vetores, ela deve ser combatida no campo pela erradicação das touceiras doentes. Esta medida é normalmente executada durante a formação dos viveiros de mudas e recebe o nome de “roguing”, que significa eliminação de plantas que estão fora do padrão. Esta eliminação poderá ser feita com enchadão ou herbicida, eliminando-se a touceira toda. No caso da eliminação por herbicida usa-se uma solução de glifosato a 3% com 0,02% de um inseticida sistêmico em água, pulverizando uma pequena quantidade desta solução na região do “cartucho” das plantas que devem ser eliminadas. Na eliminação por enxadão, deve-se posteriormente retirar as plantas eliminadas do interior do canavial para evitar sua rebrota ou que os pulgões que nela estiverem saiam para sugar outras plantas. Outra medida de controle é também evitar o plantio dos viveiros de mudas próximos de áreas plantadas com milho ou sorgo, pois como dissemos anteriormente estas plantas são hospedeiras do vírus e dos pulgões, servindo como fontes disseminadoras da doença. Importância Econômica - O mosaico, devido ao seu poder de disseminação e a variabilidade do vírus, torna-se uma das mais importantes doenças da cana-de-açúcar, pois torna proibitivo o uso de variedades suscetíveis pela impossibilidade de recuperação das 5 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC plantas infectadas e também pelas perdas causadas nas produções agrícolas nessas variedades. 3.2 CARVÃO É uma das doenças da cana considerada de grande capacidade de disseminação e com enormes tendências de assumir um estado epifitótico quando abusamos da utilização de variedades com resistência intermediária ou variedades suscetíveis. A distribuição e multiplicação de uma variedade, sem o prévio conhecimento da sua reação para o carvão, ou mesmo a negligência no plantio e no uso de materiais sabidamente suscetíveis ou com qualidade fitossanitaria duvidosa, poderá acarretar sérias conseqüências. Agente causal – O fungo Sporisorium scitamineum (sin. Ustilago scitaminea) é um parasito muito específico da cana-de-açúcar. Penetrando pelas regiões meristemáticas da planta, pode-se tornar sistêmico. Seu ciclo no interior da planta até sua esporulação (chicote) pode durar de 50 a 100 dias, dependendo das condições ambientais. Sintoma e Sinal – Uma touceira de cana afetada pelo carvão, toma o aspecto de uma touceira de capim com colmos curtos e finos. O sinal característico e que identifica a doença é um apêndice de coloração preta que cresce através das modificações causadas na gema apical, que possui entre 20 e 80cm de comprimento e 0,5 e 1cm de diâmetro e é conhecido popularmente com o nome de “chicote”. Figura 2. “CHICOTE” DO CARVÃO 6 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC É deste chicote que são liberados os esporos que servirão de inoculo para as novas infecções. Se o aparecimento destes chicotes for precoce nos brotos da touceira, estes poderão matar vários brotos e até mesmo a touceira toda. Disseminação – Cada “chicote” do carvão pode produzir de 3 a 5 bilhões de esporos, que são disseminados principalmente pelo vento, água de chuva ou irrigação, veículos, implementos, animais, etc. A infecção ocorre geralmente através das gemas ou brotos jovens onde o fungo infectará a região meristemática. As gemas mais jovens são mais vulneráveis. A gemas infectadas podem produzir chicotes na mesma estação, ou então, o fungo permanece dormente e os chicotes aparecem somente quando estas gemas são usadas para novos plantios. Os esporos depositados no solo podem infectar as soqueiras subseqüentes ou as gemas de um novo plantio. Em condições favoráveis de umidade e temperatura, a maioria dos esporos do fungo germinam e caso não tenham contacto com o hospedeiro, não sobrevivem. Em condições de secas prolongadas, os esporos podem permanecer viáveis por até dois anos. As estações secas favorecem um grande acumulo de esporos sobre o solo e quando da volta das condições de umidade, as infecções são mais eficientes e em maior número. Controle – As medidas de controle para o carvão estão resumidas ao cultivo de variedades resistentes e a utilização de mudas produzidas através do tratamento térmico e conduzidas no campo com inspeções de “roguing”. Importância Econômica – A importância da doença está ligada diretamente aos prejuízos causados na lavoura pela diminuição da produção e pela impossibilidade de se cultivar variedades produtivas, mas suscetíveis. Este fato torna mais difícil a obtenção de novas variedades mais produtivas, onerando ainda mais os programas de melhoramentos. 3.3 RAQUITISMO DA SOQUEIRA É a doença da cana mais disseminada pelos canaviais do mundo e por não possuir uma sintomatologia típica, ela é muitas vezes negligenciada e pode provocar grandes perdas na produção. 7 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC Agente causal – A bactéria Leifsonia xyli sbsp xyli, que coloniza o xilema das plantas provocando obstrução vascular e conseqüentemente dificultando a translocação de água e nutrientes nestas plantas, que é manifestada num decréscimo no desenvolvimento. Sintomas – Os sintomas da presença do raquitismo da soqueira em um canavial, não podem ser avaliados por processos visuais por poder ser confundido com sintomas de outras doenças, tais como, a Escaldadura, Fusarium, Nematóides ou deficiências minerais. Estes sintomas que se caracterizam pelo aparecimento de “virgulas” de coloração avermelhada na região nodal do colmo de canas adultas, podem não aparecer em algumas variedades. O crescimento irregular, colmos finos, entrenós curtos e baixa produção que são agravados por condições de seca, sozinhos, não servem para avaliar a doença. O método mais rápido e eficiente de se avaliar a doença é aquele que alem dos sintomas acima, avalia a presença da bactéria na seiva do xilema, usando técnicas de PCR ou sorologia. Disseminação – Para esta doença, o homem é o principal agente disseminador, pois a doença se propaga através dos facões de corte, maquinas de cultivo e de colheita e por meio do uso de canas contaminadas para o plantio. Figura 3. Raquitismo da soqueira 8 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC Controle – O tratamento térmico em água a 52°C por 30 minutos ou 50,5°C por 120 minutos são os meios mais eficientes de controle da doença, uma vez que, não se conhece até o momento, uma fonte de resistência genética que possa ser usada na obtenção de variedades tolerância à bactéria, ou seja, não apresentam diferenças significativas na produção, quando se comparam variedades tratadas termicamente e variedades inoculadas com a bactéria. A utilização da amônia quaternária na desinfecção de facões e máquinas agrícolas é hoje o método mais eficiente de se evitar a disseminação da doença dentro dos canaviais. Uma solução de amônia quaternária a 0,2% em água, partindo de uma amônia quaternária a 30%, apresenta os resultados esperados. Importância Econômica – Como é praticamente impossível se obter um controle absoluto da doença e da sua disseminação, é recomendável o uso de todas as medidas viáveis para se evitar a doença em novas áreas ou canaviais, pois como sabemos, as doenças podem variar em seus efeitos de acordo com o ambiente onde elas ocorrem. 3.4 ESCALDADURA A escaldadura é uma das doenças mais perigosas da cana-de-açúcar, ela interfere como vigor dos colmos e a sobrevivência das touceiras. Por sua sintomatologia não estar sempre presente e sendo alterada de acordo com as condições ambientais, torna impossível sua avaliação pela simples inspeção dos canaviais. Agente causal - A bactéria que coloniza o xilema da planta (sistêmica), Xanthomonas albilineans (Ashby) Dowson. Sintomas - A bactéria estando presente na cana-de-açúcar pode manifestar-se de três formas: forma latente, forma crônica e forma aguda, dependendo da variedade, das condições ambientais, e do estágio da cultura. A forma latente é a mais perigosa, sendo praticamente impossível de avaliar sua presença a olho nu, devido à falta de qualquer sintoma externo na planta. Nesta forma e que na maioria das vezes a bactéria é disseminada para outras áreas ou regiões e posteriormente evoluir para as formas crônicas e agudas. 9 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000 Curso Tópico da Cultura de Cana IAC A forma crônica manifesta-se pelo aparecimento nas folhas de estrias brancas bem definidas, geralmente paralelas à nervura central que podem descer pela bainha foliar.Estas estrias podem evoluir para grandes áreas brancas no limbo foliar. Normalmente, este sintoma desaparece com o desenvolvimento da planta, mas, sem que a planta se recupere da bactéria, podendo conduzir a conclusões errôneas sobre o estado sanitário de um canavial. Caso o desenvolvimento da planta seja prejudicado, este sintoma poderá evoluir para a fase aguda da doença. Na forma aguda, as plantas apresentam folhas anormais, com grandes áreas esbranquiçadas, as gemas do colmo sofrem intensa brotação vindo da base do colmo para a ponta (quebra da dominância apical) com as folhas destes brotos já apresentando lista ou áreas brancas. Cortando-se longitudinalmente os colmos atacados nota-se um escurecimento dos vasos na região nodal, que muitas vezes passa pelos entrenós. Seu efeito maior é no murchamento e morte dos colmos afetados e provocando grandes falhas de brotação nas soqueiras. Figura 4. Escaldadura das folhas Disseminação – O principal agente de disseminação da Escaldadura assim como do Raquitismo da Soqueira é o próprio homem, uma vez que, a doença se propaga principalmente através dos facões de corte, maquinas agrícolas, colhedoras e pelo uso de canas contaminadas nos plantios. 10 __________________________________ 1 – ASAS – Álvaro Sanguino Assessoria, Planejamento e Consultoria Ltda. Piracicaba –SP telefone –19-997196000
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