ebook img

As pessoas e as coisas PDF

149 Pages·2016·2.89 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview As pessoas e as coisas

* il ROBERTO ESPOSITO AS PESSOAS E AS COISAS Tradução de Andrea Santurbano e Patricia Peterle p t j r RAFAELj_COPETTI Qual a relação existente entre pessoas e coisas? Desde os primórdios, nossa civilização ba­ seou-se na distinção clara entre pessoas e coisas, fundamentando-se na dominação instrumental das primeiras sobre as segundas. Oposição es­ tabelecida desde o antigo Direito romano, que persiste até os dias atuais e continua gerando contradições no mercado global contemporâneo. Pois, embora a distinção possa parecer clara, o que se observa nas práticas legais, econômicas e tecnológicas é uma inversão de perspectivas: algumas categorias de pessoas têm se confundi­ do com coisas e categorias de coisas passaram a adquirir o perfil de pessoas. Neste livro altamente original, Roberto Esposito — um dos mais importantes filósofos políticos da Itália — aborda esses questionamen­ tos e argumenta que há uma rota de escape desse paradoxo, constituída por um novo ponto de vista fundamentado no corpo. Nem pessoa nem coisa, portanto, é o corpo a se tornar elemento decisivo para repensar conceitos e valores que governam nosso léxico filosófico, legal e político. Roberto Esposito é professor de Filosofia Teórica na Scuola Normale Suoeriore de Pisa. Itália. ROBERTO ESPOSITO AS PESSOAS E AS COISAS Tradução de Andrea Santurbano e Patricia Peterle ©2015 Polity Press Ltd., Cambridge Esta edição foi publicada por um acordo com a Polity Press Ltd., Cambridge, e traduzida a partir da Ia edição italiana, publicada em 2014 pela Giulio Einaudi Editore de Turim. © 2016 Rafael Zamperetti Copetti Editor Ltda., para a presente edição. Nesta edição respeitou-se o estabelecido no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado pelo Brasil em 2009. Título original em italiano Le persone e le cose Título em português As pessoas e as coisas Conselho editorial Andrea Santurbano |ufsc|; Andréia Guerini |ufsc|; Annateresa Fabris |eca/usp|; Aurora Bernardini |usp|; Dirce Waltrick do Amarante |ufsc|; Flávia Tronca |Artista Plástica|; Giorgio De Marchis |Uniyersità degu Studi Roma Tre|; Lucia Sá (University of Manchester); Luciene Lehmkuhl |ufpb|; Mamede Mustafa Jarouche |usp|; Marcos Tognon |unicamp|; Maria Aparecida Barbosa | UFSC; Maria Lucia de Barros Camargo |ufsc|; Mariarosaria Fabris |usp|; Paulo Knauss |uff|; Pedro Heliodoro Tavares |usp|; Rita Marnoto (Universidade de Coimbra|; Sandra Bagno ( Università degli Studi di Padova|; Tania Regina de Luca |unesp/assis| Editor Rafael Zamperetti Copetti Coordenador editorial Ricardo Franzin Assistente editorial Vit or Livramento Capa, projeto gráfico e diagramação SGuerra Design Foto de Capa VisualHunt 2016 © Mujfet Preparação dos originais e revisão de provas Ricardo Franzin 2016 I iA Edição Brasileira Proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio salvo mediante expressa autorização por escrito da editora. Rafael Zamperetti Copetti Editor Ltda. Caixa Postal 31202 Consolação | São Paulo | sp | Brasil | cep 01309-970 Tel. il I 2334.4367 [email protected] | rafaelcopettieditor.com.br Foi feito depósito legal. Impresso no Brasil ( Printed in Brazil Sumário Introdução 1 1. Pessoas 15 i. Posse 15 2. A grande divisão 22 3. Dois em um 29 4. Uso e abuso 35 5. Não-pessoas 43 2. Coisas 49 i. O nada da coisa 49 2. Res 55 3. As palavras e as coisas 62 4. O valor das coisas 69 5. Das Ding 76 3. Corpos 84 i. O estatuto do corpo 84 2. Potência do corpo 91 3. Existir o corpo 100 4. A alma das coisas 108 5. Corpos políticos 117 Notas 125 Autor 139 Tradutores 141 Introdução Se há um postulado que parece organizar a ex­ periência humana desde seus primórdios, é o da divisão entre pessoas e coisas. Nenhum outro princípio possui uma raiz tão profunda na nossa percepção, e também na nossa consciência moral, quanto o da convicção de que náo somos coisas — já que as coisas são o contrário das pessoas. Porém, o que nos parece uma evidência quase natural é o êxito de um longuíssimo processo de disciplinamento que percorreu a história antiga e moderna modificando seus contornos. Quando nas Instituições o jurista romano Gaio identifica nas pessoas e nas coisas as duas categorias que, junto à das ações processuais, constituem a matéria do direito, só atribui um valor jurídico a um critério amplamente difundido. Desde então, esse critério, reproduzido em todas as codificações modernas, tornou-se o pres­ suposto que constitui o pano de fundo implícito de 1 Roberto brosrro qualquer outra argumentação — de caráter jurídico, mas também filosófico, econômico, político, ético. O mundo da vida resulta cortado por um divisor de águas que o separa em duas zonas, definidas por sua oposição recíproca: ou se está do lado de cá, entre as pessoas, ou do lado de lá, entre as coisas, sem nenhum segmento intermediário que possa juntá-las. Porém, os estudos antropológicos contam uma história diferente, ambientada em sociedades nas quais pessoas e coisas fazem parte do mesmo ho­ rizonte, a ponto de náo somente interagirem, mas de se integrarem mutuamente. Mais do que meros instrumentos, ou objetos de propriedade exclusiva, as coisas constituem o filtro mediante o qual homens, ainda não modelados pelo dispositivo da pessoa, en­ tram em relação entre si. Conectados por uma prática que precede a segmentação da vida social nas distintas linguagens da religião, da economia, do direito, eles veem nas coisas seres animados capazes de influírem no próprio destino e, portanto, merecedores de um cuidado particular. Para compreender o perfil dessas sociedades não é necessário observá-las pelo lado das pessoas nem pelo das coisas, mas pelo ângulo de visão do corpo. É justamente este, com efeito, o lugar sensível em que as coisas parecem interagir com as pessoas, até se tornarem uma espécie de prolongamento simbólico e material dessas últimas. Para se ter uma ideia, podemos nos referir ao que 2 As PESSOAS E AS COISAS hoje significam para nós alguns objetos da arte ou da técnica, aparentemente dotados de uma vida própria que, em alguns aspectos, se comunica com a nossa. Já essa aproximação entre sociedades arcaicas e experiência contemporânea é uma prova de como na história nada desaparece sem deixar rastros, ainda que se reproduzindo a partir de modalidades muitas vezes incomparáveis. E náo só: é também prova do fato de que o horizonte moderno, geneticamente constituído na confluência entre filosofia grega, direito romano e concepção cristã, náo esgota o arco das possibilidades. O que, na época de seu declínio, parece se delinear é um enfraquecimento do modelo dicotômico, dentro do qual o mundo das coisas foi por um longo tempo contraposto, e submetido, ao das pessoas. Quanto mais os objetos técnicos incorporam, com o saber que os tornou fungíveis, uma espécie de vida subjetiva, tanto menor é a possibilidade de sufocá-los em uma função exclusivamente servil. Ao mesmo tempo, por meio do uso das biotecnologias, as que um tempo pareciam mônadas individuais, podem incluir dentro de si elementos oriundos de outros corpos e até de materiais inorgânicos. Dessa forma, o corpo humano passa a ser o canal de trânsito e o operador, sem dú­ vida muito delicado, de uma relação sempre menos redutível a uma lógica binária. Contudo, antes de identificar no ponto de vista do corpo um olhar diferente sobre coisas e pessoas, é 3 Roberto Esposito preciso reconstruir as coordenadas de longo período que reduziram, e ainda reduzem, a experiência hu­ mana dentro desse binômio excludente. Até porque aquela a ser excluída foi realmente a dimensão do corpo. Naturalmente, náo no plano da práxis, que sempre esteve ao seu redor, nem no do poder, medido exatamente pela diferente faculdade de dominar as prestações dessa dimensão, mas certamente no do saber, sobretudo jurídico e filosófico, que tendeu a remover de seu complexo a especificidade do corpo. Não cabendo nem na categoria de pessoa nem na de coisa, este oscilou por muito tempo entre uma e outra sem encontrar uma colocação estável. Se a pessoa, na concepção jurídica romana, assim como naquela te­ ológica, cristã, nunca coincidiu com o corpo vivente que a encarnava, a coisa também foi, de algum modo, descorporizada, resolvida em ideia ou palavra pela tradição filosófica antiga e moderna. Em ambos os casos, é como se a divisão de princípio entre pessoa e coisa tivesse se reproduzido em cada uma das duas, separando-as de seu conteúdo corpóreo. Quanto à pessoa, já o termo grego do qual provém dá conta da diferença em relação ao corpo vivente. Assim como a máscara nunca adere completamente ao rosto que cobre, a pessoa jurídica não coincide com o corpo do homem ao qual se refere. Se na doutrina jurídica romana elã indica, ao invés do ser humano enquanto tal, seu papel social, naquela 4

Description:
Qual a relação existente entre pessoas e coisas? E de que forma o corpo é capaz de transformar essa relação? Neste livro altamente original, Roberto Esposito — um dos mais importantes filósofos políticos da Itália — aborda esses questionamentos e demonstra que, para reconsiderar o status
See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.