Karin Strobel As imagens do outro sobre a cultura surda UNNERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor Lucio JOSBo~te lho Vice-Reitor Arioualdo Bolzan EDITORA DA UFSC Diretor Executive Alcides Buss Conselho Editorial Eunice Sueli Nodari (Presidente) Cornglio Celso de Brasil Carnargo Carmen Siluia Rial Jos6 Rubens Morato Leite Editora da UFSC Maria Cristina Marino Caluo Florian6polis Nilcka Lernos Pelandrg Regina Carvalho 2008 O 2008 Karin Strobel Editora da UFSC Campus Universitario - Trindade Caixa Postal 476 88010-970 - Florian6polis/SC Fones: (48) 372 1-9408, 372 1-9605 e 372 1-9686 Fa: (48) 3721-9680 [email protected] www.editora.ufsc.br DiresBo editorial e capa: Paulo Roberto da Silva Revisgo tecnico-editorial: Aldy Verge% Mainguk Editorasgo: Victor Ernrnanuel Carlson Revisgo: Sueli Fernands Ficha Catalografica (Cataloga~ion a fonte pela Biblioteca Universitiria da Universidade Federal de Santa Catarina) S91 9i Strobel, Karin As imagens do outro sobre a cultura surda / Karin Strobel. - Florian6polis : Ed. da UFSC, 2008. 118p. : il. "... e naquele instante, observando minha filha surda de tr& anos brincando no jardim com lnclui bibliografia. outras crian~ase, u a tomei pela cintura e a sentei no 1. Surdos. 2. Cultura. 3. Surdos - Aspectos. muro. I. Titulo. A minha frente, sua bela e pequenina jigura CDU: 362.42 iluminada pela alegria e o ceu h suas costas. ISBN 978-85-328-0428-0 Lembro-me bem daquele momento magico e la no jundo do meu cora~doag radeci: - Obrigada, meu Deus, por t6-la enviado para junto de mim!" Resewados todos os direitos de publicacio total ou parcial pela Editora da UFSC lmpresso no Brasil Capitulo 6. Historia Cultural: novas reflex6es sobre a historia ................................................................ dos surdos -89 Capitulo 7. In (exclus60) dos surdos: pratica inter (cultural)?. ........ 95 Nota de reubao Capitulo 8. Como podemos compreender e envolver com as .............................. peculiaridades da cultura surda? 109 Ao ser convidada por Karin para a revisgo de seu texto, ainda preliminar, senti- me lisonjeada! Imagens nostblgicas, que compuseram nossa histbria, ao longo de mais de dez anos de trabalho juntas, povoaram minha mente. Lembrei-me da menina de grandes olhos azuis que, ao ingressar na vida aca- dgmica, no Curso de Pedagogia, buscava romper as barreiras lingiiisticas que o portugugs, sua lingua de fronteira, impunha'entre ela e os conhecimentos tebricos, os quais buscava se apropriar, avidamente. Em seu percurso, compartilhei com Karin o efeito do desconforto babdlico que o portugugs Ihe causava. Sentimentos de estranhamento, bloqueio, impotgncia que a atormentavam, diante de signos atravessados pela cultura da oralidade, em que se viu exilada, desde a infgncia ... Hoje, diante de seu livro, senti-me tentada, de inicio, a exercer o papel de re- visora, substituindo palavras, adequando a pontua~Soa o c6modo universo lexical e pros6dico de minha lingua materna, em que constitui minha subjetividade e identidade cultural. No entanto, a medida que ia me apropriando das palavras-imagens que habita- vam o texto de Karin, que narravam a hist6ria de seu povo surdo, de seus percal~os a submissSo da normaliza~doq ue a sociedade insistiu em lhes imputar, sobretudo em forma de coloniza~Soli ngiiistica, hesitei. Em meio a imagens de corpos disciplinados, tampouco dbceis, que lutaram heroicamente para manter suas marcas culturais vivas, nSo me permiti exercer a I pretensa superioridade do colonizador que assujeita o outro surdo ao seu mod0 de se conformar a lingua portuguesa. 0 texto estava pronto, babdlico, disperso, plural! Seu pensamento fundado em belissimas imagens da lingua de sinais, tomou emprestadoros significantes do -3 portugugs para se materializar, fazendo fluir a experigncia da contaminaqho inter- cultural; a lingua em que se sentia estrangeira fora hospedada, acolhida em seus modos de dizer visuais ... De tal mod0 que busquei colaborar da forma que me pareceu mais sensata, diante da tarefa que me foi confiada e dos contundentes efeitos de sentido que seu discurso produziu em mim. Nho pude negar-lhe a possibilidade de ser sujeito em sua propria lingua, dissolvendo sua voz no caldo da lingua majoritaria oficial. Premida entre o desejo que sua escritura se apresentasse legivel e a necessidade A cultura surda, ao analisarmos a sua historia, vg-se que ela foi marcada por hist6rica de que as idiossincrasias de sua autoria, fossem preservadas, decidi rom- muitos estereotipos, seja atraves da imposiqho da cultura dominante, ou das repre- per o circulo vicioso das prAticas ouvintistas que, de forma incisiva, Karin buscou sentaqdes sociais que narram o povo surdo como seres deficientes. denunciar. Procurei nho deformar, conformar suas ideias a minha experigncia da Tem muitos autores que escrevem bonitos livros sobre os surdos, mas eles real- lingua, nho apagar as marcas de sua autoria, usurpando mais um dos artefatos do mente conhecem-nos? Sabem sobre a cultura surda? Eles sentiram na propria pele povo surdo que deve ser considerado: seus modos de dizer o portugues. como e ser surdo? De tal mod0 como lamentou o ex-presidente da World Federation Agrade~o-lhea oportunidade do exercicio de buscar inverter a logica normali- of the Deaf - WFD, o surdo sociologo Dr. Yerker Andersson: "[. ..I o conhecimento zadora que marcou sua historia, deixando falar seu portugues surdo que se reveste limitado sobre os surdos que os autores ouuintespossuem quando escrevem acerca de palavras-imagens em uma sintaxe propria, regrada, repleto de verdades sobre da questio da surdez [. .. I7' (LANE, 1992, p. 13). os modos de produzir sentidos em uma lingua estrangeira. Essa agressho contra a cultura surda pode levar a conflitos das identidades Se a lingua e muito mais que um conjunto de regras organizadas segundo uma surdas e desvalorizaqbo de suas diferenqas. Entretanto, neste livro, ha narrativas das logica formal, se ela delimita um territbrio ideologic0 de enunciaqbo, saturado de experigncias vivenciadas dos sujeitos surdos, as suas resistgncias contra essa opressbo valores e posicionamentos; se ela se situa na arena de guerras discursivas que cons- cultural, similar de um autgntico povo que luta pels sua cultura, pois 6 atraves dela titui os sujeitos, sua subjetividade, seu lugar no mundo, nbo poderia faze-la calar que os sujeitos asseguram a sua sobrevivgncia e afirmam as suas identidades. em minha norma hospedeira que Karin, tho bravamente, se ocupou em denunciar Para a comunidade ouvinte que esta mais proxima de povo surdo - os parentes, no mosaic0 lingiiistico e cultural que compde o seu texto. amigos, interpretes, professores de surdos - para os mesmos, reconhecer a existencia Sueli Fernandes da cultura surda nho 6 facil, porque nos seu pensamento habitual acolhem o con- Doutora Linguista UFPR ceito unitario da cultura e, ao aceitarem a cultura surda, eles tern de mudar as suas visdes usuais para reconhecerem a existgncia de varias culturas, de compreenderem os diferentes espaqos culturais obtidos pelos povos diferentes. Mas nbo se trata somente de reconhecerem a diferenqa cultural do povo surdo, e sim, alem disso, de perceberem a cultura surda atraves do reconhecimento de suas diferentes identidades, suas historias, suas subjetividades, suas linguas, valorizaqbo de suas formas de viver e de se relacionar. ?I Observamos que, atualmente na sociedade brasileira, esti crescendo o ndmero dos sujeitos ouvintes interessados em aprender a lingua de sinais e alme- , jamos que a leitura deste livro ilumine e ajude-os na compreensso e na aceitasdo da cultura surda. 0 livro As imagens do outro sobre a cultura surda de Karin Lilian Strobe1 k uma publica@o muito importante nos Estudos Surdos. E um livro que traz as imagens do outro sobre a cultura surda a partir do olhar do pr6prio surdo. Vou apresenta-la como o povo surdo, normalmente, faz. Karin Strobe1 6 sur- da. Seu sinal k a configurasdo de mdo K realiiada no espaso neutro h direita com movimento para cima para baixo acornpanhado de uma leve rotasso do pulso. K-A-R-I-N (soletrado usando o alfabeto manual) 15 o seu nome. Ela tem uma longa hist6ria nos movimentos surdos brasileiros. Na luta pel0 reconhecimento da lingua de sinais, participou de varias mobilkas6es, de eventos de sensibilkasdo e de cargos estratkgicos para mudar o olhar do outro. No estado do Parana, foi professora em varios niveis educacionais. Atuou na forma@o de alunos surdos e na forma60 de profissionais da Area dos Estudos Surdos e ocupou posisks politicas. Em Santa Catarina, Karin Strobe1 iniciou sua carreira academics com pesquisas relacionadas com a hist6ria da educa60 de surdos. Professores, instrutores, intkrpretes de lingua de sinais e colegas passaram pela Karin Strobe1 para aprender sobre a cultura surda e sua lingua. Nestes anos todos de atuasso, Karin percebeu o quanto k importante ver o outro e perceber como o outro a percebe, enquanto surda. Assim, este livro se constitui ... A autora percebe que o ser surdo k algo estranho ao outro e por isso traz neste livro os artefatos que constituem este ser estranho ao ndo surdo. "Cultura surda", "identidade surda", "povo surdo", "comunidade surda", "lingua de sinais" sdo aspedos abordados a partir do olhar de uma surda que transita entre os mundos surdos e n5o-surdos. 0 livro se organiza para desconstruir o estranhamento do outro e construir outros olhares sobre o ser surdo. Neste sentido, convida o leito~aen trar na jornada dos surdos. Com propriedade Karin Strobel pega o leitor pela m5o e faz perseguir as trilhas dos surdos de um jeito surdo. As imagens do outro sobre a cultura surda s5o descontruidas e a partir dos es- combros se traduz outras possibilidades de se ver o mundo dos surdos, ou melhor, o povo surdo. Toda o texto 6 situado historicamente, pois as imagens refletem os movimentos histbricos que envolveram os surdos. No capitulo 1, a autora discute teoricamente o conceito de cultura que 6 fun- 1 damental para construir um outro oIhar sobre os surdos. A seguir, no capitulo 2, Qual o conceito que trazemos sobre a cultura? adentra a cultura surda propriamente dita. Inicia com uma provocagbo: os surdos t6m cultura? A seguir, no capitulo 3, Karin Strobel, traz outra questgo: povo surdo ou [...I se a compreensdo da cultura exige que se pense comunidade surda? A autora traz esta discuss50 que situa os surdos neste momento nos diuersos pouos, nagdes, sociedades e grupos humanos, histbrico que vivemos neste mil6ni0, os surdos constituem um povo. No capitulo 6 porque eles est6o em intera~do. seguinte, a autora descreve os artefatos culturais deste povo. Parte das experi6ncias I I (Jos4 Luiz dos Santos) visuais, conversa sobre a lingua de sinais, uma lingua que tamb6m 6 uma experiencia Podemos iniciar a discuss50 deste livro a partir de alguns questionamentos. visual, as familias, a literatura, o lazer, as artes, a politica e os materiais. Todos estes Qual o conceito que trazemos sobre a cultura? Ha, de fato, cultura surda? 0 povo artefatos concebidos a partir do VER. surdo, de fato, produz uma cultura? 0 que os outros falam sobre a cultura surda? No capitulo 5, Karin Strobe1 adentra o imaginario dos n8o surdos que flutua na Porque muitos sujeitos dizem que n5o existe cultura surda? Para obtermos respostas sociedade brasileira, principalmente por parte dos ouvintes (n5o surdos).A seguir, i dessas reflex6es, analisamos a base tebrica que sustenta o conceito de cultura. no capitulo 6, a histbria cultural 4 trazida com o olhar na histbria dos surdos que Nos estudos e pesquisas sobre a cultura percebem-se variag6es, desde concep- chega neste momento em que temos a surdez inventada noutra perspectiva, a dos g6es tradicionais at6 as mais recentes. As vikias suposi~delsi mitadas em compreender prbprios surdos. 0 imaginario toma outros entornos e ha rupturas com o imaginario a cultura resultam de um conjunto corriqueiro para referir unicamente as manifes- social representando os surdos a partir da faIta. 0ss urdos s5o reinventados a partir tag6es artisticas. Ou 6 identificada como os meios de comunicag50 de massa ou, dos prbprios surdos construindo outra histbria a partir da cultura. No capitulo 7, ! ent50, cultura di respeito as festas e cerim6nias tradicionais, as lendas e crengas a autora, ent50, traz a discuss50 da inclus50, algo que permeia as representagees de um povo, seu mod0 de se vestir, sua comida e a sua lingua. imaginarias do ser surdo. Enfim, no Gltimo capitulo, Karin apresenta caminhos para adentrar e compreender a cultura surda. A compreensbo parte do reconhecimento Estes focos sobre a cultura resultam pol6micas entre varias opini6es dos pesqui- da diferenga. sadores e dos leigos. Por que ha tantas variag6es de teorias a respeito da cultura? 0 doutor Lynn comenta que "apesar de uma longa histbria de descri~dese defini~des Nesta jornada trazida por Karin Strobel, os leitores chegam ao fim para construir de cultura em v6ria.s tradi~deso, conceito continua a oferecer mais indaga~6esd o um outro olhar sobre os surdos. 0s surdos, portanto, fazem parte de um aconteci- que respostas" (SOUZA, 2006, p. 1). mento que 6 compartilhado pela autora por meio destas trilhas. Desta forqa, se torna imprescindivel que analisemos o process0 histbrico so- Ronice Muller de Quadros bre o conceito de cultura. Para esclarecer as variagdes das teqrias sobre a cultura, As imagens do outro sobre a cultura surda Qual o conceit0 que trazemos sobre a cultura? tra~areia lgumas seqiiencias hist6ricas mostrando as transforma~6esn as rela~6es j6 ilustrado anteriormente, moldando os sujeitos "diferentes" para serem iguais a da sociedade com a natureza e, principalmente nas rela~6esd e seus membros eles. entre si. Deste modo, alude doutor Lynn "[. ..I que partia da noc6o da superioridade Cada teoria sobre a cultura d o resultado de urna hist6ria particular que inclui do discurso filosofico que permitia acesso a raz60, a uma referencialidade pura os escritos de v6rios pesquisadores que tinham suas pr6prias iddias em rela~desa s e portando a uma precis60 e consist2ncia no pensamento [...Iv( SOUZA, 2006, culturas diferenciadas. p. 2), para esta sociedade a identidade e cultura sbo vistas como essencialista, substancialista, pronta e pura para este grupo hegem6nico. Desde o final do sdculo passado, os pesquisadores vem elaborando indmeros conceitos sobre cultura e, apesar de a cifra ter ultrapassado mais de 200 defini- Na teoria p6s-moderna, Herder propde pluralizar a termina~bo" cultura", falan- sees, ainda nbo chegaram a um acordo sobre o significado exato da terminologia. do das culturas de diferentes nagties e periodos, bem como de diferentes culturas 0 conceito de cultura d transmitido e interiorizado em diferentes aspectos, assim sociais e econ6micas dentro da propria na~bo(a pud EAGLETON, 2005). como Moles afirma: "cultura, termo t6o carregado de valores diversos que o seu 0s autores pos-modernos enfatiiam as mdltiplas culturas e se dedicam a in- papel uaria notavelmente de um autor para outro e do qua1 se enumeraram mais teragir de forma profunda no interior delas. Neste pensamento p6s-moderno, a I de 250 definicbes" (apud RICOU; NUNES, 2005). pluralidade encontra-se cruzada com a auto-identidade,e m vez de se dissolver em H6 quem considere a cultura de forma unitaria, ou admita a existencia n60 identidades distintas. de urna cultura, no singular, mas de culturas no plural. A iddia unit6ria de cultura A humanidade, ao longo do tempo, adquire conhecimento atravds da lingua, est6 relacionada na sociedade com as ideologias hegembnicas, de padroniza~bo, crenGas, habitos, costumes, normas de comportamento dentre outras manifesta~6es. de normaliza~bo,o nde todos devem se identificar com esta cultura linica em um Partindo do suposto que cultura d a heran~aq ue o grupo social transmite a seus determinado espaGo. membros atravds de aprendizagem e de convivencia, percebe-se que cada gera~bo Conforme assinala Schiller, a cultura d a estrutura daquilo que d chamado de e sujeito tambdm contribuem para amplia-la e modifica-la. "hegem~nia"q,~ue molda os sujeitos humanos As necessidades de um tip0 de so- Considerar a questbo cultural no plural admite a multiplicidade de manifesta- ciedade politicamente organizada, remodelando-os com base nos atuantes dbceis, g6es e grupos culturais das mais diversas naturezas tornando o conceito da cultura moderados, de elevados principios, pacificos, conciliadores (apud EAGLETON, mais amplo. 2005). Isso evidencia que esta sociedade gerou o desejo da necessidade de sermos Conforme afirma Hall (1997),n as teorias do campo dos Estudos Culturai~,~ perfeitos para pertencermos a ela, senbo estariamos excluidos. a cultura que temos determina urna forma de ver, de interpelar, de ser, de explicar Na teoria moderna, a cultura se torna sabedoria grandiosa ou arma ideolbgica, e.de compreender o mundo. urna forma isolada de critica social. Esta teoria possui a iddia de urna cultura unica 0s Estudos Culturais sbo originados da Inglaterra, depois se expandiram para e perfeita, a alteridade e a diferen~as bo vistas como mancha para a sociedade, os Estados Unidos e outros paises da Europa e da Amdrica Latina. 0s Estudos fazendo com que tenham a necessidade de transformaqbo do "outro", isto 4, como Culturais formam um campo de pesquisa interdisciplinar para estudos na area da - 0 termo "hegemonia" deriva do grego "hegemon",q ue significa lider, guia ou quem dita as regras. No uso geral, "0 termo 'estudos culturais' pode ao mesmo tempo ser amplamente usado para se referir a todos os aspedos do refere-se ao domfnio e influencia de um pais sobre os oukos e a um principio segundo o qua1 urn grupo de elementos estudo da cultura, e como tal ser tomado para incluir as diversas formas em que a cultura 6 compreendida e analisada 6 organizado (EDGAR, A.; SEDGWICK, F? 2003, p. 151). I [...]" (EDGAR, Andrew; SEDGWICK, Peter, 2003). I' As imagens do outro sobre a cultura surda Qual o conceito que trazemos sobre a cultura? cultura. Na sua agenda tematica est5o g2nero e sexualidade, identidades nacionais, a cultura torna possivel a transformas50 da natureza" (CUCHE, 2002, p. 10). 1 pos-colonialismo, etnia, politicas de identidade, discurso e textualidade, pbs-mo- a Da mesma forma, um ser humano, em contato com o seu espaso cultural, re- dernidade, entre outros. age, cresce e desenvolve sua identidade, isto significa que os cultivos que fazemos De acordo com Culler, "[. ..I o projeto dos Estudos Culturais 6 compreender o I1 s5o coletivos e n50 isolados. A cultura n5o vem pronta, dai porque ela sempre funcionamento da cultura, particularmente no mundo modemo: como asprodu~6es se modifica e se atualiza, expressando claramente que 1150 surge com o homem culturais operam e como as identidades culturais sdo construidas e organizadas, sozinho e sim das produ~desc oletivas que decorrem do desenvolvimento cultural para indiuiduos e grupos, num mundo de comunidades diuersas e misturadas [...I" experimentado por suas gerasdes passadas. (1999, p. 49). Ent50, nesse campo de Estudos Culturais, a cultura 4 urna ferramenta de trans- formasho, de percepgo a forma de ver diferente, n5o mais de homogeneidade, mas de vida social constitutiva de jeitos de ser, de fazer, de compreender e de explicar. Essa nova marca cultural transporta para urna sensa~5oa cultura grupal, ou seja, como ela diferencia os grupos, no que faz emergir a "diferensa". Ap6s urna rapida aprecias50 das varias contribui~deste oricas trazidas para os conceitos da cultura, retomemos agora o process0 historic0 sobre o significado da palavra "cultura" . 0 vocabulo "cultura" vindo do latim significa o cuidado dispensado a terra cultivada; segundo Eagleton (2005) o conceito da cultura, etimologicamente ra- ciocinando, 4 proveniente do de natureza, sendo que um dos significados originais e "lavoura" ou "cultivo agricola". Isto mostra que o cultivo da linguagem e da identidade 60, ent50, os elementos fundamentais de urna cultura. Dessa maneira, os elementos mais importantes da cultura podem ser destacados como as habilidades dos sujeitos para construir sua identidade em usar a linguagem. Ilustrando mais claramente, na "cultura", a palavra natureza significa tanto o que esta a nossa volta como o que esta dentro de nos. Poderiamos usar a metafora de urna semente que 4 plantada em solo e cresce urna bela planta; mas isto n5o ocorre sem a ajuda da natureza, ou seja, do sol, da chuva, do vento, do fertilizan- te do solo, que faz a semente reagir e desenvolver. A semente que esta sozinha sem ademso da natureza, n5o cresceria urna vez que estaria abandonada e apo- drecendo. "A cultura permite ao homem n5o somente adaptar-se a seu meio, mas tamb4m adaptar este meio ao proprio homem, a suas necessidades e seus projetos. Em suma, Capitulo 2 0 s s urdos t6m cultura? '3eito surdo de ser, de perceber, de sentir, de vivenciar, de comunicar, de transformar o mundo de mod0 a torn6-lo habitduel. " I (Gladis Perlin) I 56 discorremos sobre os variados conceitos te6ricos culturais, vamos refletir a seguir sobre o que vem ser a cultura surda. As pessoas se espantam e questionam com perguntas corno: os surdos tem cultura? Como pode haver uma cultura surda? Sera que nas festas dos surdos ha musicas? Em rela~iioa essas dlividas, Magnani (2007) argumenta: "[. ..I experiencia com os surdos era como a da maioria das pessoas, a de alguma vez ter uisto duas pessoas conversando por meio de sinais, sem prestar maior atengdo - o olhar ndo treinado ndo vai al6m do que o senso comum regi~tra".~ Estes questionamentos ocorrem porque as pessoas niio conhecem e niio sabem como 6 o mundo dos surdos e fazem suposi~bese rrbneas acerca de povo surdo. Quando a palavra "surdo" 6 mencionada, que imagens v8m a mente das pessoas? Lane (1992,p . 26) explica que 6 comum as pessoas deduzirem que os surdos vivem isolados e que para se integrar 6 preciso adquirir a cultura ouvinte isto e, para viver "normal", segundo a sociedade 6 preciso ouvir e falar: Ao imaginar como 6 a surdez, eu imagino o meu mundo sem som - um pensamento aterrorizador e que se ajusta razoavelmente ao estere6tipo que Fonte: http://www. n-a-u.o rg/AntropologiaUrbanadesafiosmetropoleh.i m1 I' p