Entre as formigas, as poneromorfas certamente possuem as espécies que mais chamam a atenção dos pesquisadores, em razão da sua diversidade em ambientes nativos das regiões tropicais, mas também, principalmente, em razão das características morfológicas e comportamentais menos derivadas (“mais primitivas”) que elas possuem em comum, fazendo com que esses animais estejam entre os organismos sociais mais estimulantes intelectualmente a estudar. UESC Universidade Estadual de Santa Cruz PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__ccaappaa..iinndddd 11 0066//0044//1166 1155::4422 Organizadores Jacques H. C. Delabie, Rodrigo M. Feitosa, José Eduardo Serrão, Cléa S. F. Mariano, Jonathan D. Majer As formigas Poneromorfas do Brasil UESC Universidade Estadual de Santa Cruz Ilhéus-Bahia 2015 PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 11 1188//0022//1166 1155::4477 Copyright © 2015 by JACQUES H. C. DELABIE, RODRIGO M. FEITOSA, JOSÉ EDUARDO SERRÃO, CLÉA S. F. MARIANO, JONATHAN D. MAJER Universidade Estadual de Santa Cruz Direitos desta edição reservados à GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA EDITUS - EDITORA DA UESC RUI COSTA - GOVERNADOR A reprodução não autorizada desta publicação, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO por qualquer meio, seja total ou parcial, OSVALDO BARRETO FILHO - SECRETÁRIO constitui violação da Lei nº 9.610/98. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Depósito legal na Biblioteca Nacional, ADÉLIA MARIA CARVALHO DE MELO PINHEIRO - REITORA conforme Lei nº 10.994, de 14 de EVANDRO SENA FREIRE - VICE-REITOR dezembro de 2004. DIRETORA DA EDITUS RITA VIRGINIA ALVES SANTOS ARGOLLO PROJETO GRÁFCO, DIAGRAMAÇÃO E CAPA Alencar Júnior Conselho Editorial: Rita Virginia Alves Santos Argollo – Presidente IMAGEM DA CAPA Andréa de Azevedo Morégula Wesley Duarte DaRocha André Luiz Rosa Ribeiro Adriana dos Santos Reis Lemos FOTOS Dorival de Freitas Retirados do site AntWeb.org Evandro Sena Freire Francisco Mendes Costa REVISÃO José Montival Alencar Júnior Roberto Santos de Carvalho Lurdes Bertol Rocha Jacques H. C. Delabie, Maria Laura de Oliveira Gomes Rodrigo M. Feitosa, Marileide dos Santos de Oliveira José Eduardo Serrão, Raimunda Alves Moreira de Assis Cléa S. F. Mariano, Roseanne Montargil Rocha Jonathan D. Majer Sílvia Maria Santos Carvalho Tércio S. Melo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F725 As formigas poneromorfas do Brasil / Jacques H. C. Delabie...[et. al.]. – Ilhéus, BA: Editus, 2015. 477 p. : il Inclui referências. ISBN: 978-85-7455-398-6 1. Formiga. 2. Formiga – Classifi cação. 3. Formiga – Compor- tamento. 4. Formiga – Ecologia. 5. Formiga – Morfologia. I. Delabie Jacques H. C. CDD 595.796 EDITUS - EDITORA DA UESC Universidade Estadual de Santa Cruz Rodovia Jorge Amado, km 16 - 45662-900 - Ilhéus, Bahia, Brasil Tel.: (73) 3680-5028 www.uesc.br/editora [email protected] EDITORA FILIADA À PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 22 1188//0022//1166 1155::4477 Prefácio Karl von Frisch, ganhador do prê- ecossistemas, e usá-las para redesenhar a mio Nobel, biólogo comportamental e evolução precoce da eusocialidade. Em descobridor da comunicação pela dança particular, espécies sem nenhuma diferen- em abelhas, observou que a vida desses ça morfológica entre reprodutores e não insetos é como um poço mágico; quan- reprodutores, tais como as Dinoponera to mais você tirar dele, mais ele se enche ou diversas Platythyrea, tornaram-se mo- de água. Mas o que ele teria dito sobre o delos estimulantes para pesquisar como mundo das formigas, ou mesmo sobre o indivíduos morfologicamente uniformes mundo das poneromorfas? Um único gê- puderam alcançar uma divisão de traba- nero de abelhas com apenas nove espécies lho reprodutivo estável e como confl itos é tão excitante e há tantas coisas para des- familiares entre indivíduos totipotentes cobrir que dá para preencher a vida cien- são resolvidos. Outros táxons foram utili- tífi ca de centenas de geneticistas, etólogos zados para elucidar a ação de poderosos e, e ecologistas, para não mencionar os mi- às vezes alergênicos, venenos, a fl exibilida- lhares de apicultores e funcionários dos de dos sistemas de comunicação química e centros de pesquisa sobre abelhas. O que, acústica, ou a evolução do cariótipo. então, podemos esperar dos aproxima- A presente compilação cobre grande damente 70 gêneros de Amblyoponinae, parte do que é preciso saber sobre as for- Ectatomminae, Heteroponerinae, Parapo- migas poneromorfas neotropicais. Seus nerinae, Ponerinae e Proceratiinae, repre- 30 capítulos bem escolhidos dão uma vi- sentados por cerca de 1.800 espécies? são geral apropriada sobre a sua história Mesmo uma rápida olhada nas fo- taxonômica, ecologia e comportamento, e tografi as de microscopia eletrônica de serão de grande ajuda para todos que es- varredura do catálogo de Bolton ilus- tudam as formigas nas Américas do Sul trando os gêneros de formigas do mun- e Central. Ela vai certamente interessar do deveria despertar o interesse de qual- entomólogos novatos e amadores interes- quer um que gosta da natureza. O que sados pela Mirmecologia e, desta forma, Th aumatomyrmex está fazendo no mundo garante que, assim como a abelha mágica com os suas forquilhas faciais? Por que de von Frisch o fez perfeitamente, a pes- Discothyrea mantém constantemente seu quisa vai continuar a produzir resultados abdômen enrolado? E como é a sensação excitantes e deslumbrantes sobre o mundo de ser picado pelas tocandeiras gigantes do fascinante das formigas. gênero Paraponera? Além destas refl exões espontâneas de amador, os mirmecólogos do mundo Jürgen Heinze inteiro têm considerado as poneromorfas LS Zoologie / Evolutionsbiologie por muito tempo modelos ideais para es- Universität Regensburg tudar diversos aspectos da vida social das D-93040 Regensburg formigas, para desvendar sua função nos http://www.uni-regensburg.de/evolution PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 33 1188//0022//1166 1155::4477 Preface Karl von Frisch, Nobel-prize winning redraw the early evolution of eusociality. In behavioral biologist and discoverer of particular, species without morphological the dance communication in honeybees, diff erences between reproductives and remarked that the life of bees is like a non-reproductives, such as Dinoponera magic well; the more you draw from it, the or several Platythyrea, have become more it fi lls with water. But what would he attractive systems for investigating how have said about the world of ants, or even morphologically uniform individuals about the world of poneromorph ants? Just achieve a stable division of reproductive one genus of honeybees with some nine labor and how kin confl ict among totipotent species provides so much excitement and individuals is resolved. Other taxa have so many things to discover as to fi ll the served to elucidate the action of potent and scientifi c lives of hundreds of geneticists, sometimes allergenic venoms, the fl exibility ethologists, and ecologists, not to of chemical and acoustic communicatory mention the thousands of beekeepers and systems, or karyotype evolution. employees of bee institutes. What then, Th e present compilation covers much can we expect from the approximately 70 of what there is to know about Neotropical genera of Amblyoponinae, Ectatomminae, poneromorphs. Its 30 well-chosen chapters Heteroponerinae, Paraponerinae, give an overview about their taxonomic Ponerinae and Proceratiinae, representing history, ecology, and behaviour and will be a total of close to 1800 species? an enormous help for everybody studying Even a brief browsing through the ants in Central and South America. It will scanning electron photographs of ants in certainly attract novice entomologists Bolton’s catalogue of the ant genera of the and perhaps also interested amateurs to world would certainly arouse the interest of myrmecology and in this way guarantees everyone fond of nature. What in the world that, like von Frisch’s magic honeybee well, is Th aumatomyrmex doing with its facial research will continue to yield exciting manure forks? Why is Discothyrea steadily and stunning results about the fascinating curling its abdomen? And how might it feel world of ants. to be stung by giant Paraponera bullet ants? Apart from these spontaneous amateur musings, myrmecologists around Jürgen Heinze the world have long regarded poneromorph LS Zoologie / Evolutionsbiologie ants as ideal models to study various aspects Universität Regensburg of the social life of ants, to uncover their D-93040 Regensburg role in ecosystems, and to use them to http://www.uni-regensburg.de/evolution PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 55 1188//0022//1166 1155::4477 Sumário 1 As formigas Poneromorfas do Brasil - Introdução Jacques H. C. Delabie, Rodrigo M. Feitosa, José Eduardo Serrão, Cléa S. F. Mariano, Jonathan D. Majer .....................9 2 A subfamília Amblyoponinae na região Neotropical Flavia Esteves, Brian Fisher ..............................................................................................................................13 3 Estado da arte sobre a taxonomia e fi logenia de Ectatomminae Gabriela P. Camacho, Rodrigo M. Feitosa ..........................................................................................................23 4 Estado da arte sobre a taxonomia e fi logenia de Heteroponerinae Rodrigo M. Feitosa ..........................................................................................................................................33 5 Estado da arte sobre a Filogenia, Taxonomia e Biologia de Paraponerinae Itanna O. Fernandes, Jorge L. P. de Souza, Fabricio B. Baccaro .............................................................................43 6 Estado da arte sobre a taxonomia e fi logenia de Ponerinae do Brasil John E. Lattke .................................................................................................................................................55 7 Estado da arte sobre a taxonomia e fi logenia de Proceratiinae Rodrigo M. Feitosa ..........................................................................................................................................75 8 Filogenia e sistemática das formigas poneromorfas Fernando Fernández, John E. Lattke .................................................................................................................85 9 Lista das Formigas Poneromorfas do Brasil Rodrigo M. Feitosa ..........................................................................................................................................95 10 Citogenética e evolução do cariótipo em formigas poneromorfas Cléa S.F. Mariano, Igor S. Santos, Janisete Gomes da Silva, Marco Antonio Costa, Silvia das G. Pompolo ...............103 11 Diversidade genética e fenotípica no gênero Ectatomma Chantal Poteaux, Fabian C. Prada-Achiardi, Fernando Fernández, Jean-Paul Lachaud ........................................127 12 Dieta das Poneromorfas Neotropicais Carlos Roberto F. Brandão, Lívia P. do Prado, Mônica A. Ulysséa, Rodolfo S. Probst, Victor Alarcon .....................145 13 Grupos trófi cos e guildas em formigas poneromorfas Rogério R. Silva, Rogério Silvestre, Carlos R.F. Brandão, Maria S.C. Morini, Jacques H.C. Delabie .........................163 14 Notas sobre interações competitivas envolvendo formigas poneromorfas Rogerio Silvestre, Paulo Robson de Souza, Gabriel Santos Silva, Bhrenno Maykon Trad, Vinícius M. Lopez .........................................................................................................................................181 15 Comunicação e comportamento de formigas poneromorfas Nicolas Châline, Ronara S. Ferreira, Boris Yagound, Janiele P. Silva, Stéphane Chameron .....................................203 PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 77 1188//0022//1166 1155::4477 16 Poneromorfas sem rainhas – Dinoponera: aspectos ecológico-comportamentais Arrilton Araujo, Jeniff er da C. Medeiros, Dina L. O. de Azevedo, Ingrid A. de Medeiros, Waldemar A. da Silva Neto, Deisylane Garcia ..................................................................................................237 17 Morfologia interna de poneromorfas José Eduardo Serrão, Luiza Carla B. Martins, Pollyanna P. dos Santos, Wagner G. Gonçalves ................................247 18 Complexidade e atividade biológica das peçonhas de formigas, em particular de poneromorfas Renato Fontana, Carlos Primino Pirovani, Helena Costa, Aline Silva, Ludimilla Carvalho e Cerqueira Silva, Wallace F. B. Pessoa, Juliana R. da Silva, Jacques H. C. Delabie ...........................................................................271 19 Biologia da nidifi cação e arquitetura de ninhos de formigas poneromorfas do Brasil William F. Antonialli-Junior, Edilberto Giannotti, Márlon C. Pereira, Adolfo da Silva-Melo .................................285 20 Fatores que determinam a ocorrência de formigas, em particular poneromorfas, no dossel de fl orestas tropicais Wesley D. DaRocha, Jacques H. C. Delabie, Frederico S. Neves, Sérvio P. Ribeiro .................................................295 21 Ecologia de poneromorfas em ambientes urbanos Tercio da S. Melo, Jacques H. C. Delabie ..........................................................................................................313 22 Estudos biogeográfi cos sobre o gênero Th aumatomyrmex Mayr, 1887 (Ponerinae, Ponerini) Benoit Jahyny, Hilda S. Rodrigues Alves, Dominique Fresneau, Jacques H. C. Delabie..........................................327 23 Dispersão de sementes por poneromorfas Alexander V. Christianini ...............................................................................................................................345 24 Interações entre Poneromorfas e fontes de açúcar na vegetação Th amy Evellini Dias Marques, Gabriela Castaño Meneses, Cléa dos Santos Ferreira Mariano, Jacques H. C. Delabie .....................................................................................................................................361 25 Interações formigas/ácaros, com ênfase em ácaros foréticos associados a poneromorfas Juliana M. dos S. Lopes, Anibal R. Oliveira, Jacques H. C. Delabie ......................................................................375 26 Colêmbolos e outros inquilinos de formigueiros de poneromorfas Gabriela Castaño-Meneses, José G. Palacios-Vargas, Ana Flávia R. do Carmo .....................................................389 27 Parasitoides e outros inimigos naturais das formigas Poneromorfas Th alles P. L. Pereira, Juliana M. da Silva-Freitas, Freddy R. Bravo .......................................................................403 28 Poneromorfas como indicadoras de impacto pela mineração e de reabilitação após mineração Ananza M. Rabello, Antônio C. M. de Queiroz, Carla R. Ribas ...........................................................................425 29 Formigas poneromorfas como engenheiras de ecossistemas: impactos sobre a biologia, estrutura e fertilidade dos solos Fábio S. Almeida, Jarbas M. Queiroz ...............................................................................................................437 30 Conservação de Poneromorfas no Brasil Sofi a Campiolo, Natalia A. do Rosário, Gil M. R. Strenzel, Rodrigo Feitosa, Jacques H. C. Delabie .........................447 Autores .....................................................................................................................................................463 Índice Remissivo ....................................................................................................................................469 PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 88 1188//0022//1166 1155::4477 1 As formigas Poneromorfas do Brasil - Introdução Jacques H. C. Delabie, Rodrigo M. Feitosa, José Eduardo Serrão, Cléa S. F. Mariano, Jonathan D. Majer Resumo Com 55 gêneros e 1.611 espécies atualmente muitas vezes chamadas “basais” ou “primitivas”. A descritas, o grupo de formigas “Poneromorfas” presente obra apresenta um conjunto de estudos corresponde globalmente às diferentes subfamílias originais ou revisões bibliográfi cas que focalizam que, juntas, representavam as tribos da subfamília diversas áreas do conhecimento versado às Ponerinae antes da classifi cação supra-genérica dos ciências biológicas, tais como taxonomia, genética, Formicidae por Bolton, publicada em 2003. Esse citogenética, morfologia, farmacologia, ciências do agrupamento artifi cial agrega o grande conjunto de comportamento, agronomia, ecologia, biogeografi a táxons formado pelas subfamílias Amblyoponinae, e biomonitoramento. Esses estudos foram realizados Ectatomminae, Heteroponerinae, Paraponerinae, no decorrer do projeto “Rede Multidisciplinar de Ponerinae (no seu sentido atual) e Proceratiinae. Estudos sobre Formigas Poneromorfas do Brasil”, Essas formigas possuem em comum uma grande que recebeu apoio das agências de fi nanciamento diversidade em ambientes nativos, além de à pesquisa Fundação de Amparo à Pesquisa do possuírem numerosas características morfológicas Estado da Bahia (FAPESB) e Conselho Nacional de e comportamentais que fazem com que elas sejam Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq). DELABIE, Jacques H. C.; FEITOSA, Rodrigo; SERRÃO, José Eduardo; MARIANO, Cléa; MAJER, Jonathan. As formigas Poneromorfas do Brasil - Introdução. In: DELABIE, Jacques H. C. et al. As formigas poneromorfas do Brasil. Ilhéus: Editus, 2015. p. 9-12. AAss ffoorrmmiiggaass PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill -- IInnttrroodduuççããoo || 99 PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 99 1188//0022//1166 1155::4477 Abstract Th e poneromorph ants of Brazil: and behavioural characteristics that lead to them being Introduction - With 55 genera and 1,611 species considered “basal” or “primitive”. Th is book presents a currently described, the ants collectively referred to set of original studies and literature reviews that focus as “Poneromorphs” globally correspond to those on diff erent areas of knowledge, such as taxonomy, subfamilies that formerly represented tribes of the genetics, cytogenetics, morphology, pharmacology, subfamily Ponerinae, prior to the supra-generic behavioural sciences, agronomy, ecology, biogeography classifi cation of Formicidae by Bolton, published in and biomonitoring. Th ese studies were carried out as 2003. Th is artifi cial grouping aggregates a large set of part of the project entitled “Multidisciplinary Study taxa that are now contained within the subfamilies Network on Poneromorph Ants of Brazil”, which Amblyoponinae, Ectatomminae, Heteroponerinae, received support from the research funding agencies Paraponerinae, Ponerinae (in its modern sense) and Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia Proceratiinae. Th ese ants share a great diversity in (FAPESB) and Conselho Nacional de Desenvolvimento native environments and possess many morphological Científi co e Tecnológico (CNPq). Durante os quarenta últimos anos, inúme- (BOLTON, 2014), o grupo “poneromorfo” corres- ras pesquisas sobre a biologia das formigas (Hy- ponde globalmente às diferentes tribos que, juntas, menoptera: Formicidae) permitiram enormes estabeleciam a subfamília Ponerinae na sua antiga progressos na compreensão do extraordinário su- defi nição [sensu lato, Bolton (1990a,c)]. Morfolo- cesso ecológico e evolutivo desses insetos sociais gicamente, todas as suas espécies se caracterizam (WARD, 2014). Uma das consequências lógicas foi principalmente pela fusão tergo-esternal do quar- uma verdadeira revolução na taxonomia e fi loge- to segmento abdominal (BOLTON, 1990a, 2003; nia desta família. Graças à contribuição crescente WARD, 1994). Estas formigas se distribuem em to- de novas tecnologias para aquisição de fontes ori- das as regiões zoogeográfi cas do mundo e ocupam ginais de dados biológicos (p.e. citogenética, bio- uma grande diversidade de nichos ecológicos, sendo logia molecular e microscopia eletrônica), assim tanto pequenas e crípticas como grandes e notáveis como através do uso generalizado do método cla- (OUELETTE et al., 2006). Evolutivamente, apesar dístico nos estudos de sistemática, quase todas as das subfamílias poneromorfas formarem um agru- subfamílias de formigas sofreram revisões recen- pamento muito heterogêneo de táxons, tanto mor- tes e, por consequência, novas classifi cações foram fologicamente como do ponto de vista comporta- propostas. Nesse contexto, Bolton (2003) publicou mental e social (WHEELER, 1910; HÖLLDOBLER; uma nova classifi cação supra-genérica dos Formi- WILSON, 1990; WILSON; HÖLLDOBLER, 2005; cidae. As subfamílias de formigas foram agrupadas OUELETTE et al., 2006), estas são, sobretudo, con- em grupos sistemáticos informais, cujo prefi xo é sideradas como globalmente “primitivas” dentro o da mais antiga subfamília descrita em cada gru- das formigas. Por isso, vários estudos fi logenéticos po (p. e., formicomorfos, myrmicomorfos, pone- utilizando dados morfológicos (GRIMALDI et al., romorfos, entre outros.). O que designamos “po- 1997; HASHIMOTO, 1996a, 1996b; KELLER, 2000, neromorfas” a seguir constitui um desses grupos, 2011; WARD, 1994) e/ou moleculares (SAUX et al., objeto focal da obra aqui apresentada. 2004; SULLENDER; JOHNSON, 1998; WARD; O grupo “poneromorfo” foi criado a fi m de BRADY, 2003; WARD; DOWNIE, 2005; BRADY designar o grande conjunto de táxons formado pe- et al., 2006; OUELETTE et al., 2006; SCHMIDT; las subfamílias Amblyoponinae, Ectatomminae, SHATTUCK, 2014) apontam que as poneromorfas Heteroponerinae, Paraponerinae, Ponerinae [sensu são de fato um agrupamento artifi cial. stricto, Bolton (2003)], e Proceratiinae. Taxonomi- Apesar da parafi lia, as poneromorfas com- camente, com 55 gêneros e 1.611 espécies descritas partilham os seguintes caracteres morfológicos 10 | Jacques H. C. Delabie, Rodrigo M. Feitosa, José Eduardo Serrão, Cléa S. F. Mariano, Jonathan D. Majer PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 1100 1188//0022//1166 1155::4477 por convergência: (1) orifício da glândula meta- As formigas “poneromorfas” geralmente vi- pleural nunca coberto por uma franja dorsal da vem em pequenas populações, com pouca variação cutícula; (2) lobos propodeais presentes; (3) cintu- morfológica entre operárias, praticamente com au- ra formada por um segmento (pecíolo), separado sência de polimorfi smo, castas de fêmeas (=rainha posteriormente do segmento abdominal III por e operária) pouco diferenciadas e capacidade de uma constrição; (4) esternito do hélcio retraído recrutamento limitada, características consideradas e coberto pelo tergito; (5) segmento abdominal basais na história evolutiva do grupo. Outro ponto IV com pré-escleritos e usualmente uma cons- de interesse é que as espécies pertencentes ao grupo trição em forma de anel presente; (6) espiráculos são formigas consideradas predadoras por excelên- nos segmentos abdominais V a VII cobertos pe- cia (JIMÉNEZ et al., 2008), fato que tem numerosas las margens posteriores dos tergitos anteriores; implicações práticas; por exemplo, o conhecimento (7) aparelho de ferrão presente e frequentemente sobre o seu potencial como predadoras de insetos e bem desenvolvido. Além desses caracteres morfo- outros organismos nocivos às lavouras, pode levar lógicos, há outros de natureza comportamental ou a importantes avanços em estudos sobre a redução ecológica que, também por convergência, sugerem de prejuízos agrícolas provocados por pragas em di- certa unidade funcional entre estas formigas, justi- versos cultivos. Além disso, as formigas pertencen- fi cando o esforço particular em estudá-las. tes a esse grupo, em geral, são bem mais frequentes Atualmente, Formicidae é composta por 16 em áreas conservadas do que em áreas antropiza- subfamílias, englobando cerca de 13.000 espécies das. Desse modo, estudos relacionados a esse grupo descritas, distribuídas em aproximadamente 330 gê- podem ajudar no monitoramento da qualidade am- neros (BOLTON, 2014). Entre os invertebrados, as biental em áreas avaliadas e fornecer argumentos formigas formam, em geral, um dos grupos melhor para embasar medidas legais visando à implantação estudados pelos entomologistas. Entre as formigas, de unidades de conservação, por exemplo. as poneromorfas certamente possuem as espécies que mais chamam a atenção dos pesquisadores, em Referências razão da sua diversidade em ambientes nativos das regiões tropicais, mas também, principalmente, em BOLTON, B. Abdominal characters and status of razão das características morfológicas e comporta- the Cerapachyinae ants (Hymenoptera, Formicidae). mentais menos derivadas (“mais primitivas”) que Journal of Natural History, v. 24, 53–68, 1990a. elas possuem em comum, fazendo com que esses animais estejam entre os organismos sociais mais BOLTON, B. Army ants reassessed: the phylogeny and estimulantes intelectualmente a estudar. Foi obser- classifi cation of the doryline section (Hymenoptera, vado que, no Brasil, há uma abundante literatura Formicidae). Journal of Natural History, v. 24, 1339– científi ca regularmente produzida sobre essas for- 1364, 1990b. migas, fruto das numerosas pesquisas realizadas. No entanto, a maioria dessas é feita individualmen- BOLTON, B. Synopsis and classifi cation of Formicidae. Florida. Memoirs of the American Entomological te ou independentemente por pesquisadores ou Institute, Gainesville. 2003. 370 p. grupos isolados cientifi camente ou mesmo geogra- fi camente. Nossa intenção foi organizar os esforços BOLTON, B. An online catalog of the ants of the desses grupos com interesses convergentes numa world. Available from <http://antcat.org>. (accessed rede onde foram compartilhados o conhecimento e [17.x1.2014]). a experiência dos colaboradores, agregando interes- ses de entomólogos, agrônomos, etólogos, ecólogos, BRADY, S. G.; SCHULTZ, T. R.; FISHER, B. L.; Ward, microbiologistas, biólogos forenses, geneticistas, P. S. Evaluating alternative hypotheses for the early biólogos moleculares, citogeneticistas entre outros; evolution and diversifi cation of ants. Proceedings a maioria com experiência já comprovada sobre as- of the National Academy of Sciences of the United States of America, 13(48): 18172-18177, 2006. pectos da biologia das formigas poneromorfas. Em consequência, as pesquisas desenvolvidas interes- GRIMALDI, D.; AGOSTI, D.; CARPENTER, J. M. sam as mais diversas áreas das ciências biológicas, New and rediscovered primitive ants (Hymenoptera: tais como genética, microbiologia, medicina, agro- Formicidae) in Cretaceous amber from New Jersey, and nomia, ecologia, biogeografi a, ciências do compor- their phylogenetic relationships. American Museum tamento e farmacologia. Novitates, 3208: 1-43, 1997. As formigas Poneromorfas do Brasil - Introdução | 11 PPoonneerroommoorrffaass ddoo BBrraassiill__mmiioolloo..iinndddd 1111 1188//0022//1166 1155::4477