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As Formas Elementares da Vida Religiosa: O Sistema Totêmico na Austrália PDF

342 Pages·1989·85.981 MB·Portuguese
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Durkheím As Formas Elementares da Vida Religiosa, publicada em 1912, pertence ao conjunto dos gran- orm.as Elementarê des textos fundadores da antro- pologia religiosa. Nessa obra , " o;l- da Vida Religiosa Durkheim se revela um analista rigoroso das formas de religiosi- dade que se manifestam através dos rituais e sistemas de crenças arcarcas, mas sobretudo um filó- sofo inspirado cujas afirmações demonstram uma grande acui- dade intelectual e mantêm uma impressionante atualidade. Rompendo com a tradição da época que considerava os fenô- menOSI' ' ...a.osos como um teci- do de tições, das quais os homei ibertavam desenvol- vend~ •..éus conhecimentos, Durkheim mostra que ofato reli- gioso, ao contrário, é uma das bases essenciais da socialidade. Michel Maffesoli 91D863f.Pn Autor: DUl'kholm, 8mll..., - Titulo: As formos elementeres da"vidàre 111111111111 "1111111111111111111111111II111111~11l11I1111I1 192782S Ac.1642$3 ntes rocMlnns 1)11 N° Pat.:2003 IBIBLIOTECAS DA PUCMINAS BELO HORIZONTE INTRODUÇÃO '/'I/II/ti til'//iIIlCl/: WSFORMES ÉLÉMENTAIRES DELA V/ERELIG/EUSE OBJETO Dif\PESQOIS~(' "':02 I 'opyrlghl ~ Livraria Martins FontesEditora Ltda., SOaPaulo, 1996,para apresente edição Sociologia religiosae teoria do conhecimento l' edição julho de/996 Tradução PauloNeves Revisão da tradução Eduardo Brandão Revisão gráfica Sandra Rodrigues Garcia Elvira daRocha Kurata Produção gráfica GeraldoAlves Paginação Studio 3Desenvolvimento Editorial Propomo-nos estudar neste livro a religião mais pri- Dados Internacionais deCatalogação na Publicação (CIP) mitiva e mais simples atualmente conhecida, fazer sua (Câmara Brasileira do Livro, SP,Brasil) análise e tentar sua explicação. Dizemos de tlm sistema Durkheim, Émile, 1858-1917. religioso que ele é o mais primitivo que nos~a..9-o.2P- Asformas elementares davidareligiosa: osistema totêmico rvar, quando preenche as duas condições seguintes: em naAustrália /Émile Durkheim ;tradução Paulo Neves. - São primeiro lugar, que se encontre em.socíedades cuj.íLorga- Paulo: Martins Fontes, 1996.- (Coleção Tópicos). nízação não éultrapassada por nenhuma....QJJ.tr.a.-em-.s.i.mpli- Título original: Lesformes élémentaires deIaviereligieuse. Idade'; (;preciso, além disso, CUJeseja possível explicá-Ia ISBN 85-336-0515-3 m fazer intervir nenhum elemento tomado de uma reli- I.Religião esociologia 2.Religião primitiva 3.Totemismo gião anterior. - Austrália I.Título. n.Série. Faremos o esforço de descrever a economia desse sistema com a exatidão' e a fidelidade de um etnógrafo 96-2404 CDD-306.6 ou de um historiador. Mas nossa tarefa não se limitará a Índices para catálogo sistemático: isso. A sociologia coloca-se problemas diferentes daque- I.Totemismo :Religião: Sociologia 306.6 les da história ou da etnografia. Ela não busca conhecer as formas extintas da civilização com o único objetivo de Todososdireitospara alínguaportuguesa conhecê-Ias e reconstitui-las, Como toda ciência positiva,- reservados àLivraria Martins Fontes Editora Ltda. tem por objeto, acima de tudo,. explicar l!!!lli-galidªde~ .Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 01325-000 atual, próxima de- nós, capaz -portãiíiü de afetar nossas SãoPaulo SP Brasil Telefone 239-3677 t VI AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA VII idéias e nossos atos: essa realidade é o homem e, mais de durar. Senão estivesse fundada na natureza das coisas, especialmente, o homem de hoje, pois não há outro que ela teria encontrado nas coisas resistência';' insuperáveis. estejamos mais, interessados em conhecer bem. Assim, Assim, quando abordamos o estudo das religiões primiti- não estudaremos a religião arcaica que iremos abordar, vas, é com a certeza de que elas pertencem ao real e o pelo simples prazer de contar suas extravagâncias e sin- . I exprimem; veremos esse princípio retomar a todo mo- ~J gularidades. Se a'tomamos cornoobjeto de nossa pesqui- mento ao longo das análises e das discussões a seguir, e o sa é que nospareceu mais apta que outra qualquer para que censuraremos nas escolas das quais nos separamos é fazer entender a natureza religiosa do homem, isto é, i)ã- precisamente havê-Ia desconhecido. Certamente, quando ra nos revelar um aspecto essencial e permanente da hu- se considera apenas a letra das fórrnulas.vessas crenças e manidade, práticas religiosas parecem, às vezes, desconcertantes, e Mas essa proposição não deixa de provocar fortes podemos ser tentados a atribuí-Ias a uma espécie de aber- objeções. Considera-se estranho que, para chegar a co- ração intrínseca. Mas, debaixo do símbolo, é preciso sa- nhecer a humanidade presente, seja preciso começar por ber atingir a realidade que ele figura e lhe dá sua signifi- afastar-se dela e transportar-se aos começos da hístóriax cação verdadeira. Os ritos mais bárbaros ou os mais extra- Essa maneira de proceder afigura-se como particularmen- vagantes, os mitos mais estranhos traduzem alguma ne- te paradoxal na questão que nos ocupa, De fato, costu- essídade humana, algum aspecto da vida, seja individual mam-se atribuir às religiões um valor e uma dignidade \.1 social. As razões que o fiel concede a si próprio para desiguais; diz-se, geralmente, qu,e nem todas contêm a justificá-Ias podem ser - e muitas vezes, de fato, são - er- mesma parte de verdade. Parece, pois, que não se pode rôneas; mas as razões verdadeiras não deixam de existir; comparar as formas mais elevadas do pensamento reli- compete à ciência descobri-Ias. gioso com as mais inferiores sem rebaixar as primeiras ao No fundo, portanto, não há religiões falsas. Todas nível das segundas, Admitir que os cultos grosseiros das são'verdadeiras a seu modo: todas correspondem, ainda tribos australianas podem ajudar-nos a compreender o que de maneiras diferentes, a condições dadas da existên- cris.!.0:njsmo,por exemplo, não é supor que este procede cia humana. Certamente não é Impossível díspô-las se- da mesma mentalidade, ou seja, que é feito das mesmas gundo uma ordem hierárquica. Umas podem ser superio- superstições e repousa sobre os mesmos erros? Eis aí Co- Jes a outras, no sentido de empregarem funções mentais mo a importância teórica algumas vezes atribuída às reli- mais elevadas, de serem mais ricas em idéias e em senti- giões primitivas pôde passar por índice de uma irreligio- mentos, de nelas haver mais conceitos, menos sensações sidade sistemática que, ao prejulgar os resultados da pes- e imagens, e de sua sistematização ser mais elaborada. quisa, os viciava de antemão. Mas, por reais que sejam essa complexidade maior e essa Não cabe examinar aqui se houve realmente estudio- mais alta idealidade, elas não são suficientes para classifí- sos que mereceram essa crítica e que fizeram da história e ar as religiões correspondentes em gêneros separados. da etnografia religiosa. uma máquína de guerra contra a Todas são igualmente religiões, como todos os seres vivos religião. Em todo caso, esse não poderia ser o ponto de são igualmente vívos] dos mais humildes plastídios ao ho- vista de um sociólogo\Com efeito, é um postulado essen- mem, Portanto, se nos dirigimos às religiões primitivas, cial da sociologia que uma instituição humana não pode não é com a idéia de depreciar a religião de urna maneira repousar sobre o erro e a mentira, caso contrário não po- geral; pois essas religiões não são menos respeitáveis que VIII AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA IX as outras. Elas correspondem às mesmas necessidades, rada à maneira cartesiana, isto é, um conceito lógico, um desempenham o mesmo papel, dependem das mesmas puro possível, construido pelas forças do espírito. O que causas; portanto, podem servir muito bem para manifestar devemos encontrar é uma realidade concreta que só a obser- a natureza da vida religiosa e, conseqüentemente, para re- vação histórica e etnográfíca é capaz de nos revelar. Mas, solver o problema que desejamos tratar.' " embora essa concepção fundamental deva serobtida por procedimentos diferentes, continua .sendo verdadeiro que Mas por que conceder-lhes uma espécie de prerroga- Ia é chamada a ter uma influência considerável sobre to- tiva? Por que escolhê-Ias de preferência a todas as demais' .da a série de proposições. que a ciência estabelece. Aevo- como objeto de nosso estudo? Isso se·deve unicamente a' lução biológica foi concebida de forma completamente di- razões de método'.. ' \.. ferente a partir do momento em que se soube da existên- Em primeiro lugar, não podemos chegar a compreen- . it cia de seres monocelulares. Assim também, o detalhe dos der as religiões mais recentes a não ser acompanhando na 'fatos religiosos é explicado diferentemente, conforme se história a maneira como elas progressivamente se compu- .ponha na origem da evolução o naturismo..o animísmo ou seram. A história, com efeito, é o único método de análise alguma outra forma religiosa. Mesmo os estudiosos mais explicativa que é possível aplícar-lhes. Só ela nos permite '\ pecializados, se não pretendem limitar-se a unia tarefa decompor uma instituição em seus 'elementos constituti- de pura erudição, se desejam explicar os fatos que anali- vos, uma vez que nos mostra esses elementos nascendo am, são obrigados a escolher uma dessashípóteses e nela no tempo uns após os outros. Por outro lado, ao situar ca- . inspirar. Queiram ou não, as questões que eles Secolo- . da um deles rio conjunto de.circunstâncias em que se ori- . cam adquirem necessariamente a seguinte forma: de que ginou, ela nos proporciona o único meio capaz de deter- ) l) maneira o naturismo ou o animismo foram determinados a minar.~usas que suscitaram. Toda vez, portanto, que adotar, aqui ou acolá, tal aspecto particular, a enriquecer- õ .empreendemos explicar uma coisa humana, tomada num se ou a empobrecer-se deste ou daquele modo: Uma vez momento determinado do tempo -'quer se trate de uma que não se pode 'evitar tomar um partido sobre esse pro- crença religiosa, de uma regra moral, de um preceito jurí- blema inicial, e uma vez que a solução que lhe é dada está; dico, de uma técnica estética ou de um regime econômi- ,gestinada a afetar o conjunto da ciência, convém abordá- co -, é preciso começar por remontar à sua forma mais 10 frontalmente ..É o que nos propomos fazer. simples e primitiva, procurar explicar os caracteres através Aliás, inclusive sem considerar essas repercussões in- dos quais ela se define nesse período de sua existência, fa- diretas, o estudo das religiões primitivas tem, por si mes-, zendo ver, depois, de que maneira ela gradativamente se -r ,mo, um interesse imediato que é de primeira importância. o desenvolveu e complicou, de que maneira tornou-se o Se,de fato, é útil saber em que consiste esta ou aque- 'r que é no momento considerado. Ora, concebe-se sem difi- la religião particular, importa ainda mais examinar o que culdade a importância, para essa série de explicações pro- é a religião de uma maneira geral. É o problema que, em gressivas, da determinação do ponto de partida do qual todas as épocas, tentou a curiosidade dos filósofos, e não ., , elas dependem. Era um princípio cartesiano que, no enca- sem razão, pois ele interessa à humanidade inteira. Infe- deamento das verdades científicas, o primeiro elo desem- lizmente, o método que eles costumam empregar para re- -penha um papel preponderante. Claro que não se trata de olvê-lo é puramente dialético: limitam-se a analisar a colocar na base da ciência das religiões uma noção elabo- idéia que fazem da religião, quando muito ilustrando os x AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA Xl resultados dessa análise com exemplos tomados das reli- dos fiéis; conforme os homens, os meios, as circunstâncias, giões querealizam melhor seu ideal. Mas, se esse método tanto as crenças como os ritos são experimentados de for- deve ser abandonado, o problema permanece de pé e o mas diferentes. Aqui, são sacerdotes, ali, monges, alhures, grande serviço que a filosofia prestou foi impedir que ele leigos; há místicos e racíonalístas, teólogos e profetas, ete. fosse prescrito pelo desdém dos eruditos. Ora, tal proble- Em tais condições, é difícil perceber o que é comum a to- '1; ,ma pode ser retomado por outras vias. Como todas as re- dos. Claro que se pode encontrar o meio de estudar pro- ligiões são comparáveis, e como todas são espécies de veitosamente, através de um ou outro desses sistemas, es- um mesmo gênero, há necessariamente elementos essen- te ou aquele fato particular que neles se acha especial- ciais que lhes são comuns. Com isso, não nos referimos mente desenvolvido, como o sacrifício ou o profetismo, a simplesmente aos caracteres exteriores e visíveis que to- .vida monástica ou os mistérios; mas como descobrir O das apresentam igualmente e que lhes permitem dar, des- fundo comum da vida religiosa sob a luxuriante vegeta- de o início da pesquisa, uma definição provisória; a des- ção que a recobrerComo, sob o choque das teologias, coberta desses signos aparentes é relativamente fácil, pois das variações dos rituais, elamultiplicidade dos grupos, da a observação que exige não precisa ir além da superfície diversidade dos indivíduos, encontrar os estados funda- das coisas. Mas'as'semelhanças exteriores supõem outras, mentais característicos da rncntalldade religiosa em geral? que são profundas. Na base de todos os sistemasde cren-' Algo bem dtfcrcruc ocorre nas sociedades inferiores. !4',. çase de todos às cultos, deve necessariamente hayer um mcnor.dcscnvolvírnento das individualidades, a menor certo número de representações fundamentais e de atitu- ixtcnsão do grupo, a homogeneidade das circunstâncias ex- des rituais que, apesar da diversidade de formas que tanto teriores, tudo contribui para reduzir as diferenças e as va- umas como outras puderam revestir, têm sempre a mes- riações ao mínimo. O grúpo realiza, de manéiráregulãr, " ma significação objetiva e desempenham por toda parte uma uniformidade intelectual e moral cujo exemplo só rà- as mesmas funções. São esses elementos permanentes ramente se encontra nas sociedades mais avançadas. Tu- ()(u. que constituem o.que há de eterno c: de humano na reli- do é comum a todos, Os movimentos são estereotipados;(:ú:"", ~'; ji- gião; eles são o conteúdo objetivo da idéia que se expri- todos executam os mesmos nas mesmas circunstâncias, e~ me quando se fala da religião em geral. De que maneira, esse conformismo da conduta nâo faz senão traduzir odo 01/ portanto, é possível atingi-los? ' pensamento. Sendo todas as consciências arrastadas nos " Não, certamente, observando as religiões complexas mesmos turbilhões, o tipo individualpraticarnente se 'con-. que aparecem na seqüência da história. Cada uma é for- :- funde com O t~pogenériroAo mesmo tempo em que tu- mada de tal variedade de elementos, que é muito difícil õé urilforme, tudo é simples. Nada mais tosco que esses distinguir nelas o secundário do principal e o essencial do mitos compostos de um mesmo e único tema que se re- acessório'. Que se pense em religiões como as do. Egito, pete sem cessar, que esses ritos feitos de um: pequeno nú- da Índia 'ou da Antiguidade dássica! É uma trama espessa mero elegestos recomeçados interminavelmente. A, imagi- , ou de cultos múltiplos,' variáveis com as localidades, com os popular sacerdotal não teve ainda tempo nem templos, com as gerações; as dinastias, as invasões, ele. de refinar e transformar a matéria-prima das idéias I:, Nelas, as superstições populares estão mesdadas aos dog- . ticas religiosas; esta se mostra, portanto, nua e se mas mais refinados. Nem o pensamento, nem a atividade spontanearnente à observação, que não precisa religiosa encontram-se igualmente distribuídos na massa um pequeno esforço para descobri-lai O acessó- XII AS FORMAS ELEMENTARES DA \l7DARELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA XIII rio, o secundário, os desenvolvimentos de luxo não vie- mesma razão que a descoberta dos seres monocelulares, ram ainda ocultar o principaJ2. Tudo é reduzido ao indis- de que falávamos há pouco, transformou a idéia que se pensável, àquilo sem o que não poderia haver religião. fazia correntemente da vida. Como nos seres muito sim- Mas o indispensável é também o essencial,' ou seja, o que ples a vida se reduz a seus traços essenciais, estes dificil- acima de tudo nos importa conhecer. mente podem ser ignorados. As civilizações primitivas constituem, portanto, casos ..Masas religiões primitivas não permitem apenas des- privilegiados, por serem casos simples. Eis por que, em tacar os elementos constitutívos da religião; têm também todas as ordens de fatos, as observações dos etnógrafos a'grande vantagem de facilitar sua explica-ção. Posto que /' foram com freqüência verdadeiras revelações que renova- nelas os fatos são mais simples, as relações' entre os fãtoSt?' p!!p-E.tJ 'f($' ram o estudo das instituições humanas. Por exemplo, an- são também mais eVidentes.~ razões pelas quais os ho- tes da metade do século XIX, todos estavam convencidos .i. mens explicam seus atos nao foram ainda elaboradas e de que o pai era o elemento essencial da família; não se desnaturadas por uma reflexão erudita; estão mais próxi- concebia sequer que pudesse haver uma organização fa- mas, mais chegadas às motivações que realmente deter- miliar cuja pedra angular não fosse o poder paterno. A minaram esses at~. Para compreender bem um delírio e descoberta de Bachofen veio derrubar essa velha concep- poder aplicar-lhe o tratamento mais apropriado, o médico ção. Até tempos bem recentes, considerava-se evidente tem necessidade de saber qual foi seu ponto de partida. que as relações morais e jurídicas que constituem o pa- Ora, esse acontecimento é tanto mais f~cil de discernir rentesco fossem apenas um outro aspecto das relações fi- quanto mais se puder observar tal delírio num período siológicas que resultam da comunidade de descendência; próximo de seu começo. Ao contrário, quanto mais a doen- Bachofen e seus sucessores, Mac Lennan, Morgan e mui- ça se desenvolve no tempo, mais ela se furta à observa- tos outros, estavam ainda sob a influência desse precon- ção: é que, pelo caminho, uma série de interpretações in- ceito. Desde que conhecemos a natureza do clã primitivo, tervieram, tendendo a recalcar no inconsciente o estado sabemos, ao contrário, que o parentesco não poderia ser original e a substituí-lo por outros, através dos quais é di- definido .pela consangüinidade. Para voltarmos às reli- fícil às vezes reencontrar o primeiro. -Entre um delírio sis- giões, a simples consideração das formas religiosas que tematizado e as impressões primeiras que lhe deram ori- nos são mais familiares fez acreditar durante muito tempo gem, a distância é geralmente considerável. O mesmo va- que a noção de d~J~s'era característica de tudo o que é re- le para o pensamento religioso. À medida que ele ~. ._~ [ígíosó. Ora, a relígíãoque estudaremos mais à&inte- é, ãêllãfilstõría, as causas que o chamaram à eXistência, em grande parte, estranha a toda idéia de divindade; as "--emborasempre permanecendo ativas, não-SãOmais per- forças às quais se dirigem seus ritos são muito diferentes ~ senão através aeum vasto sistem- e ioterpreta- daquelas que ocupam o primeiro lugar em nossas reli- çS)esque as deformaffiJ As mito ogias populares e as sutis giões modernas; não obstante, elas nos ajudarão a melhor teOJ.~fizeram sua obra: sobrepuseram aos sentimentos compreender estas últimas. Assim, nada mais injusto que primitivos sentimentos muito diferentes que, embora liga- o desdém que muitos historiadores conservam ainda pe- dos aos primeiros, dos quais são a forma elaborada, só los trabalhos dos etnógrafos. É certo, ao contrário, que a imperfeitamente deixam transparecer sua natureza verda- etnografia determinou muitas vezes, nos diferentes ramos deira. A distância psicológica entre a causa e o efeito, en- da sociologia, as mais fecundas revoluções. Aliás, é pela tre a causa aparente e a causa efetiva, tornou-se mais con- XIV AS FORMAS ELEMENTARES DA V7DARELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA xv siderável e mais difícil de percorrer para o espírito. O de- ções, a natureza faz espontaneamente simplificações do senvolvimento desta obra será uma ilustração e uma veri- mesmo tipo no início da história. Queremos apenas tirar ficação dessa observação metodológica. Veremos de que ";' proveito delas. Eclaro que só 12oder~~?~ ~~gt...P,or_e~~~_ Uaneira, nas religiões primitivas, o fato religioso traz ain- étodo, fatos muito elementares. Quando, na medida do da visível a marca de suas origens: bem mais difícil nos põ'SSíVe1-,os tivermos átingidô,'"ainda assim não estarão teria sido inferi-Ias com base na simples consideração das explicadas as novidades de todo tipo que se produziram religiões mais desenvolvidas. na seqüência da evolução. Mas, se não pensamos em ne- O estudo que empreendemos é, portanto, uma ma- gar a importância dos problemas que elas colocam, julga- neira e retomar, mas em con i - ~ltrc>fõ- mos que tais problemas ganham em ser tratados na sua ble~das rerrgi~- e, por origem, entende-se devida hora, e que há interesse em abordá-I os somente m primeírõ co a , por certo a questão nada depois daqueles cujo estudo iremos empreender. e ientífica e deve ser resolutamente descartada/ Não há um ms ante radical em que a re 1 íã:t)rerr~e- ~ çado a existir, e não se trata de encontrar um expediente II que nos permita transportar-nos a ele em pensamento. Como toda instituição humana, a religião não começa em. Mas nossa pesquisa não interessa apenas à ciência 1,).!...E parte alg1una-:Assim, todas as"'êSp'eêiilações desse gênero das religiões. Toda religião, com efeito, tem um lado peloj f'f.L são justamente desacreditadas; 'só podem consistir em qual vai além do círculo das idéias propriamente religio- 1::'" construções subjetivas e arbitrárias que não comportam sas e, sendo assim, o estudo dos fenômenos religiosOs'l V' controle de espécie alguma. Bem diferente é o problema fornece um meio de renovar problemas gue até agora só que colocamos. Gostaríamos de encontrar um meio de ."foram debatidos entre filósofos. . discernir as causas, sempre presentes, de que dependem Há muito se sabe que ~t?rimei!:ps sistema~~e repre- as formas mais essenciais do pensamento e da prática reli- sentações que o homem produziu do mundo e desí pró- giosa. Ora, pelas razões que acabam de ser expostas, es- 12riosão deongerriTeTígiosa:'"'N[o hi reITgiãoque não seja- sas causas são mais facilmente observáveis quando as so- j.'uma cosmologia ao meSriiõrempo que uma especulação, ciedades em que as observamos são menos complicadas. , -fN.·vI sobre o divino) Se a filosoha e as ciencias nasceram da re- Eis por que buscamos nos aproximar das origens>. ~ ~~o"~t ,Iligião, é.~u~ a própr~a rel~gião começ<,:lUpor fazer as ve~ ~\''', ~....vLzes gue pretendamos atribuir às religiÔ.es inferiores virtud9 de ciencias e de filosofias Mas o que foimenos notado particular~s. Pelo contrário, elas são rudimentares e gros- ,/\ OU é que ela não se limitou a enriquecer com um certo nú:- seiras; ~o é à cáSo, portanto, de fazer delas modelos que ~\\J]'\\)~o ,~ esp-írito hum~o p~eviamente for~- as religiões posteriores apenas teriam reproduzido. Mas. . \'\ ~; t;ttmbém ~ntribuiu ~~s ho- seu próprio aspecto grosseiro as torna instrutivas, pois, Cmens não lhe devem apenas;ep:iItenotável, a maféria deste modo, elas constituem.experiências cômodas em " .5le seus co.,ghecimentos, Illi!S-Í.g)Jalmente~formaSegUndo q~s fª-!Qs-Wt!is relaçQ.e~s_:1offiãi§ fáceis de~ v~essgs...c.onlli:.dm~ O físico, para descobrir as leis dos fenômenos que estuda, . Na raiz de nossos julgamentos, há um certo número procura simplificar esses últimos, desembaraçá-los de de noçS'>esessenciais que dominam toda a nossa vida in- seus caracteres secundários. No que concerne às institui- telectual; são aquelas que os filósofos, desde Aristóteles, XVI AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA XVII chamam de categorias do entendimento: noções de tem- mos através de marcas objetivas, um tempo que não seria po, de espaços, de gênero.Ide número, de-causa, de subs- uma sucessão de anos, meses, semanas, dias e horas! Se- -tância, de personalidade, etc. Elas correspondem às pro- ria algo mais ou menos impensável. S~pOdaros c0}cebe priedades mais universais das coisas. São como quadros o tempo se nele distinguirmos momentos ierentes, Ora, sólidos que encerram o pensamento; este não parece po- qual é a origem dessa diferenciação? Certamente os esta- der libertar-se deles sem se destruir, pois tudo indica que dos de consciência que já experimentamos podem repro- não podemos pensar objetos que não estejam no tempo duzir-se em nós, na mesma ordem em que se desenrola- ou no espaço, que não sejam numeráveis, etc. As outras ram prlmítívamente: e, assim, porções de nossopassado noções são contingentes e móveis; toncebemos que pos- voltam a nos ser presentes, embora distinguindo-se espon- sam faltar a um homem, a uma sociedade, a uma época, taneamente do presente. Mas, por importante que seja es-_ enquanto aquelas nos parecem quase inseparáveis do sa distinção para nossa experiência privada, ela está longe funcionamento normal do espírito. São como a ossatura de bastar para constituir a noção ou categoria de {empà - da inteligência. Ora, quando analisamos metodicamente Esta não consiste simplesmente numa comemoraç~- as crenças religiosas primitivas, encontramos naturalmen- cial ou integral, de nossa vida transcorrida. É--_u._m~. quadro te em nosso caminho as principais dessas categorias. Elas ~ºstrato e impessoal que envolve não aRenas"1l~is- nasceram na religião e da religião, são um produto do tencia indiviOüãI, ~ a da humanidade. É corno um pai- pensamento religioso. Éuma constatação que haveremos hei ilimitadã, em que toda a duração se mostra sob o olhar de fazer várias vezes 'ao longo desta obra. do espírito e em que todos os acontecimentos possíveis Essa observação possui já um interesse por si pró- podem ser situados em relação a pontos de referência fi- pria; mas eis o que lhe confere seu verdadeiro alcanc . xos e determinados. Não é o meu tempo que está assim A conclusão geral do livro ue se . " li- ( \ organizado; é o tempo tal como é objetivamente pensado _.. t"" gião é uma cOisaeminentemente social. As representaçõ.es \ror todos os homens de uma mesma civilização. Apenas ~ > ,,~.lM,:Jtt\I(E:1 religiosas são representações. c,?letivas Que exprimem rea- ISSOjá é suficiente para fazer entrever que uma tal))fgani- lidades côlêtivasj os ritos são maneiras d~g!.u;IJle só sur- zação deve ser çQletiv3fE, de fato, ~observação estàb~- "J;CJ gem no interior de grupos coordenados e se destinam a ~ S:,.e~le esses pontos de referênciaJndJ_s~sáv~, em rela- eÚâdQs i!scitar. manter ou refazer alguns ;;;;;;:n:taiS2êsses 'Í~~~ { ção aos quals.t'º-,-Ias.as Ç,qJs~,\sse la~s~f,i~emBoralmer.t gOmos. Ma§,entãQ, se as categ~rjas são d~o...tig~mr~ligio- Y,/ r te,-mro-tomados da vJela social. :Asdivisões em dias, sema- a, elas devem articipar da natureza comum a todo os' ~as, meses, anos, ctc., eorrespondem à periodicidade dos fatos rel.i~ tam em e as devem ser coisas sociais, ritos, das festas, das cerimônias póblícas>. Um calendário )~r\ p.r.odutos do pensamento cole.tiyo. Como, "noestado atual exprime o ritmo da:atividade coletiv;a, a.?mesmstep2.Q de nossos conhecimentos desses assuntos, devemos evitar que tem por função assegurar sua regularidade6J todã tese radical e exclusiva, pelo menos é legítimo supor I O mesmo acontece-com o ~ço. Como demonstrou que sejam ricas em elementos sociais.. Hamelin", o espaço não é esse meio vago e indetermina- Aliás, é o que se pode, desde já, entrever para algu- do que Kant havia imaginado: puramente e absolutamen- t mas delas. Que se tente, por exemplo, imaginar o que se- te homogêneo, ele não serviria para nada e sequer daria ria a noção de tempo, se puséssemos de lado os procedi- nsejo ao pensamento. Arepresentação espacial consiste mentos 'pelos quais o dividimos, o medimos, o exprimi- ssencíalmente nurna primeira coordenação introduzida XVIII AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA XIX entre os dados da experiência sensível. Mas essa coorde- te quarteirões do mundo está em íntima relação com Um nação seria impossível se as partes do espaço se equiva- quarteirão do pueblo, isto ( com'um grupo de clãstv. "As- lessem qualitativamente, se fossem .realmente intercam1::5iá- sim; diz Cushing, uma divisão deve estar em relação com . weís umas pelas outras. Para poder dispor espacialmente o norte; uma outra representa o oeste, uma terceira o as coisas, é preciso poder situá-Ias diferentemente: colo- sulll, etc." Cada quarteirão do puebio tem sua cor caracte- car umas à direita, outras à esquerda, estas em' cima, rística que o simboliza; cada região do espaço tem a sua, ( aquelas embaixo, ao norte ou ao sul, a leste ou a oeste, que é exatamente a do quarteirão correspondente. Ao lon- etc., do mesmo modo que, para dispor temporalmente os o da história, o número de clãs fundamentais variou; o estados da consciência, cumpre poder localizá-los em da- número de regiões variou da mesma maneira. Assim, a or- tas determinadas. Vale dizer que o espaço não poderia ser ganização social foi o modelo da organização espacial, ele próprio se, assim como o tem o não fosse dividido e que é uma espécie de decalque da primeira. Até mesmo a çiífurenciado. as essas diviÇ ue lhe sã essencials distinção de direita e esquerda, longe de estar implicada õna de rovê? Para o espaço mesmo, não há direita na natureza do homem em geral; é muito provavelmente o nem esquerda, nem alto nem baixo, nem norte nem sul. produto de representações religiosas, portanto coletivasv. Todas essas distinções rovêm, evidentemente, de terem Mais adiante serão encontradas provas análogas rela- sido atribuídos valores a etivos i erentes às re_iões. E, tivas .ãs noções de gênero, de força, de personalidade, de como to os os omens de uma mesma civilização repre- eficácia. Pode-se mesmo perguntar se a noção de contra- sentam-se o espaço da mesma maneira, é preciso, eviden- dição não depende, também ela, de condições sociais. O temente, que esses valores afetivos e as distinções que que leva a pensar assim é que a influência que ela exer- deles dependem lhes sejam igualmente comuns; o que ce~U.9ºre5U2e!J...§.alJlentº~ariQu .s~glJnslQaJ?éRocas e as implic~quase necessariamente quertais val'õí"és-e·di~t1l'trbe'S' sociedades. O princípio de identidade domina hoje o lSãOd~Orige~ ~ pensamento científico; mas há vastos sistemas de repre- Por sinaC á casos em que esse .carâter social tornou- sentações que desempenharam na história das idéias um se manifesto. Existem sociedades na Austrália ou na Amé- papel considerável e nos quais ele é freqüentemente igno- rica do Norte em que o espaço é concebido sob a forma l\i~'~.~ rado: são as mitologias, desde as mais grosseiras até as W urJ de um círculo imenso, porque o próprio acampamento mais elaboradas». Elas tratam sem parar de seres que têm o ~rJD \~ tem uma forma circulara, e círculo espacial é exatamen- simultaneamente os atributos mais contraditórios, que sào te dividido como o círculo tribal e à imagem deste último. cr.f'J\O\ ao mesmo tempo unos e múltiplos, materiais e espirituais, Distinguem-se tantas regiões quantos são os clãs da tribo, \~\j\ que podem subdividir-se indefinidamente sem nada per- ~,~' e é o lugar ocupado pelos clãs no interior do acampa- der daquilo que os constitui; e,m.JJ),JtoJQgia,~é...lJm..axioma rXl~O'\~ mento que determina a orientaçào das regiões. Cada re- .LRarte eglJiv~o. Essas variações a que se sub- gião define-se pelo totem do clã ao qual ela é destinada. meteu na história a regra que parece governar nossa lógi- .,;\\~ot\" Entre os zuni, por exemplo, o pueblo compreende sete ca atual provam que, longe de estar inscrita desde toda a quarteirões; cada um deles' é um grupo de.cl,ãs que teve eternidade na constituição mental do homem, essa regra sua unidade: com toda a certeza, havia primitivamente depende, pelo menos em parte, de fatores históricos, e um único clã que depois ?e subdividiu. Ora, o espaço portanto sociais. Não sabemos exatamente que fatores compreende igualmente sete regiões e'cada um desses se-' '" • são esses, mas podemos presumir que existern-+, " xx AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA OBJETO DA PESQUISA XXI Uma vez admitida essa hipótese, o problema do co- diferente do que são, de representá-Ias como se transcor- nhecimento coloca-se em novos termos. ressem numa ordem distinta daquela na qual se produzi- I ~ai) Até o presente, quas doutrinas apenas haviam se de- ram. Diante delas, nada nos prende, enquanto considera- I ~\J, !ro~o. Para uns, ~scategorias nã<2.]!.odemser derivadas ções de um outro gênero não intervierem. Eis,~p'ortantõ-L) GoAr~ .tyJ- sIaexperiência: s,ãcLlQgicamente anteriores a ela e a eoU::... 1-J t:dois tipos de conhecimentos que se encontram como que ,écionam.:j São representadas como dados simples, irredl.J- nOsdois ôlos contrãrIOsããlmeTígência. Nessas condíções., (f. tíveis, ima~elLª,º-e~I.2TritQ.Jllimàno em virtude de sua r~ meter a razão a experiência é azê-la desaparecer, pois constituição natural. Por isso se diz dessãScãtegQrl.a.SJ1ue. jQr ~-" a~ .é reduzir a universalidade e a necessidade que a caracteri- :) ,,/(l §as são ª-12rio1;i.para outros, ao contrário, elas seriam '/. ".~ zam a serem apenas~as apar~~ ilusões que, na Pli- . construídas, feitas de peças e pedaços, e o indivíduo ' rt or«<0fJ tica, podem ser cõmo as, mas que a naaa correspondem \ PC) que seria o operário dessa construção». ' r JU ,Üfo~as coisas;)conseqüentemente,\é recusar toda realidade' Mas ambas as soluções levantam graves dificuldades. ..} ,o\' 61íl~ pbjetiva~ida lógica ue as categoriãsfêm por função re- } Adotaremos a tese empirista? Então, cumpre retirar '1 .;:0/ .g.ul.er e=0rg9Jllzar. 9 empirism caSS1 onduz ao irracio- 1 v \ das categorias todas as suas propriedades características. '~. (,./V t'íalismo; talvez até seja por esse último nome que conve- Com efeito, elas se distinguem de todos os outros conhe- J \ nha designá-lo. cimentos por sua universalidade e sua necessidade. Elas Os aprioristas, apesar do sentido ordinariamente as- são os conceitos mais gerais que existem, já que se apli- sociado às denominações, são mais respeitosos com os fa- a cam a todo o real e, mesmo não estando ligadas algum tos. Já que não admitem como verdade evidente que as objeto particular, são independentes de todo sujeito indi- categorias são feitas dos mesmos elementos que nossas vidual: são o lugar-comum em que se encontram todos os representações sensíveis, eles não são obrigados a empo- 'li:. eSI?íritos. !'1ais: est~s ~e encont~am ne~essaria~ente aí~ brecê-Ias sistematicamente, a esvaziá-Ias de todo conteú- pOISa razao, que nao e outra coisa senao o conjunto das '<.:,") do real, a reduzi-Ias a ser apenas artifícios verbais. Ao categorias fundamentais, é investida de uma autoridade ã .~ contrário, conservam todas as características específicas qual não podemos nos furtar à vontade. Quando tenta- I delas. Os aprions as sao raClOna1Sas; rêem ue o mun- I mos insurgir-nos contra ela, libertar-nos de algumas des- do tem.J!D1~pecto lógLcn....quea razao expnme eminente- sas noções essenciais, deparamo-nos com fortes resistên- ,mente. Mas, para isso, p~sam atribuir ao espírito um I:, \cias. Portanto, elas não apenas não dependem de nós, co-\ ,certo poder de ultrapassar a experiência).. de acrescentar \mo t~~bém se1IDpõém a-riQi ofã;' os dados empíriCõs ~ gue lhe é2mediatamente dado; ora, desse poder apresentam características diametralmente opostas. Uma singular, eles não dão explicação nem justificação. Pois sensação, uma imagem se relacionam sempre a um objeto não é explicar dizer apenas que esse poder é inerente à determinado ou a uma coleção de objetos desse gênero e natureza da inteligência humana. Seria preciso fazer en- exprimem o estado momentâneo de uma consciência par- tender de onde tiramos essa surpreendente prerrogativa e ticular: elas são essencialmente individuais e subjetivas. de que maneira podemos ver, nas coisas, relações que o Assim, podemos dispor, com relativa liberdade, das repre- espetáculo das coisas não poderia nos revelar. Dizer que sentações que têm essa origem. Éclaro que, quando nos- a própria experiência só é possível com essa condição, é Vie sas sensações são atuais, elas se impõem a nós fato. talvez deslocar o problema, não é resolvê-lo. Pois se trata Mas, de direito, temos o poder de concebê-Ias de maneira precisamente de saber por que a experiência não se bas-

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