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as estações do amor PDF

77 Pages·2016·0.58 MB·Portuguese
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Estações Do Amor — Callaghan Hart e Theresa “Tess” Brady — (Callaghan's Bride) Diana Palmer Irmãos Hart 3 Série Homens do Texas 20 Sinopse: Forte , rude e de gênio explosivo, o fazendeiro Callaghan Hart amedrontava as mulheres e intimidava os homens. Então como poderia aquela jovem meiga e dedicada trazer Callaghan Hart a seus pés? Simples! Tess Brady a nova governanta da fazenda era bonita, tímida e encantadora…..e secretamente apaixonada pelo terrível Callaghan Hart. E com sua inocência, começou a deixá-lo fascinado… A juventude de Tess atraia Callaghan como um fruto proibido. Ele precisava tocá-la, possuí- la. Mas não queria seduzir uma virgem assustada, a cujos sonhos não poderia corresponder. Não se esses sonhos não envolvessem casamento… pois ja fazia muito tempo que Callaghan decidira nunca mais unir-se a ninguém. A menos que Tess o fizesse mudar de ideia…. Estações do Amor Diana Palmer Capítulo 1 Movimentando-se pela cozinha, em meio a seus afazeres domésticos, Tess Brady Sentia o roçar macio do gato da casa nos tornozelos. Sorriu e resolveu colocar um pouco mais de ração na vasilha, já vazia, do bichano. Era a terceira vez que o alimentava, naquela manhã, Tess pensou acariciando-o. Quanto tempo se passara desde que recolhera o pobre animal, faminto e assustado, no pátio dos fundos, perto das latas de lixo? — Dois meses — ela concluiu, em voz alta. — E ele ainda não esqueceu os horrores da fome. Tess Brady compreendia muito bem os animais, graças a uma sensibilidade inata e a uma prática desenvolvida ao longo dos anos. Desde menina, recolhia animais feridos ou abandonados, sem nunca pensar no trabalho que teria, ou no destino que lhes daria, depois de alimentá-los e curá-los. Seguia aquele impulso sem se questionar é acabava resolvendo os problemas que dele decorriam. Filha única de um caubói, famoso por ter conquistado o bi-campeonato nacional na modalidade laço, Tess passara a infância e adolescência em meio a rodeios, em companhia dos peões, num estilo de vida livre e aventureiro. Sua mãe abandonara a família, antes que Tess completasse três anos de idade, deixando ao pai a responsabilidade de criá-la. Assim, fora natural para Tess assumir o papel feminino da casa, logo que sua idade, estatura e habilidade permitiram. Agora que Ray Brady deixara de existir e que ela estava realmente por sua conta no mundo, o velho hábito de cuidar dos animais se tornara quase mania. Uma forma de sentir-se menos só.. Uma onda de melancolia cobriu os olhos verdes de Tess, que de súbito lembrou-se da morte do pai, levado deste mundo por um ataque cardíaco fulminante. A tragédia acontecera num dia de sol causticante, no curral que podia ser avistado da janela da cozinha, onde Tess se encontrava. Ray Brady estivera a serviço da família Hart nos últimos cinco anos de sua existência... O gato, debruçado sobre a tigela de ração, miou satisfeito, interrompendo os tristes pensamentos de Tess. A inclusão do felino no dia-a-dia da casa causara resmungos de desaprovação em dois dos três irmãos Hart que ali viviam, O único a aprovar a adoção do bichano fora Callaghan, o sisudo e temido chefe do clã. E essa atitude deixara Tess a um só tempo confusa e surpresa. Ela estava a. serviço dos Hart, desde a morte do pai, ocupando a função de governanta e cozinheira da família, apesar de sua pouca idade. A casa, situada numa grande fazenda, no condado de Jacobsville, era sede com dezenas de propriedades rurais espalhadas pelo Texas e Estados vizinhos. A família Hart era assim constituída, em ordem cronológica: Simon, Callaghan, Corrigan, Leopold e Reynard. Simon era advogado, morava em San António e em breve desposaria Tira Beck, sua noiva. Corrigan casara-se havia um ano e meio...Morava com sua esposa, Dorie, e um belo bebê de poucas semanas, na mesma fazenda-sede dos Hart, numa casa convenientemente distante do casarão principal. Os outros três irmãos habitavam a velha mansão rural, 2 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer mantida por Tess numa organização a toda prova, apesar de algumas dificuldades. Pois nem tudo era um mar de rosas, no trabalho diário de Tess Brady... Cozinhar para os três Hart, bem como manter a casa limpa, eram as tarefas mais simples. Difícil era entender a personalidade de cada um deles, as variações de humor, as explosões emocionais assustadoras que por vezes os acometia. Mas era Callaghan Hart quem tinha o poder de atemorizá-la. Ex-capitão dos Boinas Verdes, testado em conflitos no Oriente médio, o chefe do clã Hart quase nunca sorria. E Tess jamais o vira rir. Callaghan era seco, direto e impositivo. Tess às vezes tinha a nítida impressão de que ele a observava atentamente, como se à espera de uma falha qualquer que lhe desse motivos para despedi- la. Sacudindo a cabeça, fazendo dançar os cabelos ruivos e cacheados que lhe chegavam à altura dos ombros, Tess abriu a porta da cozinha e saiu para o pátio iluminado de sol Com os olhos fechados ergueu o rosto, expondo-se à força e calor dos raios benéficos. Era agradável ficar assim, os ouvidos atentos a todos os sons, sentindo o vento a refrescar-lhe o corpo aquecido. Aos poucos, por trás das pálpebras cerradas, a imagem de Callaghan formou-se na mente de Tess. Alto, moreno, cabelos negros da cor dos olhos misteriosos, herança da mãe espanhola... Um rosto de traços perfeitos, um corpo esguio e ao mesmo tempo musculoso, de uma agilidade felina... Decididamente Callaghan era um belo homem, embora fora dos padrões convencionais, ela pensou. Mas havia algo nele que a intimidava. Os gestos precisos, a voz vibrante e direta, o olhar severo... Tudo em Callaghan parecia impor um misto de respeito e temor! Abrindo os olhos, Tess contemplou os campos em torno. A natureza resplandecia, em tons variados de verdes e azuis. A luminosidade era intensa. Tess continuava a pensar em Callaghan Hart. Extremamente reservado, ele não recebia e nem freqüentava amigos. Não ia a festas e só viajava a negócios. Apesar de solteiro, rico e na plenitude de seu vigor, Callaghan raramente recebia telefonemas de mulheres, em casa. Mas lia muito, especialmente obras referentes à colonização espanhola nas Américas. Pesquisava documentos históricos, também. Por três vezes, Tess o vira falando com peões latinos, num espanhol fluente e sem sotaque. Tess sorriu, ao lembrar-se que nenhum dos Hart sabiam que ela, além de montar e atirar como um verdadeiro caubói, dominava o espanhol como sua segunda língua. — Aquecendo-se ao sol? A voz de Reynard, o mais jovem dos Hart, interrompeu— lhe as divagações. — Sim — Tess respondeu. — O dia está magnífico, não acha? — Depende do ponto de vista. — Ele aproximou-se, retirando o chapéu. Percebendo-lhe uma expressão preocupada no rosto, Tess indagou: — Algum problema, Reynard? — Sim — ele confessou, com um suspiro. — Hoje Callaghan está impossível. E Leopold fica dando margens a discussões. Agora estão os dois lá no celeiro, falando pelos cotovelos, em pé de guerra. Não agüento situações desse tipo. — Notei que Callaghan tem andado estranho nos últimos dias — ela comentou. — Parece apreensivo. 3 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer — Mais estranho do que o costume, você quer dizer. — Ele sorriu, com ironia, antes de prosseguir. — Mas sei do que se trata. Todo ano, por esta época, acontece o mesmo. Eu estava justamente tentando dizer isso a Leopold... Mas ele só ouve o que quer. — Do que está falando Reynard? — Da influência de certas datas sobre Callaghan. — Diante do olhar confuso de Tess, ele explicou: — Os dias que antecedem o Natal o deixam irritado e nervoso. O mesmo ocorre com seu próprio aniversário. Há também dois ou três dias durante o verão; em que ele parece ter sido atacado por mil demônios.,— Após uma pausa, acrescentou: — Se quer um conselho, mantenha-se o mais longe possível de Callaghan, nessas datas. Ele pode ser bem desagradável, nesse estado. — Obrigada pelo aviso. Ficarei atenta. — Faça isso — Mudando de assunto, Reynard perguntou: Você tem notícias de Corrigan e Dorie? — Eles não têm telefonado e, na verdade, nem eu. — Na última vez em que vieram aqui, ficamos de combinar um jantar, para conversarmos um pouco. — Talvez seja melhor deixar o encontro para a ceia do Natal. Afinal, faltam poucos dias para a data. — Tem razão. De qualquer, forma vou ligar para eles — Reynard se afastou, caminhando em direção a casa. — Acabei de passar um café — ela avisou. — Está em cima do fogão. Voltando-se, ele sorriu; murmurou um agradecimento e entrou na cozinha. Tess permaneceu no pátio, desfrutando os raios de sol, pensando no que o mais novo dos Hart havia acabado de lhe contar. Naquela manhã, tivera uma pequena demonstração do mau humor de Callaghan, que levantara-se da mesa sem terminar o café apenas porque ela não encontrara o creme de amendoim que ele pedira. Reynard e Leopold haviam trocado um sorriso irônico e um olhar de compreensão, como se já esperassem aquela reação brusca. O mais difícil era ligar o severo e enigmático Callaghan Hart ao homem sensível e alegre que, não se sabendo observado, brincava com o gato na varanda, sorrindo e acariciando-o. Essas contradições deixavam Tess confusa e insegura. Não queria sentir pena de si mesma, mas revoltava-se pela insensibilidade de Callaghan com respeito a sua situação naquela casa. Como líder da família, ele bem que poderia lhe dar, vez por outra, uma palavra de incentivo, ou um elogio, que sem dúvida a ajudaria bastante, naquela difícil fase de adaptação. Mas ele parecia nem notar sua existência, Tess notava, com tristeza. Só se dirigia a ela quando estritamente necessário. E sempre daquela maneira seca e direta que a fazia estremecer de surpresa e medo, ao mesmo tempo. Balançando a cabeça num gesto de desânimo, Tess voltou para o interior da casa. Tudo poderia ser tão diferente, se Callaghan a tratasse com mais cordialidade. “Mas as pessoas são como são, e não como desejamos que sejam”, ela pensou, com um profundo suspiro. O Natal se aproximava, o frio era intenso. Mas o sol brilhava num céu azul-anil. 4 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer — Parece que não haverá neve suficiente, este ano — comentou a Sra. Lewis, mexendo com uma enorme colher de madeira o conteúdo de um tacho de cobre sobre o fogão. — Não sei, não... — Tess aproximou-se da janela e contemplou a paisagem lá fora. — Quando menos se espera, o tempo muda e a neve torna a cair. — Tomara que você esteja certa. Onde já se viu um Natal assim? — A sra. Lewis apontou para fora, com um gesto de cabeça, enquanto assumia uma expressão de desalento. — Está tudo tão sem graça... Tess sorriu dos resmungos da velha ajudante, responsável pelos trabalhos mais duros da casa. — Fique tranqüila. Teremos um Natal lindo, como sempre, com direito a neve e tudo o mais. — Talvez — a sra. Lewis comentou, nada convencida. O aroma tentador de doce de leite espalhava-se pela cozinha. O trabalho era intenso, naqueles dias que antecediam o Natal. Panetones, bolos, bombons, balas de café e chocolate, pudins, biscoitos de nata. Uma variedade enorme de doces estava sendo preparada na ampla cozinha da mansão rural dos Hart, no distrito de Jacobsville. — Estou aborrecida por deixá-la sozinha, com todo esse trabalho disse a velha senhora. — Mas o Natal é sagrado, em minha família. Meu filho mais novo virá de Dallas, com a família, para a ceia. E não seria justo se eu... — Ora, não se preocupe, querida — Tess a interrompeu. Já fizemos dos doces e confeitos. Os assados e cozidos estão no freezer, temperados e prontos para serem levados ao forno. Callaghan cuidará pessoalmente das bebidas como fez questão de avisar. — É ele que sempre escolhe os vinhos. — Deu para notar. Aliás ele anunciou esse fato com sua costumeira... delicadeza — O modo como Tess pronunciou a ultima palavra da frase deixava bem claro sua amarga ironia. A sra. Lewis deteve o movimento da colher e olhou atentamente para Tess, antes de indagar: — Você se ressente com os modos de Callaghan Hart, não é? — Venho tentando me acostumar. Digo a mim mesma que não se trata de nada pessoal, que ele age desse jeito com todo mundo... Mas é difícil. — Sei perfeitamente do que você está falando querida — a sra. Lewis declarou, pensativa. — Mas as coisas nem sempre foram assim. Callaghan era um menino dócil... Um adolescente encantador. — E o que aconteceu, para fazê-lo mudar tanto? Abandonando a colher no interior do tacho por um momento, a velha senhora abriu os braços, num gesto vago: — Como vou saber? Imagino que tenha sido a guerra... Callaghan voltou totalmente mudado. Alguma coisa parecia ter se quebrado dentro dele. Ambas ficaram em silencio por um longo momento, com as mãos ágeis no trabalho minucioso, as mentes divagando em torno do assunto. Por fim a velha senhora suspirou profundamente e voltou a falar do Natal. — Você vai ficar sobrecarregada, querida. Terá de servir a ceia sozinha. 5 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer — Ora, isso não será problema — Tess afirmou. — Gosto de festas, sabe? Além do mais, todos ajudarão, de uma maneira ou de outra. Já lhe disse para não se preocupar com isso. — Está bem. — A sra. Lewis sorriu, provou o doce e declarou: —Ficou no ponto exato. Agora é só esperar esfriar. e colocar nas formas. — Deixe isso por minha conta — Tesa prontificou-se. — Nem pensar querida. Você terá trabalho de sobra, daqui a alguns dias. Não quero sobrecarregá-la ainda mais. A mesa da sala de jantar estava coberta com uma toalha de linho branca. Sobre ela, a louça alemã, pintada com motivos florais. Copos e taças de cristal lavrado, talheres de prata muito antigos, vindos da Espanha no começo de século, estavam dispostos ao lado dos pratos. Havia flores multicoloridas, arranjadas em jarras azuis, muito finas. O velho candelabro de cristal, que pendia do centro da sala e era utilizado apenas em grandes ocasiões, estava aceso. Provocava um efeito impressionante, com cintilações e reflexos inesperados. A conversa se mantinha num tom médio e ameno. A família Hart estava reunida. Como Tess já havia previsto, todos se empenhavam em auxiliá-la. Dorie, apesar de atenta aos cuidados com o bebê, fazia questão de ajudá-la a servir. e Corrigan não deixavam os copos se esvaziarem, serviam refrescos e vinho a todos. A cabeceira da mesa, Callaghan, Simon e Reynard discutiam técnicas de plantio e, volta e meia, estendiam o assunto para os demais. Os pratos quentes foram muito elogiados e os doces não ficaram atrás. Chegou então o momento da entrega dos presentes e Tess foi contemplada com um casaco de couro espetacular, que a deixou sem fôlego. — E maravilhoso... Um sonho! — exclamou, comovida, apertando-o de encontro ao corpo. — Presente dos rapazes — disse Dorie alegremente. — Este é meu... — E entregou-lhe um pequeno embrulho. Emocionada, Tess soltou o laço da fita que envolvia um pequeno estojo de madeira. Dentro, havia um frasco âmbar, com uma essência francesa de alto valor. — Oh, Dorie! Você não devia... — Deixe de bobagem e experimente. Na sua idade, eu usava sempre. Era um sucesso. Tímida, ela abriu o frasco e aspirou a fragrância exótica. — Fantástico — murmurou, deliciada. E anunciou, enquanto fechava a embalagem. — Eu também tenho um presente para você. — Verdade? — Sim:. — Um tanto embaraçada, Tess afirmou: — Eu mesma fiz, nas horas de lazer. E deu a Dorie um grande embrulho de papel prateado. Curiosa, Dorie o abriu. Uma exclamação brotou-lhe dos lábios, enquanto seus olhos tornavam-se úmidos e brilhantes. — Um enxoval completo para o bebê! Que lindo! Veja, Corrigan. Ela estendeu o embrulho aberto em direção ao marido. 6 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer A luz do candelabro reverberava sobre delicados bordados que enfeitavam as minúsculas peças de roupa. Intimidada por ter se tomado, de repente, o centro das atenções, Tess pediu licença e foi para o seu quarto, levando os presentes que tinha ganho. Pouco depois, de volta a sala, começou a recolher os pratos e talheres usados na ceia, enquanto Dorie servia os licores e o café. — Está nevando — disse Reynard, junto a uma janela. — Venham ver. Todos acorreram, alegres. Juntos, contemplaram os flocos macios flutuando ao vento. — Quantas vezes, quando menina, não vi esta mesma cena! — Dorie comentou, comovida. — E, no entanto, é como se a assistisse pela primeira vez... Um tanto afastada, Tess contemplou a família reunida, naquele momento único, e sentiu-se inundada por uma onda de intensa solidão. — Tenho de recolher os animais. — A voz de Callaghan vibrou no silêncio que se fizera na sala. — Quem vai comigo? Leopold começou a mover-se, afastando-se lentamente da janela, mas Reynard adiantou-se: — Eu irei. Os dois saíram em meio à neve, os vultos compactos se perdendo na escuridão. — Acho que devemos partir, agora — Corrigan sugeriu a Dorie, que acabava de cobrir o bebê, que dormia no carrinho. — Não temos corrente nos pneus e a neve está caindo para valer. — Nós também já vamos — disse Simon, olhando carinhosamente para a noiva a quem em breve desposaria. — Tira está exausta e precisa descansar. As despedidas foram ponteadas por muitos risos e abraços. Pouco depois, os dois carros partiam, deixando Tess e Leopold a sós. — Bem, vou colocar esta sala em ordem e lavar a louça — ela disse, com naturalidade. — Deixe para amanhã. Você deve estar cansada. — De modo algum. Amanhã já é hoje. — Tess apontou o relógio de parede, que marcava uma e meia da madrugada. — Assim que clarear Callaghan saltará da cama, como sempre, e o café deverá estar servido. Portanto, preciso pôr mãos à obra. — Então, vou ajudá-la. — Que bobagem — ela protestou, sorrindo. — Farei tudo num piscar de olhos. Vá descansar, Leopold. — Estou sem sono. — Ele começou a recolher os copos. — Um pouco de conversa me fará bem. — De súbito, perguntou: — Quantos anos você tem? — Vinte e um. Completarei vinte e dois em março. — Pois você parece bem mais jovem. Eu lhe daria uns dezenove anos, no máximo. Onde aprendeu a cozinhar tão bem, Tess? — Em casa. Sempre fui muito curiosa e criativa. Além do mais, haviam os livros de receitas e as conversas com as mulheres mais velhas. Papai sempre elogiava minhas novas tentativas na arte culinária, mesmo quando os resultados eram desastrosos. 7 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer — Você deve sentir muita falta dele... — Sim — Tess respondeu, caminhando em direção à cozinha. — Você nem pode imaginar o quanto... — O que aconteceu com Ray foi tão inesperado... Ele parecia absolutamente saudável — Leopold comentou, seguindo-a e levando os copos. — As vezes penso que deveria ter sido mais atenta. Haviam sinais evidentes da doença, em papai. — E por que ele não consultou um médico? Ela riu, inclinando a cabeça para trás, os olhos úmidos, o rosto contraído de tristeza. — É evidente que você não conhecia papai muito bem. Ele era um homem esclarecido e muito bem informado. Mas, em certas questões, agia com total irracionalidade. — Saúde, por exemplo. — Médicos, para ser mais exata. Tinha verdadeiro horror a eles — E Tess começou a lavar a louça. — As coisas simplesmente acontecem, sejam elas boas ou más. Temos de estar prontos para recebê-las e aceitá-las. — É uma dura lição. — Tess suspirou. O que me consola é saber que meu pai viveu como quis e foi um homem extremamente interessante, carinhoso e.... feliz, a seu modo. — É justamente isto que me preocupa, com relação a Callaghan. O tempo está passando e ele parece não perceber que a vida passa — Leopold murmurou, quase que para si mesmo. — Ele está lá fora, com Reynard, em meio a neve, cuidando do gado, como se isto fosse a coisa mais importante do mundo. Tess voltou-se, surpresa: — E não é? — Gostaria de dizer que sim. Então, estaria tudo certo. Tess continuou a lavar a louça, sem nada comentar. Aquele era um momento delicado, onde um homem abria seu coração em confidência para uma quase desconhecida, ela intuiu, sabiamente. O vinho, a ceia de Natal com suas lembranças poderosas., a neve que chegara em momento tão oportuno... Todos aqueles fatores somados, trouxera à tona um Leopold exposto, revelando suas preocupações e incertezas. — Callaghan era noivo quando partiu para a guerra do Golfo — ele continuou. — Como capitão dos Boinas Verdes, foi ferido em combate e passou um longo tempo entre a vida e a morte, num hospital da Alemanha. Quando teve alta e, voltou para a América, encontrou sua noiva casada com um de seus melhores amigos. Foi um choque tremendo e desde então sua vida tem sido o trabalho. Todos nós, aqui em casa, pensamos que o tempo curaria a ferida emocional que Callaghan sofrera, tal corno fez com seu corpo cheio de cicatrizes, mas novamente inteiro e vivo.— — Leopold fez uma pausa. — Mas estávamos enganados... infelizmente. Tess assentiu, em silêncio, com um gesto de cabeça. Leopold serviu-se de um copo de vinho e sentou-se à mesa da cozinha. Parecia profundamente triste e só voltou a falar depois de alguns momentos: 8 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer — É por isso que compreendemos suas manias e súbitas explosões de mau humor. Mas a impotência diante da vida arruinada de alguém que amamos é uma sensação terrível, acredite. — Nada é assim tão definitivo, Leopold. Seu irmão tem muita vida pela frente e um dia desses acaba encontrando alguém que venha substituir, em seu coração, aquele amor perdido — Tess ponderou, num tom amável. — Que os anjos digam amém as suas palavras, Tess. Se você visse como meu irmão trata as mulheres que tentam se aproximar dele, entenderia meu desânimo. Callaghan simplesmente as ignora, com uma educada neutralidade que as faz gelar. Muitas merecem esse tipo de tratamento, é claro. Não passam de oportunistas procurando um bom casamento ou uma aventura. Mas outras, bastante interessantes, recebem o mesmo tratamento frio e impessoal. Ele parece não fazer distinção entre as pessoas... — E não abre nenhuma exceção? — Nenhuma — Leopold repetiu, com um veemente gesto de cabeça. — Então o problema é sério, mesmo. Mas um dia talvez essa situação mude. Quem sabe...? — Até lá, teremos de agüentar o mau humor do querido Callaghan. E quanto a você? — ele indagou, de súbito. — Não se ressente com o tratamento ríspido que recebe dele? Ela sorriu, antes de responder: — Muito mais do que deveria. Mesmo conhecendo, agora, o motivo que o leva a tratar assim as mulheres em geral, não é fácil... — Tenha paciência, Tess. No fundo, Callaghan é uma ótima pessoa e quer o bem de todos. — Não duvido. Mas continua não sendo fácil. — Compreendo. Mas, mudando de assunto, ou melhor, de foco... Você também nunca sai, nem recebe pessoas. Será que, tal como Callaghan, você tem algum motivo secreto que a faz fugir da companhia masculina? Aquela era uma evidente tentativa de aliviar a tensão da conversa, Tess percebeu. E por isso respondeu sorrindo: — Nenhum segredo e nenhum trauma. Apenas, tenho muito o que fazer nesta casa. E, quando posso, ocupo meu tempo de lazer bordando, ou lendo. Também adoro ouvir música e assistir à tevê. — Mas você não sente falta de sair, de freqüentar bailes, enfim... de namorar? — Sinceramente, não. — Sinceramente? — ele repetiu. — Não acredito. — Mas é a pura verdade. Havia muita simpatia no ar e talvez por isto Leopold arriscou um convite: — Que tal abrir uma exceção? — Como assim? — Saia comigo, uma noite dessas. — Você quer dizer... eu e você? — Tess perguntou perplexa. — Sim, é claro. Porque tanto espanto? 9 Projeto Romances Estações do Amor Diana Palmer — Ora, Leopold! Você é um dos meus patrões. Será que o vinho o fez esquecer deste fato tão simples? — Pelo que me consta, você é livre e desimpedida para fazer o que bem entender, fora do horário de trabalho. — E ótimo ouvir isto. Se eu um dia tiver de usar este direito, não deixarei de lembrá-lo desta nossa conversa. Ele sorriu, antes de insistir: — E então, Tess, você aceitará meu convite? — Ouça, Leopold.. Supondo-se que seus irmãos tenham a mesma visão liberal que você sobre o assunto, ainda assim não poderei aceitar. — Por quê? — Pelas implicações que o fato teria, no dia-a-dia desta casa. Já há problemas demais, você não acha? — Eu não faço o seu tipo — Leopold concluiu. — É isso, não? — Você é muito atraente e sabe disso — Tess sentenciou. — Ao contrário de Callaghan, você não se faz de rogado quando uma mulher lhe telefona, mesmo no meio da madrugada — disse, com ar maroto. — Você anda me espionando, Tess Brady? — ele indagou, fingindo-se indignado, num tom que soava cômico. — Não, Leopold Hart. Apenas, não pude evitar de ouvi-lo bradar, no telefone da sala, sua mais recente paixão por uma tal de Susy. Isso aconteceu numa madrugada, quando vim apanhar um copo de leite na geladeira. Ele sorriu: — Tudo bem, Tess... Você venceu. Quer dizer que sua resposta é não? — Sim. — Sim ou não? Decida. — Ora, vá dormir; Leopold. E deixe-me terminar o trabalho. Rindo, ele, saiu da cozinha, levando a garrafa de vinho. Tess ficou ainda por quase uma hora arrumando tudo e pensando no que ouvira. A imagem de Callaghan fixava-se em sua mente, com uma nitidez quase cruel. A semana que se seguiu ao Natal foi atribulada, na Fazenda Hart. Tratava-se do descarte de inverno, quando o gado não produtivo era separado dos demais e colocado à venda nos leilões de âmbito nacional. Em menos de quinze dias, todas as propriedades dos Hart sofreriam o mesmo processo. Era uma operação de grande envergadura, mobilizando centenas de homens em três Estados da nação. Em meio àquela incrível agitação, parecia a Tess que somente ela não havia se esquecido que o aniversário de Callaghan se aproximava. Ela bem sabia que Callaghan detestava festas e comemorações, mas não aceitava a idéia de deixar a data passar em branco. Sem consultar ninguém, Tess resolveu fazer um bolo de chocolate, cuja receita havia, aprendido com Dorie. 10 Projeto Romances

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