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Aprendendo a tecer a renda que o tece PDF

14 Pages·2012·0.63 MB·Portuguese
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Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Edição Especial Temática, p.145-158, 1999 Aprendendo a tecer a renda que o tece: apropriação da atividade e constituição do sujeito na perspectiva histórico-culturalw) Andréa Vieira Zanella Departamento de Psicologia - UFSC Resumo Abstract Neste trabalho são apre- This paper present some sentadas algumas reflexões a reflections on the complex topic respeito da complexa temática of the "constitution of the "constituição do sujeito", origi- subject" derived from studies nadas em estudo sobre a apro- on the appropiation of a priação de uma atividade arte- handicraft activity, which is sanal que se encontra em franco falling into decline. The processo de declínio. O foco da investigation was focused on investigação foi a relação the teacher-student relationship professora-aluna de renda de in weaving the Bilro lace, the bilro, as significações veiculadas, employed, signifiations, produ- produzidas e apropriadas no ced and appropriated in the contexto de "sala de aula" e as classroom context and the Learning to weave the lace that weaves: Appropriation of the activity and constitution of the subject in the socio-historic perspective. (#) Este artigo decorre da tese de Doutorado - PUC/SUP, em 1997, com bolsa de estudos do CNPq. 146 (cid:9) rendendo a tecer a renda ue o tax inter-relações destas tanto com a interrelations with the appren- história do sujeito aprendiz quanto tice 's history and the activity itself. da atividade. Palavras-chave: constituição do Keywords: constitution of the sujeito; atividade; psicologia subject; activity; socio-historic histórico-cultural. psychology. ** **************** ** A história da renda enredando a história de Nice Decorrente do bordado, a renda de bilro surgiu em fins do século XV ou inicio do século XVI (SOARES, 1987) e, juntamente com a cerâmica, o bordado, a cestaria, as danças e cantigas folclóricas, compõe o legado cultural trazido para a Ilha de Santa Catarina pelos imigrantes açorianos que ai desembarcaram no século XVIII. Até meados deste século a confecção da renda de bilro era, segundo BECK (1983), uma atividade essencialmente feminina, sendo seu produto utilizado para a ornamentação de casas e igrejas. Com o advento do turismo, porém, a renda de bilro passou a ser economicamente valorizada, pois a sua comercialização possibilitava as mulheres de pescadores das comunidades do interior da Ilha complementarem o orçamento doméstico. Essas diferenças em relação à valoração econômica da renda de bilro em determinadas épocas da história da colonização açoriana em Florianópolis engendraram, por sua vez, diferenças no ensinar e no aprender a fazer renda. Enquanto atividade produtora de mercadorias para uso restrito no âmbito doméstico, o ensinar e o aprender eram marcados pela característica do entretenimento —juntamente com a leitura, a música e o bordado - e da constituição do gênero2 feminino.3 A Utilizaremos, no decorrer deste trabalho, o conceito de género referindo-nos 6. "...categoria gestada pelo feminismo anglo-saxão que pretende afirmar o caráter sócio-cultural e histórico das diferenças e construções de masculinidade e feminilidade, retirando-lhes a entonação essencialista e biologicista predominante até então" (SIQUEIRA, 1997:143). atividade de confeccionar a renda de bilro era realizada no âmbito doméstico, com a presença de mães, filhas, vizinhas e demais parentes. Uma característica cultural consistia na confecção, pelas moças, de peças para o enxoval. Revista de Cialcias Humanas, Florianópolis, Edivlo Especial Temática, p.145-158, 1999 (cid:9) 147 comercialização da renda, por sua vez, impulsionada pelo turismo, resultou no ensinar e no aprender diário, sistemático, em que as meninas eram inseridas desde pequenas na atividade - por volta de 6, 7 anos - e rapidamente passavam a produzir peças para comercialização. Essa foi a trajetória das mulheres da família de Nice, a quem iremos aqui nos referir. Convivendo com rendeiras - suas avós, mie e irmãs confeccionavam a renda diariamente -, Nice abandonou a atividade com 10 anos de idade para acompanhar o pai em seu trabalho de venda de leite pelas ruas da comunidade em que moravam. Após 17 anos, Nice retoma, em 1995, o fazer renda, motivada, entre outras coisas, pela sua inserção profissional: funcionária da Prefeitura Municipal, estava lotada em uma entidade cultural4 e desenvolvia, na época, um projeto de constituição de um acervo de piques.' A retomada da atividade concretizou-se via participação, na condição de aluna, da Oficina de Renda de Bilro, ministrada por D. Judite no Casarão da Lagoa, duas vezes por semana, com duas horas de duração cada. Nice freqüentou as aulas de renda a partir do dia 22/03/95, comparecendo uma vez por semana, no seu horário de trabalho, durante todo o ano. Eventualmente deixava de comparecer à aula por alguns dias — em geral por motivos de trabalho ou estudo,6 em outras ocasiões, comparecia As duas sessões semanais. Registradas através de filmagens em VHS, as imagens coletadas Casa da Cultura "Bento Silvério", conhecida como Casarão da Lagoa, situada no bairro Lagoa da Conceição em Florianópolis/SC. 5 O pique, justamente com a almofada e os bilros, a linha e os alfmetes, compõem os instrumentos utilizados pelas rendeiras para a confecção da renda de bilro. Segue breve descrição dos três primeiros: - a almofada geralmente é confeccionada pelas próprias rendeiras. Consiste em um cilindro de tecido, podendo ter tamanho variado - dependendo do modelo de renda a ser confeccionado -, cheio de capim, ervas ou folha de bananeira seca; é na almofada que a rendeira prende o pique; - os piques, cartões de papelão perfurados com uma agulha grossa, apresentam esquematicamente o modelo de renda a ser executado. Nessas perfurações é que a rendeira colocará os alfinetes, na medida em que a renda vai sendo confeccionada através do entrecruzar dos bilros; - os bilros, pequenas peças cilíndricas de madeira de 10 a 15 centímetros de comprimento, aproximadamente, contêm, na parte superior, a linha que, trançada, transformar-se-á em renda; na parte inferior os bilros são maiores. A troca ágil dos mesmos produz um som peculiar, sendo o "bater dos bilros" considerado pelas rendeiras uma técnica que garante a qualidade da renda, pois deixa os pontos mais firmes. Nice cursava, na época, Biblioteconomia em uma universidade pública estadual. 148 (cid:9) Aprendendo a tecer a renda que o tem... das aulas consistem em relevante material que nos ajuda a compreender o processo de apropriação das significações veiculadas/produzidas no contexto das relações sociais entabuladas em sala de aula. Aprendendo a fazer renda Como vimos anteriormente, o fazer e o aprender a fazer renda ski atividades cuja significação vem sendo modificada ao longo dos anos, em razão das transformações econômicas, políticas e sociais. Aprender a fazer renda quando esse artesanato era valorizado em decorrência do advento do turismo significava a profissionalização das aprendizes. Se naquele contexto essa atividade não motivava as meninas num primeiro momento, exigindo rigor da família para que as filhas se sentassem a cada dia frente is almofadas (vide ZANELLA, 1997), atualmente quem aprende a fazer renda o faz pelo mais genuíno interesse. Dai a procura de alguém que a possa ensinar. Esse interesse, por sua vez, não parece resultar da necessidade de um oficio: um eventual retorno financeiro decorrente da comercialização da renda não justificaria sua aprendizagem, posto a inexpressividade do mesmo. O sujeito desta pesquisa exemplifica isso: estudante de biblioteconomia em uma universidade pública estadual, Nice tinha emprego fixo e a procura pela aula de renda se deu por motivos que tentaremos, no decorrer da análise do episódio a seguir, identificar. O episódio Este episódio consiste em um momento da segunda aula de D. Judite no ano de 1995 e a primeira que Nice freqüentava. Outra aluna participava da aula nesse dia - a própria pesquisadora. Nice está sentada em frente a sua almofada. D. Judite encontra- se em pé, ao lado direito de Nice e à esquerda da outra aluna. Ajeita, para Nice, os bilros na almofada (vide nota 6) de modo a ser possível iniciar a confecção de um modelo simples de renda, utilizado pela professora para ensinar alunas iniciantes que já tenham algum conhecimento de como manejar os bilros. Nice observa. Revista de Ciências Humanas, Florianópolisi, Edicao Especial Ternitica, p.145-158, 1999 (cid:9) 149 1. (D. Judite, iniciando a renda) 7 —Agora vamos ver se a Nice sabe fazer a perna cheia. 8 2. (Nice) - Faz tanto tempo que eu não favo perna cheia! Vamos ver 3. (D. Judite) - Vai fazer é perna magra! (risos). 4. (Nice) - Perna magra... Perna torta! (risos). 5. (D. Judite) - Não, tua perna é grossa, tern que fazer perna grossa... Será que tu sabes tecê, sabe? [Ajeita os bilros e os entrega para Nice]. 6. (Nice, segurando os bilros) Não, sei: passar eu sei. Não é assim que se passa [confeccionando]? 7. (D. Judite, olhando para as mãos de Nice) — Isso... 8. (Nice) - Eu sei, só não tem jeito de levar pra cima [continua a tecer em silencio]. 9. (Dona Judite, afastando-se) Tem, tem. Agora não olho mais para ti, porque eu não olhei para a Andréa e ela fez direitinho. 10.( Andréa, confeccionando) - E mas isso foi casualidade, , D. Judite. 11.( D. Judite) — Mas é assim mesmo, quando eu olhava para as outras, elas não faziam, elas ficavam... (inaudível) 12. (Nice) - ... preocupadas. 13. (D. Judite) - E, ficavam preocupadas. [As duas alunas tecem em silencio] 14. (D. Judite) — Nice, chama, he/n? 15. (Nice, tecendo) - A minha vai ficar muito grande, eu acho. 16. (D. Judite, distante) - É até onde tem esse furinho. 17.( Nice) - Humm! Como é que diminui, dai? 18.( D. Judite) - Jet vou chegando h.. [aproximando-se]. 61 que bonita a da Nice, óh! [Chama a atenção da outra aluna para o trabalho de Nice]. 'Na transcrição do episódio utilizou-se o sinal de parênteses para indicar a pessoa que fala. Os colchetes, por sua vez, trazem a descrição dos movimentos dos sujeitos: se aparecem junto com as falas, isto 6, na mesma linha, sinalizam simultaneidade. Do contrario, aparecem em outra linha, indicando, portanto, que houve o gesto desacompanhado de fala. Os colchetes são utilizados também para explicações que a pesquisadora julgou necessárias 'A "perna cheia" é considerado um dos pontos mais dificeis de se aprender, pois exige grande habilidade com os bilros e coordenação de ações variadas. 150 (cid:9) Aprendendo a tecer a renda que o tece 19. (Nice) - Tá bonita? [risos]. 20. (Andréa) - Já fez a perna! Olha quem disse que não sabia fazer! 21. (D. Judite) - E até ali, Nice, 6. [sinaliza com um alfinete, enquanto Nice continua tecendo]. 22. (Nice) - Mas dai... 23. (D. Judite) — Mas dai, quando vai chegando no finzinho, tu vai dando um jeito de ficar mais magrinha no fim, que é pra ficar bonitinha [faz movimento com as mios. Volta- se para olhar o trabalho da outra aluna]. 24. (Nice) - Isso porque é a primeira, dai ela te: fazendo assim comigo prei eu, pra mim não correr frisos]. 25. (Andréa) (cid:9) não desanimar [Dona Judite observa, em pé, a renda de Andréa]. 26. (Nice) - Depois vai levar urn susto aqui! [risos]. 27. (Andréa) - Ah, mas isso é filha de rendeira, já sabe até o jeito de fazer 28.(D. Judite) - E, então, então! 29. (Nice) - Quê que adianta ser filha de rendeira e não fazer renda, não é, D. Judite? [D. Judite senta entre as duas alunas e continuam a conversar sobre o tema, enquanto estas Ultimas confeccionam a renda]. Antes de freqüentar essa primeira aula de renda, Nice já havia aprendido alguns pontos com sua mãe e irmãs que são rendeiras e ainda hoje tecem a renda de bilro com relativa freqüência. Como já foi mencionado, passados 17 anos Nice retoma o processo de aprender a confeccionar a renda motivada, em principio, pelo seu trabalho de montagem de um acervo de piques. No episódio anterior podemos encontrar também outro motivo que leva Nice a retomar a atividade. No turno 29 ela diz: - Quê que adianta ser filha de rendeira e não fazer renda, não é, D. Judite? Essa fala nos revela a importância que a aprendiz atribui à atividade, importância essa que expressa, por sua vez, a significação da atividade para o grupo social no qual busca se inserir. Ser rendeira é uma condição culturalmente valorizada na Lagoa da Conceição e em outras localidades da Ilha de Santa Catarina, apesar de irrelevante do ponto de vista econômico. Ao retomar a atividade, Nice parece Revista de Ciincias Humanas, Florianópolis, Edição Especial Temática, p.145-158, 1999 (cid:9) 151 resgatar mais a sua própria história do que responder As necessidades profissionais. Essa história está presente em todo o episódio transcrito anteriormente. Ao iniciar a atividade, a conversa de Nice e D. Judite gira em tomo tanto da história pessoal da "Nice rendeira" - que sabe algumas coisas em relação à atividade, o que é valorizado pela professora - quanta em tomo da tradição que envolve a renda de bilro. Mais do que uma simples conversa sobre um ponto da renda (a perna cheia), transita pelas falas da professora e sua aluna o modelo estético esperado (a perna cheia gorda), modelo esse que materializa a história dessa atividade cultural. Na conversa, D. Judite procura resgatar o que Nice já sabe, como se apostasse no conhecimento prévio da aluna: - Será que tu sabes tecer, não sabe? (turno 5). Nice confirma o que já domina - o passar os bilros - demonstrando para a professora esse conhecimento e solicitando desta a confirmação da adequação do procedimento adotado (turno 6). Em seguida, aponta o que se constitui, ao seu ver, como uma dificuldade: - Eu sei, só não tem jeito de levar pra cima (turno 8). D. Judite desconsidera a questão pontuada pela aluna (turno 9), provavelmente (e a continuação da sua fala no turno 9 nos di pistas para isso) por acreditar que esta seja capaz de realizar a ação como um todo. A postura da professora, neste caso, parece configurar-se mais como um desafio própria aluna do que como desconsideração em relação à dúvida apresentada. Na continuação desse turno e nos seguintes (de 9 a 13), a conversa gira não mais em torno das ações em si, mas da relação professora/alunas no processo de ensinar e aprender a fazer renda. Para D. Judite, o deixar as aprendizes realizarem independentemente a atividade constitui-se como fator que, de certo modo, garante o resultado final desejado, pois - ...quando eu olhava para as outras [alunas] elas não faziam, elas ficavam (..) preocupadas (turnos 11 e 13). O que essa fala nos indica? Além de outros aspectos, a compreensão por parte de D. Judite do papel diferenciado que ocupa em relação aos alunos. Não é somente a pessoa que ensina, mas que, ao ensinar, exerce uma certa autoridade que, pela reação dos alunos, lhe é delegada e respeitada. Do contrário, por qual razão ficariam os alunos preocupados quando a professora acompanha a execução das ações? 152 (cid:9) Aprendendo a tecer a renda que o tece... A partir do turno 15, a interlocução volta a girar em tomo do processo de ensinar/aprender a renda, cujos protagonistas principais são Nice e D. Judite. Nice anuncia o provável resultado de sua ação, o tamanho exagerado da perna cheia (turno 15), e D. Judite procura, ainda que à distância, regular a ação da alma, indicando o pique enquanto sinalizador do que deve ser feito: até onde tem esse furinho (turno 16). Na continuação, Nice apresenta à professora a sua dúvida (turno 17): se o tamanho do ponto esperado é o indicado pelo pique, como proceder para terminar a perna cheia? Como diminui-la? Após fazer referencia à qualidade do trabalho da aluna (turno 18) e breve conversa sobre a questão da qual a outra aluna participou, D. Judite volta a indicar o pique, sinalizando o tamanho esperado da Tema cheia (turno 21). Nice retoma, ainda que laconicamente (turno 22), a sua dúvida: como terminar a perna cheia? A professora, desta vez, responde à questão sem, contudo, indicar verbalmente o que a aluna deve fazer para obter o resultado esperado: ...quando vai chegando no finzinho tu vai dando um jeito de ficar mais magrinha no fim, que é pra ficar bonitinha (turno 23). Mas que jeito é esse? O movimento que acompanha a fala de D. Judite tampouco se constitui, em principio, como sinalizador capaz de esclarecer a dúvida da aluna. De qualquer modo, Nice consegue "dar um jeito" e finaliza a perna cheia. Como aconteceu, no entanto, é dificil explicar: será que Nice conseguiu traduzir os gestos de D. Judite e apropriar-se de uma suposta representação da ação veiculada pelo mesmo? Ou será que ela já sabia o que fazer, assim como já sabia "passar os bilros", não tendo, contudo, certeza disso? Ou ainda: será que frente ao desafio e à pouca ajuda recebida, encontrou independentemente a solução para o impasse? Na continuação do episódio (turnos 24 a 29), Nice responde forma elogiosa pela qual D. Judite se dirigiu ao seu trabalho em momento anterior e, concomitantemente, sinaliza a expectativa que tem em relação ao seu próprio trabalho. Ao fazer isso, fornece-nos dados sobre a forma pela qual a professora conduz o processo de ensinar a fazer renda para essa aluna: valorizar o trabalho da aprendiz para que esta não desanime e prossiga na atividade. Revista de Ciências Humanas, Florianápolis, Edição Especial Temática, p.145-158, 1999 (cid:9) 153 Apresentando alguns elementos para reflexão O episódio anterior permite-nos vislumbrar a complexidade do processo de apropriação de uma atividade que, ao mesmo tempo em que é singular, enreda-se em uma trama onde múltiplas vozes se apresentam, onde o "eu" e os "outros" se diferenciam e se mesclam, compondo um todo complexo, múltiplo Pois vejamos: . Todo indivíduo enquanto ser social insere-se, desde o moment() em que nasce, em urn contexto cultural, apropriando-se dele e modificando- o ativamente, ao mesmo tempo em que é por ele modificado. O que aqui denominamos "apropriação" aproxima-se do conceito de "internalização", utilizado por VYGOTSKI para indicar o movimento de "reconstrução interna de uma operação externa", movimento pelo qual as funções psicológicas superiores,9 originariamente partilhadas, singularizam-se pelo sujeito, medida em que este passa a utilizar os signos como elementos reguladores de suas ações .1° Os signos, por sua vez, constituem-se como produções sociais que permitem ao homem: ... através de processos de substituição ou representacionais (uma espécie de jogo de simulação ), [..] conferir ao real outra forma de existência.. a existência simbólica. Isto torna o real cognoscivel e comunicável. Graças à invenção de sistemas de signos, particularmente o linguistico, o homem pode nomear as coisas e suas experiências (dizer o que elas são, pensá-las); 9F'ara VYGOTSKI, o conceito da função psicológica superior ...está constituído pelos processos de domínio dos meios externos do desenvolvimento cultural e do pensamento: o idioma, a escrita, o cálculo, o desenho; em segundo lugar, está constituído pelos processos de desenvolvimento das funções psíquicas superiores especiais, não limitadas nem determinadas de nenhuma forma precisa e que tem sido denominadas pela psicologia tradicional com os nomes de ate/20o voluntária, memória lógicaformação de conceitos, etc. (VYGOTSKI, 1987:32). , '° Para VYGOTSKI (1996:112): Toda forma superior de comportamento aparece em cena duas vezes durante seu desenvolvimento: primeiro, como forma coletiva do mesmo, como forma interpsicológica, um procedimento externo do comportamento. Não nos damos conta desse fato porque sua cotidianidade nos cega. O exemplo mais claro disto é a linguagem. No principio, é um meio de vínculo das crianças e aqueles que a rodeiam mas, no momento em que a criança começa afalar para si, pode se considerar como a transposição da forma coletiva de comportamento, para a prática do comportamento individual. Categoria cunhada pela autora, em que as condições de execução dos pontos na renda somam-se 6. possibilidade tanto de ação independente quanto de criação. Diferencia-se, 154 (cid:9) Aprendendo a tecer a renda clue o tece... compartilhar estas experiências com outros e interrelacionar- se com eles, afetando seus comportamentos e sendo por eles afetado; transformar-se ele mesmo e desenvolver diferentes níveis de consciência a respeito da realidade social - cultural e de si mesmo (PINO, 1995:33). O conceito de apropriação é aqui utilizado para designar esse movimento pelo qual o indivíduo "toma posse" (entendido como tornar próprio, fazer uso consciente e deliberado) de algo que se passa, inicialmente, no campo intersubjetivo. Cabe esclarecer, porém, que a apropriação não se dá de "fora para dentro", pois os processos mentais... conservam sua natureza social ou pública, não obstante o fato de constituírem acontecimentos privados" (PINO, 1992:325). Intersubjetividade é entendida como o espaço público do encontro de contextos privados, mutuamente constitutivos; é o espaço da relação "eu-outro", onde o "...eu e o outro sic) conceitos relacionais e não conceitos referentes a entidades que se formam separadamente e entram em contato" (GÓES, 1992:338). Esse encontro, por sua vez, não necessariamente se configura como confluência: o encontro pode tanto acolher quanto confrontar; tanto ajustar quanto romper limites; tanto ir em busca quanto em direção de. E é nesse cenário - do encontro/desencontro que o sujeito se constitui enquanto uno/social, na medida em que se apropria das significações produzidas nesse contexto. portanto a significação da realidade que é apropriada - e não a realidade em si significação esta constituída nas relações sociais. A significação refere-se a "o que as coisas querem dizer", aquilo que alguma coisa significa. Como as coisas não significam por si só, e nem tão pouco significam a mesma coisa para individuos diferentes, depreende-se que a significação é fenômeno das interações, sendo, pois, social e historicamente produzida. As significações em trânsito: a renda que enreda O episódio aqui apresentado é um fragmento do processo de apropriação do fazer renda por parte de Nice. No decorrer do ano ela efetivamente consegue se apropriar da atividade, pois houve "...a

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